O amendoim (Arachis hypogaea L.), é uma leguminosa originária da América do Sul, cultivada nas mais variadas regiões tropicais do mundo, pela sua ampla adaptabilidade a grande diversidade ambiental. É uma importante matéria-prima para a indústria de alimentos devido seu grande valor nutricional. Apesar da redução da área plantada com amendoim, no Brasil, principalmente após os anos 70, o Brasil já foi um importante produtor mundial e o seu cultivo ainda desempenha papel importante para o abastecimento do mercado doméstico. A intensidade das doenças na cultura do amendoim pode variar na parte aérea com a localidade e as épocas de plantio (Moraes & Godoy, 1997). No Estado de São Paulo, maior produtor nacional, a mancha preta Passalora personata é a mais severa entre as doenças foliares do amendoim (Moraes et al.,1988). Sendo que a doença está presente também nos demais estados produtores, PE, SC, CE (Mendes et al., 2010). O fungo P. personata apresenta maiores freqüências nos seguintes países: China, Coréia, Moçambique, Paquistão, Panamá, Carolina do Sul, África do Sul, Uganda (Farr & Rossman, 2010).
As principais doenças que ocorrem na cultura podem causar a redução de 10% a mais de 50% na produção de vagens, quando medidas de controle não são utilizadas. Entre as várias doenças da cultura do amendoim, a cercosporiose do amendoim ou mancha preta, é considerada uma das mais importantes em todas as regiões produtoras. No entanto, a predominância e a intensidade de cada uma variam com a localidade e as épocas de plantio (Moraes et al.,1988). Este trabalho teve como objetivo estabelecer as principais características do agente causal da Mancha preta do amendoim e ainda estabelecer os principais métodos de controle da doença.
As amostras dos folíolos do amendoim apresentando sintomas de manchas foliares, foram coletadas no campo experimental do Instituto Federal Goiano campus Urutaí-Go, no dia 01/04/2010.
Logo após as amostras foram conduzidas ao Laboratório de Microbiologia, para serem analisadas no microscópio estereoscópio as quais apresentavam sintomas da doença. As amostras onde observou-se maior quantidade de sinais foram analisadas através do método de pescagem direta, sendo preparadas lâminas semipermanentes. Para reconhecimento das estruturas fúngicas as lâminas foram preparadas utilizando fixador a base de azul-de-algodão, após o preparo das mesmas ambas foram vedadas com base (esmalte) para a conservação do material, sendo posteriormente analisadas em microscópio óptico, onde foram realizados registros de macro e microfotografia digital utilizando máquina digital (Sony CANON Power Shot A580). As fotos, contendo diferentes estruturas do fungo P. personata, foram organizadas em uma prancha de fotos, sendo as mesmas identificadas.
Hospedeiro/cultura: Amendoim (Arachis hypogaea L.)
Família Botânica: Fabaceae
Doença: Mancha-Preta
Agente Causal (Anamorfo): Passalora personata (Berk. & Curtis) Deignton
Local de Coleta: Fazenda Palmital- Campo experimental IF Goiano campus Urutaí
Data de Coleta: 01/04/2010
Taxonomia: A forma teleomórifca pertence ao reino Fungi, Divisão Ascomycota, classe Dothideomycetes, ordem Capnodiales, família Mycosphaerellaceae, gênero Mycosphaerella sp.. O anamorfo pertence ao Reino Fungi, grupo incerto dos Fungos Mitospóricos, sub-grupo Hifomicetos.
Sintomatologia:
Os sintomas primários da mancha preta podem observados em torno do décimo dia após a deposição do inóculo, na forma de pequenas manchas cloróticas. Com mais alguns dias, as áreas afetadas se tornam lesões necróticas, sendo estas lesões escuras (Fig. 1A) e circulares nos folíolos (Fig. 1B). A manifestação dos sintomas começa nas folhas da face inferior, progredindo para as mais novas. Nos pecíolos, ramos, pedúnculos e vagens, observam-se lesões menores, ovais a alongadas (Fig. 1B), com margens bem distintas, no sentido do comprimento desses órgãos (Moraes e Godoy, 1997; Shokes e Culbreath, 1997). As lesões são geralmente menor (1 a 7 mm de diâmetro) (Fig. 1B), de contornos mais uniformes, hilo amarelado indistinto e desenvolve frutificações do patógeno na superfície abaxial dos folíolos e marrom escuro na superfície adaxial (Fig. 1A e 1B), sendo que as folhas severamente afetadas caem com facilidade, o que redunda em diminuição da área fotossintética e, portanto atingindo diretamente a produção. Por ser uma cercosporiose, quando as cultivares são suscetíveis e sob condições ambientais favoráveis, ocorre a coalescência das lesões e queda prematura das folhas e redução acentuada da produção (Barreto, 1997). As manchas cloróticas e os halos amarelados são sintomas pleisonecróticos, as manchas de coloração castanha ou negra constituem sintomas holonecróticos e as frutificações do patógeno são os sinais da doença (Pio-Ribeiro et al.,2005).
Etiologia:
O agente causal da mancha preta ou pinta preta, Passalora personata (Berk. & Curt.)Deighton [sinonímias: Phaeoisariopsis personata (Berk. & Curt.) Arx, Cercospora personata (Berk. & M.A. Curtis) Ellis, Cercosporidium personatum (Berk. & M.A. Curtis) Deighton, Cercosporiopsis personata (Berk. & M.A. Curtis) Miura, Cladosporium personatum (Berk. & M.A. Curtis) S.A. Khan & M. Kamal, Septogloeum arachidis Racib.] (Index fungorum, 2010). Este fungo produz estromas pseudoparenquimatosos densos, com até 130 μm de diâmetro (Fig. 1C); forma numerosos conidióforos (10-100 x 3,0-6,5 μm) reunidos em fascículos densos em círculos concêntricos, marrom pálidos a oliviáceos (Fig. 1C) e conídios (20-70 x 4-9 μm) hialinos a oliváceos, cilíndricos, clavados, em geral retos ou levemente curvos, arredondados no ápice e sem constrição, apresentando de um a nove septos, sendo mais freqüente três a quatro (Fig. 1D e Fig.1E) (Shokes e Culbreath, 1997). O fungo P. personata ocorre comumente nas lesões no seu estágio imperfeito, ou seja, na fase anamórfica, sendo o estágio ascógeno ou teleomórfico descrito como sendo Mycosphaerella berkeleyii Jenkins, raramente encontrados e não tendo sido ainda relatado no Brasil (Barreto, 1997; Moraes e Godoy, 1997). O fungo P. personata sobrevive de uma estação para outra principalmente nos restos de cultura, na forma de micélio estromático e de conídios. Estes, quando nos restos de cultura, são capazes de permanecer viáveis por um tempo superior a 10 meses (Subba Rao et al., 1993).
Epidemiologia:
O agente da mancha preta do amendoim sobrevive de uma época de cultivo para outra, especialmente em restos de cultura e plantas voluntárias, podendo também permanecer em vagens e sementes armazenadas. O fungo P. personata é particularmente patogênico ao gênero Arachis, ocorrendo tanto no amendoim cultivado (A. hypogaea), como em espécies selvagens (Moraes, 2006).
O inóculo inicial que dá início às infecções primárias pode ser produzido por estruturas de sobrevivência formadas por conídios e fragmentos de micélio produzidos nos tecidos dos restos culturais, especialmente em caules, pecíolos e ginóforos, juntamente com estruturas encontradas em plantas voluntárias de amendoim ou veiculadas por sementes. Embora o estágio ascógeno desses patógenos seja conhecido, os ascósporos não são considerados importantes como inóculo primário (Moraes,2006).
Após o início das primeiras lesões, a disseminação do inóculo, a curta distância, se dá por respingos de água, vento, insetos e movimento de fragmentos de material vegetal infectado, produzindo ciclos secundários de infecção. Ao serem depositados na superfície da planta, em condições favoráveis, dentro de seis a oito horas os conídios germinam, formando um ou mais tubos germinativos que irão penetrar através dos estômatos ou nas células da epiderme diretamente. Após um período de 5 a 14 dias, dependendo da espécie do fungo, do genótipo e idade das folhas do amendoim e condições ambientais surgem os primeiros sintomas. Tais patógenos podem ser disseminados a longas distâncias, através de estruturas fúngicas presentes em vagens, na parte externa das sementes e fragmentos de plantas infectadas como contaminantes (Shokes e Culbreath, 1997).
Os fatores que favorecem o desenvolvimento das manchas pretas são: alta umidade relativa do ar (acima de 90-95%), temperaturas iguais ou superiores a 19o C, chuvas periódicas (maiores que 2,5 mm) durante o ciclo da cultura e o molhamento das folhas devido à alta umidade (proporcionado pelo orvalho ou pelas chuvas periódicas). A produção local de esporos é a principal fonte inicial de inóculo, visto que a disseminação ocorre só a pequenas distâncias, por isso, os plantios sucessivos de amendoim na mesma área (falta de rotação de culturas), a não eliminação de restos culturais ou de plantas voluntárias de amendoim e o plantio de cultivares suscetíveis são fatores favoráveis para estas doenças (Shokes e Culbreat, 1997).
Controle
O controle da mancha-preta-do-amendoim pode ser alcançado com boa eficiência através de duas estratégias básicas; o uso de práticas culturais, que reduzem o inóculo inicial, retardando o início das epidemias, e da adoção de medidas que diminuem a taxa de infecção, mantendo a ocorrência das doenças abaixo do nível de dano (Barreto, 1997).
Na primeira estratégia é incluída a rotação de culturas por dois a três anos, incorporação de restos de cultura com aração profunda e eliminação de plantas tiguera de amendoim. Para a segunda estratégia de manejo, são utilizados, sobretudo fungicidas e cultivares resistentes. Recomenda-se sempre que possível, as medidas complementares: escolha de época de plantio para evitar condições favoráveis à ocorrência de epidemias e controle de ervas daninha, para diminuir a formação de microclima junto às plantas de amendoim, que favorece o desenvolvimento das doenças. O controle químico com fungicidas tem sido recomendado para o controle da mancha preta do amendoim, ficando a escolha do produto e a forma de utilização na dependência da facilidade de aquisição e de fatores econômicos envolvidos na condução da cultura (Barreto e Scaloppi, 1999).
Ao optar pelo uso do fungicida, deve se atentar para os cuidados a fim de obter o máximo de eficiência: escolha adequada do produto, uso da dosagem recomendada, aplicação no momento adequado. Fungicidas do grupo triazol como, difeconazole (Score-0,35L/ha) e tebuconazole (Nativo-0,6 a 0,75 L/ha), ambos têm se mostrado eficientes no controle do agente da mancha-preta, além de atuarem contra outros patógenos do amendoim causadores de doenças de folhagem. Outros fungicidas como chlorothalonil (Vanox 500 SC-2,5 a 3,5 L/ha), por suas características de fungicida protetor, pode ser aplicado alternadamente com difenoconazole ou tebuconazole. O chlorothalonil e o tebuconazole reduzem a germinação de esporos e a intensidade de esporulação nas lesões, mas apenas o tebuconazole é capaz de reduzir a freqüência de infecção e aumentar o período de incubação após os tubos germinativos terem penetrado nas folhas do amendoim. Ainda produtos sistêmicos a base de Benomil (Cobox-2 a 2,5 Kg/ha), especialmente em mistura com fungicidas protetores a exemplo de chlorothalonil, maneb (Manzate 800 -2, 0 Kg/ha) e mancozeb ( Cuprozeb-200g/100 L de água), são sempre recomendados (Cati, 1983; Godoy et al., 1983; Maezono e Gimenes-Fernandes et al., 1985, Gimenes-Fernandes et al., 1993; Agrofit, 2010).
Figura 1. Sinais e sintomas da mancha preta do amendoim. A. Lesões na face adaxial e abaxial nas folhas de amendoim, B. Lesões na face adaxial na folha de amendoim, C. Tecido estromático e poucos conidióforos (bar=41.9mm), D. Conídios hialinos e oliviáceos (bar =52 mm), E. Conidióforos (bar =150 mm).
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