quarta-feira, 30 de junho de 2010

“ASPECTOS GERAIS E MORFOLÓGICOS DO FUNGO Colletotrichum sp.”

Autor: Paulo Vinícius de Sousa

O gênero Colletotrichum sp. é um dos mais importantes entre os fungos fitopatogênicos do mundo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. Ele envolve espécies que causam doenças de expressão econômica em leguminosas, cereais, hortaliças e culturas perenes, incluindo diversas frutíferas (Serra et al., 2008).
O gênero Colletotrichum possui 702 espécies válidas em literatura, dentre eles Colletotrichum Acaciae, Colletrotrichum Caudatum, Colletotrichum Corni, Colletotrichum Dicheae, Colletotrichum Curvatum (Index Fungorum, 2010), e outros variedades e formae speciales de fungo pertencente ao gênero Colletotrichum sp. Esse fungo possui como fase teleomórfica ascomiceto pertencente ao gênero Glomerella sp. A posição taxonômica de Colletotrichum sp. é: Reino Fungi, grupo dos Fungos Mitospóricos e sub-grupo dos Coelomicetos(Kirk et al., 2001).
Entre os fungos existentes no mundo foram encontrados 8508 espécies de Colletotrichum sp.(Sbml, 2010). No Brasil foram registrados 59 fungos Colletotrichum sp., dentre eles consta-se por exemplo o Colletotrichum Andropogonis, é encontrado no sorgo na região de São Paulo, e também o Colletotrichum Manihotis, é encontrado na mandioca na região de São Paulo e Rio de Janeiro. O Colletotrichum sp. foi encontrado em 154 hospedeiras, dentre eles, no pimentão, cravo da India, mamão, café, pepino, eucalipto, algodão jabuticaba, jiló, batata, na maioria destas o fungo ocorreu em sementes, causando doenças como antracnose, mancha foliar, sarna, podridão dos frutos (Embrapa, 2010).
Espécies de Colletotrichum são tradicionalmente diferenciadas com base em caracteres morfológicos e culturais, que devem ser considerados simultaneamente e nunca isoladamente. Morfologicamente o fungo apresenta acérvulos circulares, conidióforos simples. Conídios hialinos, ovais a oblongos ou ovais ou falcados. Massa de conídios de coloração rósea, podem estar presentes no acérvulo, suas setas podem ser longas, septadas e pigmentadas (Galli, 1978). A antracnose em frutíferas é considerada uma doença economicamente importante, ela ataca os ramos novos, folhas, inflorescências e frutos. Nas folhas ha o aparecimento de manchas escuras e de contornos irregulares. As inflorescências afetadas apresentam flores escuras, tomando o aspecto de queimadas pelo fogo, morrendo em seguir. As lesões na ráquis podem levar a queda dos frutos, antes da maturação fisiológica, ou mumificação quando ainda novos. No período de maturação, há o aparecimento de lesões escuras e deprimidas na superfície do fungo, que podem atingir também a polpa. A doença pode ocasionar prejuízos que variam em função do grau de suscetibilidade da planta hospedeira e das condições ambientais (Serra et al. 2008).
A antracnose que possui como agente causal o fungo pertencente ao gênero Colletotrichum sp. pode ser altamente devastadora, proporcionando perdas de até 100% na produção quando os fatores cultivar suscetível, ambiente favorável ao patógeno e sementes infectadas estiverem simultaneamente presentes durante o período de cultivo (Silva, 2004). A disseminação de planta a planta se dá principalmente através dos respingos de chuva, pois os conídios estão aglutinados por uma substância gelatinosa hidrossolúvel e não são facilmente carregados pelo vento. Os conídios uma vez em contato com o hospedeiro, sob condições de umidade, germinam e o pro-micélio resultante, com prévia formação de apressório, penetra diretamente através da cutícula pela emissão do tubo de infecção (Galli et al. 1978).
Entre as medidas de controle desse patógeno, destacam-se: o uso de sementes certificadas, rotação de cultura, controle químico e a resistência genética, sendo esta a mais eficaz, por minimizar os custos de produção e reduzir os danos causados ao ambiente (Silva, 2004).
O objetivo deste trabalho é mostrar os aspectos morfológicos do fungo Colletotrichum sp., através da doença Antracnose que causa nas frutíferas.


Todos esses métodos foram realizados no laboratório de Microbiologia do IFGoiano campus Urutaí-Go.
Folhas de amora foram coletadas no campus do Instituto Federal Goiano, sendo analisadas no Laboratório de Microbiologia.
Estas folhas foram submetidas a condições de câmara úmida por um período de 48 horas. Utilizando o método de “pescagem direta”, com uma pinça em formato de agulha, foi possível fazer a coleta de estruturas fúngicas, e em um microscópio estereoscópico pode retirar fragmentos e depositá-los em uma lâmina contendo fixador lactofenol cotton-blue. Logo após depositou-se uma lamínula sobre a amostra. Estas lâminas foram vedadas com esmalte de unha.
Sob microscopia ótica, verificando as características morfológicas podemos identificar o organismo como sendo Colletotrichum sp. Logo após identificação do fungo foram realizados registros microscópicos utilizando câmera digital Canon® modelo Power Shot A580. Foi utilizado o programa Microsoft Office Picture manager para a edição das imagens e o Power Point para elaboração da prancha de fotos.

Figura 1. Aspectos morfológicos de Colletotrichum. A. Conídios não septados (bar =3µm). B. Alguns conídios que contém gútulas em forma de bastonetes e cilíndricos. C. Acérvulo setoso que apresentam setas.

Descrição Micológica:

Seu conidióforo é curto e agrupado, podendo ser separado por setas escuras e septadas juntamente a estrutura acervular. Conídios apresentavam formato cilíndrico, são unicelulares (Fig. 1A), de parede fina e delgada; e em seu interior apresentavam elementos denominados de gútulas. Colônias de aspectos acinzentadas a salmão (Fig. 1B). Seu micélio é hialino, septado, pode formar juntamente ao tecido de seu hospedeiro estrutura denominada de acérvulo (Fig. 1C).




REFERERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EMBRAPA CENARGEN disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbd01.asp Acessado em: 27 de junho de 2010.

Farr, D.F., & Rossman, A.Y. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, Disponível em:http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/, acessado em 27 de junho de 2010.

GALLI, Ferdinando et al. Manual de Fitopatologia vol.2: doenças das plantas cultivadas. 4.ed. São Paulo: editora Agronômica Ceres, 1978.

INDEX FUNGORUM, Disponível em:http://www.indexfungorum.org/names/names.asp , acessado em abril de 2010.

SERRA, IMRSS, COELHO, R.S.B: MENEZES, M.M.Caracterização fisiológica, patogênica e analise isoenzimática de isolados monospóricos e multiespóricos de Colletotrichum. Universidade Federal de Pernambuco. UFRPE. Departamento de Agronomia/Fitossanidade.Summa Phytopatho. vol. 34. BOTUCATU Apr/June 2008.

SILVA, K.J.D. Distribuição e caracterização de isolados de Colletotrichum linde muthianum no Brasil; Lavras : UFLA, 2004.88. p: il.

“ASPECTOS GERAIS E MORFOLÓGICOS DO FUNGO Glomerella sp.”

Autora: Bruna Ribeiro Machado

O gênero Glomerella sp. é um gênero de interesse fitopatológico e pertencente ao Reino Fungi,divisão Ascomycotina, Classe Ascomycetes, Ordem Polystigmatales, Família Glomerellaceae. Os ascomicetos constituem o grupo mais numeroso de fungos, ocorrendo nos mais variados habitat exercendo saprofitismo e/ou parasitismo, causando diversos tipos de doenças em plantas (Bergamin Filho et al. 1995).


A característica básica da divisão Ascomycotina é a formação, após a meiose, de esporos sexuais, os ascósporos, dentro de uma estrutura em forma de saco, o asco. Comumente, os ascomicetos formam órgãos sexuais (gametângios) diferenciados. O gametângio feminino, chamado ascogônio, é uma célula multinucleada, que freqüentemente forma outra célula terminal receptiva, a célula tricógena, através do qual é feita a passagem do protoplasma proveniente do gametângio masculino - o anterídio (Bergamin Filho et al. 1995).


A classificação dos ascomicetos é baseada nas características morfológicas de suas estruturas de reprodução sexual. O gênero Glomerella sp. está situado na Ordem Polystigmatales, juntamente com outros gêneros também de interesse fitopatológico: Rhyllachora,
Coccostroma e Apiosphaeria (Bergamin Filho et al. 1995).

Hoje são válidas em literatura 103 espécies do gênero Glomerella sp., dentre eles Glomerella acutata, Glomerella cingulata e Glomerella salicis (Index Fungorum, 2010). No Brasil são conhecidos 11 gêneros de Glomerella, o gênero Glomerella sp. foi encontrado no mamoeiro no estado de São Paulo, encontrado também na mamona nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Outros gêneros como Glomerella cingulata foi encontrado em diversas espécies vegetais, como no quiabo, kiwi, cebola, graviola, fruta-do-conde, jaca, carambola, entre outras, na maioria estando presente nas sementes e causando a doença: Antracnose (Embrapa, 2010). Ao redor do mundo são registrados 2389 gêneros de Glomerella como por exemplo: o gênero Glomerella acutata foi encontrado na África do Sul, Espanha e México, o gênero Glomerella cingulata foi o gênero mais registrado, encontrado no Brasil, no Japão, na Austrália, na Córea, na Venezuela, entre outros, o gênero Glomerella salicis foi registrado somente na Rússia. (Sbml, 2010).


As características deste gênero são marcantes e muitas vezes visíveis ao microscópio eletrônico. Glomerella sp. Spald & H. Schrenk apresenta a estrutura de frutificação na forma de peritécio do tipo ostiolado, obteliforme (em formato de pêra) e sub-globosa. Particularmente, o peritécio pode estar imerso no tecido do hospedeiro simples, superficial ou agregado e algumas vezes com desenvolvimento pobre de clípio ao redor da abertura ostiolar (Hanlin, 1997).


O ostíolo, abertura por onde saem os ascósporos, é estreito, inconspícuo; curto, muitas vezes paleo, mais páleo do que o ascoma; pode ter inúmeros pêlos ao seu redor ou pode não ter nenhum pêlo, sendo classificado como glabro; apresenta várias linhas estéreis internamente do tipo perífise (Hanlin, 1997).


O ascoma, o qual abriga os ascos, possui parede pseudoparenquimatossa, outras células possuem parede fina e pigmentada, finas e hialinas. Os ascos são do tipo unitunicados de parede fina, cilíndricos a ligeiramente clavados ou elipsóides; seu ápice não é amilóide e são sésseis ou curtos. No seu interior pode conter de 4 a 6 ou 8 ascósporos (Hanlin, 1997). Os ascos são persistentes, mantendo sua parede após a liberação dos ascósporos, com o ápice contendo um anel estreito. (Bergamin Filho et al. 1995).


Os ascósporos, estruturas sexuais dos ascomicetos, são unicelulares; amerosseptados (não possuem septos); sua coloração é clara, portanto ialina; são bisseriados; seu formato é de elipsóide a sub-cilíndricos; são lisos, curvados e muitas vezes eqüilaterais, e suas dimensões são menores que 20 µmde C(Hanlin, 1997).O habitat característico do gênero Glomerella sp. é parasita ou saprófito de tecidos de plantas vasculares. Possui uma espécie representativa: Glomerella cingulata (Stoneman) Spald & H. Schrenk. A forma anamórfica (asssexual) desse gênero é Colletotrichum sp. (Hanlin, 1997).


Tanto na fase teleomórfica (sexual), gênero Glomerella sp., quanto na fase anamórfica (assexual), Colletotrichum sp., esse gênero fúngico é um importante agente causal do tipo de doença conhecida como antracnose, a qual ocorre em muitas plantas (Bergamin Filho et al. 1995).

O sintoma morfológico da antracnose é a mancha deprimida. Esta doença pode causar morte de plântulas, necrose dos pecíolos e manchas nas folhas, hastes, frutos e vagens. Em períodos de alta umidade as partes infectadas ficam cobertas por pontuações negras, denominadas acérvulos (Alves et al. 2010).

As folhas da hospedeira pau-terra-liso, a qual apresentou o fungo Glomerella sp., foram coletadas na cidade de Vargem Bonita DF. Estas foram analisadas no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí.

Com o auxilio de uma pinça em formato de agulha foi possível realizar o método de “pescagem direta”. A folha foi observada no microscópio estereoscópico para que, por meio deste método, fosse possível retirar amostras do fungo. Tais amostras foram colocadas em uma lâmina com duas gotas do corante lactofenol cotton blue e levadas ao microscópio ótico para serem observadas.
Sob a microscopia ótica foi possível identificar as estruturas do fungo e classificá-lo somo sendo pertecente a divisão dos ascomicetos e após várias consultas no livro Illustrated Genera of Ascomycetes, pode-se identificar o gênero do fungo: Glomerella sp. Após esta identificação foram retiradas fotos usando a Câmera Digital Canon® modelo Power Shot A580.
Com essas microfotografias e utilizando o programa Microsoft Power Point foi possível montar a prancha de fotos, ilustrando as características do fungo Glomerella sp.
Figura 1. Aspectos Morfológicos do gênero Glomerella sp. A. Mancha foliar da folha da hospedeira Pau Terra liso. B. Acérvulo observado no microscópio estereoscópico. C e F. Formato do ascoma, peritécio, contendo ascos imaturos. D. Ascósporos alantóides (bar =3µm) . E. Ascósporos dentro do asco.



DESCRIÇÃO MICOLÓGICA



O gênero Glomerella sp. encontrado na hospedeira Pau-terra-liso apresentou ascos unitunicados de parede fina tanto imaturos quanto maduros (Fig 1C), nos quais estavam os ascósporos amerosseptados, bisseriados, lisos e curvados (Fig. 1E) com formato alantóide (formato de salsicha) e de coloração clara (hialinos) (Fig. 1D). O ascoma é do tipo peritécio, onde encontraram-se os ascos e as paráfises (Fig. 1F). O asco contém de 4 a 8 ascósporos (Fig. 1E). Pode-se observar também como a doença mancha foliar causa danos a olho nu na folha da hospedeira, no caso Pau-terra-liso – Qualea multiflora – Vochysiaceae (Silva Junior, 2005) (Fig. 1A).




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:




ALVES, R.C.; DEL PONTE, E.M. Fitopatologia.net - herbário virtual. Departamento de Fitossanidade - Agronomia, UFRGS. Disponível em:http://www6.ufrgs.br/agronomia/fitossan/fitopatologia/referencia.php
, Acesso em: 22 abril 2010.


BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI. H.; AMORIM, L.; Manual de Fitopatologia vol. 1: Princípios e Conceitos, 3ª edição, ed. Ceres, 1995.



EMBRAPA CENARGEN disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbd01.asp Acessado em: 26 de abril de 2010.



Farr, D.F., & Rossman, A.Y. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, Disponível em: http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/, acessado em 26 de abril de 2010.



HANLIN, R.T., Illustrated Genera of Ascomycetes. Volume 1. ed. Apspress. St. Paul, Minnesota, 1997.




INDEX FUNGORUM disponível em: http://www.indexfungorum.org/names/names.asp Acessado em: 26 de abril de 2010




SILVA JUNIOR, Manoel Cláudio da – 100 Arvores do Cerrado: Guia de Campo, Brasília, 2005, pág. 152. Disponível em: http://www.floresdocerrado.fot.br Acessado em: 30 de junho de 2010.


terça-feira, 29 de junho de 2010

Descrição Micológica: "Aspectos Gerais e Morfológico do fungo Pseudocercospora vitis".


Nathalia Munique de Faria Melo.


O fungo da espécie Pseudocercospora vitis seu teleomorfo pertence ao reino Fungi, ao filo Ascomycota, à classe Dothideomycetes, à subclasse Dothideomycetidae, à ordem Capnodiales, à família Mycosphaerellaceae e ao gênero Pseudocercospora sp (Wikipédia, 2010).São sinônimos de Pseudocercospora vitis: Septonema vitis Lév., Ann. Sci. Nat., Bot., Ser. 3,9:261.1848; Cladosporium vitis (Lév.) Sacc., Mycoth.venet ., No.284.1875; Cercospora vitis (Lév.) Sacc., Nuovo Giorn. Bot. Ital. 8:188.1876; Helminthosporium vitis (Lév.) Pirotta, Ver. Mycol.11:185.1889; Phaeoisariopsis vitis (Lév.) Sawada, Rep. Dept. Agric. Gov. Res. Inst. Formosa 2: 164. 1922; Cercosporiopsis vitis (Lév.) Miura, Flora of Manchúria na East Mongólia, 3. Cryptog. Fungi: 527. 1928; Cercosporiopsis viticolum Ces., Flora 38: 206. 1854; Cercospora viticola (Ces.) Sacc., Syll. Fung. 4: 485. 1886; Cladosporium ampelinum Pass., Erb. Critt. Ital., Ser. 2, No. 595. 1872.; Graphium clavisporium Berk. E Cooke, Grevillea 3: 100. 1874; Isariopsis clavispora (Berk. E Cooke) Sacc., Syll. Fung. 4: 631,1886; Cercospora vitis (Lév.) Sacc. Var. rupestris CIF., Ann. Mycol. 20: 45. 1922; Cercospora vitis f. parthernocissi Docea, Lucr. Sti. Inst. Agron. ‘N. Balescu’, Ser. A. 11: 406. 1968 (Crous e Braun, 2003). Até pouco tempo a espécie válida para designar a mancha foliar da videira era Phaeoisariopsis vitis, contudo recentemente mudanças taxonônimas designaram este novo agrupamento válido como seno P. vitis (Souza et al., 2008 ).Existem 1438 espécies do gênero Pseudocercospora, 24 variedades e 11 formae especiales registradas na literatura para este gênero (Índex Fungorum, 2010). São 63 os números de hospedeiros do fungo Pseudocercospora vitis. (SBML, 2010). Segundo Crous e Braun, 2003, estão: Ampelosis aconitifolia, A. arbórea, A. cordata, A. brevipedunculata,Cissus rhodesiae, Cissus sp., Vitis amurensis, V. californica, V. cordifolia, V. davidii, V. labrusca, V. palmata, V. rotundifolia, V ruprestris, V. vinifera, Vitis sp. (Vitaceae), os países inclusos são: Australia, austria, Bangladesh, Barbados, Brazil, Bulgária, China, Colombia, Cyprus, Denmark, Egypt, France, Geórgia, Germany, Guatemala, Índia, Indonesia, Iran, Italy, Japan, Korea, Lebanon, Libya, Madagascar, Malaysia, Malta, Mauritius, Mexico, Moldova, Mozambique, Myanmar, Nepal, New Caledônia, New Zealand, Oman, Pakistan, Panam, Peru, Polande, Portugal, Rússia (Asian and European part), Saudi Arabia, Slovakia, Slovenia, Somália, South Africa, Sri Lanka, Swaziland, (LA, NC, WI), Uzbekistan, Venezuela, Yugoslavia, Zimbabwe. No Brasil são encontrados 137 registros de ocorrência do gênero Pseudocercospora sp. Os estados do Ceará e do Rio Grande do Sul tiveram ocorrência da espécie Vitis spp. Já no estado de Pernambuco teve ocorrência da espécie Vitis vinifera Linn. O estado de São Paulo obteve a ocorrência de ambas espécies (Cenargen, 2010). A mancha-foliar-da-videira representa uma doença de ocorrência muito comum, principalmente em videiras mal cuidadas. O aparecimento da doença é mais freqüente no final do ciclo vegetativo da planta (Kimati e Galli, 1980). Ocorre principalmente no sudeste dos Estados Unidos, embora tenha sido relatado em Massachusetts, Connecticut, Kansas, Illionis e Califórnia, em videiras selvagens (McGrew e Pollack, 1998).A forma teleomórfica é representada pelo fungo Mycosphaerella personata, ascomiceto da ordem Dothideales, e a fase anamórfica corresponde à espécie Pseudocercospora vitis. A forma perfeita é encontrada em folhas mortas no final de um ciclo de cultivo (Kimati e Galli, 1980).O principal dano decorrente do ataque do patógeno é a queda prematura de folhas, que provoca enfraquecimento da planta e redução de produção no ano seguinte (McGrew e Pollack, 1998).Os sintomas são manchas irregulares a angulares no limbo foliar, de 2-10 mm de diâmetro, com bordos bem definidos, de coloração inicialmente avermelhada e posteriormente pardo-escura a preta, apresentando geralmente um halo amarelo-esverdeado. Na face inferior da folha, correspondendo ao tecido afetado, sob condições de alta umidade, desenvolvem-se as frutificações do fungo, que conferem à mancha um aspecto verde-oliváceo (kimati e Galli,1980).O anamorfo apresenta células conidiogênicas poliblásticas integradas, terminais, simpodiais, cilíndrico com fina cicatriz, mas visível, achatada contra a parede da célula (Ellis, 1971).As estruturas de frutificação são delgadas e preto. O ascostroma esférico (60-90 µm de diâmetro) abriga ascos clavados (30-40 x 6-10 µm). A fase anamórfica P. vitis possui conídios alongados com dimensões de 25-99 x 4-8 µm, multiseptados, possui de 3 a 17 septos, formados sobre sinêmios (conidióforos agregados em feixes) de coloração verde-oliva (Pearson e Goheen, 1998).O objetivo desse trabalho foi mostrar as estruturas fundamentais do fungo Pseudocercospora vitis.
O trabalho foi realizado no Laboratório de Microbiologia do IFGoiano campus Urutaí, GO.O fungo foi retirado da folha de uva coletada na cidade de Taguatinga, DF, com o auxilio de microscópio esteroscópio e estilete. Na lâmina com adição fixador lactofenol cooton-blue (62,5 mL ácido lático, 2,6 mL ácido acético, 100 mL água e 100 mL glicerina), depositou-se fragmentos de estruturas fúngicas para conservação das estruturas do fungo, em seguida coberta com lamínula e vedada com esmalte. Essa lâmina foi levada ao microscópio ótico para visualização das estruturas fúngicas na lente de aumento de 100x com óleo de imersão. Foi colocado uma gota em cima da lâmina, uma vez que em foco o óleo age como uma ponte entre o vidro da lâmina e o vidro da objetiva, aumentando a definição da imagem.Em seguida foram sendo identificadas as estruturas do fungo. Microfotografias foram tiradas no microscópio estereoscópico e ótico. Os registros micro e macrofotográficos foram realizados utilizando câmera digital Canon® modelo Power Shot A580.

Figura 1. Incidência do fungo Pseudocercospora vitis em folha de uva. A. sintoma de macnha necrótica na folha, B. detalhe do formato e da cor da lesão em microscópio estereoscópio (bar = 3 mm), C. porção terminal do sinêmio (bar = 80 µm), D. conídio escuros e septados (bar = 14 µm), E. conídio escuro de formato irregular (bar = 45 µm), F. extremidades das células conidiogênicas truncadas (bar = 2 µm), G. tecido estromático e dois conidióforos (bar = 11 µm), H. conídio uni septado (bar = 9 µm).

Descrição Micológica

O principal sintoma doença são manchas irregulares a angulares no limbo foliar, de 2 mm a 1 cm de diâmetro, com bordos bem definidos. Inicialmente, as manchas apresentam coloração avermelhada, passando a pardo-escuro e preta. Freqüentemente observa-se ao redor das manchas um halo amarelo-esverdeado (Fig. 1. B) assim como descreveram Kimati et al. (2005). P. vitis possui o ascostroma esférico (60- 90 µm de diâmetro) e negro que abriga ascos clavados (30- 40 x 6- 10 µm) (Fig. 1. C). Os conidióforos escuros frouxamente reunidos em sinêma (Fig. 1. D) (Fig. 1. E), produz conídios cilíndricos contendo vários septos, embora possam aparecer conídios com apenas dois septos ou mesmo sem nenhum (Fig 1. H) (Galli et al., 1978). O conidióforo apresenta a forma irregular na extremidade ( Fig. 1. F).


Referências Bibliográficas

BARNETT, H.L. Illustrated Genera Of Imperfect Fungi. FOURTH EDITION. APS PRESS. The American Phytopathological Society. St.Paul, Minnesota, USA, 1998.
CARMICHAEL, J.W.; BRYCEKENDRICK W.; CONNERS I. L.; SINGLER L. Genera of Hyphomycetes. The University of Alberta Press.
CENARGEN disponível em: , acessado em 15 de abril de 2010.
ELLIS, M.B.. Dermatiaceous Hyphomycetes. COMMONWEALTH MYCOLOGICAL INSTITUTE. KEW, SURREY, ENGLAND 1971.
KIMATI, H. e GALLI, F.. Doenças da Videira – Vitis spp. In: GALLI F.; CARVALHO, P. C. T.; TOKESHI H.; BALMER E.; KIMATI H.; CARDOSO, C. O. N.; SALGADO C. L.; KRUGNER T. L.; CARDOSO E. J. B. N.; FILHO A. B. Manual de Fitopatologia- Doenças das Plantas Cultivadas. Vol. 2. Editora Agronômica Ceres LTDA. São Paulo, SP, 1980.
INDEX FUNGORUM Disponivel em: , acessado em 15 de abril de 2010.
MCGREW, J. R. E POLLACK, F. G. In: Compendium of Grape Diseases. Edited by Roger C. Pearson and Austin C. Goheen. Aps Press The American Phytopathological Society. St. Paul, Minnesota USA, 1998.
FARR, D.F., & ROSSAMAN, A.Y. Fungal DATABASES, SYSTEMATIC MYCOLOGY AND MICROBIOLOGY LABORATORY, Disponível em:http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/, acessado em 15 de abril de 2010.
SOUZA, E.S.C., ARAÚJO, R.C.A., MAFFON, H.P., MENDES, K.F., OLIVEIRA, K.A., BRANDÃO, G.O. & PAZ LIMA, M.L. Phaeoisariopsis vitis infectando folhas de Vitis vinifera no Distrito Federal. Tropical Plant Pathology 33 (suplemento):234 2008.
WIKIPÉDIA The Free Encyclopedia Disponível em: acessado em 15 de abril de 2010.
CROUS PEDRO W. E BRAUN UWE. Mycophaerella and its anamorphs: 1. Names published in Cercospora an Passalora. Centraalbureau voor Schimmelcultures, Utrecht, The Netherlands Fungal Biodiversity Centre An institute of the Royal Netherlands Academy of Sciences and Arts. USA, 2003.
CHUPP C. . A Monograph of the Fungus Genus. Ithaca. New York, USA, 1953.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

“ASPECTOS GERAIS E MORFOLÓGICOS DE Chaetomium sp.”

autor: Felipe Soares de Paula.
O gênero chaetomium sp. Apresenta a seguinte morfologia; ascoma aceolado peritecial, superficial simples agregado, globoso e a sub-globoso, de forma alongada, obpiriforme ou em formato de vaso. Apresenta coloração marrom, com apêndices que podem ser de várias formas; ramificados, coloridos ou arcados, de parede fina, septados ou asseptados, lisos ou rugosos, a parede do ascoma pode ser translúcida, membranosa, pseudoparenquimatosa, prosenquimatosa, e as paráfises podem estar presentes ou ausentes. Os ascos podem ser clavados, lineares e cilíndricos, e em seu interior possuem de 4 a 8 ascósporos sendo que sua asca possui parede evanescente. Os ascósporos são unicelulares de coloração marrom olivácea clara a marrom escura, possui poros germinativos, com uma ou ambas as terminações, muitas vezes podem ser limoniformes, apiculados; os ascos podem ser na maioria das vezes globosos, sub-globosos, clavados, filiformes ou triangulares, lisos. Podem apresentar perífises no ostíolo (Halim, 1989).

A sua forma anamórfica pode pertencer aos seguintes gêneros; Acremonium sp., Botyotrichum sp., Scytalidium sp. e Sporothrix sp.. O principal anamorfo pertence à espécie é o Chaetomium globosum Kunze. O gênero é encontrado, principalmente, em substratos celulósicos, sementes e no solo (Halim, 1989).

O gênero Chaetomium sp. pertence a família Chaetomiaceae, Ordem Sordariales, Família Sordariomycetidae, Classe Sordariomycetes, Divisão Ascomycota e Reino Fungi (Index Fungurum, 2010).

Trabalhos demonstram a ocorrência do gênero chaetomium sp. em todos os estados Brasileiros e na maioria das espécies o gênero está associados a sementes (Embrapa- Cernagem, 2010).

Chaetomium sp. é um fungo filamentoso encontrado no solo, ar e resíduos vegetais. Esse gênero de fungo, que contém cerca de 80 espécies conhecidas está entre o grupo de fungos que podem causar problemas para a saúde humana como resultado da exposição prolongada, tornando-os de interesse para pessoas que lidam com problemas de mofo em suas casas. Estes fungos gostam de viver em celulose, e são encontrados em madeira, compostos, folhas, palha e materiais similares. A colônia de fungos pode levar até três semanas para amadurecer em um ambiente frio, produzindo esporos que se espalham através do vento. Os esporos de fungo Chaetomium sp. tem uma forma de um limão que as torna fáceis de identificar. O Chaetomium globosum é a espécie mais comumente encontrada dentro de casa. Esta espécie é de particular interesse porque produzem micotoxinas, substâncias que são prejudiciais à saúde humana. Estes fungos foram definitivamente associados a alergias em pessoas que são sensíveis a fungos, e eles produzem micotoxinas mutagênicas que interferem com o DNA de replicação em organismos como os seres humanos e outros animais. (Wikipédia, 2010).

Trabalhos realizados constataram que em sementes de amendoim o gênero chaetomium sp. destacam-se pela freqüência que ocorrem e pela sua ação sobre as sementes, prejudicando a germinação ou causando tombamento das plântulas após a germinação (Sergio,1985).

Foi verificada em sementes de arroz uma série de fungos sendo verificado que Chaetomium sp. foi um dos gêneros mais freqüentes, sendo este fato associado a condições de alta precipitação pluviométrica no local na fase de enchimento de grãos de arroz (Silva - Lobo et al.,2006)

No Brasil o gergelim é cultivado em quase todo o seu território para produção de óleo, uso na alimentação, indústria farmacêutica e de cosméticos. A planta é suscetível a diversas doenças, causadas por fungos, um dos fungos mais encontrados nessas plantas e o chaetomium sp. que em sua grande maioria são transmitidos pelas próprias sementes. Os principais danos causados pelo gênero em sementes de gergelim são: deterioração das sementes, perdas na pré e pós-emergência, rendimento na quantidade e na qualidade do óleo das sementes (Embrapa- Cernagem, 2010).

O grão-de-bico é uma das leguminosas mais produzidas e consumidas no mundo, possuindo alto valor nutritivo. O surgimento do gênero Chaetomium sp em sua sementes é um fator preponderante para o surgimento de doenças nas fases iniciais e durante desenvolvimento das culturas (Aquino, 2009).

A podridão-cinzenta-das-flores e botões é encontrada disseminada em todas as regiões produtoras do Brasil, aparecendo sempre que as condições ambientais apresentam elevada umidade. É um sério problema na pós-colheita, causando necrose das pétalas. Causa descoloração típica das flores e botões, os quais podem apodrecer. Eventualmente flores já completamente formadas e prontas para colheita são também atacadas. Recentemente, no Estado do Ceará, rosas destinadas à exportação apresentaram os mesmos sintomas, e aos isolamentos verificou-se que se tratava de Chaetomium sp.( Freire , 2006).

O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos gerais e morfológicos do fungo Chaetomium sp.
O trabalho foi realizado no laboratório de microbiologia do IF Goiano- campus Urutaí.
As estruturas fúngicas foram retiradas de uma folha de amendoim (Arachis hypogaea.) submetidas a condições de câmara úmida.
Utilizando microscópio estereoscópico analisaram-se os materiais para identificação das estruturas morfológicas fúngicas para conseguir identificar e coletar a estrutura do fungo, próximo passo foi depositar o corante lactofenol-cotton-blue na lâmina e depois se retirou estruturas fungicas da folha e depositou sobre uma gota de corante, logo em seguida depositou-se a lamínula e vedou-se com esmalte.
Após a montagem a lâmina foi levada para visualização em microscópio ótico e registro microfotográfico. As estruturas morfológicas verificadas foram peritécio, asco e ascósporos.
Comparamos as estruturas observadas com estruturas descritas em literatura para identificar o gênero ao qual o fungo pertence. Nesse trabalho o fungo identificado pertenceu ao gênero chaetomium sp.
Também foram realizados microfotografias em microscópio estereoscópico. Os registros macro e microfotográficos foram realizados utilizando a câmera digital Canon modelo Power Shot A580.


Figura 1: Aspectos morfológicos do gênero Chaetomium sp : 1A. folha de amendoim ( Arachis hypogaea L.) com presença de estruturas fungicas; 1B. peritécio hialino e rostrado (bar=40m); 1C. detalhe do rostro e ostíolo (bar=25m); 1D. detalhe de uma asca contendo ascósporos maduros(bar=30m); 1E. Ascósporo de forma limoniforme de cor marrom escuro (bar=4m); 1F. ascósporo forma limoniforme de cor marrom olivácea clara (bar=8m).

DESCRIÇÃO MICOLÓGICA

O gênero chaetomium sp. apresenta colônias com crescimento rápido na cor branca inicialmente e acinzentado quando maduros essas colônia de fungos pode levar até três semanas para amadurecer em um ambiente frio, produzindo esporos que se espalham através do vento. A (fig 1A) apresenta uma folha com pequenas colônias, apresentando coloração acinzentada e branca o que demonstra que as colônias apresentam diferentes estágios de desenvolvimento. (Fig1B) Possuem peritécios grandes, hialinos e frágil, globosos em forma de balão e possuem filamentosos, apêndices (setas) em sua superfície, a parede do ascoma pode ser translúcida, membranosa, pseudoparenquimatosa, prosenquimatosa, e as paráfises podem estar presentes ou ausentes. O peritécio (fig1C) tem ostíolo (pequenas aberturas arredondadas) com perífises presentes e contem ascos e ascósporos dentro. Os ascos (fig1D) podem ser na maioria das vezes globosos, sub-globosos, clavados, filiformes ou triangulares, lisos. Os ascósporos (fig 1EF) são unicelulares de coloração marrom olivácea clara a marrom escura, possui poros germinativos, com uma ou ambas as terminações, na maioria das vezes podem ser limoniformes. Estes elementos morfológicos se adequaram as informações descritas para o gênero por Halim (1989).


LITERATURA CITADA.

AQUINO, CF; ARAUJO, AV; FERREIRA, ICPV; SALES, NPL; COSTA, CA; BRANDÃO, J; Qualidade sanitária de sementes de genótipos de grão-de-bico cultivados em Montes Claros-MG. Fitopatologia brasileira, 34(suplemento), agosto de 2009.

EMBRAPA CENARGEN Disponível em: http://www.cenargen.embrapa.br/publica/trabalhos/bp026.pdf Acessado em: 20 de junho 2010.

EMBRAPA CENARGEN Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fichafg.asp?id=845 Acessado em: 16 de junho 2010.

FREIRE F.C. O; Doenças atuais e potenciais das principais frutíferas e flores ornamentais do nordeste. Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza - Ceará, Fitopatologia brasileira, 31(suplemento), 2006.

INDEX FUMGORUM Disponível em: http://www.indexfungorum.org/names/ NamesRecord.asp?RecordID=495633 acessado em 2010.

MORAES, S.A, MORIOTTO, P.R, Diagnóstico da patologia de sementes de amendoim no Brasil. Revista brasileira de sementes, vol. 7, no 1, p. 41-44, 1985.

SILVA-LOBO, V.L, UTUMI, M.M, PEIXOTO, O.M, CASTRO e BRITO A.M, incidência de fungos causadores de mancha de grãos em arroz produzidos nos estados de Goiás, Mato grosso e Rondônia. Fitopatologia brasileira, 31(suplemento), 2006.

RICHARD T. H., Illustrated genera of ascomycetes, Aps Press, the Americamn Phythological Society St, Minnesota. Volume 2, 1989.

WIKIPÉDIA disponível em:http://www.wisegeek.com/what-is-chaetomium.htm acessado em 20 de junho 2010.












terça-feira, 22 de junho de 2010

REVISÃO DE LITERATURA A RESPEITO DO MELHORAMENTO GENÉTICO DA CULTURA DA SOJA

Autor: Cássio Jardim Tavares

1. INTRODUÇÃO

A cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill), é uma espécie de grande importância econômica, e tem como centro de origem o continente asiático, mais precisamente a região correspondente à China Antiga. Há referências bibliográficas, segundo as quais, essa leguminosa constituía-se uma base alimentar do povo chinês há mais de 5.000 anos. Atualmente diversos pesquisadores e melhoristas que estudam e/ou estudaram a sua origem, histórico e difusão geográfica, concordam ao afirmarem que a mais antiga referência à soja consta do herbário PEN TS’ AO KANG MU como parte da obra “MATÉRIA MÉDICA” de autoria do Imperador SHEN NUNG, escrita em 2838 A.C. Nessa obra, foram descritas as plantas mais importantes para os chineses. Dentre elas, o arroz, o trigo, a cevada, o milheto e a soja eram considerados “os cinco grãos sagrados”, por serem essenciais à estabilidade da civilização chinesa (Embrapa, 2010).

Desde muitos anos atrás o já era realizado o cultivo da soja. Alguns relatos revelam que os plantios de soja remontam a 2838 anos A.C, na China, sendo muitos desses escritos numa língua ainda arcaica. Na cultura chinesa daquele período, algumas plantas eram consideradas sagradas, dentre elas a soja. Durante muitos anos, a cultura permaneceu restrita ao oriente, só sendo introduzida no ocidente, pela Europa, por volta do século XV, não com finalidade de alimentação, como acontecia na China e Japão, mas de ornamentação, como na Inglaterra, França e Alemanha (Embrapa, 2010).

Foi necessário meio milênio para que a civilização ocidental percebesse o valor do grão de soja na alimentação, principalmente o seu valor protéico. As primeiras tentativas de produção de soja na Europa fracassaram, provavelmente, devido a fatores climáticos, ausência de conhecimento sobre a cultura e suas exigências (Embrapa, 2010).

A cultura da soja que cultivamos é muito diferente dos seus ancestrais, que eram plantas rasteiras que se desenvolviam na costa leste da Ásia, principalmente ao longo do Rio Yangtse, na China (Embrapa, 2010).

A evolução do melhoramento da cultura começou com o aparecimento de plantas oriundas de cruzamentos naturais entre duas espécies de soja selvagem que foram domesticadas e melhoradas por cientistas da antiga China, porem o Ocidente ignorou o seu cultivo até a segunda década do século vinte, quando os Estados Unidos (EUA) iniciaram sua exploração comercial, primeiro como forrageira e, posteriormente, como grãos. Em 1940, no auge do seu cultivo como forrageira, foram plantados, nesse país, cerca de dois milhões de hectares com tal propósito, não tendo ainda plantio com finalidade de obtenção do grão (Embrapa, 2010).

Somente em 1941, a área cultivada para grãos superou a cultivada para forragem, cujo plantio declinou rapidamente, até desaparecer em meados dos anos 60, enquanto a área cultivada para a produção de grãos aumentava de forma acelerada, não apenas nos EUA, como também no resto do mundo (Embrapa, 2010).

Essa cultura foi introduzida no Brasil via Estados Unidos, em 1882. Gustavo Dutra, então professor da Escola de Agronomia da Bahia, realizou os primeiros estudos de avaliação de cultivares introduzidos daquele país. Nos anos de 1891, testes de adaptação de cultivares semelhantes aos conduzidos por Dutra na Bahia, foram realizados no Instituto Agronômico de Campinas, Estado de São Paulo (SP) (Medina, 1981).

O Instituto Agronômico de Campinas, SP, em 1900 e 1901 promoveu a primeira distribuição de sementes de soja para produtores paulistas e para essa mesma data tem-se registros do primeiro plantio de soja no Rio Grande do Sul (RS), onde a cultura encontrou efetivas condições para se desenvolver e expandir, dadas as semelhanças climáticas do ecossistema de origem dos materiais genéticos (EUA), com as condições climáticas predominantes no RS (Minssen, 1901).

No ano de 1954 a soja foi introduzida em Santa Catarina por agricultores gaúchos que se deslocaram para o oeste e Vale do Rio do Peixe. Em 1939 a soja foi introduzida no Estado do Paraná, após esse processo de instalação a cultura espalhou por todo o país. (Medina, 1981).

Após os anos 40, a soja já tinha adquirido alguma importância econômica, merecendo o primeiro registro estatístico nacional em 1941, no Anuário Agrícola do RS (área cultivada de 640 ha, produção de 450 ton e rendimento de 700 kg/ha). No ano de 1941 instalou-se em Santa Rosa, RS, a primeira indústria processadora de soja do País e, em 1949, com produção de 25.000 ton, o Brasil figurou pela primeira vez como produtor de soja nas estatísticas internacionais (Embrapa, 2010).

Mas o crescimento da produção foi incrementado a partir da década de 1960, impulsionada pela política de subsídios ao trigo, visando sua auto-suficiência nacional, que a soja se estabeleceu como cultura economicamente importante para o Brasil. Na década de 60, a sua produção multiplicou-se por cinco (passou de 206 mil toneladas em 1960 para 1,056 milhão de toneladas em 1969), sendo que 98% desse volume era produzido nos três estados da Região Sul, onde prevalecia a dobradinha: trigo no inverno e soja no verão (Embrapa, 2010).

Porém, foi na década seguinte que a soja se consolidou como a principal cultura do agronegócio brasileiro, passando de 1,5 milhões de toneladas (1970) para mais de 15 milhões de toneladas (1979). Esse crescimento se deve, não apenas ao aumento da área plantada (1,3 para 8,8 milhões de hectares), mas, também, ao expressivo incremento da produtividade (1,14 para 1,73t/ha), graças às novas tecnologias disponibilizadas aos produtores pela pesquisa brasileira. Mais de 80% do volume produzido na época concentrava-se na Região Sul do Brasil (Embrapa, 2010).

Nas duas décadas seguintes repetiu-se, na região tropical do Brasil, o explosivo crescimento da produção ocorrido nas duas décadas anteriores na Região Sul. Em 1970, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida no Centro-Oeste, em 1980 esse percentual passou para 20%, em 1990 já era superior a 40% e em 2002 está em 58%, com tendências a ocupar maior espaço a cada nova safra. Essa expansão fez com que o Estado do Mato Grosso tornasse o líder nacional de produção e produtividade de soja, com boas perspectivas de consolidar-se nessa posição (Embrapa, 2010).

Vários foram os fatores que contribuíram para que a soja se estabelecesse como importante cultura, primeiro no sul do Brasil (anos 60 e 70) e, posteriormente, nos Cerrados do Brasil central (anos 80 e 90). Alguns desses fatores são comuns a ambas as regiões, outros não. Dentre aqueles que contribuíram para seu rápido estabelecimento na Região Sul, podemos destacar: semelhança do ecossistema do sul do Brasil com aquele predominante no sul dos Estados Unidos, favorecendo o êxito na transferência e adoção de variedades e outras tecnologias de produção; estabelecimento da “Operação Tatu” no RS em meados dos anos 60, cujo programa promoveu a calagem e a correção da fertilidade dos solos, favorecendo o cultivo da soja naquele Estado, então o grande produtor nacional da oleaginosa; incentivos fiscais disponibilizados aos produtores de trigo nos anos 50, 60 e 70 beneficiaram igualmente a cultura da soja, que utilizava, no verão, a mesma área, mão de obra e maquinário do trigo plantado no inverno; mercado internacional em alta, principalmente em meados dos anos 70, em resposta à frustração da safra de grãos na Rússia e China, assim como da pesca da anchova no Peru, cuja farinha de peixe era amplamente utilizada na fabricação de rações, quando os fabricantes passaram a utilizar o farelo de soja; substituição das gorduras animais (banha e manteiga) por óleos vegetais, mais saudáveis ao consumo humano; estabelecimento de um importante parque industrial de processamento de soja, de máquinas e de insumos agrícolas, em contrapartida aos incentivos fiscais do governo, disponibilizados, tanto para o incremento da produção, quanto para o estabelecimento de agroindústrias; facilidades de mecanização total da cultura; o surgimento de um sistema cooperativista dinâmico e eficiente, que apoiou fortemente a produção, a industrialização e a comercialização das safras; estabelecimento de uma bem articulada rede de pesquisa de soja envolvendo o poder público federal e estadual, apoiado financeiramente pela industria privada (Swift, Anderson Clayton, Samrig, etc.); melhorias nos sistemas viário, portuário e de comunicações, facilitando e agilizando o transporte e as exportações (Embrapa, 2010).

Para o meteórico crescimento da soja no centro oeste brasileiro pode citar os seguintes fatores: construção de Brasília na região, determinando uma série de melhorias na infra-estrutura regional, principalmente vias de acesso, comunicações e urbanização; incentivos fiscais disponibilizados para a abertura de novas áreas de produção agrícola, assim como para a aquisição de máquinas e construção de silos e armazéns; estabelecimento de agroindústrias na região, estimuladas pelos mesmos incentivos fiscais disponibilizados para a ampliação da fronteira agrícola; baixo valor da terra na região, comparado ao da Região Sul, nas décadas de 1960/70/80; desenvolvimento de um bem sucedido pacote tecnológico para a produção de soja na região, com destaque para as novas variedades adaptadas à condição de baixa latitude do centro oeste; topografias altamente favoráveis à mecanização, favorecendo o uso de máquinas e equipamentos de grande porte, o que propicia economia de mão de obra e maior rendimento nas operações de preparo do solo, tratos culturais e colheita; boas condições físicas dos solos da região, facilitando as operações do maquinário agrícola e compensando, parcialmente, as desfavoráveis características químicas desses solos; melhorias no sistema de transporte da produção regional, com o estabelecimento de corredores de exportação, utilizando articuladamente rodovias, ferrovias e hidrovias; alto nível econômico e tecnológico dos produtores de soja do Brasil central, oriundos, em sua maioria, da Região Sul, onde cultivavam soja com sucesso previamente à sua fixação na região tropical (Embrapa, 2010).

A mudança no aspecto socio-econômica e tecnológica protagonizada pela soja no Brasil Moderno, pode ser comparada ao fenômeno ocorrido com a cana de açúcar no Brasil Colônia e do café no Brasil Império, que, em épocas diferentes, comandaram o comércio exterior do País. A soja responde, atualmente, por uma receita cambial direta para o Brasil de mais de seis bilhões de dólares anuais (10% do total das receitas cambias brasileiras) e cinco vezes esse valor, se considerados os benefícios que gera ao longo da sua extensa cadeia produtiva (Embrapa, 2010).

Abrindo fronteiras e semeando cidades, a soja liderou a implantação de uma nova civilização no Brasil central, levando o progresso e o desenvolvimento para uma região despovoada e desvalorizada, fazendo brotar cidades no vazio do Cerrado e transformando os pequenos conglomerados urbanos existentes, em metrópoles (Embrapa, 2010).

O grande aumento da produção de soja no Brasil, de quase 30 vezes no transcorrer de apenas três décadas, determinou uma cadeia de mudanças sem precedentes na história do País. Foi à soja, inicialmente auxiliada pelo trigo, a grande responsável pelo surgimento da agricultura comercial no Brasil. Também, ela apoiou ou foi a grande responsável pela aceleração da mecanização das lavouras brasileiras; pela modernização do sistema de transportes; pela expansão da fronteira agrícola; pela profissionalização e incremento do comércio internacional; pela modificação e enriquecimento da dieta alimentar dos brasileiros; pela aceleração da urbanização do País; pela interiorização da população brasileira (excessivamente concentrada no sul, sudeste e litoral); pela tecnificação de outras culturas (destacadamente a do milho); assim como, impulsionou e interiorizou a agroindústria nacional, patrocinando o deslanche da avicultura e da suinocultura brasileiras (Embrapa, 2010).

Os avanços científicos e a disponibilização de tecnologias ao setor produtivo sempre foram os responsáveis pelo crescimento da produção e o aumento da capacidade competitiva da soja brasileira. Dessa forma, o trabalho tem por objetivo identificar e descrever o melhoramento genético da soja durante todos esses anos (Embrapa, 2010).

2.0 DESENVOLVIMENTO

2.1. Aspectos Botânicos

A cultura da soja (Glycine max (L) Merrill) que cultivamos comercialmente hoje, é uma planta herbácea, incluída no Reino Plantae, Divisão Magnoliophyta, Classe Magnoliopsida, Ordem Fabales, Família Fabaceae, subfamília das Faboideae, Gênero Glycine e Espécie G. max. (Wikipédia, 2010).

Essa planta apresenta grande variabilidade genética, tanto no ciclo vegetativo (período compreendido da emergência da plântula até a abertura das primeiras flores), como no reprodutivo (período do início da floração até o fim do ciclo da cultura), sendo também influenciada pelo meio ambiente (Gomes, 1990).

Essa planta apresenta grande diversidade de ciclo. De modo geral, os cultivares brasileiros têm ciclos entre 100 e 160 dias, e podem ser classificados em grupos de maturação precoce, semiprecoce, médio, semitardio e tardio, dependendo da região. A altura da planta depende da interação da região (condições ambientais) e do cultivar (genótipo) (Borém, 2005).

O crescimento da soja é classificado em três tipos, diretamente correlacionados com o porte da planta: indeterminado, semideterminado e determinado. A planta de soja é fortemente influenciada pelo comprimento do dia (período de iluminação). Em regiões ou épocas de fotoperíodo mais curto, durante a fase vegetativa da planta, ela tende a induzir o florescimento precoce, e apresentar consecutiva queda de produção. Para controlar este problema, alguns melhoristas utilizam o artifício do uso do período juvenil longo para retardar o florescimento em dias curtos. Pois, na fase juvenil, a soja não floresce, mesmo quando submetida ao fotoperíodo indutivo, permitindo assim maior crescimento vegetativo e evitando quebra na produção (Borém, 2005).

Podem apresentar também quatro tipos de folhas durante o seu ciclo, sendo: cotiledonares, folhas primárias ou simples, folhas trifolioladas ou compostas e prófilos simples. Sua cor, na maioria dos cultivares, é verde pálida e, em outras, verde escura (Gomes, 1990).

A planta apresenta um caule do tipo ramoso, híspido, com tamanho que varia entre 80 e 150 cm, dependendo da variedade e do tempo de exposição diário à luz. Sua terminação apresenta racemo, em variedades de crescimento determinado, ou sem racemo terminal, em variedades de crescimento indeterminado (Gomes, 1990).

A cultura da soja é essencialmente uma espécie autógama, ou seja, uma planta polinizada por ela mesma e não por outras plantas, mesmo que vizinhas a ela, com flores perfeitas e órgãos masculinos e femininos protegidos dentro da corola. Insetos, principalmente abelhas, podem transportar o pólen e realizar a polinização de flores de diferentes plantas, mas a taxa de fecundação cruzada, em geral, é menor que 1 %. As flores de soja podem apresentar coloração branca, púrpura diluída ou roxa, de 3 até 8mm de diâmetro. O início da floração dá-se quando a planta apresenta de 10 até 12 folhas trifolioladas, onde os botões axilares mostram racemos com 2 até 35 flores cada um (Borém, 2005).

Essa planta apresenta um sistema radicular constituído de um eixo principal e grande número de raízes secundárias, sendo classificado com um sistema difuso. O comprimento das raízes pode chegar a até 1,80 m. A maior parte delas encontra-se a 15 cm de profundidade (Gomes, 1990).

Apresenta também um legume levemente arqueado, peludo, formado por duas valvas de um carpelo simples, medindo de 2 até 7cm, onde aloja de 1 até 5 sementes. A coloração da vagem varia entre amarela-palha, cinza e preta, dependendo do estágio de desenvolvimento da planta. As sementes de soja são lisas, ovais, globosas ou elípticas. Podem também ser encontrada nas cores amarela, preta ou verde. O hilo é geralmente marrom, preto ou cinza (Gomes, 1990).

2.2. Melhoramento Genético da Cultura

Até o inicio dos anos 70 e final dos anos 60, a pesquisa com a cultura da soja no Brasil era muito pouca e concentrava-se na Região Sul do País, atuando, fundamentalmente, na adaptação de tecnologias (variedades, principalmente) introduzidas dos EUA. O primeiro programa consistente de pesquisa com a soja estabeleceu-se na década de 1950, no Instituto Agronômico de Campinas, SP. Mas foi no RS, uma década mais tarde, que a cultura encontrou condições para se estabelecer e expandir como lavoura comercial, para o que foi fundamental a boa adaptação que as cultivares introduzidas dos EUA tiveram para as condições do sul do Brasil (Embrapa, 2010).

Com o grande desenvolvimento do cultivo da soja no País, a partir dos anos 60, fez surgir um novo e agressivo setor produtivo, altamente demandante por tecnologias que a pesquisa ainda não estava estruturada para oferecer na quantidade e qualidade desejadas. Consequentemente, os poucos programas de pesquisa com soja existente na região foram fortalecidos e novos núcleos de pesquisa foram criados no sudeste e centro oeste, principalmente (Embrapa, 2010).

Muitas iniciativas foram tomadas para incrementar e fortalecer a pesquisa com soja no País, implementadas a partir dessa época, merece destacar-se a criação da Embrapa Soja em 1975, que patrocinaria, já a partir do ano seguinte, a instituição do Programa Nacional de Pesquisa de Soja, cujo propósito foi o de integrar e potencializar os isolados esforços de pesquisa com a cultura espalhada pelo sul e sudeste. Além do programa de pesquisa da Embrapa Soja no Paraná, outros programas de pesquisa com a cultura estabeleceram-se nessa mesma década pelo Brasil afora: Universidade Federal de Viçosa e Epamig em Minas Gerais; Emgopa em Goiás; Embrapa Cerrados no Distrito Federal; Coodetec, Indusem e FT-Sementes (atualmente Monsoy) no Paraná; Fundacep no RS; Embrapa Agropecuária Oeste e Empaer no Mato Grosso do Sul, além do fortalecimento dos programas já existentes na Embrapa Trigo e Secretaria da Agricultura do RS e IAC em SP. Com o advento da Lei de Proteção de Cultivares na década de 1990, novos programas de pesquisa privados estabeleceram-se no País, dentre os quais merecem destaque a Monsoy, Fundação Mato Grosso, Syngenta, Pioneer/DuPont e Milênia (Embrapa, 2010).

A preocupação maior dos programas de pesquisa de soja brasileiros era com a produtividade, isso aconteceu até o ano de 1970. Com menor ênfase, também buscavam a altura adequada das plantas para a colheita mecânica, a resistência ao acamamento e resistência à deiscência das vagens. Os problemas fitossanitários não preocupavam muitos os pesquisadores da época. Foi somente a partir dos anos 80 que resistência a doenças como a Pústula Bacteriana, o Fogo Selvagem e a Mancha Olho de Rã passaram a constitui-se em características necessárias para a recomendação de uma nova cultivar. Posteriormente, problemas fitossanitários maiores surgiram, como o Cancro da Haste, o Nematóide de Cisto e o Oídio, ampliando a lista de exigências para a recomendação de novos cultivares (Embrapa Soja, 1999).

Uma grande conquista da pesquisa brasileira foi o desenvolvimento de cultivares adaptados às baixas latitudes dos climas tropicais. Até 1970, os plantios comerciais de soja no mundo restringiam-se a regiões de climas temperados e subtropicais, cujas latitudes estavam próximas ou superiores aos 30º. Os pesquisadores brasileiros conseguiram romper essa barreira, desenvolvendo germoplasma adaptado às condições tropicais e viabilizando o seu cultivo em qualquer ponto do território nacional. Somente no Ecossistema do Cerrado, mais de 200 milhões de hectares improdutivos foram transformados em área apta para o cultivo da soja e outros grãos (Embrapa Soja, 1999).

A criação Embrapa Soja foi muito importante para o melhoramento da soja, e essa instituição tem tido uma participação decisiva no avanço da cultura rumo às regiões tropicais, em função do modelo de parcerias com associações de produtores de sementes utilizadas em seu programa de melhoramento genético. Esses parceiros incrementaram enormemente a capacidade de desenvolvimento de novos cultivares da Embrapa, Brasil afora, dando sustentação financeira e, consequentemente, agilizando o processo. Fruto desse modelo, os “cultivares Embrapa” respondem por mais de 50% do mercado nacional de sementes de soja. A oferta de cultivares foi acompanhada pela incorporação, tanto nas “velhas” quanto nos novos cultivares, de resistência às principais doenças que atacam a cultura no País (Embrapa Soja, 1999).

Por ser uma espécie autógama pode ser melhorada através do processo de introdução, seleção e hibridação. A soja passou pelas três fases de melhoramento. A seleção é uma das formas mais simples de melhoramento de plantas. Devemos lembrar que a seleção não cria variabilidade, mas ela atua na variação existente. A seleção somente age e é efetiva quando estão presentes diferenças hereditárias ou genéticas. Por isso, esta técnica é utilizada quando possuímos populações que apresentem variabilidade genética, como é o caso de variedades crioulas (Ufpr, 2010).

A variabilidade genética pode ser ocasionada por mistura de sementes de outras populações, por mutações genéticas ou cruzamentos naturais com plantas de diferentes genótipos. No método de seleção massal, ou “bulk”, a seleção da soja é feita com base no fenótipo, não sendo feitos testes de progênie. Por isso, este método é altamente influenciado pelo ambiente. Para realização desse método uma população de plantas apresentando variabilidade genética, é escolhida visualmente as plantas de soja, que são então colhidas. As sementes obtidas são então reunidas para formar a população melhorada. Se for preciso, pode-se repetir a seleção massal por mais ciclos. Este tipo de técnica é eficiente somente para caracteres de alta herdabilidade, não sendo recomendado para características quantitativas como a produtividade. As variedades resultantes desse tipo de seleção são constituídas de uma mistura de linhas puras. A seleção massal é o método mais antigo de melhoramento. Este tipo de seleção vem sendo usado pelos agricultores por milhares de anos e foi muito importante para a domesticação das espécies cultivadas. Quando um agricultor escolhe na sua plantação as melhores plantas para fornecer sementes para a próxima safra, ele está fazendo seleção massal (Ufpr, 2010).

Na produção de sementes é muito utilizado a seleção massal. Neste caso, faz-se uma seleção negativa, retirando do campo de sementes plantas que tenham um padrão diferente do descrito para a variedade. Esta técnica é também chamada de roguing (Ufpr, 2010).

Outra forma de seleção é método de seleção de linhas puras que é baseado na seleção individual de plantas seguida da avaliação independente de cada progênie. Se a planta selecionada estiver em homozigose, sua descendência será uma linha pura. Dentro de uma população de plantas apresentando variabilidade genética, são selecionadas visualmente as plantas superiores. O número de plantas selecionadas deve ser grande, variando, por exemplo, de 200 a 1000 plantas, de acordo com a disponibilidade de recursos no programa de melhoramento. A intensidade de seleção não deve ser elevada nesta fase devido à influência ambiental no fenótipo, podendo interferir negativamente para exclusão de algum genótipo superior. Cada planta selecionada é colhida individualmente e suas sementes constituirão uma progênie. Cada progênie será semeada em linha e a nova avaliação será feita por comparação entre as linhas, denominado “teste de progênies”. Todas as plantas de uma progênie são colhidas e trilhadas juntas. Uma linha pura selecionada, após vários testes com repetições em locais e épocas diferentes nos ensaios comparativos de competição de cultivares, poderá ser multiplicada e lançada como nova cultivar (Ufpr, 2010).

Outra forma de melhoramento usado para a cultura da soja é a Hibridação. É uma técnica que consiste na fusão de gametas geneticamente diferentes, que resulta em indivíduos híbridos heterozigóticos para um ou mais locos. O objetivo do melhoramento por hibridação é reunir em uma nova linhagem pura alelos favoráveis presentes em dois ou mais “genótipos”. Linhagens puras podem apresentar características desejáveis, adaptadas à região, mas conter alguns poucos ou vários defeitos em outros caracteres. A hibridação artificial de espécies autógamas objetiva reunir em uma nova linhagem pura, alelos favoráveis presentes em duas ou mais cultivares comerciais, linhagens elites de programas de melhoramento, em plantas introduzidas ou também, espécies relacionadas. Os híbridos resultantes podem ser conduzidos por autofecundações, por alguma técnica de avanço de gerações, até atingir homozigozidade e efetuar seleção de linhagens superiores. Os passos necessários para o desenvolvimento de linhagens puras por meio da hibridação são os seguintes: seleção de parentais e hibridação; geração F1; condução de populações segregantes; seleção de plantas individuais; avaliação de linhagens puras em gerações avançadas; produção comercial de sementes do novo cultivar (Ufpr, 2010).

As formas de melhoramento por hibridação diferem entre si, principalmente pela metodologia de avanço de gerações para fixação de genótipos homozigotos para seleção das linhas puras superiores. Porém todos os métodos visam criação de híbridos heterozigóticos (Ufpr, 2010).

Outra forma que vem sendo utilizada pelos melhoristas para maximizar a produção é o uso de materiais geneticamente modificado. Vários estudos com a soja transgênica têm sido desenvolvidos atualmente. Porém, o mais conhecido e que já é disponibilizado para o plantio comercialmente é uma planta resistente a um tipo de herbicida, o glifosato. Essa resistência foi obtida pela inserção de um gene que confere resistência ao glifosato, obtido de um gênero de bactéria comum no solo de todo o mundo, Agrobacterium sp., e inserido no genoma da soja. O herbicida mata a planta por inibir a síntese de vários compostos importantes à planta. Essa bactéria possui um gene capaz de resistir ao fungicida e foi esse gene que foi inserido na soja. Assim, o agricultor pode utilizar o glifosato para o controle químico das planta invasoras sem risco de que as plantas de soja sejam eliminadas junto às daninhas (Embrapa, 2010).

O controle de plantas daninhas é importante por competirem por nutriente e luz com a soja, pois sabe-se que esta é uma planta sensível à luz, faz-se então um passo importante durante o seu cultivo. Como a capina mecânica é mais cara e trabalhosa, o uso do herbicida pode, em alguns casos já relatados proporcionar uma economia de até R$200,00 por hectare (Embrapa, 2010).

Os primeiros testes da soja resistente ao glifosato pela transgenia deram-se nos Estados Unidos, no ano de 1996. No ano seguinte, já era usada pelos agricultores argentinos. Em 1998, começou o plantio clandestino da soja transgênica no Brasil. Oficialmente, o plantio dessa soja vem sofrendo uma batalha judicial e uma série de indecisões por parte das autoridades responsáveis. No cenário de hoje, tem-se a Lei nº 11.105 (conhecida como “nova Lei da Biossegurança”) de 24 de março de 2005, que regulariza o plantio e os estudos com trasgênicos. Além de sofrer ações judiciais acerca de sua constitucionalidade, ela ainda não foi regulamentada. Portanto não há uma legislação que autorize o plantio da soja ou qualquer outro transgênico até o momento (Paula Júnior & Venzon, 2007).

Para ter acesso a tecnologia da transgenia a Embrapa firmou contrato de pesquisa para incorporar o gene as suas cultivares com a empresa Monsanto. Atualmente, a Embrapa mantém contratos de pesquisas similares com a Basf e outras empresas (Embrapa, 2010).

Outra tecnologia bastante interessante e desenvolvida pelas entidades de pesquisa é o cultivo da soja orgânica, adotam tecnologias que otimizem o uso de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto-sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados - OGM/transgênicos ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e, entre estes, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da transformação (Planeta Orgânico, 2010).

Uma boa alternativa da demonstração da tecnologia utilizada na produção da soja orgânica é a aplicação de bactérias fixadoras de nitrogênio, visando à fixação biológica desse nutriente, com o objetivo de reduzir a sua utilização por meio de fertilizantes. Já existem produtos no mercado com essas bactérias, que podem ser empregados no cultivo orgânico (Planeta Orgânico, 2010).

A soja orgânica possui um maior custo de produção se comparada à soja convencional, a produção de soja orgânica vem crescendo a cada ano. Praticamente, toda a produção brasileira é exportada para a Europa, devido ao maior poder aquisitivo da sua população e a falta da cultura nacional em consumir produtos orgânicos. A soja orgânica ainda não é uma commodity, pois não segue as normas de comercialização da Bolsa de Chicago. Por se tratar de um produto com valor agregado e possuir uma boa demanda, seu preço tem se mantido em uma média de até 50% maior que o da soja convencional, o que gera bons resultados aos produtores, apesar do custo de produção ser cerca de 10% maior quando comparado ao cultivo tradicional (Planeta Orgânico, 2010).

A soja é uma planta rica em proteínas, tornando-se muitas vezes uma alternativa a outros alimentos, proporcionando uma alimentação isenta de colesterol e gordura saturada. Assim, podem ser controladas: a obesidade, a incidência de acidentes cardiovasculares, câncer, osteoporose e diabetes. Além dessas características, a soja orgânica apresenta a vantagem de ser cultivada sem agrotóxicos, sendo, portanto, um produto mais saudável (Planeta Orgânico, 2010).

No Brasil, os principais estados produtores de soja orgânica são Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás. Para ser considerado orgânico, o produto precisa do selo de garantia emitido por uma empresa certificadora. No Brasil, as principais certificadoras são o Instituto Biodinâmico, a Associação de Agricultura Orgânica e o Ecocert. A produção de soja orgânica é geralmente praticada por pequenos produtores. Contudo esse é um setor que está cada vez mais atrativo, aumentando o nível tecnológico de cultivo empregado. O produtor interessado em cultivar a soja orgânica deve antes procurar um engenheiro agrônomo, afim de que este o oriente quanto aos procedimentos a serem seguidos para o seu plantio, pois, para cultivar a soja orgânica, é preciso seguir algumas normas, ser certificada por órgãos competentes, pois do contrário, não pode ser vendida como um produto orgânico (Planeta Orgânico, 2010).

Outra tendência para o melhoramento de soja para o Brasil caminha para o lado para resistência à praga e doenças (principalmente a ferrugem asiática), diminuição da quantidade de insumos, aumento da quantidade e da qualidade de óleo do grão e produção visando a preservação do meio ambiente (Embrapa, 2010).

Conhecimentos adquiridos sobre a nutrição da soja possibilitaram melhor manejo da adubação e da calagem. A seleção de estirpes eficientes de R. japonicum enriqueceram os inoculantes, substituindo completamente a adubação nitrogenada na cultura da soja. Pesquisas com micronutrientes indicaram a necessidade de sua utilização para obterem-se máximos rendimentos, particularmente nos Cerrados, assim como, trabalhos sobre manejo de solos e rotação de culturas, resultaram na substituição quase total do plantio convencional pelo direto (Embrapa, 2010).

O mapeamento agroclimático para a cultura da soja desenvolvido pela Embrapa Soja permitiu indicar as áreas mais aptas para a produção de soja no País, onde, produzir sementes de qualidade sempre foi um desafio, superado com tecnologias como o Diagnóstico Completo (Diacom), evolvendo princípios de vigor e patologia de sementes (Embrapa, 2010).

Outro fator muito importante foi à caracterização dos principais fatores responsáveis por perdas no processo de colheita e a conscientização dos produtores sobre o volume dessas perdas e suas causas, possibilitou a redução média das perdas, de aproximadamente quatro, para dois sacos/ha. Um outro ramo do melhoramento da cultura está relacionado com estudos sobre características nutricionais e nutracêuticas da soja têm promovido os seus consumo via incorporação da soja na dieta alimentar da população brasileira (Embrapa, 2010).

As pesquisas sobre a genética da soja tiveram inicio na primeira década do século XX, nos Estados Unidos. Em 1995, devido ao crescente número de trabalhos sobre genética da soja, os pesquisadores dos Estados Unidos e dos Estados americanos promoveram a criação do Soybean Genetics Committe, com a finalidade de estabelecer e manter coleção de genótipos portadores de genes específicos, de preferência a linhagem original. Duas outras coleções que devem ser citadas e que são mantidas em Urbana é Varieties With Traits of Genetic Interest, com 36 entradas, e Isogenic Lines of Clark, Horosoy, Chippewa, Wayne and Williams Cultivars, com 300 entradas. Isogenic Lines of D 49-2491 Cultivar, com 20 entradas, são mantidas em Stoneville, Mississippi. Ainda pode ressaltar a Germplasm Collection, mantida em Urbana. Esse germoplasma foi coletado principalmente no centro de origem da soja, ou em regiões próximas, contituindo uma fonte de grande variabilidade de grande valor para os trabalhos de melhoristas de soja (Vernetti, 1983).

Até a presente data não foi registrado qualquer caso de escape gênico a partir de uma variedade de soja para espécies silvestres em lavouras comerciais. Devido principalmente a ausência de parentes silvestres sexualmente compatíveis com a soja no Brasil (Borém, 2001).

2.3. Exigências Hídricas.

A soja é exigente em água. A água constitui aproximadamente 90% do peso da planta, atuando em, praticamente, todos os processos fisiológicos e bioquímicos. Desempenha a função de solvente, através do qual gases, minerais e outros solutos entram nas células e movem-se pela planta. Tem, ainda, papel importante na regulação térmica da planta, agindo tanto no resfriamento como na manutenção e distribuição do calor(Embrapa, 2010).

A disponibilidade de água é importante tanto em qualidade quanto em quantidade, principalmente, em dois períodos de desenvolvimento da soja: germinação-emergência e floração-enchimento de grãos. Durante o primeiro período, tanto o excesso quanto o déficit de água são prejudiciais à obtenção de uma boa uniformidade na população de plantas. A semente de soja necessita absorver, no mínimo, 50 % de seu peso em água para assegurar boa germinação. Nessa fase, o conteúdo de água no solo não deve exceder a 85% do total máximo de água disponível e nem ser inferior a 50 % (Embrapa, 2010).

Com o desenvolvimento da planta, a necessidade de água vai aumentando, atingindo o máximo durante a floração-enchimento de grãos (7 a 8 mm/dia), decrescendo após esse período. Déficits hídricos expressivos, durante a floração e o enchimento de grãos, provocam alterações fisiológicas na planta, como o fechamento estomático e o enrolamento de folhas e, como conseqüência, causam a queda prematura de folhas e de flores e abortamento de vagens, resultando, por fim, em redução do rendimento de grãos (Embrapa, 2010).

A quantidade total de água na cultura da soja, para obtenção do máximo rendimento, varia entre 450 a 800 mm/ciclo, dependendo das condições climáticas, do manejo da cultura e da duração do ciclo. Para minimizar os efeitos do déficit hídrico, indica-se semear apenas cultivares adaptados à região e à condição de solo; semear em época recomendada e de menor risco climático; semear com adequada umidade em todo o perfil do solo; e adotar práticas que favoreçam o armaze-namento de água pelo solo. A irrigação é medida eficaz, porém de custo elevado (Embrapa, 2010).

2.4. Exigências Térmicas e Fotoperiódicas.

A cultura da soja adapta-se melhor a temperaturas do ar entre 20ºC e 30ºC; a temperatura ideal para seu crescimento e desenvolvimento está em torno de 30ºC (Embrapa, 2010).

Em temperaturas menores ou iguais a 10ºC o crescimento vegetativo da soja é pequeno ou nulo. Temperaturas acima de 40ºC têm efeito adverso na taxa de crescimento, provocam distúrbios na floração e diminuem a capacidade de retenção de vagens. Esses problemas se acentuam com a ocorrência de déficits hídricos (Embrapa, 2010).

Temperaturas acima de 13ºC induzem a floração da soja. As diferenças de data de floração, entre anos, apresentadas por uma cultivar semeada numa mesma época, são devido às variações de temperatura (Embrapa, 2010).

A ocorrência de altas temperaturas pode acelera a maturação. Quando vêm associadas a períodos de alta umidade, as altas temperaturas contribuem para diminuir a qualidade da semente e, quando associadas a condições de baixa umidade, predispõem a semente a danos mecânicos durante a colheita. Temperaturas baixas na fase da colheita, associadas a período chuvoso ou de alta umidade, podem provocar atraso na data de colheita, bem como haste verde e retenção foliar (Gomes, 1990).

Dessa forma, a adaptação de diferentes cultivares a determinadas regiões depende, além das exigências hídricas e térmicas, de sua exigência fotoperiódica. A sensibilidade ao fotoperíodo é característica variável entre cultivares, ou seja, cada cultivar possui seu fotoperíodo crítico, acima do qual o florescimento é atrasado. Por isso, a soja é considerada planta de dia curto. Em função dessa característica, a faixa de adaptabilidade de cada cultivar varia à medida que se desloca em direção ao norte ou ao sul. Entretanto, cultivares que apresentam a característica “período juvenil longo” possuem adaptabilidade mais ampla, possibilitando sua utilização em faixas mais abrangentes de latitudes (locais) e de épocas de semeadura (Gomes, 1990).

2.5. Exigências Minerais e Adubação para a Cultura.

Para o bom manejo da fertilidade do solo, inicialmente deve-se fazer análise química deste, pois as recomendações de calagem e adubação somente deverão ser realizadas após essa análise. A calagem é importante, principalmente em solos de cerrado que são muito ácidos e pobres em Ca e Mg. Este procedimento é realizado incorporando-se o calcário. O calcário deve ser aplicado pelo menos 90 dias antes do plantio. Algumas características do produto como granulação mais fina e parcelamento de sua incorporação, antes e depois da aração aceleram e melhoram o seu efeito (Embrapa, 2010).

A soja é uma planta bem exigente quanto a sua nutrição mineral, sendo o nitrogênio é o elemento requerido em maior quantidade. Porém, a resposta da adubação nitrogenada não é boa, uma vez que a obtenção desse nutriente é por meio da fixação biológica, por rizobactérias; portanto, para melhorar a absorção de nitrogênio, é necessária a inoculação das sementes com essas bactérias (Embrapa, 2010).

O fósforo é de particular importância na a produção de soja. Em nossos solos, geralmente pobres desse elemento, grandes quantidades de fertilizantes fosfatados são necessárias para obtenção de elevados rendimentos. Além da questão nutricional, o fósforo melhora o desenvolvimento radicular, o que influencia no desenvolvimento de toda a planta (Embrapa, 2010).

O potássio é importante por auxiliar na maior retenção da vagem na haste, na redução da deiscência e na melhoria da qualidade das sementes (Embrapa, 2010).

Os micronutrientes também são essenciais para a produção da cultura. A sua deficiência, como no caso de Mo, pode afetar negativamente a fixação biológica de nitrogênio (Embrapa, 2010).

Deve-se ressaltar que a fonte de nutriente e sua quantidade, seja macro ou micronutriente devem ser recomendadas somente por um engenheiro-agrônomo credenciado e sob criteriosa análise química do solo (Embrapa, 2010).

2.6. Umidade e Temperatura do Solo.

Como citado anteriormente a cultura da soja é muito exigente em água, sendo que a semente, para a germinação e a emergência da plântula, requer absorção de água de, pelo menos, 50% do seu peso seco. Para que isso ocorra, deve haver adequadas umidade e aeração do solo e a semeadura deve propiciar o melhor contato possível entre solo e semente. Semeadura em solo com insuficiência hídrica, ou "no pó", prejudica o processo de germinação, podendo torná-lo mais lento, expondo as sementes às pragas e aos microorganismos do solo, reduzindo a chance de obtenção da população de plantas desejada. Em caso de semeadura nessas condições, o tratamento de sementes com fungicidas pode prolongar a capacidade de germinação das mesmas, até que ocorra condição favorável de umidade no solo (Embrapa, 2010).

O solo também deve estar em uma temperatura adequada para semeadura da soja, variando de 20ºC a 30ºC, sendo 25ºC a ideal para uma emergência rápida e uniforme. Semeadura em solo com temperatura média inferior a 18ºC pode resultar em drástica redução nos índices de germinação e de emergência, além de tornar mais lento esse processo. Isso pode ocorrer em semeaduras anteriores à época indicada em cada região. Temperaturas acima de 40ºC, também, podem ser prejudiciais (Embrapa, 2010).

2.7. Cuidados na Semeadura.

Uma boa semeadura depende, entre outros fatores, do tipo de máquina semeadora, especialmente o tipo de dosador de semente, do controlador de profundidade e do compactador de sulco; efetuar a semeadura a numa profundidade de 3 a 5 cm. Semeaduras em profundidades maiores dificultam a emergência, principalmente em solos arenosos, sujeitos a assoreamento, ou onde ocorre compactação superficial do solo; posição semente/adubo, o adubo deve ser distribuído ao lado e abaixo da semente, pois o contato direto prejudica a absorção da água pela semente, podendo até matar a plântula em crescimento, principalmente em caso de dose alta de cloreto de potássio no sulco (acima de 80 kg de KCl/ha); compatibilidade dos produtos químicos, produtos químicos como fungicidas e herbicidas, nas doses recomendadas, normalmente, não afetam a germinação da semente de soja. Porém, em doses excessivas, prejudicam tanto a germinação da semente de soja quanto o desenvolvimento inicial da plântula (Embrapa, 2010).

2.8. Época de Semeadura.

A determinação da época de semeadura da soja é um dos fatores que mais influenciam o rendimento da cultura. Essa cultura está sujeita a alterações fisiológicas e morfológicas, quando as suas exigências, nesse sentido, não são satisfeitas. A época de semeadura determina a exposição da soja à variação dos fatores climáticos limitantes. Assim, semeaduras em épocas inadequadas podem afetar o porte, o ciclo e o rendimento das plantas e aumentar as perdas na colheita. A altura das plantas está, também, relacionada com a população de plantas, com a cultivar utilizada e com a fertilidade do solo. De modo geral, o período preferencial para a semeadura de soja vai de 20 de outubro e 10 de dezembro. Entretanto, é no mês de novembro que se obtém a maior produtividade e altura de planta adequada. Em áreas bem fertilizadas e com alta tecnologia, pode-se conseguir boa produção em semeaduras realizadas até 20 de dezembro. Nas áreas mais ao norte, as melhores produções são obtidas em semeaduras de novembro e dezembro. Para semeaduras de dezembro, recomenda-se evitar o uso de cultivares de ciclo muito tardias, dando preferência a cultivares de ciclo médio ou semitardio de porte alto. Na maioria dos casos, semeaduras de final de dezembro e de janeiro podem ocasionar reduções de rendimento de até 50%, em relação a novembro. De janeiro em diante as perdas podem ser ainda maiores. Para viabilizar a sucessão de culturas, recomenda-se a utilização de cultivares precoces. Estas informações são válidas, também, para Rondônia e sul de Tocantins (Embrapa, 2010).

2.9. Diversificação de Cultivares.

Grande parte das flutuações anuais do rendimento da cultura, para uma mesma época, são, principalmente, determinadas por variações climáticas anuais. Uma prática eficiente para evitar tais flutuações é o emprego de duas ou mais cultivares, de diferentes ciclos, numa mesma propriedade, procedimento especialmente indicado para médias e grandes áreas. Desse modo, obtém-se uma ampliação dos períodos críticos da cultura (floração, formação de grãos e maturação), havendo menor prejuízo se ocorrerem, entre outros fatores, deficiência ou excesso hídrico, os quais atingirão apenas uma parte da lavoura (Epamig, 2010).

2.10. População e Densidade de Semeadura.

Os grandes avanços nos sistemas de semeadura (maior precisão das semeadoras), de cultivares mais adaptados, de melhoria da capacidade produtiva dos solos, de adoção de práticas conservacionistas, de cobertura vegetal do solo e da semeadura direta, entre outros fatores, a população padrão de plantas de soja foi reduzida gradativamente, nos últimos anos, de 400 mil para, aproximadamente, 320 mil plantas por hectare, porque as condições acima permitem melhor crescimento e maior rendimento por planta. Esse número de plantas pode variar, ainda, em função da cultivar e/ou do regime de chuvas da região (volume e distribuição) no período de implantação e de crescimento das plantas e da data de semeadura (Embrapa, 2010).

Em solos mais úmidos e/ou mais férteis (fertilidade natural ou construída), onde, com freqüência, ocorre acamamento das plantas, a população pode ser reduzida de 20%-25% (ficando em torno de 240-260 mil plantas), quando em semeadura de novembro, para evitar acamamento e possibilitar maior rendimento (Embrapa, 2010).

Quando as semeaduras forem realizadas de outubro e de dezembro, é recomendável, na maioria das situações, especialmente em regiões/áreas onde a soja não apresenta porte alto, ou para cultivares que se comportam assim, mesmo na melhor época de semeadura, não reduzir a população para menos de 300 mil plantas, para evitar o desenvolvimento de lavouras com plantas de porte muito baixo. Em condições extremas, é aconselhável até aumentar para 350-400 mil plantas/ha. De modo geral, cultivares de porte alto e de ciclo longo requerem populações menores. Indica-se espaçamento entre fileiras de 40 a 50 cm. Espaçamentos mais estreitos que 40 cm resultam em fechamento mais rápido da cultura, contribuindo para o controle das plantas daninhas, mas não permitem a realização de operações de cultivo entre fileiras e favorece o desenvolvimento de doenças foliares como é o caso da ferrugem asiática (Embrapa, 2010).

O rendimento da cultura inicia-se pela semeadura bem feita. O bom resultado da semeadura, por sua vez, não depende apenas da semente mas, também, da maneira como foi executada e dos fatores climáticos ocorridos após a operação (Urben Filho & Souza, 1993).

2.11. Controle Fitossanitários.

Um dos grandes fatores que limitam a obtenção de altos rendimentos em soja está as doenças. Aproximadamente 40 doenças causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus já foram identificadas no Brasil. Esse número continua aumentando com a expansão da soja para novas áreas e como conseqüência da monocultura. A importância econômica de cada doença varia de ano para ano e de região para região, dependendo das condições climáticas de cada safra. As perdas anuais de produção por doenças são estimadas em cerca de 15% a 20%, entretanto, algumas doenças podem ocasionar perdas de quase 100% (Embrapa, 2010).

Durante a safra 2001/2002 uma nova doença, a ferrugem da soja causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, foi detectada desde o Rio Grande do Sul até o Mato Grosso causando perdas significativas em lavouras isoladas. Atualmente, é a maior ameaça potencial, preocupando tanto a pesquisa quanto os produtores pelos prejuízos que causa na Ásia e África onde ocorre há anos (Zambolim, 2006).

A maioria dos patógenos que traz problemas para o cultivo da soja é transmitida através das sementes e, portanto, o uso de sementes sadias ou o tratamento das sementes é essencial para a prevenção ou a redução das perdas. Os exemplos mais evidentes de doenças que são disseminadas através das sementes são a antracnose (Colletotrichum dematium var. truncata), a seca da haste e vagem (Phomopsis spp.), a mancha púrpura da semente e o crestamento foliar de Cercospora (Cercospora kikuchii), a mancha "olho-de-rã" (Cercospora sojina), a mancha parda (Septoria glycines) e o cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f.sp. meridionalis). O nematóide de cisto da soja (Heterodera glycines), foi identificado pela primeira vez na Região dos Cerrados em 1991/92 e, na safra 1996/97 já havia sido constatado em mais de 60 municípios brasileiros nos estados do RS, do PR, de SP, de GO, de MG, do MG e do MS. A cada safra, diversos municípios são acrescentados à lista de municípios atingidos, representando um grande desafio para a pesquisa, à assistência técnica e o produtor brasileiro de soja (EMBRAPA, 2010).

Na cultura da soja ocorre a presença de pragas também, principalmente de insetos desfolhadores e percevejos. Sendo necessário um manejo integrado de pragas e doenças para o cultivo da soja (Embrapa, 2010).

2.12. Expectativas para a Produção de Soja no Brasil

Mesmo com as estimativas que fazemos do futuro não sendo totalmente confiáveis, podemos tomar como referência as tendências dos cenários presentes, dificilmente se realizem com a precisão prospectada, suas indicações são úteis, mesmo quando os novos cenários não apresentam aderência total com os projetados (Embrapa, 2010).

As estimativas sobre o intenso agronegócio da soja brasileira, tomando como referência a realidade atual, pareceria pertinente afirmar que: crescerá o consumo e consequentemente a demanda por soja no mundo, porque a população humana continuará aumentando; o poder aquisitivo dessa população continuará incrementando-se, destacadamente na Ásia, onde está o maior potencial de consumo da oleaginosa; o medo da doença da vaca louca manterá em alta o consumo de carne suína e de frango, cuja alimentação é feita, principalmente, com ração à base de farelo de soja; a proibição, na Europa, do uso de farinha de carne nas rações para bovinos, manterá alta a demanda por farelo de soja; os usos industriais não tradicionais da soja, como biodiesel, tintas, vernizes, entre outros, aumentarão a demanda do produto; o consumo interno de soja deverá crescer, estimulado por políticas oficiais destinadas a aproveitar o enorme potencial produtivo do País, que está excessivamente dependente do mercado externo; o protecionismo e os subsídios à soja, patrocinados pelos países ricos, tenderão a diminuir pela lógica e pressão dos mercados e da Organização Mundial do Comércio, aumentando, conseqüentemente, os preços internacionais que estimularão a produção e as exportações brasileiras; a produção dos nossos principais concorrentes (EUA, Argentina, Índia e China) tenderá a estabilizar-se por falta de áreas disponíveis para expansão em seus territórios; a cadeia produtiva da soja brasileira tenderá a desonerar-se dos pesados tributos para incrementar a sua competitividade no mercado externo, de vez que o País precisa “exportar ou morrer”. Pode-se estimar, também, pelas tendências do quadro atual da agricultura brasileira, que a produção da oleaginosa no País se concentrará cada vez mais nas grandes propriedades do centro oeste, em detrimento das pequenas e médias propriedades da Região Sul, cujos proprietários, por falta de competitividade na produção de grãos, tenderão migrar para atividades agrícolas mais rentáveis (produção de leite, criação de suínos e de aves, cultivo de frutas e de hortaliças, ecoturismo, entre outros), porque são mais intensivas no uso de mão de obra, “mercadoria” geralmente abundante em pequenas propriedades familiares, onde o recurso escasso é a terra (Embrapa, 2010).

Após essas considerações podemos acreditar positivamente no futuro da produção brasileira de soja, de vez que, dentre os grandes produtores mundiais da oleaginosa, o Brasil figura como o país que apresenta as melhores condições para expandir a produção e prover o esperado aumento da demanda mundial. Este País possui, apenas no ecossistema do Cerrado, mais de 50 milhões de hectares de terras ainda virgens e aptas para a sua imediata incorporação ao processo produtivo da soja. A área cultivada com soja nos EUA, Argentina, China e Índia, que juntos com o Brasil produzem mais de 90% da soja mundial, só cresce em detrimento de outros cultivos. Sua fronteira agrícola está quase ou totalmente esgotada (Embrapa, 2010).

3.0 CONCLUSÕES

Dessa forma, o cultivo da soja brasileira dependerá da sua competitividade no mercado global, para o que precisará, ademais do empenho do produtor, o apoio governamental, destacadamente na abertura e integração de novas e mais barato vias de escoamento da produção. Iniciativas nesse sentido já estão sendo tomadas com a implementação dos Corredores de Exportação Noroeste, Centro-Norte, Cuiabá-Santarém e Paraná-Paraguai, integrando rodovias, ferrovias e hidrovias aos sistemas de transporte da produção agrícola nacional. Este esforço do governo é indispensável para que o País possa reduzir a importância desse item na composição dos custos totais da tonelada de produto brasileiro que chega aos mercados internacionais (Embrapa, 2010).

Sendo assim uma técnica muito importante e indispensável para a produção de soja do Brasil é o melhoramento genético, sendo ele, a base para desenvolvimento de cultivares cada vez mais competitivas, por isso a importância do conhecimento desses métodos de melhoramento para essa cultura.


4. LITERATURA CITADA:

BORÉM, A.; Melhoramento de Espécies Cultivadas. 2ª ed. Viçosa. Ed. UFV 969p. 2005.

BORÉM, A.; Melhoramento de plantas. 3ª ed. Viçosa: UFV, 2001.

EMBRAPA SOJA. Recomendações técnicas para a cultura da soja no Paraná 1999/2000. Londrina, 1999. p.103, 109. (Embrapa Soja. Documentos, 131).
FEHR, W.R.; CAVINESS, C.E. Stage of soybean development. Ames: Iowa State University, 1981. 12p. (Iowa Cooperative Extensive Service. Special Report, 80).

EMBRAPA, Disponível em: http://www.cnpso.embrapa.br, Acessado em 2010.

EPAMIG, Disponível em: http://www.epamig.br/produtos/sementes/soja.htm. Acessado em 2010.

GOMES, Pimentel. A soja. 5ª ed. São Paulo. Nobel 149p. 1990.

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ZAMBOLIM, L. Ferrugem asiática da soja. Viçosa, UFV, DFP, 2006.


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