Bruno da Silva Ferreira
Acadêmico do curso de Agronomia
A acerola Malpighia emarginata D.C., é uma fruteira pertencente à família Malpighiaceae, é nativa das ilhas do Caribe, América Central e norte da América do Sul. Trata-se de uma frutífera produzida em grande parte das regiões tropicais. Atualmente segundo a Embrapa Mandioca e Fruticultura são cultivadas quatro cultivares distintas deste fruto: Acerola Cabocla, Okinawa, Olivier e Sertaneja (RITZINGER, 2004). Ainda segundo os mesmos autores o Brasil apresenta grande produção desse fruto sendo que a região nordeste do país é responsável por uma produção de aproximadamente 97 t/safra o que corresponde a 64% da produção nacional.
Os frutos de acerola são muito conhecidos principalmente por ser uma excelente fonte de vitamina C (ácido ascórbico), além de ser uma fonte razoável de pró-vitamina A. Também contém vitaminas do complexo B como tiamina (B1), riboflavina (B2) e niacina (B3), e minerais como cálcio, ferro e fósforo, embora os teores sejam baixos. É um fruto muito apreciado na indústria de sucos, poupa e também farmacêutica. Ainda para uso domestico é geralmente consumida de forma natural e de sucos, geléias e doces de massa, podendo ser misturada a outros sucos de frutas como laranja, manga e mamão (YAMASHITA et al., 2003).
O cultivo da acerola é muito dificultado principalmente pela alta incidência de pragas e doenças como: antracnose (Colletotrichum gloesporioides); cercosporiose (Cercospora sp.); seca descendente de ramos (Lasiodiplodia theobromae); podridão-de-frutos (Rhizopus sp.) dentre outras, que causam grandes danos e conseqüentes prejuízos a produção do fruto (RITZINGER, 2004).
A podridão-de-Rhizopus (Rhisopus stolonifer) é uma das moléstias que podem afetar frutos na produção de acerola. Os problemas ocasionados pelo fungo R. stolonifer são incidentes próximos da colheita, com os frutos ainda na planta em épocas chuvosas. Os frutos afetados caem prematuramente e o apodrecimento continua no solo. Pode ocorrer mumificação dos frutos tanto na planta quanto no solo. A podridão pode causar danos antes que os frutos cheguem ao mercado consumidor, o que acarreta depreciação do produto e consequentemente pouco ou nenhum valor comercial (CENARGEN, 2010). Segundo Bomfim et al., (2007) este fungo pode causar podridão mole ou podridão floral do maracujazeiro, o qual ataca as flores recém abertas e frutos novos causando percas na produtividade desta planta.
O gênero Rhizopus sp. é representado por aproximadamente 158 espécies de fungos, sendo uma delas Rhizopus stolonifer (Ehrenb.) Vuill. Esta espécie apresenta três variações: Rhizopus stolonifer var. luxurians, Rhizopus stolonifer var. lyococcus e Rhizopus stolonifer var. stolonifer sendo este descrita pela primeira vez no ano de 1902 (INDEX FUNGORUM, 2010).
A podridão-de-Rizopus, conhecido também como bolor preto do pão, é uma doença fungica encontrada em vários frutos em pós-colheita. O agente causal desta importante moléstia é o fungo R. stolonifer (Erh. Fr. ex.) Vuillemin = Rhizopus nigricans Ehrenb pertencente ao reino Fungi, Divisão Zygomycota, Classe Zygomycetes, Ordem Mucurales e ao gênero Rhizopus sp..
O fungo R. stolonifer apresenta grande importância, pois, causa danos em diversas culturas como Graviola, Fruta-do-Conde, Jaca, Pêssego, Mamão, Cafeeiro, Morangueiro dentre outras espécies de importância econômica (CENARGEN, 2010). Segundo Fischer et al. (2008) em experimento quantificando os danos de fungos em pós-colheita em frutos de pêssego foram encontrados que 6,1% dos danos são causados por Rhizopus sp.
Este fungo causa danos em variadas culturas em diferentes países, no entanto, de acordo com Farr e Rossman, (2010) ainda não se fez registros de R. stolonifer associado a M. emarginata. Por outro lado de acordo com Kimati, (2005) em acerola o patógeno causa prejuízos expressivos danificando os frutos e deixando-os inviáveis ao consumo in natura e também para a indústria.
Alguns sintomas visíveis são causados pelo fato do fungo secretar enzimas pectinolíticas que degradam a lamela média das células do tecido infectado causando uma podridão mole que causa escorrimento do liquido celular. Alguns representantes do gênero Rhizopus sp., chamados fungos oportunistas são causadores de doenças também em humanos. Estes fungos têm ainda importância comercial na fabricação de álcool e ácidos orgânicos. Outra aplicação destes fungos é no processo de síntese de cortisona e também a síntese de ácido fumárico feito por R. arrhizus (ESTÉVEZ E ÁLVAREZ, 2009).
Diante da importância do patógeno este trabalho tem como objetivo descrever aspectos sintomatológicos, de etiologia, epidemiologia e principais formas de controle ou de se evitar danos causados por podridão-de-Rhizopus em frutos de acerola.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos analisados no trabalho foram coletados na zona urbana do município de Urutaí-GO, encontrados sob a copa de plantas de aceroleira. As amostras foram levadas ao laboratório de fitopatologia do IF Goiano-Campus Urutaí onde foram analisadas. Foram retiradas com auxílio de uma pinça as estruturas do fungo presentes nos frutos. Com estas estruturas foram preparadas lâminas semipermanentes pelo método de pescagem direta. Para isso colocou-se três gostas do corante azul de metileno sobre a lâmina, com a pinça, retirou-se as estruturas fúngicas do fruto e colocou-se na lâmina sobre o corante que posteriormente foi coberta com a lamínula. As lâminas prontas foram observadas em microscópio óptico onde foram vistas as estruturas do fungo o que foi indispensável para sua identificação. Foram feitas microfotografias das estruturas e também fotos dos sintomas e dos sinais do ataque do patógeno usando câmera digital Canom® modelo Power shot A580. Depois de encontradas e identificadas às estruturas foram observadas em microscópio usando ocular graduada para que se fizesse medições das mesmas. Os valores encontrados foram comparados com outros encontrados em literatura.
3 Resultados e Discussão
Hospedeiro/cultura: Acerola (Malpighia emarginata D.C.)
Família Botânica: Malpighiaceae
Doença: Podridão-de-Rhizopus
Agente Causal (Teleomorfo): Rhizopus stolonifer (Erh. ex Fr.) Vuillemin
Local de Coleta: Zona Urbana de Urutaí-GO
Data de Coleta: 19/10/2010
Taxonomia: O fungo causador de Podridão-de-Rhizopus cuja espécie é Rhizopus stolonifer (Erh. ex Fr.) Vuillemin é pertencente ao Reino Fungi, a Divisão Zygomycota, a Classe Zygomycetes, a Ordem Mucurales e ao Gênero Rhizopus sp..
Sintomatologia: O fungo causa rápido apodrecimento no tecido dos frutos. As partes infectadas são degradadas ocorrendo assim o extravasamento celular caracterizando assim uma podridão mole e aquosa. A área infectada torna-se coberta por um micélio branco e uma massa de esporângios negros. Afeta os frutos em qualquer estágio de maturação. Se não houver o rompimento da epiderme do fruto, este sofre ressecamente, tornando-se mumificado. Nerbass, et al. (2007) relata em trabalho com sementes de milho que sintomas de grãos ardidos podem ser resultado da incidência de vários gêneros fúngicos dentre eles o Gênero Rhizopus sp., o que pode acarretar sérios danos para a industrialização destes grãos.
Etiologia: O patógeno causador da podridão de Rhisopus é um saprófita não específico, produz hifas não septadas e hialinas. Apresentam esporângios esféricos e negros no ápice dos esporangióforos. São encontrados aplanósporos contidos nos esporângios e que podem ser emitidos para fora deste. As estruturas morfométricas deste fungo apresentam tamanhos variados como mostra a tabela 1. O ciclo reprodutivo deste fungo pode ser sexual ou assexual. Estes patógenos produzem esporos de resistência que podem ser zigósporos ou clamidósporos.
Tabela 1. Tabela analítica de comparação de estruturas de Rhizopus stolonifer e Rhizopus sp..
Características
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Rhizopus stolonifer (Urutaí-GO)µm
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Rhizopus sp. µm
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Aplanósporo
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5-12-15
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22-25
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Esporângio
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10-42,2-105
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105-125
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Esporangióforo
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25-162,7-210
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107,2-180
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Epidemiologia: Estes fungos são altamente dispersos no ar, apresentam um grande potencial de infecção. São também saprofíticos vivendo em restos culturais. Apresenta forma parasitária podendo ser chamada de oportunista, pois, infecta o fruto por uma porta de entrada já existente causada muitas vezes por choque mecânico. Através da frutificação do fungo pode ocorrer a disseminação de propágulos, principalmente por estruturas de resistência que são responsáveis também pela sobrevivência do fungo (REZENDE E MARTINS, 2005). Relatos mostram que este fungo pode estar associados a sementes e manifestam-se no período de armazenamento. Gomes et al. (2006) trabalhando com sementes armazenadas de soja no estado do Maranhão relatam a incidência de Rhizopus sp. antes do armazenamento e que esta incidência aumentou depois o armazenamento dos grãos.
Controle: As principais medidas para o controle de doenças de pós-colheita é a embalagem e o armazenamento em condições adequadas e também um manuseio cuidadoso com as frutas a fim de evitar ferimentos que constitui a principal forma de infecção deste patógeno (SILVA et al., 2010). Segundo Bonfim, et al. (2007) trabalhando com controle biológico de Rhizopus sp. os isolados de Trichoderma spp. atuaram de forma eficiente no controle da podridão floral causada por Rhizopus sp. do maracujazeiro em condições de campo. Quando se trata de sementes, no processo de quebra de dormência do dendezeiro Dezordi, et al. (2008) relata que os fungicidas Carboxim+Thiram; Captan, Carbendazim+Tiofanato Metílico controlaram eficientemente os fungos incidentes inclusive o Rhizopus sp. e não são fitotóxicos as sementes. As operações de colheita, transporte, lavagem, classificação e embalagem devem ser bem monitoradas priorizando sempre o bom condicionamento das frutas. As instalações, embalagens e caixas de coleta devem ser limpas e desinfestadas. Frutos que caem no chão ao serem colhidos devem ser acondicionados separadamente. (AGROFIT, 2010).
Figura 1. Sintomas e sinais de Podridão-de-Rhizopus (Rhizopus stolonifer) em acerola (Malpighia emarginata). A. Diferenciação entre frutos sadios e frutos com incidência de Podridão-de-Rhizopus, B. Fruto com sintomas iniciais da doença, C. Sinais do patógeno visíveis a olho nu, D. Aplanósporo emitindo tubo germinativo bar= 5,1µm, E. Esporângio e aplanósporos bar= 5,1µm F. Detalhe da columela, G. Esporângio em estágio inicial de germinação, H. Esporângio formando tubo germinativo, I. Formação de esporângios simultâneos nas extremidades de uma mesma hifa bar= 10,6µm, J. Esporangióforo e esporângio emitindo aplanósporos bar=10,9 µm.
4 Literatura Citada
AGROFIT, Podridão de Rhisopus do mamoeiro. Disponível em http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons Acessado em 25 de outubro de 2010.
ÁLVAREZ, B. P., ESTÉVEZ, C. V.. Técnicas Básicas de Microbiología Observación de Hongos Filamentosos. Reduca (Biología). Serie Microbiología. 2 (4): 1-15, 2009.
BOMFIM M. P.. ANTAGONISMO In Vitro E In Vivo de Trichoderma ssp. a Rhizopus stolonifer em Maracujazeiro Amarelo. Universidade Estadual do Sudeste da Bahia, Vitória-ES, 2007.
CENARGEN. Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/Micb anco01.asp. Acessado em: 25 de outubro de 2010.
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GOMES, D. P., BRINGEL, J. M. M., SILVA, G. C., SOUZA, Z. M.. Qualidade sanitária de sementes de soja cultivadas no Maranhão após o armazenamento. Suplemento 2006, Congresso Brasileiro de Fitopatologia. Salvador – BA , 2006.
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REZENDE, J.A.M.; MARTINS, M.C. Doenças do Mamoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. (Eds.) Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. v.2, p. 435-443.
RITZINGER, R., RITZINGE C. H. S. P.. Acerola — Aspectos Gerais da Cultura. EMBRAPA Mandioca e Fruticultura. n. 9, 2004.
Silva, J. A., Michereff, S. J., Alves, R. C.. Doenças da Cultura do Pêssego. Disponivel em: http://www6.ufrgs.br/agronomia/fitossan/ fitopatologia/ficha.php?id=204. Acessado em 25 de outubro de 2010.
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NERBASS, F. R., CASA, R. T., NERBASS JUNIOR, J. M., ÂNGELO, H. R. Grãos ardidos: detecção em amostras de milho destinadas ao preparo de rações e fungos predominantes. Suplemento 2007, Congresso Brasileiro de Fitopatologia. Maringá - PR, 2007.
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YAMASHITA, F., BENASSI, M. T., TONZAR, A. C., MORIYA, S., FERNANDES, J. G.. Produtos de Acerola: Estudo da Estabilidade de Vitamina C. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, 23(1): 92-94, jan.-abr. 2003.
Ola tenho um pé de acerola novo com cerca de 52 centímetros,e ele está brotando folhas novas enroladas e depois de as folhas crescerem um pouco elas próprias se cortam em alguns pedaços e caem na terra.Você sabe me dizer qual tipo de doença é essa?
ResponderExcluirMinha acerola está com a podridao dos frutos,se eu fizer uma pouda radical resolvo o problema?
ExcluirOlá Thiago, tudo bem?
ResponderExcluirA sua aceroleira está sendo atacado por ácaros Fitófagos, pertencentes as famílias Eriophyidae, Tarsonnemidae,Tenuipalpidae ou Tetranychidae. Será preciso agir com alguma solução acaricia, que pode ser a base de sabão neutro, álcool de farmácia, água e fumo.
Espero ter ajudado.