Bernardo P. M. Rezende1
1Acadêmico do curso de Agronomia
O chuchu (Sechium eduli) é uma hortaliça fruto bem conhecido e cultivado em grande parte do Brasil, originária da America central e ilhas vizinhas. Já era conhecido na antiguidade pelos astecas e tinha destaque dentre as demais hortaliças cultivadas na época. Atualmente está entre as dez hortaliças mais consumidas no Brasil. É uma hortaliça de sabor suave, fácil digestibilidade, rica em fibras e pobre em calorias (Filgueira, 2003).
O chuchuzeiro Sechium edule (Jacq.) Swartz é uma planta herbácea, perene e trepadeira, conhecida há séculos. Pertencem à família botânica das Cucurbitáceas, a mesma das abóboras, pepinos, melancia e melão, sendo cultivado em várias regiões tropicais e subtropicais no mundo e usado como alimento, na indústria de compotas de frutas, forragem e remédio (Filgueira, 2003).
Em geral, o chuchuzeiro é pouco afetado por doenças. Entretanto, já se observaram que certas doenças, conhecidas em outras espécies de cucurbitáceas, têm causado prejuízo à cultura, algumas levando os chuchuzais à parada brusca de produção. Já foram relatados 129 agentes causais causando doenças em chuchu. Dentre as principais doenças, o oídio, cuja fase teleomórfica corresponde a Erysiphe xanthii (1845) possui como sinonímias os seguintes nomes: Podosphaera xanthii (Castagne) U. Braun & Shishkoff, Albigo calendulae (Malbr. & Roum.) Kuntze, Erysiphe fuscata Berk. & M.A. Curtis, Erysiphe xanthii Castagne, Meliola calendulae Malbr. & Roum., Oidium citrulli J.M. Yen & Chin C. Wang, Podosphaera phaseoli (Z.Y. Zhao) U. Braun & S. Takam., Sphaerotheca astragali var. phaseoli Z.Y. Zhao, Sphaerotheca calendulae (Malbr. & Roum.) Malbr., Sphaerotheca cucurbitae (Jacz.) Z.Y. Zhao, Sphaerotheca fuliginea f. sp. calendulae (Malbr. & Roum.) Jacz., Sphaerotheca fuliginea f. sp. cucurbitae Jacz., Sphaerotheca fuscata (Berk. & M.A. Curtis), Serbinow Sphaerotheca indica Patw., Sphaerotheca microcarpa Hazsl., Sphaerotheca phaseoli (Z.Y. Zhao) U. Braun, Sphaerotheca verbenae Săvul. & Negru, Sphaerotheca xanthii (Castagne) L. Junell, ) (Cenargen, 2010).
O agente causal Oidium sp. já foi relatado causando doenças na Austrália, Brasil, Cuba, Gana, Hawai, México, EUA, Nicarágua, Panamá, Portugal, Sri Lanka, Venezuela, Índia e África do Sul (Farr e Rossman, 2010).
O Oídio é uma das principais doenças das cucurbitáceas no Brasil e no mundo porque o fungo é capaz de atacar todas as cucurbitáceas cultivadas. Entretanto, o oídio parece ter formas especializadas que atacam somente algumas espécies de cucurbitáceas. A doença caracteriza-se por uma massa branca e pulverulenta localizada principalmente na parte superior das folhas (Fig. 1A). As partes afetadas ficam amarelecidas e depois secam, o que ocorre primeiro nas folhas mais velhas. Ataques severos podem provocar a completa desfolha. A doença desenvolve-se melhor em tempo seco, conseguindo alastrar-se mesmo com baixa umidade relativa do ar e temperatura amena (Embrapa, 2010).
São conhecidos pelo menos seis agentes causais do oídio em cucurbitáceas, mas as espécies Erysiphe cichoracearum e Sphaerotheca fuliginea parecem ser as mais freqüentes e importantes. A espécie S. fuliginea é o agente causal predominante em climas tropicais e subtropicais e tem sido a única encontrada no Brasil e na Argentina (Stadnik et al., 2001).
A espécie Erysiphe cichoracearum apresenta como sinominias os seguintes patógenos: Acrosporium lini (Škorič) Subram. Erysiphe cichoracearum f. actinostemonis Jacz. Erysiphe cichoracearum f. apocyni Jacz. Erysiphe cichoracearum f. asclepiadis Jacz. Erysiphe cichoracearum f. campanulae Jacz. Erysiphe cichoracearum f. fumariae Annal. Erysiphe cichoracearum f. scrophulariae Koshk. Erysiphe cucurbitacearum R.Y. Zheng & G.Q. Chen. Erysiphe orontii Castagne. Erysiphe polyphaga Hammarl. Erysiphe tabaci Sawada. Euoidium lini (Bondartsev) Y.S. Paul & J.N. Kapoor. Golovinomyces cucurbitacearum (R.Y. Zheng & G.Q. Chen) Vakal. & Kliron.
Oidium begoniae Puttemans. Oidium lini Škorič. Oidium violae Pass. Golovinomyces cichoracearum var. cichoracearum (DC.) V.P. Heluta. E já foi relatado casando oídio em cucurbitácea em Cuba (Cenargen, 2010).
Os principais danos da doença se refletem na perda de área foliar fotossintetizante, na redução do tamanho e número de frutos e no menor período produtivo das culturas (Cohen et al., 1993).
O objetivo deste trabalho é identificar, descrever e apontar medidas de controle de Oidium sp. incidente em folhas de chuchu.
As amostras das folhas do chuchuzeiro apresentando sintomas de oídio foram coletadas no campo experimental do Instituto Federal Goiano campus Urutaí, no estado de Goiás no dia 14/09/2010.
Logo após as amostras foram conduzidas ao Laboratório de Microbiologia, para serem analisadas no microscópio estereoscópico, as quais apresentavam sintomas da doença. As amostras onde observou-se maior quantidade de sinais foram analisadas preparando lâminas através do método de pescagem direta, as que apresentavam as estruturas do patógeno foi feito o preparo de lâminas com cortes histológicos, para observação da interação patógeno - hospedeiro. Ambas as lâminas foram preparadas utilizando fixadora a base de azul de metileno, após o preparo das mesmas estas foram vedadas com base (esmalte) para a conservação do material, sendo posteriormente analisadas em microscópio óptico, onde foram realizados registros de macro e microfotografia digital utilizando máquina digital (Sony CANON Power Shot A580) e (Kodak Easyshare C713). As fotos, contendo diferentes estruturas do fungo Oídio sp. e os sintomas da doença nas folhas, foram organizadas em uma prancha de fotos, sendo as mesmas identificadas.
Para caracterização do patógeno foi realizado a morfometria das estruturas do fungo. As medições foram realizadas em microscópio óptico com ocular graduada e devidamente calibrada. Foram realizadas medições de 50 conidióforos, 50 células conidiogênica e 50 conídios, nas lâminas feitas anteriormente. Após realizar as medições foi obtido o valor mínimo, máximo e a média de cada característica analisada. Com esses valores foram realizados comparações com outros isolados já descritos por outros autores para obter a espécie do patógeno que estava causando doença no isolado de Sechium eduli.
Hospedeiro/cultura: Chuchu (Sechium eduli).
Família Botânica: Curcubitaceae
Doença: Oídio-do-chuchu
Agente Causal (Anamorfo): Oidium sp.
Local de Coleta: Instituto Federal Goiano campus Urutaí _GO
Data de Coleta: 14/09/2010
Taxonomia: A forma teleomórifca pertence ao Reino Fungi, Divisão Ascomycota, Classe Leotiomycetes, Ordem Leotiomycetidae, Família Erysiphaceae, Gênero Erysiphe sp., Espécie Erysiphe xanthii (Index fugorum, 2010). O anamorfo pertence ao Reino Fungi, grupo incerto dos Fungos Mitospóricos, sub-grupo Hifomicetos (Kirk et al., 2001).
Sintomatologia
A sintomatologia associada ao Oídio é a presença de estruturas do fungo na superfície vegetal, formando um revestimento pulverulento, branco que mais tarde obtém aspecto ferruginoso (Tavares, 2004).
O Oídio pode infectar as folhas, inflorescências e frutos jovens. As folhas jovens infectadas tornam-se retorcidas e, assim como as inflorescências e frutos jovens, podem apresentar necroses nas áreas associadas ao crescimento do fungo. As folhas mais velhas caem prematuramente (Stadnik, 2000).
Os danos ocasionados por essas lesões na inflorescência são o impedimento da abertura das flores e, nos frutos, o pedúnculo fica mais fino e quebradiço, favorecendo assim o ataque de fungos apodrecedores de pré e pós-colheita (Cunha et al., 2000).
Etiologia
As doenças conhecidas como oídios são causadas por fungos pertencentes à ordem Erysiphales. Os conídios podem germinar sobre a superfície foliar formando um tubo germinativo curto e, com a formação de um apressório penetram nas células epidermiais. Para o desempenho de suas funções parasiticas, estes patógenos formam haustórios no interior das células do hospedeiro, permanecendo o resto do talo fúngico na parte externa da planta (Stadnik, 2000).
Segundo Bushnell e Gay, Gotz e Boyle citados por Stadnik (2000), patógenos causadores de oídios são parasitas biotróficos obrigatórios de plantas. O relacionamento entre esses patógenos e suas respectivas plantas hospedeiras caracteriza-se por ser altamente evoluído e complexo. Somente uma fina rede micelial cresce sobre a superfície foliar em forma de colônias.
Cada colônia forma numerosos haustórios que retiram nutrientes das células epidérmicas e mesofílicas, sem, no entanto matá-las, garantindo a produção de conidióforos e conídios. Em caso de esporulação abundante, nutrientes são drenados até mesmo de tecidos distantes não infectados (Kurozawa e Pavan, 1997). O patógeno produz um micélio superficial, hialino, ramificado, septado (Fig. 1ABCD). As hifas dão origem a conidióforos curtos, eretos e não ramificados, a partir do qual se desenvolve os conídios arranjados em cadeias (Fig. 1EFGH). Estes são hialinos, unicelulares, apresentando um formato elíptico, ovóide ou oblongo (Fig. 1IJ; Tab. 1).
Tabela 1. Comparação de aspectos morfológicos e morfométricos da espécie descrita com espécies descritas por Shin.
Características | Isolado Sechium eduli Urutaí, GO (2010). | S. fusca – Shin, 2000. | Galorinomyces cichoracearum – Shin, 2000. |
Micélio | Confígeo. | Confígeo, caulígeo e florígeo. | Confígeo, caulígeo e florígeo |
Apressório | Pouco desenvolvido. | Pouco desenvolvido. | Pouco desenvolvido |
Dimensões conidióforo | 80,0-(109,0)-127 x 10-(19,8)-30 μm | 260-330 x 9-12 μm | (90-)110-165(-255) x 10-12 μm |
Dimensões da célula conidiogênica | 22,5-(32,5)-40,0 x 12,5-(32,5)-40,0 μm |
- |
- |
Cel. Pé do conidióforo | Reta | Reta | Reta |
Nº conídios | 3-4 | 2-7(-13) | 2-4(-6) |
Agrupamento conídio | Cadeia | Cadeia | Cadeia |
Forma do conídio | Oval-elipsoide | Oval-oblongo | Elipsoidal-oval |
Dimensões do conídio | 25,0-(31,7)-40,0 x 12,5-(16,6)-22,5 μm | 24-36 x 15-22 μm | (26)30-38(-42) x 16-21(-23) μm |
Corpos fibrosinos | Presença | Presença | Presença |
Tubos germinativos | Não bifurcados | Bifurcados | - |
De acordo com os resultados da comparação, as características do isolado estão mais próximas da espécie Galorinomyces cichoracearum.
Epidemiologia
Segundo Furtado et al., (2000), o oídio dissemina-se através do vento, respingo de chuvas e no contato entre plantas infectadas. Sua incidência é mais freqüente na época de estiagem prolongada. As condições mais favoráveis para ocorrer a doença são temperaturas entre 18º a 22 ºC, ou seja, temperaturas amenas e um clima seco (baixa umidade do ar).
A disseminação é realizada principalmente pelo vento, que distribui os conídios a distâncias relativamente longas, a água pode atuar também como agente de disseminação. As condições desfavoráveis para a disseminação são temperaturas acima de 30 ºC e o molhamento foliar, devido os conídios não germinarem quando se forma um filme de água na superfície (Furtado et al., 2000).
Controle
Os produtores utilizam o controle preventivo feito com fungicidas à base de enxofre na forma de pó molhável ou quinomethionate. É indicado a alternância de produtos a fim de evitar a seleção de estirpes do fungo resistentes aos fungicidas (Tavares, 2004). Porem esses produtos não são registrados para o controle dessa doença no Brasil, sendo que não possui fungicidas registrado até o momento (Agrofit, 2010).
Medidas auxiliares de controle são a destruição e o enterrio de restos de culturas, evitar o cultivo escalonado de cucurbitáceas na mesma área, eliminar plantas voluntárias (Stadnik et al., 2001).
AGROFIT, Disponível em:
CENARGEN, Disponível em: http://pragamall.cenargen.embrapa.br /aiqweb/michtml/ fgbanco01.asp. Acessado em outubro de 2010.
COHEN, R.; LEIBOVICH, G.; SHTIENBERG, D.; PARIS, H.S. Variability in the reaction of squash (Cucurbita pepo) to inoculation with Sphaerotheca fuliginea and methodology of breeding for resistance. Plant Pathology, Oxford, v.42, p. 510 – 516, 1993.
CUNHA, M. M. SANTOS FILHO, H. P. NASCIMENTO, A. S. do. Manga fitossanidade. Brasilia: EMBRAPA, 2000, 104p. (FRUTAS DO BRASIL; 6).
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FURTADO, E. L.; SANTOS, C. A. G. dos; TAKAHASHI, S. S.; CAMARGO, F. R. A. de. Doenças em viveiros de Eucalyptus sp: Diagnóstico e Manejo. Votorantim / Celulose e Papel. Botucatu, SP, p. 23, 2000.
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TAVARES, S. C. C. de H. Cultivo da mangueira: Sistema de produção 2. Embrapa Semi-Árido-CPATSA, Petrolina-PE. Versão eletrônica, 2004.
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