quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Antracnose (Colletotrichum sp) do coco (Cocos nucifera.)

Vanone Assunção Neto1 e Milton Luíz da Paz Lima2

1 Acadêmico do curso de Agronomia

2 Professor do curso de Agronomia

O coqueiro (Cocos nucifera) pertence à família Palmae, da classe Monocotyledonae. Possui duas variedades principais, a gigante e a anã, sendo a última dividida em três subvariedades: verde vermelha e amarela. Além disso, existem vários híbridos, alguns dos quais introduzidos no Brasil, provenientes da Costa do Marfim. É uma cultura que vem aumentando sua contribuição na formação do valor bruto da produção agrícola no Norte e Nordeste. O coqueiro tem usos e finalidades variados, destacando-se nas áreas de alimentação, habitação, movelaria, indústria de cosméticos, sabão, fibra e artesanato. Segundo a FAO, o Brasil conseguiu aumentar sua participação na produção mundial de 3.1% (1998) para 54% (2002) passando do 5° para 4° lugar no ranking internacional. Em 2002 a área cultivada com coqueiro no Brasil foi de 263.319há, sendo que 92% da produção concentra-se na região litorânea do Norte e do Nordeste. De acordo com o IBGE-SECEXMIDIC, dentre os estados maiores produtores em 2001, a Bahia produziu 637 toneladas de frutos, enquanto o Ceará e o Pará produziram, respectivamente, 296 e 295 toneladas. A produtividade média do coqueiro no Brasil nesse ano foi de 7.549kg/há. Esta produtividade é dependente de diversos fatores como Ambientais: O coqueiro é uma palmeira tropical, e seu desenvolvimento é favorável em climas quentes e úmidos, os quais são encontrados entre as latitudes 20° N e 20° S.

A temperatura de 27° C é considerada ótima para o coqueiro, o qual tem seu desenvolvimento prejudicado se as temperaturas mínimas diárias forem inferiores a 15° C. Temperaturas maiores que a ótima são toleráveis pela cultura se não houver baixa umidade relativa do ar.

A umidade relativa do ar em torno de 80% é adequada ao desenvolvimento do coqueiro. Se a umidade atmosférica for menor que 60% e estiver associada a ventos quentes e secos, poderá haver prejuízo no desenvolvimento da cultura, devido a uma alta taxa de transpiração foliar, a qual não poderá ser compensada pela absorção de água através das raízes. Uma umidade relativa maior que 90% também pode prejudicar a planta, porque reduz a absorção de nutrientes devido à menor transpiração, provocando queda prematura de frutos, além de favorecer a propagação de doenças.

A luz é outro fator importante para o bom desenvolvimento da cultura. Considerando-se como ideal uma insolação anual de 2.000 horas com, no mínimo, 120 horas/mês. Entretanto, a intensidade dessa luz também é importante. Em dias nublados, as nuvens reduzem a radiação solar, o que pode interferir na negativamente fotossíntese do coqueiro.

Fatores fisiológicos são de grande importância na cultura do coqueiro. No coqueiro anão, as flores masculinas e femininas amadurecem aproximadamente ao mesmo tempo, ocorrendo normalmente autofecundação. No entanto, entre as cultivares do coqueiro anão, o nível de autofecundação é variável e ocorre de acordo com a variedade considerada. Sendo assim alguns frutos caem por falhas de polinização, sendo atribuídas a causas fisiológicas, que determinam uma queda normal, comparável àquela das árvores frutíferas em geral. Muito pouca queda ocorre em seguida a esse período inicial, a não ser que as condições sejam extremamente desfavoráveis.

A cultura do coqueiro anão produz continuamente durante o ano todo. E a partir da polinização os frutos são colhido em torno de 6 meses, conclui-se que qualquer estresse, nesse período pode afetar a produção. Um déficit hídrico prolongado (mais de 03 meses com precipitações abaixo de 50 mm) pode provocar queda prematura de frutos, daí a importância da irrigação sobre o rendimento da cultura. Por outro lado, chuvas excessivas também prejudicam a cultura devido às menores insolações, eficiência de polinização e aeração do solo e da maior lixiviação de nutrientes.

Há também variação sazonal no número de flores femininas formadas em cada inflorescência consecutiva e, portanto no número de frutos que amadurecem.

Fatores nutricionais também devem ser considerados. A condição deve ser realizada anualmente, baseada nos resultados das análises de solo nutricional da cultura do coqueiro e extremamente importante à produção. A quantidade de nutrientes extraídos pela cultura poderá atingir valores elevados, considerando-se que a produtividade pode situar-se entre 150 a 200 frutos/planta/ano a partir do 3° ano de produção (5° ano de cultivo). Esta, estando em deficiência ocasiona considerável queda dos frutos e baixa produtividade, já que o pegamento dos frutos determinam o tamanho da safra.

Verifica-se também que o índice de pegamento de associados aos da análise foliar, para repor os nutrientes retirados pela colheita, frutos diminui após uma safra abundante, como consequência de condição nutricional exaurida. Para manter uma produção constate, evitando a queda prematura deve-se realizar além da análise química uma análise foliar, uma vez que existe relação entre a quantidade de nutrientes nas folhas e a produção da cultura.

Insetos e doenças correspondem bastante também na perca da produção. Entre as doenças que afetam o coqueiro no Brasil, as mais importantes são: lixa pequena, queima das folhas, anel vermelho, murcha-de- Phytomonas. Existindo ainda outras de menos ocorrência: Helmintosporiose , podridão seca, Marchitez sorpresiva, Barata do coqueiro, Largata marrom e verde, Vaguinha do fruto, Gafanhotos, Cupins, Ácaro da gema do fruto, Cadang-cadang, Podridão do olho e Antracnose ou Podridão do fruto, cujo gênero causador desta doença é o Colletotrichum sp. descoberto por Cda in Sturm,Deutschlands Flora em 1831-1832 .É um patogeno onívoro, com um amplo círculo de hospedeiros e, além de atacar praticamente todas as variedades comerciais de coco, ataca também diversas ervas daninhas, vegetais, trevo, alfafa, culturas perenes, cereais entre outras frutíferas e etc.

O ataque é facilitado pelo ferimento deixado pelo ácaro Eriophves guerreiros. Apesar da incidência (ocorrência e da severidade(grau de ataque)) de cada inseto/doença varia de região para região, ocorrendo mundialmente e causando perdas nas principais regiões produtoras de coco. No Brasil, há relatos de perdas no Norte e Nordeste. Por ser uma doença que afeta diretamente os frutos, depreciando-os e reduzindo o seu valor comercial, a antracnose é considerada de grande importância.

Este trabalho teve como objetivo estabelecer as principais características do agente causal da antracnose do coqueiro e ainda estabelecer os principais métodos de controle para a doença.

As amostras dos frutos do coqueiro apresentando sintomas de podridão e rachaduras foram coletadas na Fazenda Bom Retiro, no estado de MG no dia 03/10/10. Logo após as amostras foram trazidas para o Instituto Federal Goiano campus Urutaí e conduzidas ao Laboratório de Microbiologia, para serem analisadas no microscópio estereoscópio, as quais apresentavam sintomas da doença.

As amostras onde observou-se maior quantidade de sinais foram analisadas, preparando lâminas através do método de pescagem direta, as que apresentavam as estruturas do patógeno foi feito o preparo de lâminas com cortes para observação da interação patógeno-hospedeiro. Ambas as lâminas foram preparadas utilizando fixador a base de azul-de-algodão. Após o preparo das mesmas, estas foram vedadas com base (esmalte) para a conservação do material, sendo posteriormente analisadas em microscópio óptico, onde foram realizados registros de macro e microfotografia digital utilizando máquina digital (Sony CANON Power Shot A580).

As fotos, contendo diferentes estruturas do fungo Colletotrichum sp., e os sintomas da doença nos frutos, foram organizadas em uma prancha de fotos, sendo as mesmas identificadas.

Hospedeiro/cultura: Cocos nucifera

Família Botânica: Palmae

Doença: Antracnose ou podridão do fruto

Agente Causal (anaformo): Colletotrichum sp (Teleomorfica) Glomerella sp

Local de Coleta: Fazenda Bom Retiro

Data de Coleta: 03/10/2010

Taxonomia

Colletotrichum sp é uma espécie de fungo mitospórico, cuja fase perfeita é classificado com estirpes homotálicas ou heterotálicas de ascomicetos do gênero Glomerella sp. Os fungos deste gênero, juntamente com sua fase perfeita, são considerados os maiores patógenos de plantas em todo o mundo. Na fase teleomórfica o Gênero Glomerella sp. é um gênero de interesse fitopatológico e pertencente ao Reino Fungi, Divisão Ascomycotina, Classe Ascomycetes, Ordem Polystigmatales, Família Glomerellaceae. Os ascomicetos constituem o grupo mais numeroso de fungos, ocorrendo nos mais variados habitat exercendo saprofitismo e/ou parasitismo, causando diversos tipos de doenças em plantas (Bergamin Filho et al. 1995).;

Sintomatologia

O sintoma necrótico, típico da doença são lesões deprimidas e escuras nos frutos. A doença incide principalmente nos frutos tornando-os escuros e mumificados. Em frutos desenvolvidos, podem ocorrer rachaduras, mas ocorre também nas folhas e caules, porém em menor grau.

Os sintomas começam como lesões pequenas, marrom-escuras, circulares, deprimidas, com as bordas bem definidas, nas quais evoluem, e o centro torna-se cinza-escuro a negro, com círculos concêntricos, onde são observados pontos negros correspondentes com os acérvulos de Colletotrichum sp e sobre eles forma-se uma massa rosácea a alaranjada de esporos.

Etiologia

O gênero Colletotrichum sp Cda in Sturm,Deutschlands Flora 3:41(1831-1832). Apresenta como sinonímias Vermicularia Tode, Fungi Mechlenb.Sel.1:31(1790), Vermicularia Tode ex Fr,Syst.Orb, Veg.111(1825), Dicladium Ces,Flora 35:398(1852), Steirochaete Braun E Casp, Krankh.Pfl:28 (1854), Fellneria Fckl,Fung rhenani 1923(1869), Ellisiella Sacc,Michelia 2:147(1880), Coniothyriella Speg, Bol.Acad.Nac.Cienc.Cordoba11:605(1889), Colletotrichopsis Bub, Ost.Z.54:184(1904), Coniothyris Clements,nom.nov,Genera of Fung:133(1909), Didymariopsis Speg,An.Mus.Nac.Buenos Aires 20:424(1910), Gloeosporiopsis Speg,An Mus . Nac Buenos Aires 20:404(1910), Fominia Girzitska,Bull,Jard.bot.Kiev 5-6:168(1927), Lophodiscella Tehon,Mycologia25:253(1933), Blennorella Kirschst,Hedwigia81:201(1944), Ellisiellina Camara,Agron.Lusit.11:72(1949) , Rostrospora Subram.E Ramakr,J Madras Univ.B,22:67(1952), Colletostroma Petrak,Sydowia 7:346(1953), Schizotrichella Morris,Mycologia 48:733(1956), Peresia Maia, Publ.inst.Mic.Univ.Recife267:28(1960).

Caracteriza-se pela formação de estruturas denominadas acérvulos, em forma de disco achatado, subepidérmico, com espinhos ou setas alongadas, septadas, e pigmentadas (Fig. CD), conidióforos simples e alongados, conídios hialinos unicelulares ovais a oblongos ou falcados, geralmente em forma de bastonete (Fig. AB), que permanecem nos acérvulos aderidos por uma massa mucilaginosa de polissacarídeos, solúveis em água. Apesar destes esporos não serem estruturas de resistência, os micélios do fungo podem permanecer viáveis por longo período de tempo, em sementes, restos culturais, ou em infecções latentes em frutos.

Tem crescimento rápido em meio de cultura Batata-Dextrose-Ágar (BDA), formando colônias concêntricas, de coloração verde-oliva à marrom, podendo ocorrer a formação ou não de setores.

Epidemiologia

O fungo sobrevive nos restos da cultura deixados no campo, em plantas voluntárias, em outros hospedeiros alternativos, principalmente solanáceas, tendo relatos de ataque do patógeno em dendezeiro (Elaeis guineenses). Assim como no solo. Chuvas prolongadas, umidade relativa alta e temperatura entre 20-25º C são condições que favorecem o desenvolvimento da doença.

Os conídios do fungo são disseminados pelos respingos da água da chuva e da irrigação por aspersão, pois estes estão aglutinados por uma substância gelatinosa hidrossolúvel e não são facilmente carregados pelo vento. Os conídios uma vez em contato com o hospedeiro, sob condições de umidade, germinam e o pro-micélio resultante, com prévia formação de apressório, penetra diretamente através da cutícula pela emissão do tubo de infecção (Galli;). A longa distância, a disseminação se dá através das sementes.

Controle

Não há relatos de variedades resistentes a Colletotrichum sp. As mudas devem ser limpas, livres do patógeno e adequadamente tratadas. Deve-se manter as plantas com adubação equilibrada. As plantações não podem ser muito adensadas, e os sulcos devem ser orientados no sentido da circulação dos ventos. Após a colheita, os restos de cultura devem ser retirados do campo e queimados ou enterrados. Em campos com persistência da doença, deve-se realizar rotações de cultura com uma espécie não hospedeira durante no mínimo um ano. Realizar irrigação por gotejamento ou infiltração, e evitar a irrigação por aspersão. Deve-se evitar também adubação excessiva com nitrogênio. Realizar vistorias periódicas no campo e eliminar os frutos com sintomas, assim que estes sejam detectados. Pulverizar os frutos em intervalos de 7 a 10 dias. Como os frutos e botões florais podem ser atacados também por brocas é importante misturar um inseticida de baixo teor residual. Sendo assim a mistura mais eficaz pode ser elaborada a base de 1,25 gramas de benomil(2,5gramas de Bentale) +deltrametrina (1,5mililitros de deces 25 CE)+ 1,5 mililitros de oléo mineral(2,0 mililitros de assist)em um litro de água com pH entre 5,0 e5,5.O benomil deve ser intercalado com mancozeb na dosagem de 2,4 gramas (3,0 gramas de manzate 800)por litro, ou seja, numa semana utiliza-se o benomil e na outra o mancozeb. Não se recomenda aplicar fungicidas cúpricos devido ao risco de provocar fitotoxidade.

LITERATURA CITADA

ALVES, R.C.; DEL PONTE, E.M. Fitopatologia.net - herbário virtual. Departamento de Fitossanidade - Agronomia, UFRGS. Disponível em:http://www6.ufrgs.br/ agronomia/fitossan/fitopatologia/referencia.php , Acesso em: 22 abril 2010.

BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI. H.; AMORIM, L.; Manual de Fitopatologia vol. 1: Princípios e Conceitos, 3ª edição, ed. Ceres, 1995.

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HANLIN, R.T., Illustrated Genera of Ascomycetes. Volume 1. ed. Apspress. St. Paul, Minnesota, 1997.

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SERRA, IMRSS, COELHO, R.S.B: MENEZES, M.M.Caracterização fisiológica, patogênica e analise isoenzimática de isolados monospóricos e multiespóricos de Colletotrichum. Universidade Federal de Pernambuco. UFRPE. Departamento de Agronomia / Fitossanidade.Summa Phytopatho. vol. 34. BOTUCATU Apr/June 2008.

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TRINDADE D.R E POLTRONIERI-Doenças do Dendezeiro in Kimati H., Amorim.L., Rezende J.A.M.,Bergamin Filho A.,Camargo L.E.A.-Manual de Fitopatologia volume 2 Doenças Das Plantas Cultivadas.

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