quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Alternaria porri (Alternaria sp.) em cebolinha (Allium fistulosum L.)




















Figura 01: Mancha púrpura (Alternaria porri) em cebolinha (Allium fistulosum L.) A. B. Sintomas nas folhas, C.D. Sinais do fungo em microscópio estereoscópico, E.F. Conídios retos, obclavados, afinados na extremidade e com septos longitudinais (barr = 14 µm).

Mancha púrpura (Alternaria porri) em cebolinha (Allium fistulosum L.)



Guilherme M. Oliveira1
1Acadêmico do curso de Agronomia




A cebolinha comum (Allium fistulosum, L.) originária da Sibéria, e a cebolinha-francesa (Allium schoenoprasum, L), originária da Europa continental, são condimentos, muito apreciados pela população e cultivadas em quase todos os lares brasileiros. A planta é considerada perene, apresenta folhas cilíndricas e fistulosas, com 0,30 a 0,50 m de altura, coloração verde-escura, tendendo para o glauco em A. fistulosum; produz pequeno bulbo cônico, envolvido por uma película rósea, com perfilhamento e formação de touceira. As cultivares mais conhecidas são Todo Ano, Futonegui e Hossonegui.(Heredia Z., N.A. e Vieira, M.C.; et al 2003)
Embora a planta de cebolinha suporte frios prolongados e existem cultivares que resistam bem ao calor, tendo poucas restrições para o seu plantio em qualquer época do ano, a faixa de temperatura ideal para o cultivo fica entre 8 e 22 oC, ou seja, em condições amenas. Portanto, o perfilhamento é maior nos plantios de fevereiro a julho nas regiões produtoras do Brasil. A colheita da cebolinha inicia-se entre 55 e 60 dias após o plantio ou entre 85 e 100 dias após a semeadura, quando as folhas atingem de 0,20 a 0,40 m de altura. (Heredia Z., N.A. e Vieira, M.C.; et al 2003)
A mancha-púrpura é considerada a principal doença de parte aérea da cebolinha em regiões de clima tropical e subtropical. É comum ao alho, cebola, cebolinha, alho-porró e outras aliáceas (Reis e Henz et al., 2010) e quando ocorre em plantações com cultivares muito suscetíveis, sob condições ambientais favoráveis, pode causar perdas de 50 % a 100 %. No Brasil, causa grandes prejuízos aos produtores por reduzir a produção e também afetar a conservação dos bulbos. A doença também é conhecida como queima ou crestamento das folhas devido aos sintomas causados. O seu controle provoca grandes gastos com fungicidas (Reis e Henz et al., 2010).
Além do Brasil, houve relatos da Alternaria porri em cebolinha, na China, Hong Kong, Coréia, EUA, Taiwan e em Papua Nova Guiné. (Farr e Rossnan, 2010).

No Instituto Federal Goiano - campus Urutai-GO foi coletado folhas de cebolinha infectado com o patógeno presente na folha de cebolinha, em outubro de 2010. Em seguida o material foi levado para laboratório de Microbiologia para análise, e identificação do patógeno.
No Laboratório de Microbiologia, foram preparadas lâminas semi-permanentes, com auxilio do microscópio estereoscópio (lupa).
Para o preparo de lâminas foi retirada uma parte micélio do fungo presente na folha de cebolinha e depositado em lâmina de microscópio contendo o fixador a base de azul de metileno, e então vedadas com esmalte-de-unha. Após a confecção as laminas foram observadas em microscópio ótico.
Os sintomas da planta foram fotografados, primeiramente utilizando microscópio estereoscópio (lupa), e em seguida com o microscópio óptico os sinais, utilizando câmera digital CiberShot. E onde mais tarde foram feitas as medições dos conídios, para determinar o comprimento, largura e numero de septos, nos determinados fungos encontrados na mancha púrpura da cebolinha (Alternaria porri), através do microscópio.
Este trabalho tem por objetivo descrever a mancha púrpura enfatizando aspectos de sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle.

Hospedeiro/cultura: Cebolinha (Allium fistulosum L.)
Família Botânica: Alliáceae
Doença: Mancha púrpura
Agente Causal: Alternaria sp.
Local de Coleta: Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí
Data de Coleta: 14/10/10
Taxonomia: Pertence ao Reino Fungi, filo; Ascomicota, Ordem; Pleosporales, Família; Pleosporaceae.


Sintomatologia: Os sintomas iniciam-se na forma de pequenas lesões aquosas, de formato irregular. Em seguida, estas lesões ficam esbranquiçadas, podendo inclusive ser confundida com danos causados por tripes, e finalmente, assumem um formato mais arredondado e ficam com uma coloração púrpura. As lesões também podem apresentar halo amarelo e, em condições de alta umidade, apresentam anéis concêntricos característicos, de coloração marrom a cinza escuro, correspondentes às frutificações fúngicas. As lesões podem crescer e coalescer, levando à murcha e crestamento das folhas. Excepcionalmente, quando o ataque inicia-se na extremidade superior da folha, pode ocorrer queima de pontas, confundindo-se com outras doenças bióticas ou abióticas (Reis e Henz et al., 2010).
O patógeno pode atacar os bulbos durante a colheita e causar lesões externas ou uma podridão semi-aquosa e enrrugamento dos escamas frescas. Os tecidos atacados desenvolvem coloração amarelada, tornando-se avermelhada com o passar do tempo (Massola Junior et al., 2005). Esta coloração é o resultado de um pigmento liberado pelo fungo, que se difunde pelas escamas. Se houve desenvolvimento do micélio sobre os bulbos, estes adquirem uma coloração marrom-escura a preta. O ataque aos bulbos de alho é bem menos comum do que aos bulbos de cebola (Reis e Henz et al., 2010).


Etiologia (Sinais): O gênero Alternaria sp pertence ao grupo inserto dos Fungos Mitospóricos, sub grupo dos hifomicetos. Possuem conídios com comprimento e largura variável, geralmente individuais e raramente catenulados, retos ou ligeiramente curvos, com corpo oblongo ou elipsoidal que se afina em direção ao ápice, formando um bico comprido, sinuoso e ocasionalmente ramificado. Apresentam coloração palha, parda ou ouro claro, com septos transversais e poucos ou nenhum longitudinal. Os conídios são inseridos em conidióforos septados retos ou sinuosos que ocorrem isolados ou agrupados. As populações de Alternaria spp. em são caracterizadas por apresentarem-se morfologicamente heterogêneas, diferindo quanto à coloração do micélio, produção de pigmentos em meio de cultura, presença ou ausência de esporulação em condições de laboratório, bem como quanto a patogenicidade e formação de setores em meio de cultura (Tofoli e Domingues et al. 2004).
Alternaria porri (Ellis) Cif. possui como sinonímia denominado como Macrosporium porri Ellis. O fungo possui quatro formae speciales, Alternaria porri f.sp. cichorii T. Schmidt 1965, Alternaria porri f.sp. dauci Neerg. 1945, Alternaria porri f.sp. lallemantiae T. Schmidt 1954, Alternaria porri f.sp. solani Neerg. 1945 (Índex Fungorun, 2010).




Tabela 1. Comparação dos elementos morfológicos e morfométricos da Mancha púpura
(Alternaria porri). com os elementos morfológicos descritos por outros autores.
Descrição morfológica Diâmetro (µm) Ellis (1971a e 1971b) (Del Ponte, 2007)
Conídio 17.5- (16.5) – 15 x 122.5 - (109) - 100 20 – (17.5) – 15 x 200 – (150) - 100 20 – (17.5) – 15 x 300 – (200) - 100
Rostro 3.8 – (3.75) – 3.6 x 72.5 – (62.6) - 50
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_
Numero Ellis (1971a e 1971b) (Del Ponte, 2007)
Septos 11 – (8.5) - 6 12 – (10) - 8 12 – (10) - 8
De acordo com a tabela mostrada, podemos ver variações no Diâmetro (µm), e no Numero de septos, nos três autores descritos acima, devido a vários fatores, tais como; ambientes diferentes, cultivares, genética, dentre outros.

Os conidióforos se encontram isolados ou em grupo, retos ou curvos, algumas vezes geniculados, septados, de claro a marrom, com cerca de 120 μm de comprimento, 5-10 μm de espessura, com uma ou mais cicatrizes conidiais bem definidas. Conídios geralmente isolados, retos ou curvos, obclavados ou com o corpo elipsoidal, afilando-se para a extremidade, que possui, geralmente, o mesmo comprimento do corpo, mas pode ser menor ou maior, claro a marrom dourado, liso ou levemente rugoso e com comprimento total de 100-300 μm, 15-20 μm de espessura na parte mais larga com 8-12 septos transversais e de nenhum a vários septos longitudinais ou oblíquos, bico curvo, claro, com 2-4 μm de espessura, afilado. Uma característica comum, observada em algumas espécies de Alternaria, está na baixa capacidade ou mesmo ausência de esporulação em meio de cultura. (Del Ponte, E.M et al. 2007).
O gênero Alternaria sp. possui 632 espécies relatadas até o momento. (Index Fungorum, 2010). As sinonímias do patógeno são; Acalypha indica: AlteAllium ampeloprasum: Allium ascalonicum: Allium cepa. (Farr e Rossman 2010).

Epidemiologia: As alternarioses são doenças típicas de primavera e verão, todavia podem causar danos importantes em outonos e invernos atípicos. Os sintomas aparecem primeiramente nas folhas mais velhas e evoluem posteriormente para as partes mais novas da planta (Tofoli e Domingues et al. 2004).
Uma vez presentes na cultura, os conídios são dispersos pela ação da água, ventos e insetos. Além dessa forma de disseminação, trabalhadores, equipamentos e animais, em contato com as folhas molhadas podem disseminar o fungo. Havendo umidade e calor suficientes, os conídios germinam e infectam as plantas rapidamente podendo o fungo penetrar diretamente pela cutícula, por ferimentos ou através dos estômatos. A colonização é intercelular, invadindo tecidos do hospedeiro, provocando alterações em diversos processos fisiológicos, que se exteriorizam na forma de sintomas (Tofoli e Domingues et al. 2004).
A alta severidade das alternarioses em geral é caracterizada por intensa redução da área foliar, queda do vigor das plantas, quebra de hastes, depreciação de frutos e tubérculos, morte de plantas e conseqüente redução da produção e qualidade. O aumento de suscetibilidade à infecção está geralmente associado a tecidos que tenham alcançado a maturidade ou plantas em períodos de frutificação, bulbificação ou tuberização. Durante esta fase, ocorre uma demanda maior de açucares e nutrientes para a formação de frutos, tubérculos, bulbos, raízes e brotações novas em detrimento da folhagem mais velha, favorecendo o processo infeccioso em órgãos exportadores. (Tofoli e Domingues et al. 2004).
A umidade é o fator ambiental mais importante para o desenvolvimento da doença, pois o fungo é dependente de água para germinação do esporo e para esporulação na superfície da planta. O fungo pode crescer em temperatura variando de 6 oC a 34 oC, mas a faixa ótima de desenvolvimento situa-se entre 21 oC a 30 oC (Reis e Henz et al., 2010).
Para que haja abundante formação de esporos e, conseqüentemente, uma epidemia severa da doença, o patógeno requer umidade relativa de 90% ou acima disto. A esporulação ocorre à noite, quando há umidade suficiente. A suscetibilidade das folhas de cebolinha à infecção por Alternaria porri depende de vários fatores, como por exemplo, a idade das folhas ou das plantas e de injúrias causadas por tripes. Folhas ou plantas mais velhas são mais suscetíveis que as novas e ferimentos causados por tripes favorecem a penetração e aumentam a quantidade de infecções, com aceleração do ciclo do patógeno ((Reis e Henz et al., 2010).
Os fungos do gênero Alternaria sobrevivem entre um cultivo e outro em restos de cultura infectados, e hospedeiros intermediários, podendo sobreviver ainda em equipamentos agrícolas, estacas e caixas usadas ou mesmo nas sementes. Além destas formas de sobrevivência, existe a possibilidade do patógeno permanecer viável no solo na forma de micélio, esporos ou clamidósporos. Os conídios de Alternaria spp são altamente resistentes a baixos níveis de umidade, podendo permanecer viáveis por até um ano nestas condições. (Tofoli e Domingues et al. 2004)
Em território brasileiro observou-se a ocorrência do patógeno associado à cultura da cebolinha (Allium fistulosum L.) nos estados de Pernambuco, Amapá, Goiás e em Minas Gerais. (Cenargem, 2010).


Controle: A adoção conjunta de diferentes práticas é fundamental para o efetivo controle das alternarioses em hortaliças. O estabelecimento de um programa de manejo para a doença deve incluir medidas como: plantio de sementes sadias, plantio de cultivares e híbridos tolerantes, rotação de cultura, redução do estresse das plantas pela correta adubação e irrigação, bem como a aplicação de fungicidas (Reis e Henz et al., 2010).
Práticas que contribuem para a redução da umidade, período de molhamento foliar e maior circulação de ar entre plantas tais como: evitar o plantio em áreas úmidas, maior espaçamento entre plantas e eliminação de “pés de grade”, são estratégias que visam reduzir as condições favoráveis às alternarioses. Minimizar irrigações em períodos críticos, evitar regas próximas ao anoitecer e reduzir o período de molhamento foliar contribuem para reduzir a severidade da doença. A incorporação dos restos culturais logo após a colheita, para acelerar a decomposição do material doente favorecendo a redução do potencial de inóculo na área. (Tofoli e Domingues et al. 2004).
A eliminação de plantas voluntárias, hospedeiros alternativos, restos culturais, bem como evitar novos plantios próximos a áreas em final de ciclo são medidas que visam diminuir as fontes de inóculo da doença e impedir a entrada da doença em novos cultivos. De acordo com site da Agrofit, não foi relatado nenhum produto registrado no Ministério da Agricultura para o controle de mancha-púrpura da cebolinha (Agrofit, 2010).
LITERATURA CITADA:

AGROFIT Sistema Agrofit – sistema de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em:<>, acessado em 01 de setembro de 2010.
DEL PONTE, E.M. (Ed.) Fitopatologia.net - herbário virtual. Departamento de Fitossanidade. Agronomia, UFRGS. Disponível na Internet: http://www.ufrgs.br/agronomia/fitossan/ herbariovirtual. Acesso em: 02 ago 2007.
ELLIS (1971a e 1971b); ROTEN (1994); CAB INTERNACIONAL (1999); Portal patologia de sementes; Disponível em; http://faem.ufpel.edu.br/dfs/patologiasementes/cgi-bin/sementes/detalhes.cgi?praga=89. Acessado em; 01 de setembro de 2010.

EMBRAPA Banco de Dados Brasileiro de Micologia. Disponível em: Acessado em: 18 de outubro de 2010.

FARR D. F. & ROSSMAN A. Y., SBML Systematic Botany of Mycological Resources. Disponível em: . Acessado em: 01 de setembro de 2010.

HEREDIA Z., N.A.; VIEIRA, M.C.; WEISMANN, M.; LOURENÇÃO, A.L.F. Produção e renda bruta de cebolinha e de salsa em cultivo solteiro e consorciado. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 574-577, julho-setembro 2003.

INDEX FUNGORUM. Banco de dados de táxons fúngicos. Disponível em: . Acesso em: 01 de setembro de 2010.

REIS A.,; HENZ, G.P. Comunidade Técnica. Mancha púrpura do alho e da cebola. Brasília, novembro de 2009. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2009/cot_71.pdf. Acesso em: 01 de setembro de 2010.

TÖFOLI. G.J; DOMINGUES. J.R; Centro de pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal Alternarioses em Hortaliças: Sintomas, Etiologia e Manejo Integrado. Biológico, São Paulo, v.66, n.1/2, p.23-33, jan./dez., 2004.

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