quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Oídio (Erysiphe polygoni) incidente na folha de couve



Oídio (Erysiphe polygoni) incidente na folha de couve
(Brassica oleracea L.)

Isadora Sanchez Maia Carneiro¹ e Milton Luiz da Paz Lima²
1Acadêmico do curso de Agronomia
2Professor do curso de Agronomia




INTRODUÇÃO


A cultura da couve é pertencente à espécie Brassica oleracea var. acephala (L.), (ou Brassica sylvestris (L.) Mill.) da família das Brassicaceae, a que também pertence o nabo e a mostarda, do grupo Acephala, é originária da Europa (costa mediterrâneo) e Ásia (Agriloja, 2010). É uma planta muito utilizada como verdura na cozinha, para sopas e conservas, entre outros acompanhamentos, como a couve à mineira. É uma planta herbácea, mas há algumas variedades sublenhosas na zona da base do caule; pode ser considerada uma planta bianual, mas tem, por vezes, tendências perenantes (o seu ciclo de vida pode prolongar-se para além dos dois anos). O caule é ereto, podendo ser longo, como na couve-galega. As folhas da base podem diferir das folhas terminais: as basilares podem ser lirado-penatipartidas, enquanto que as folhas superiores podem ser oblongas, obovadas, onduladas ou denteadas. As folhas são geralmente verdes (glaucas, mas nem sempre), grossas, não chegando a ser carnudas. Ao longo do caule (também chamado de talo) podem formar-se pequenos ramos ou gemas, como na couve-galega, ou na couve-de-bruxelas (ABHORTICULTURA, 2010).


O cultivo da couve é normalmente uma atividade de alto risco, devido às numerosas doenças que podem se manifestar durante o ciclo da planta, e por isso a sua produção requer cuidados desde a escolha da área de plantio até a colheita. Entre os agentes etiológicos mais importantes está o fungo Erysiphe polygoni (Erysiphales), causador do oídio no início da fase vegetativa das plantas. Depois de iniciada a doença em poucas plantas, rapidamente ela se espalha por todo o estande, pois os esporos do fungo se espalham através do vento, respingos de chuvas, ferramentas e o próprio homem e no contato entre plantas infectadas (IAC, 2010).


Os oídios são amplamente distribuídos na natureza e, apesar de ocorrerem em regiões úmidas e de clima frio, são favorecidos por ambientes secos e quentes. Podem afetar uma ampla gama de plantas, como gramíneas, ornamentais, olerícolas, frutíferas e espécies florestais. Apesar de ser pouco comum a morte da planta, os efeitos prejudiciais são evidenciados através de redução no desenvolvimento e produção do hospedeiro. Estes danos são decorrentes de interferência do fungo no processo de fotossíntese, retirada de nutrientes das células e diminuição da quantidade de luz que chega à superfície das folhas. Em alguns Casos, os danos à produção chegam a 40% (Kimati et al., 1995).


Oidium sp. é um parasita obrigatório que se desenvolve em toda a parte aérea das plantas, como folhas, hastes e pecíololos. O sintoma é expresso pela presença do fungo nas partes atacadas e por uma cobertura representada por uma fina camada de micélio e esporos (conídios) pulverulentos que podem ser pequenos pontos brancos ou cobrir toda a parte aérea da planta, com menor severidade nas vagens (Agroredenotícias, 2010).


Períodos curtos de molhamento foliar e alta temperatura contribuem para a alta incidência de oídio nas culturas. O desenvolvimento da doença é favorecido por baixa incidência luminosa, folhas sem a presença de filme de água e temperaturas entre 15 ºC e 27 ºC (Scielo, 2010).


O presente trabalho tem como objetivo identificar a incidência de Erysiphe polygoni (Kimati et al., 2005),com base nos sinais apresentados em folhas de couve e, fazer um levantamento bibliográfico de estudos já existentes.



MATERIAL E MÉTODOS


As amostras de folhas infectadas com o oídio foram coletadas na horta do Instituto Federal Goiano Campus Urutaí no mês de Setembro de 2010. As folhas foram levadas para laboratório de Microbiologia onde se identificou os sinais em microscópio estereoscópico. Logo após, foram preparadas lâminas semi-permanentes através do método de pescagem e, utilizando fixador à base de azul-de-metileno (glicerina, ácido acético, ácido lático e água destilada), a fim de serem observadas em microscópio ótico para a visualização e identificação das estruturas morfológicas do fungo, bem como registro. As lâminas semi-permanentes após serem analisadas foram vedadas com esmalte e etiquetadas devidamente.


Foram preparadas também lâminas, com o auxílio de fita adesiva para visualização rápida e análise do conidióforo. Foram obtidas estendendo-se sobre a superfície da lesão um pedaço de fita adesiva (durex), removendo a fita cuidadosamente e readerindo à lâmina e feita vedação com esmalte, assim como na lâmina semi-permanente. Essa técnica se presta especialmente para fungos que esporulam na superfície de lesões e cujos esporos não são produzidos no interior das frutificações.


Esses processos de preparo das lâminas foram realizados por várias vezes, até serem visto as estruturas do fungo.


Feitas as observações no microscópio ótico foram realizados procedimentos de registros macro e microscópicos digital utilizando câmara digital (Sony 10 megapixels). As fotos contendo diferentes estruturas do fungo foram identificadas com base em literatura (Kimati et al., 2005) e comparações das estruturas morfológicas, em seguida editadas e organizadas em uma prancha de fotos.


Para fazer a prancha de fotos foi utilizada uma escala obtida através de regra de três simples com o tamanho real das estruturas do fungo em µm (medidos em microscópio ótico com ocular micrométrica) e o tamanho da imagem das fotos medidas em centímetros.




RESULTADOS E DISCUSSÃO


Hospedeiro/cultura: Couve (Brassica oleraceae var acephala (L.))


Família Botânica: Brassicaceae ou Cruciferae


Doença: Oídio da couve


Agente Causal: Erysiphe polygoni (Teleomorfo) e Oidium sp. (Anamorfo) (Kimati et al., 2005)


Local de Coleta: Instituto Federal Goiano campus Urutaí


Data de Coleta: 16/09/2010


Taxonomia: A forma anamórfica pertence ao reino Fungi, grupo incerto dos fungos Mitospóricos, subgrupo dos Hifomicetos. A forma teleomórfica pertence ao reino Fungi, divisão Ascomycota, classe Leotiomycetess, ordem Erysiphales, família Erysiphaceae e gênero Erysiphe (Kimati et al., 2005).


Sintomatologia


Os sintomas são facilmente identificáveis (Fig.1A), pois o fungo ataca toda a parte da folha, tanto a face adaxial como abaxial (Fig.1B). No qual o fungo se manifesta em forma de inflorescência ou bolor pulverulento (Fig.1C), termo em inglês denominado de “powdery mildew”, de coloração branca. Com o passar dos dias a coloração branca muda para levemente acinzentada. A doença é observada mais frequentemente na face adaxial das folhas (Kimati et al., 2005).


Além da inflorescência a planta afetada pode, eventualmente, exibir outros sintomas, como clorose, ilhas verdes, manchas ferruginosas, acinzentadas, desfolha acentuada ou combinações simultâneas desses sintomas. Em condições severas podem provocar retorcimento, subdesenvolvimento, queda das folhas, morte de ramos novos, queda de flores e frutos, além de causar alterações fisiológicas no hospedeiro inibindo a fotossíntese e a respiração (Kimati et al., 1995).


Etiologia


Erysiphe polygoni corresponde à fase sexuada (teleomorfo) do fungo e Oidium corresponde à fase assexuada (anamorfo). Este fungo possui um grande número de hospedeiras, as principais são do gênero Phaseolus sp., Pisum sp., Calendula sp., Catalpa sp., Dahlia sp., Delphinum sp., Lupinus sp., Lycopersicon sp., Medicago sp., Scabiosa sp., Trifolium sp., Valeriana sp. e Vicia sp.. Esta doença está amplamente distribuída, mas é considerada de importância secundária à cultura da couve (Agrofit, 2010).


O fungo produz hifas claras e septadas (Fig.1G) que formam um micélio branco ou cinza claro. As hifas dão origem a conidióforos (Fig.1E) curtos medindo 81 µm de comprimento, eretos e não ramificados, a partir do qual se forma a célula conidiogênica (Fig.1D) com dimensões de 9 x 23 µm, que desenvolvem os conídios (Fig.1C), arranjados em cadeias (Fig.1E). Os conídios são hialinos, unicelulares, e um formato elíptico, ovóide ou oblongo, apresentando dimensões de 17 x 38 µm, o que não diferenciou de acordo com a literatura, que segundo Kurozawa e Pavan, as dimensões variam de 17,1-21,1 x 27,7-54,1 µm, (Fig.1F).


As hifas formam também os haustórios (Fig.1D), que são estruturas especializadas na retirada de nutrientes diretamente das células do hospedeiro, com comprimento de 10 µm. Estas estruturas, proveniente do intumescimento da extremidade das hifas que penetram no interior das células, permitem que o fungo exerça uma forma evoluída de parasitismo, proporcionando uma longa convivência entre patógeno e hospedeiro. Além dos haustórios as hifas possuem apressórios (Fig.1H) que são estruturas de adesão do patógeno (Kimati et al., 1997).


O gênero Oidium sp. possui 482 espécies válidas relatadas até o momento, não possuindo subespécies e variedades, possui três sinonímias: Erysiphe glycines, Microsphaera diffusa, Trichocladia diffusa. (Index Fungorum, 2010).


. Epidemiologia


São fungos parasitas obrigatórios, que dependem do hospedeiro vivo para seu crescimento e reprodução, e não possuem, portanto, fase saprofítica. Os patógenos deste grupo apresentam uma forma bastante evoluída de parasitismo, pois exploram seus hospedeiros de maneira sutil, podendo conviver com os mesmos durante todo o ciclo de vida, sem levá-los à morte. Este tipo de atuação do patógeno em relação ao hospedeiro tem sido designado como parasitismo “refreado”. Em razão de o patógeno ser um parasita obrigado, ele deve se adaptar constantemente ao hospedeiro, surgindo daí uma alta especificidade na relação patógeno-hospedeiro. De modo geral, esta especificidade é demonstrada pela ocorrência de formae speciales e raças fisiológicas do patógeno que por sua vez não foi identificado nenhum registro para cultura da couve, capazes de atacar determinadas espécies e plantas e variedades de uma mesma espécie vegetal, respectivamente (Kimati et al., 1995).


O a espécie do fungo Erysiphe Polygoni, possui registro de patogenicidade em dezoito espécies de plantas no Brasil. E foi encontrado nos estados de Mato-Grosso, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Goiás, Bahia, região do Nordeste e Distrito Federal (Embrapa, 2010).


O micélio do oídio se desenvolve no exterior dos tecidos verdes aos quais se fixam através de órgãos chamadoshaustórios. São estes órgãos que penetram através da cutícula nas células epidérmicas e absorvem os nutrientes das células. O fungo passa o inverno sob a forma de micélio hibernante (forma assexuada) e/ou sob a forma de cleistotecas (via sexuada). Quando, na primavera, as condições são favoráveis o fungo inicia o seu desenvolvimento, verificando-se as infecções primárias que podem ser provenientes da via sexuada, as cleistotecas, onde se produzem os ascos e ascósporos, que, ao germinar, produzem micélio, com posterior formação de conidióforos e conídios ou da via assexuada, isto é, do micélio hibernante, que esporula, produzindo conídios. A partir dos focos primários e se as condições climáticas se mantiverem favoráveis ao desenvolvimento dos fungos podem ocorrer sucessivas contaminações secundárias durante todo o desenvolvimento vegetativo da couve (IAJAP, 2010).


A disseminação é realizada principalmente pelo vento, que distribui os conídios a distâncias relativamente longas, a água pode atuar também como agente de disseminação. As condições desfavoráveis para a disseminação são temperaturas acima de 30 ºC e o molhamento foliar, devido os conídios não germinarem quando se forma um filme de água na superfície (Reis et al., 1997).


A sobrevivência do fungo, nas regiões tropicais e sub-tropicais, ocorre através de micélio e conídios produzidos pelo fungo em plantas ou em hospedeiros alternativos, do tipo ervas daninhas ou espécies silvestres; no caso, estas estruturas fúngicas são provenientes de infecções ativa que sobrevivem nestes hospedeiros. Os conídios são disseminados principalmente pelo vento. Condições de baixa umidade relativa e temperaturas amenas favorecem o desenvolvimento da doença. A colonização restringe-se à emissão dos haustórios para o interior das células epidérmicas do hospedeiro, não ocorrendo desenvolvimento inter ou intracelular das hifas.


Controle


O método mais eficiente de controle do oídio é através do uso de cultivares resistentes. Devem ser utilizadas as cultivares que sejam resistentes (R) a moderadamente resistentes (MR) ao fungo. Outra forma de evitar perdas por oídio é não semear cultivares suscetíveis nas épocas mais favoráveis à ocorrência da doença, tais como semeaduras tardias ou safrinha e cultivo sob irrigação no inverno. Como os oídios não sobrevivem em restos culturais, não são transmitidos por sementes.


O controle químico, através da aplicação de fungicidas foliares poderá ser utilizado. Para o controle de oídio nos estádios iniciais indica-se usar preferencialmente o enxofre (2 kg i.a./ha), que causa menor impacto sobre o fungo. O momento da aplicação depende do nível de infecção e do estádio de desenvolvimento da couve.


Possui como produto registrado para controle químico, segundo Agrofit, o Sulficamp, com ingrediente ativo enxofre (inorgânico), titular de registro SIPCAM ISAGRO BRASIL S.A. – Uberaba e formulação WP - Pó Molhável.





REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


ABHORTICULTURA. Disponível em: Acessado em 07 de Dezembro de 2010.



AGRILOJA. Disponível em: <www.agriloja.pt/entrar_admin/.../agricultura07.pdf> Acessado em: 16 de Outubro de 2010.



AGROFIT. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons> Acessado em 13 de Outubro de 2010.




AGROREDENOTÍCIAS. Disponível em: Acessado em 06 de Dezembro de 2010.



BERGAMIN FILHO, A., KIMATI, H. & AMORIM, L. Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. 3a Ed., Vol. 1, pág 866-871– Editora Agronômica Ceres Ltda., São Paulo SP, 1995.



EMBRAPA. Disponível em: Acessado em 18 de Outubro de 2010.


EMBRAPA BANCO DE DADOS DE MICOLOGIA DO BRASIL. Disponível em: Acessado em 09 de Dezembro de 2010.



FITOPATOLOGIA.NET. Disponível em: Acessado em 16 de Outubro de 2010.



IAC. Disponível em: Acessado em 08 de Dezembro de 2010.


INDEX FUNGORUM. Disponível em: http://www.indexfungorum.org/Names/NamesRecord.asp?RecordID=104573. Acessado em 29 de Setembro de 2010.



KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; Manual de fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas. 4ª Ed. Vol. 2, pag. 290 – São Paulo: Agronômica Ceres, 2005.



KUROZAWA, C.; PAVAN, M.A. Doenças das cucurbitáceas. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMNI FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. (Eds.). Manual de Fitopatologia, Volume 2: Doenças das plantas cultivadas. São Paulo: CERES, 1997. p.325-337.


IAJAP. Disponível em: Oidio.pdf> Acessado em 09 de Dezembro de 2010.



REIS, E.M., MEDEIROS, C.A. & CASA, R.T. Epidemia de oídio da soja, causada por Microsphaera diffusa, na safra 1996/97, no RS. Fitopatologia Brasileira 22:300-301. 1997.



SCIELO. Disponível em: Acessado 07 de Dezembro de 2010.





Um comentário:

  1. muito bom este estudo, mas eu gostaria de saber sobre o controle biológico para se fazer em plantio orgânico, sendo este a não utilização de produtos químicos.

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