quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sigatoka-amarela (Pseudocercospora musae) incidente banana (Musa paradisiaca).



Márcio Nunes de Oliveira

Hospedeiro/cultura: Banana (Musa paradisiaca L.)

Família Botânica: Musaceae

Doença: Sigatoka Amarela

Agente Causal: Pseudocercospora musae Zimm

Local de Coleta: Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí

Data de Coleta: 16/04/09

Taxonomia: A forma anamórfica peretence ao Reino fungi, grupo incerto Fungo Mitosporico, sub-grupo hifomiceto, gênero Pseudocercospora sp. A fase teleomórfica pertence ao reino Fungi, filo Ascomycota, classe Dothideomycetes, sub-classe Dothideomycetidae, ordem Capnodiales, família Mycosphaerellaceae, gênero Mycosphaerella sp.

Sintomatologia

As infecções ocorrem nas folhas jovens da planta, incluindo geralmente as folhas zero (vela), um, dois, três e, excepcionalmente, a quatro (as folhas são contadas das mais novas para as mais velhas; a folha zero corresponde àquela ainda não aberta). (Kimati et. al. 2005)

A infecção inicial caracteriza-se por uma leve descoloração em forma de ponto entre as nervuras secundárias da segunda até a quarta folha a partir da vela. Este ponto descolorido amplia-se, formando uma estria de coloração amarela (Fig. 1A). Como o tempo, estas pequenas estrias crescem, formando manchas necróticas, elípticas, alongadas, dispostas paralelamente às nervuras secundárias da folha (Fig. 1A). Desenvolve-se, por fim, uma lesão com centro deprimido, de coloração cinza e bordo preto, circundado por um halo amarelo (Fig. 1A). (Kimati et. al. 2005)

A lesão passa, portanto, por vários estádios de desenvolvimento, conforme descrição a seguir: estádio I – é a fase inicial de ponto ou risca de no màximo 1 mm de cumprimento com leve descoloração; estádio II – é uma estria já apresentando vários milímetros de comprimento, comum processo de descoloração mais intenso; estádio III – a estria fica mais larga, aumenta de tamanho e começa a evidenciar coloração vermelho-amarronzada próximo ao centro; estádio IV – mancha nova, apresentando forma oval alongada e coloração levemente parda, de contornos mal definidos; estádios V ­– caracteriza-se pela paralisação de crescimento do micélio, aparecimento de um halo amarelo em volta da mancha e início de esporulação do patógeno; estádio VI – fase final de mancha, de forma oval-alongada, com 12 a 15mm de comprimento pó 2 a 5 mm de largura. O centro é totalmente deprimido, de tecido seco e coloração cinza com bordos pretos e halo amarelado. (Cordeiro, 2000)

Etiologia

A Sigatoka-amarela é causada pelo fungo Mycosphaerella musicola Leach. estádio perfeito de Pseudocercospora musae Zimm.. No estádio anamórfico ou imperfeito, o fungo forma estromas definidos em ambas as faces da folha. São mais abundantes na face inferior. Sobre os estromas, desenvolvem-se conidióforos, os quais são de coloração pálida ou pardo-olivácea, sem septos, retos ou ligeiramente recurvados, muitas vezes com formato de garrafa. Os conídios com 10 a 110 μm x 2 a 6 μm desenvolvem-se na extremidades dos conidióforos, isoladamente. São de tonalidade levemente parda, lisos, retos, recurvados ou ondulados. Variam de cilíndricos a cilíndricos-obclavulados, o que difere dos conídios do fungo Mycosphaerella fijiensis Morelet (estádio perfeito), denominado Pseudocercospora figiensis Morelet no seu estádio anamórfico, que causa a Sigatoka-negra, tendo seus conídios desenvolvidos à medida que o centro das lesões entram em colapso e os conidióforos, de tonalidade que varia de pálida a olivácea, muitas vezes mais clara na extremidade, podendo ser retos ou recurvados medindo de 17 a 63 μmx 4 a 7 μm e podem emergir isoladamente ou em pequenos grupos, através dos estômatos, ou podem formar feixes entre os estromasnegros, os quais rompem a epiderme . Possuem, em média, três septos, podendo atingir até seis. (Leach, 1941)

Os espermogônios desenvolvem-se, em quantidade elevada, nos tecidos lesado, em fase de degeneração. Surgem am ambas as faces da folha, porém são mais abundantes na epiderme inferior. São escuros ou pardo-escuros, semi-irrompentes através dos estômatos, obpiriformes, medindo de 30 a 50 μm em diâmetro. As espermáceas são cilíndricas ou baciliformes, com 2,5 a 5 μm x 1 a 2,5 μm, hialinas unicelulares. (Leach, 1941)

Os peritécios escuros desenvolvem-se nas lesões maduras. São irrompentes, com ostíolo proeminente curtos. Formam-se com maior frequencia na face inferior do limbo. Os ascos, oblongos para clavados, possuem oito esporos. Os ascósporos são hialinos, unisseptados, medindo 14 a 18 μm x 4 a 6 μm. (Leach, 1941)

Em todo o mundo, a bananeira apresenta-se como hospedeiro de espécies do fungo Pseudocercospora, como Pseudocercospora musae e Pseudocercospora fijiensis, podendo ocorrer no mundo, nos países da China, Taiwan, Indonésia, Tailãndia, Malásia, Flórida e Brasil. (Index Fungorum, 2010)

No Brasil, são registradas ocorrências do fungo em todos os estados brasileiros. (EMBRAPA Banco de Dados de Micologia, 2010)

Epidemiologia

Os conídios (anamorfo) sobrevivem de três a quatro semanas sobre as folhas e os ascósporos (teleomorfo) sobrevivem 8 semanas, portanto as duas fases do fungo participam do estabelecimento da doença. (Alves et.al. 1997)

A produção dos ascósporos é maior nas folhas presentes nas posições cinco a dez na planta, principalmente nos períodos chuvosos com temperatura de 21 °C, alcançando o máximo de produção no início da estação seca. (Alves et.al. 1997)

Os conídios estão presentes nas plantações comerciais e são as principais fontes de inóculo. A produção de conídios geralmente ocorre à noite, sendo necessário 10 a 12 horas de orvalho, mesmo na ausência de chuva, e temperatura acima de 22 °C. (Alves et.al. 1997) Os esporos podem ser disseminados pela água (conídios) e vento (ascósporos). (Alves et.al. 1997) A partir do estádio de mancha podem-se observar frutificações do fungo em forma de pontuações negras. Em estádios avançados da doença, principalmente em ataques severos, ocorre a coalescência das lesões e, conseqüentemente, uma grande área foliar é comprometida, caracterizando o efeito mais drástico, que é a morte prematura das folhas. Manchas oriundas de infecções por ascósporos apresentam predominância apical, enquanto aquelas originadas a partir de conídios apresentam distribuição casualizada, mas com predominância basal, sendo comum a formação de linhas de infecção sobre o limbo foliar. (Kimati et. al. 2005)

Controle

O mal-de-Sigatoka é uma doença de fácil controle. A integração de ações é, portanto, o melhor caminho para que o objetivo seja atingido e a harmonia do ambiente seja preservada, como o controle cultural, que podemos citar a drenagem que reduz a possibilidade de formação de microclima adequado ao desenvolvimento do fungo, o combate às plantas daninhas que em altas populações no bananal, além da competição, favorecem a formação de microclima adequado ao patógeno, a desfolha, pois a eliminação, de forma racional, de folhas atacadas ou parte destas folhas, é de grande importância, já que reduz a fonte de inóculo no bananal. Contudo, deve ser feita com bastante cuidado para não provocar danos maiores que própria doença. Para infecções concentradas, recomenda-se a eliminação apenas da parte afetada. (Bendezu e Godinho, 1986)

Quando a incidência for alta e bem distribuída sobre a folha recomenda-se a sua eliminação. A nutrição da planta também ajuda no controle pois plantas adequadamente nutridas propiciam um ritmo de emissão de folhas mais acelerado, ocorrendo nesta condição o aparecimento de folhas em intervalos menores. A conseqüência imediata é o aparecimento das lesões de primeiro estádio e/ou manchas em folhas mais velhas da planta. Ocorre nesta situação o que se pode chamar de compensação dos danos provocados pela doença com a manutenção de uma área foliar fotossintetizante adequada às necessidades da planta. Em plantas mal nutridas, o lançamento de folhas é lento e, consequentemente, as lesões serão visualizadas em folhas cada vez mais novas e sombra, pois plantas mantidas sob condições sombreadas apresentam pouca ou nenhuma doença. As razões podem ser duas: redução ou não formação de orvalho, importante fator no processo de infecção e ainda, redução na incidência de luz, que também é importante no desenvolvimento dos sintomas da doença. O cultivo de banana em sistema agroflorestal, certamente é uma boa opção para a região amazônica, principalmente pelo seu caráter preservacionista. Entretanto, deve-se atentar para o fato de que plantas sob condições sombreadas sofrem alterações de ciclo, tornam-se estioladas e perdem em produção. (Bendezu e Godinho, 1986)

O controle da Sigatoka amarela obedece às mesmas recomendações referidas para a Sigatoka negra, exceto o numero de aplicações de fungicidas que, por ser menos agressiva, requer um numero menor. Semelhante a Sigatoka negra, o monitoramento semanal constitui uma ferramenta imprescindível para otimizar o numero e o intervalo de aplicação. Em geral, tem-se utilizado entre seis a sete aplicações anuais de fungicidas sistêmicos e de contato, sozinho ou em mistura com protetores. (Cordeiro, 2000). Os fungicidas recomendados para o controle do Sigatoka-amarela registrados pelo Ministério da Agricultura são ao todo 53 produtos, onde pode-se citar Nativo (tebuconazol (triazol) + trifloxistrobina (estrobilurina), aplica-se 0,4 a 0,5 litros/ha, Opera (epoxiconazol (triazol) + piraclostrobina (estrobilurina), aplica-se 0,5litros/ha, Triade (tebuconazol (triazol), aplica-se 0,5 litros/ha, Stratego 250 EC (propiconazol (triazol) + trifloxistrobina (estrobilurina), aplica-se 0,5 litros/ha, Priori (azoxistrobina (estrobilurina), aplica-se 0,2 a 0,4 litros/ha e Potenzor (flutriafol (triazol), aplica-se 1,0 a 1,25 litros/ha. (AGROFIT, 2010)

Vale destacar ainda a importância do óleo mineral no controle da Sigatoka-amarela no Brasil e no mundo. Ele pode ser usado puro, em dosagens que têm variado de 10 a 15 L/ha. Quando aplicado sobre a folha, penetra, atingindo ambas as faces, exercendo ação fungistática capaz de paralisar o desenvolvimento do patógeno no interior da folha, aumentando o período de incubação e o período de desenvolvimento da lesão. Nas folhas novas da planta oferece boa proteção. O óleo mineral, no entanto, tem sido utilizado como veículo de fungicidas sistêmicos ou em misturas de óleo, fungicidas e água. Em mistura, ele facilita a dispersão e penetração dos produtos, assim como a sua permanência sobre a folha. A dosagem de óleo mineral, para misturas de óleo + fungicida, é a mesma para óleo puro. Na misturas óleo, fungicida e água, o óleo tem participação em geral com 5 L, entrando ainda um emulsificante, na quantidade de 0,5 a 1,0 % do volume de óleo. (Cordeiro, 2000)

A busca de variedades resistentes, seja mediante a seleção dentro dos recursos genéticos existentes, seja mediante a geração de novas variedades por hibridização. É hoje a principal linha de ação visando ao controle da Sigatoka-amarela. Assim, podemos citar cultivares resistentes à doença como Pioneira, Yangambi, Mysore, Terra, Terrinha, D'Angola e Figo. (AGROFIT, 2010)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGROFIT. Disponível em: Acessado em: 26/04/2010.

ALVES, E.J.; DANTAS, J. L. L; FILHO, W. S. S; SILVA, S. de O.; OLIVEIRA, M. de A; SOUZA, L. da S; CINTRA, F. L. D; BORGES, A. L; OLIVEIRA, A. M. G; OLIVEIRA, S. L; FANCELLI, M; CORDEIRO, Z. J. M; SOUZA, J. da S. Banana para Exportação, Aspectos Técnicos da Produção. 2ª edição Embrapa – SPI FRUPEX, 1997. 106p.

BENDEZU, J. M. & GODINHO, F. P. A Sigatoka amarela. Informe Agropecuário 12:39-44. 1986.

BORGES, A. L; OLIVEIRA, A. M. G; COSTA, D. da C; ALMEIDA, C. O; ALVES, E. J; COELHO, E. F; MATSURA, F. C. A. U; SOUZA, L. da S; FANCELLI, M; Filho, P. E. M; Oliveira, R. P de; Silva, S. de O. da; Medina, V. M; Cordeiro, Z. J. M. A Cultura da Banana 2ª edição. Coleção Plantar, Serviço de Produção de Informação – SPI Brasília – DF 1998. 97p.

CORDEIRO, Z. J. M.; Banana – Produção, Aspectos Técnicos. Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia. Brasília – DF, 2000. 143p.

EMBRAPA Banco de Dados de Micologia. Disponível em: Acessado em: 25/04/2010

FARR & ROSMAN, SBML Systematic Botany of Mycological Resources. Disponível em: . Acesso em: 29 de junho de 2010.

FITOPATOLOGIA.net. Disponível em: Acessado em: 26/04/2010.

GERMAN, S.; ABADIE, T.; PEREA. Epifitia de roya de la hoja sobre el cultivar de trigo. C La Paz INTA. Investigacicones Agronomicas, Montevideu, v. 7, n. 1, p. 75-77, 1986.

INDEX FUNGORUM. Disponível em: . Acesso em: 02 de junho de 2010.

KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A Manual de fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas.;. 4ª Ed.vol. 2, p. 479 – São Paulo: Agronômica Ceres, 2005.

LEACH, R. Banana leaf spot, Mycosphaerella musicola, the perfect state of cercospora musae Zimm. Tropical Agriculture of Trinidad, v.18, p.91-95, 1941.

PENTEADO, L. A. C; Controle da Sigatoka-amarela para as condições do Vale do Ribeira – CATI – Registro – SP.

VIEIRA, G.M. Investigações sobre o "Mal de Sigatoka" ou Cercosporiose da bananeira (Musa spp.). Recife, UFRPE, 1991. Monografia.

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