quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Aspectos gerais e morfologicos de Cylindrocarpon destructans

Aspectos gerais e morfológicos de Cylindrocarpon destructans


Luan Carlos Paiva
Acadêmica do curso de Agronomia

INTRODUÇÃO

O fungo Cylindrocarpon destructans foi descrito a primeira vez por Zinssm Scholten em 1964, e pela sua taxonomya, pertence ao reino Fungi, filo Basidiomycota, classe dos Basidiomycetos, ordem dos Polypolares, família Meripilaceae, gênero Abortiporus. Existem atualmente 144 descrições de Cylindrocarpon sp. Dentre espécies, formas especiais e variedades. E a espécie C. destructans possui uma forma especial: Cylindrocarpon destructans.sp. panacis. E três variedades: C. destructans var. coprosmae, C. destructans var. crassum, C. destructans var. destructans.(INDEXFUNGORUM, 2011)
Apresenta como forma teleomórfica, Neonectria radicícola. (OLIVEITA, 2003)
Existem em torno de 64 espécies para este gênero: C. abuense, C. aequatoriale,C. álbum, C. album var. álbum, C. album var. majus, C. angustum, C. aquaticum, C. bambusicola, C. bonaerense, C. boninense, C. candidum, C. candidum var. minus, C. carneum, C. chiayiense, C. chlamydosporium, C. congoense, C. curtum,C. cylindroides · C. decumbens, C. destructans var. coprosmae, C. destructans panacis, C. destructans var. coprosmae, C. destructans var. crassum, C. destructans var. destructans, C. didymum, C. effusum, C. faginatum, C. formicarium, C. fractum, C. fusiforme, C. gracile · C. hederae, C. heteronemum, C. hydrophilum, C. ianthothele, C. ianthothele var. ianthothele, C. ianthothele var. majus, C. ianthothele var. minus, C. ianthothele var. rugulosum, C. lichenicola, C. liriodendri, C. luteoviride, C. macroconidialis, C. macrodidymum, C. macrosporum, C. magnusianum, C. mali var. flavum, C. mirum, C. musae, C. obtusisporum, C. olidum, C. olidum var. crassum, C. olidum var. olidum, C. olidum var. suaveolens, C. orthosporum, C. ovatum, C. panacis, C. peronosporae, C. reteaudii, C. sagittariae, C. sclerotigenum, C. stilbophilum, C. supersimplex, C. tênue, C. theobromicola, C. vaginae, C. willkommii var. willkommii. (ZIPCODEZOO, 2011)


O fungo Cylindrocarpon spp. tem uma larga distribuição geográfica, ocorrendo em todos os continentes, podendo ser encontrado desde as florestas tropicais até em solo da tundra Ártica. É encontrado desde as camadas mais superficiais do solo até vários centímetros de profundidade, podendo crescer em baixas concentrações de oxigênio. Considerado como colonizador pioneiro de raízes jovens devido à habilidade competitiva, rápida germinação dos esporos e rápido crescimento micelial, além de certas características fisiológicas, como a utilização de nitrogênio orgânico e inorgânico. A gama de plantas hospedeiras varia dentro das espécies do gênero Cylindrocarpon. Diferenças entre isolados, quanto a sua virulência, têm sido relatadas em C. destructans . Por essas características se apresenta como um parasita obrigatório. (BRAYFORD, 1993 apud GARRIDO, 2004).
Existem, segundo Farr e Rossman (2011) 86 espécies descritas que hospedam Cylindrocarpon destructans, estas são: Abies alba, A. sp., Agrostis sp., Allium sp., Ammophila sp., Anthurium andraeanum, Arachis hypogaea, Ardisia crenata, Avena sativa, Betula pendula, Calluna vulgaris, Camellia sinensis, Cocos sp.Cornus florida, Cryptomeria japonica, Dactylis glomerata, Daucus carota, Eucalyptus sp., E. tereticornis, Foeniculum vulgare, Fragaria sp., Fragaria ×ananassa, Gynoxys oleifolia, Heterodera glycines, Hevea sp., Hyoscyamus albus, Ilex aquifolium, Juglans regia, Lilium sp., Lupinus luteus, Malus sp., Malus sylvestris, Musa sp., Musa textilis, Narcissus pseudonarcissus, Narcissus sp., Paeonia lactiflora, Paeonia suffruticosa, Panax ginseng, Panax quinquefolius, Panax schinseng, Panax sp.Pastinaca sativa, Phleum sp., Phormium sp., Picea abies, Picea glauca, P. sp., Pinus densiflora, P. nigra, P. parviflora, P pinaster, P.  radiata, P. sp., P. sylvestris, P. thunbergii, Poa pratensis, Populus balsamifera, Populus tremuloides, Prunus armeniaca, P. cerasus, P. communis, P. mahaleb, P. mume, P. sp., Pseudotsuga menziesii, Pteridium aquilinum, Pyrus communis, Quercus faginea, Q. ilex, Q. suberRhododendron metternichii, Rhododendron sp., Robinia pseudoacacia, Rosa sp., Saintpaulia ionantha, Secale cereale, Solanum sp., Solanum tuberosum, Trifolium pratense, Triticum aestivum, Vitis sp., V. vinifera e Xanthosoma sp..
Estes relatos aconteceram nos seguintes países: África do Sul, Austrália, Canadá, China, Equador, Estados Unidos, Inglaterra, França, Grécia, Holanda, Índia, Irã, Irlanda, Itália, Jamaica, Japão, Korea, Líbia, Malásia, Nova Zelândia, Nigéria, Polônia, Tanzânia e País de Galles (FARR E ROSSMAN, 2011)



Em 1966, Booth citado por Brayford (1993) dividiu as espécies do gênero Cylindrocarpon em quatro grupos: Grupo 1 (clamidósporos ausentes e microconídios presentes); Grupo 2 (clamidósporos ausentes e microconídios ausentes); Grupo 3 (clamidósporos presentes e microconídios presentes) e Grupo 4 (clamidósporos presentes e microconídios ausentes). Samuels & Brayford (1990) discordaram dessa divisão, pelo fato de uma mesma espécie poder se localizar em mais de um grupo. O anamorfo, C. destructans var. destructans, é caracterizado pelo crescimento rápido em meio de cultura e pela formação de clamidósporos discretos, enquanto que, C. destructans var. coprosmae tem uma taxa de crescimento lento e não forma clamidósporos. (GARRIDO, 2004)
O primeiro relato da doença da podridão radicular preta foi constatado na década de 90 em viveiros comerciais no Chile, onde provocou a morte de mais de 22000 plantas envasadas, num período de dois anos. Os sintomas na parte aérea compreendem clorose e necrose foliar, perda de torgos nas folhas, seca de ponteiros, evoluindo até a morte da planta. No sistema radicular, são encontradas leões escuras.  O agente causal identificado foi Cylindrocarpon destructans. (PICCININ, 2005)
No ano de 2001, em 15 municípios da Serra Gaúcha foram observadas diversas plantas de uvas americanas (Vitis labrusca L.) das variedades Bordô, Niágara e Concord com menos de cinco anos de idade, apresentando escurecimento na região do colo, redução do vigor, secamento da parte aérea, declínio e morte. Desde 1999, já haviam sido constatados, em algumas plantas de videira da região, estes mesmos sintomas. Por outro lado, o histórico de ocorrência de outros patógenos de solo na região vitivinícola da Serra Gaúcha como Fusarium oxysporum, Armilaria mellea, tem sido bastante comum, principalmente do primeiro. Foi diagnosticada a doença “black foot”, e seu agente causal, Cylindrocarpon destructans, foi este o primeiro relato de “black foot” no Brasil. (SCHECK et al., 1998; REGO et al., 2000 apud GARRIDO 2004).
Os mesmos sintomas foram observados em videiras de diversos países da Europa, como em Portugal, onde o declínio de videiras jovens foi observado em Portugal no início da década de 90, causado por Cylindrocarpon destructans (Rego et al., 2000 apud Garrido 2004). Em 1975, foi relatado na Itália, a morte de plantas causada por C. obtusisporum (Grasso & Magnano di San Lio, 1975 apud Garrido 2004). Nos Estados Unidos, de amostras de plantas de videiras novas com sintomas de declínio, também foram isolados C. obtusisporum, além de Phaeoacremonium inflatipes, P. chlamydosporum. (Scheck et al., 1998 apud Garrido 2004). Na Espanha, em 140 vinhedos, foram identificadas as espécies de fungos presentes nas plantas que apresentavam sintomas de declínio. As espécies encontradas foram: Botryosphaeria obtusa (65,4%), Phaeoacremonium aleophylum (26,4%), Cylindrocarpon spp. (20%), P. chlamydospora (18,6%) e Fomitiporia punctata (15%) e, ocorrendo em menor freqüência Botryosphaeria dothidea (6,4%), Eutypa lata (2,1%) e Stereum hirsutum (1,4%) (Armengol et al., 2001 apud Garrido 2004). Na Grécia, no período de 1998 a 2001, amostras de diferentes cultivares enxertadas em vários porta-enxertos apresentaram declínio alguns meses ou anos depois de plantadas. Os fungos isolados foram: P. chlamydospora, F. punctata, S. hirsutum, Phaeoacremonium sp., Cylindrocarpon sp. e Botryosphaeria sp. (RUMBOS & RUMBOU, 2001 apud GARRIDO 2004).
O Brasil tem intensificado à introdução de genótipos de uva para os seus programas de melhoramento. A Estação Quarentenária Vegetal Nível 1 (EQVN 1), da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia recebeu em 2006 mudas de 27 variedades de V.vinifera procedentes da Itália com o objetivo de detectar, identifi car e interceptar pragas exóticas. As amostras representativas deste material foram submetidas a análises micológicas, sendo empregados os métodos de exame direto e isolamento em meio de cultura BDA para a detecção de fungos. Pelas características morfológicas e fisiológicas foram identificados em 100 % das estacas (raiz e caule) Cylindrocarpon obtusisporum, exótico para o Brasil e Cylindrocarpon destructans, “agentes da podridão do pé”, além de Macrophoma sp. não registrado nesta cultura no Brasil. Por meio do trabalho realizado pela EQVN 1 tem-se evitado a introdução de pragas exóticas ao Brasil. (MENDES, 2007)
Na Grécia, no período de 1998 a 2001, amostras de diferentes cultivares enxertadas em vários porta-enxertos apresentou declínio alguns meses ou anos depois de plantadas. Os fungos isolados foram: P. chlamydospora, F. punctata, S. hirsutum, Phaeoacremonium sp., Cylindrocarpon sp. e Botryosphaeria sp. (RUMBOS & RUMBOU, 2001).
Sobre a ação patógena deste fungo em humanos, existe o relato de um homem de 39 anos de idade, natural de Antigua, nas Antilhas, conviveu  por 12 anos com inchaço no pé esquerdo. Extrairam-se 3 amostras da biopsia, uma amostra do material extraído foi levada a laboratório, cultivada em meio de cultura e se viu crescer Cylindrocarpon destructans. O fungo foi identificado por sua morfologia microconidial, a presença de clamidósporos, e um pigmento marrom intenso. O principal efeito observado foi uma lenta destruição óssea. (ZOUTMAN, 1991)
O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos gerais e morfológicos de Cylindrocarpon destructans.
 MATERIAIS EMÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano Campus Urutaí. Os propágulos fungicos foram extraídos a partir de amostras de videira lesionadas.
As amostras foram levadas ao microscópio estereoscópico, a fim de se obter uma visão de em qual região haveria maior possibilidade da extração do agente causador da lesão.
Uma lâmina havia sido flambada no bico de bunsen com o auxílio de uma pinça, colocada sobre a bancada, em seu interior gotejada uma gota de corante azul de algodão lactofenol, colocada sobre a bancada ao lado do microscópio óptico. Com uma agulha esterilizada, os propágulos foram cuidadosamente extraídos por meio da técnica de raspagem, colocados sobre a gota de corante e devidamente macerados, para reduzir seu tamanho e diminuir o risco de quebra da lamínula.
Em seguida, uma lamínula foi sobreposta à região da gota de corante, com papel higiênico retirou-se o excesso, e a lamínula foi vedada junto a lâmina com esmalte.
Após confeccionada, a lâmina semi-permanente foi levada ao microscópio óptico, com a objetiva de 4x, com uma visão macro da lâmina, pode se localizar as estruturas, e com as de 10x e 20x pôde se oberva-las com maior riqueza de detalhes. Usando uma câmera digital modelo Canon Power Shot A580, as estruturas foram microfotografadas, com o software Picasa, foram devidamente editadas, e no software Power Point organizadas em forma de prancha, para tornar mais clara a visualização da descrição micológica.
 RESULTADOS E DISCUSSÃO




Figura 1.Aspectos gerais e morfológicos de Cylindrocarpon destructans. A. Os Conídios e hifas (bar=5,8µm) B. Conídios e hifas. C. Célula conidiogênica (bar=6,5µm. D. Macroconídios (bar=5,1µm) cilíndricos com extremidades arredondadas.







Descrição micológica:

Características da colônia. Moderadamente espalhadas, flocose, esbranquiçadas, bege ao marrom pálido ou marrom, esporodóquios com cor de creme . Macroconídios cilíndricos(22-55 x 4,8-10μm)(Fig.D) com extremidades arredondadas, retas ou curvas e um pouco truncados na base, principalmente 1-3-septadas; microconídios claramente não diferenciado dos macroconídios, 1-2 unicelulares, 60-10 x 3,5-4,0 μm. Clamidósporosmarrom amarelado, ovate ao elipsóide, muitas vezes abundantes, intercalados ou terminais, isolados ou em cadeias, são esférico, 14,09 μm de diametro, acastanhadas ou lisas.
Conídios(Fig.A, a1; Fig.B) são terminais e dimórficos, podendo apresentar de 1 a 4 células.
Conidióforos(FIG.C) com65μmde comprimento, eretos, hifas aéreas, de forma irregular branqueadas, septadas, tendo fiálides em seus ápices.
Macroconidiophoros formados como ramos laterais alongados, com ápice da haste e frouxamente ramificado.
Hifas aéreas(Fig.A, a2 ; Fig. B), de forma irregular branqueadas, septadas, tendo fiálides em seus ápices.
Fialosporos obliquamente em ambas as extremidades arredondadas.
.

Figura 2. Comparação de elementos morfométricos de Cylindrocarpon destructans.
Estruturas
Medidas PAIVA,L.
Medidas WILTSHIRE, K.
Conidióforos
58-67μm
65μm
Macroconídios
18-47x5-12μm
22-55x4,8-10μm
Clamidosporos
13,5-20μm diâmetro
14,09μm





LITERATURA CITADA.
FARR E ROSSMAN, Banco de dados para consulta de hospedeiros de táxons fungicos. Disponível em . Acessado em dezembro de 2011.

GARRIDO,L. R.; SÔNEGO, O. R.; URBEN, A. F. Cylindrocarpon destructans causal agent of grapevine black-foot in Rio Grande do Sul. Fitopatol. bras. vol.29 no.5 Brasília Sept./Oct. 2004

INDEXFUNGORUM, Banco de dados para consulta de taxons fúngicos. Disponível em < http://www.indexfungorum.org/names/NamesRecord.asp?RecordID=329491>. Acessado em novembro de 2011.

Mendes, M.A.S.; Oliveira, A.S.; Urben,A.F.; Marinho, V.L.A.; Chagas, G.R.; Silva, V.A.M. & Paz Lima, M.L.Cylindrocarpon obtusisporum - praga exótica interceptada em estacas
de uvas procedentesda Itália. Brazilian phytopathology, vol.32 suplemento, agosto 2007.

OLIVEIRA, H.; REGO, C.; CABRAL, A.; NASCIMENTO, T. Obtenção in vitro do teleomorfo de Cylindrocarpon destructans.ESA, maio, 2003.

PICCININ, E.; PASCHOOLATI, S.F.; DIPIEPR.M.Doenças do abacateiro. IN: KIMATI, H; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMINHO FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.Manual de fitopatologia. 4ed. São Paulo. Agronomica Ceres.2v,2005.

ZOUTMAN't, D. E; & SIGLER, L. Mycetoma of the Foot Caused by Cylindrocarpon destructans. JOURNAL OF CLINICAL MICROBIOLOGY, Setembro. 1991. p. 1855-1859 Vol. 29, No. 9



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