segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Aspectos gerais e morfológicos de Cylindrocladium pteridis

Aspectos gerais e morfológicos de Cylindrocladium pteridis


Lucas Macedo Marçal
Acadêmico do curso de Agronomia

INTRODUÇÃO

O fungo Cylindrocladium pteridis decrito por F. A. Wolf (1926) segundo sua taxonomia pertence ao reino Fungi, filo Ascomycota, subfilo Pezizomycotina, subdivisão Sordariomycetes, classe dos Ascomicetos, subclasse Hypocreomycetidae, ordem Hypocreales, família Nectriaceae e gênero Cylindrocladium apresentando 93 espécies, 11 variedades e 1 formae speciales descritas em literatura INDEX FUNGORUM (2011).
De acordo com Crous (2002) o gênero Cylindrocladium pteridis apresenta como forma teleomorfa o gênero Calonectria. Espécies deste anamorfo são patógenos extremamente devastadores em folhas de espécies florestais e também de espécies de interesse agronômico no mundo.
O gênero Cylindrocladium pteridis apresenta aproximadamente 54 espécies: C. angustatum, C. asiaticum, C. avesiculatum, C. avesticulatum, C. buxicola, C. camelliae, C. canadense, C. candelabrum, C. chinense, C. citri, C. clavatum, C. colhounii var. macroconidiale, C. colhounii var. multiphialidicum, C. multiseptatum, C. musae, C. naviculatum, C. oumaiensis, C. ovatum, C. pacificum, C. parasiticum, C. parvum, C. pauciramosum, C. penicilloides, C. perseae, C. peruvianum, C. pini, C. pseudogracile, C. pseudonaviculatum, C. pseudospathiphylli, C. pteridis, C. reteaudii, C. rumohrae, C. scoparium, C. scoparium var. brasiliense, C. scoparium var. brasiliensis, C. scoparium var. scoparium, C. spathiphylli, C. sumatrense (ZIPCODEZOO, 2011).
Farr et al. (2011) registraram 64 fungos associados à palmeira Cariota no mundo, dentre estes observa-se o registro de C. pteridis.
A palmeira rabo-de-peixe ou cariota-de-touceira [Caryota mitis Loureiro (Arecaceae)] é uma espécie originária da Índia e da Malásia, bastante utilizada no Brasil com fins paisagísticos. No ano de 2002, em viveiro e em plantas adultas na cidade de Manaus, AM, foi observada a ocorrência de manchas foliares circulares a elipsoidais ou irregulares, de coloração parda, com bordas escuras, terminada por um halo clorótico (COELHO et al., 2003).
Em inspeções realizadas em floriculturas e viveiros de plantas ornamentais, verificou-se que a mesma doença ocorrida em Palmeira de Manilla [Veitchia merrilli (Becc) H.E. Moose] causando manchas necróticas de coloração marrom avermelhadas, afetando grandes áreas do tecido foliar. Testes de patogenicidade em mudas de palmeira da Califórnia e palmeira de Manilla comprovaram etiologia da doença. Cylindrocladium pteridis tem sido relatado em representantes da família Palmae no Brasil, tais como coqueiro (Cocos Nucifera L.; Mauritia flexuosa L.; Cariota mitis Loureiro). Este e o primeiro relato de C. pteridis causando doença em W. filifera e Veitchia (SILVA et al., 2005).
Em maio de 2006, foram coletados em uma floricultura no município de Paço do Lumiar, Maranhão, mudas e folhas de palmeira princesa [Dictyosperma album (Bory) Scheff.], sabão anão Sabal minor (JAcq.) Persoon e palmeira da Califórnia (Washingtonia filifera H. Wendl) que apresentavam lesões foliares de aspecto úmido (anasarca) circulares ou ovais e de tamanho variado que ao coalescerem comprometem grandes porções do limbo foliar. Plantas mais jovens chegaram a morrer em razão da queima generalizada das folhas. O exame direto dos materiais revelou a presença de conídios e vesículas características de C. pteridis (SILVA & PEREIRA, 2006).
Há muito se reconhece a importância de espécies de Cylindrocladium como patógeno de essências florestais no Brasil. Todavia, nos últimos oito anos tem sido feitas varias constatações de doenças por Cylindrocladium em culturas agronômicas, causadas principalmente por C. clavatum e C. pteridis (FERREIRA, 1989).
Os grupos de essências florestais apresentam atualmente inegável importância econômica, principalmente para alguns estados do país, como por exemplo, na região sul. Não obstante disso, pouco se sabe a respeito dos problemas fitossanitários dessas plantas, particularmente o estudo das doenças que ocorrem sobre eucaliptos e sobre Pinus sp. tem sido relegado a um plano secundário, apesar da importância dessas espécies florestais. Entre os diversos fungos que causam danos às espécies florestais as espécies de Cylindrocladium sp. se destaca por causar grandes prejuízos principalmente em áreas de viveiros (ROMERO, 1968).
No Estado do Pará a queima de acículas de Pinus spp. tem sido observada em viveiros e plantações da espécie C. pteridis mais sempre de maneira esparsa, sem a mínima importância no que se refere aos danos às plantas.Cylindrocladium pteridis Wolf, ataca também Pinus oocarpa e P. keshia, além de causas manchas foliares em outros hospedeiros, como Polystichum adiantiforma, Washingtonia robusta e Eucalyptus cinérea (FERREIRA, 1989).
A queima de acículas causadas por C. pteridis tem sua ocorrência limitada às regiões Nordeste e Norte, onde foi observada em viveiros e plantios de Pinus caribaea var. hondurensis e Pinus oocarpa. O patógeno possui outros hospedeiros, como os eucaliptos e palmáceas podendo afetar grande porcentagem de árvores em alguns casos e causar severa desfolha, notadamente em plantios jovens. Entretanto, a ameaça não e grande para a cultura, pois mesmo árvores intensamente atacadas recuperam-se com facilidade (KRUGNER & AUER, 2005).
Os sintomas iniciais, em quaisquer porções das acículas, são lesões de coloração amarelo-amarronzada, medindo 2-5 mm de comprimento. Mais tarde, a lesão anela, constrigentemente, a acícula. A porção desta, além da lesão, morre e adquire coloração marrom-avermelhada. Por isso, as plantas intensamente atacadas aparentam ter sido chumascadas por fogo. Posteriormente, as acículas tornam-se marrom-pardas e finalmente caem. Em plantação fortemente atacada observam-se plantas totalmente sadias rodeadas por outras muito atacadas, o que sugere a possibilidade de se controlar a doença por meio de resistência de plantas (FERREIRA, 1989).
As espécies de fungos de solo que causam doenças em plantas pertencem aos gêneros Cylindrocladium, Fusarium, Phytophthora, Pythium, Rizoctonia, Rosellina, Sclerotium e Verticillium. São parasitas facultativos que sobrevivem, na ausência do hospedeiro, em restos de cultura e na matéria orgânica do solo. Alguns são considerandos habitantes do solo, outros são invasores. O patógeno penetra nas raízes através de ferimentos de natureza mecânica ou provocados por insetos e nematóides. As ocorrências mais freqüentes de fungos de solo que causam doenças em plantas medicinais, condimentares e aromáticas no Brasil. Pode ser encontrado também em espécies de chá-preto (Camellia sinensis), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), erva-mate (Ilex paragueriensis) e guaraná (Paullinia cupana) (KRUPPA & RUSSOMANO, 2009).
De acordo com Vidotto (2004), não foram relatados casos de Cylindrocladium pteridis causando doenças em humanos. Esse gênero é de importância fitopatogênica provocando doenças somente em plantas de espécie florestal e ornamental.
Em Gasga (1997) não há relatos de ocorrência de micotoxinas relacionadas com alimentos causadas pelo gênero Cylindrocladium.
O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos gerais e morfológicos do fungo Cylindrocladium pteridis.



MATERIAIS E MÉTODOS

Os propágulos do fungo foram coletados na cidade de Taguatinga-DF em visita a uma propriedade de comercialização de mudas de Palmeira Cariota, observou-se a incidência de manchas necróticas. Estas foram coletadas e analisadas no Laboratório de Micologia em microscópio estereoscópico e composto. As folhas permaneceram em condições de câmara úmida por um período de 48 horas. Observou-se na região central da lesão estruturas do patógeno. Após a observação, exsicatou-se uma parte do material e a outra foi examinada diretamente em microscópio estereoscópico, preparando-se assim lâminas semi-permanentes (corante azul de algodão). Com base em morfometria e morfologia das estruturas encontradas e com auxílio de literaturas especializadas, identificou-se o fungo como pertencente ao gênero Cylindrocladium.
        Embora a fase teleomórfica do fungo tenha sido descrita como Calonectria pteridis Crous, no presente estudo as estruturas sexuais não foram encontradas.
Em seguida as lâminas foram levadas ao microscópio composto para identificação e caracterização morfológica e morfométrica das estruturas com finalidade de identificação da espécie.
Com base nas características morfológicas, morfométricas e comparações com literaturas, o espécime analisado foi identificado como sendo Cylindrocladium pteridis.
Uma das lâminas foi trazida para o Instituto Federal Goiano Campus Urutaí pelo professor Dr. Milton Lima, que foram guardadas no laboratório de Microbiologia da Instituição, aonde foram levadas ao microscópio óptico, para serem novamente analisadas. Inicialmente utilizamos a objetiva de 4x, no intuito de adquirir uma visão macrométrica da lâmina, a fim de localizar a estrutura fúngica presente na mesma. Após devidamente localizada, foi utilizada uma objetiva de 10x, e depois também uma de 40x, buscando uma visualização mais detalhada das estruturas fungicas presentes. À medida que as estruturas eram localizadas no microscópio, eram devidamente fotografadas com uma câmera digital modelo Canon® modelo Power Shot SD750 7.1megapixels.
Em seguida as fotos foram editadas com o auxilio do software PowerPoint 2007, confeccionou-se uma prancha com as imagens adquiridas, a fim de possibilitar uma melhor descrição.






RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Figura 1. Aspectos morfológicos de Cylindrocladium pteridis infectando folhas de palmeira cariota. A. Mancha foliar, B. detalhe da lesão de formato esférico a elíptica, e sinais de coloração esbranquiçada e pulverulenta, C. Células conidiogênicas blástica (Bar=23µm), D. Conídios unisseptados, hialinos, filiformes (Bar=20µm), E. Conídio com extremidades obtusas (Bar=26µm).









Descrição micológica:

A folha atacada da pameira cariota apresenta necroses arredondadas de espaçamentos menores entre elas de acordo com o grau de infestação (figura 1A) mancha foliar da Palmeira Cariota possui micélio de coloração esbranquiçado e pulverulento (Figura 1B) de formato esférico a elíptico, hialino e septado. Apresenta célula conidiogênica blástica (Figura 1C), enteroblástica, filídica e apresentou as variações de comprimento. Os conídios são unisseptados (Figura 1C), cilindricos, hialinos, filiformes e com extremidades obtusas (Figura 1D) reunindo-se em cabeças úmidas, apresentando as dimensões de 5-(6,2)-7µm.






Figura 2. Comparação de elementos morfométricos de Cylindrocladium pteridis. 

Estruturas
MARÇAL (2011)
PAZ LIMA
FERREIRA (1989)
Conídios
5-(6,2)-7µm
3,6-(2,7)-2,4µm
7-(5,5)-4,5µm
Célula Conidiogênica
1,6-(0,5)-0,3µm
1,8-(0,8)-0,5µm
------------------




      LITERATURA CITADA

COELHO NETO, R. A.; FERREIRA, F. A.; ASSIS, L. A. G. Cylindrocladium pteridis, agente causal de mancha foliar em Caryota mitis. Fitopatologia Brasileira, v.28, n. 5, p. 569, 2003.

CROUS, P.W. Taxonomy and pathology of Cylindrocladium (alonectria) and allied genera. APS press, St. Paul, Minnesota, 2002.


FARR, D. F.; ROSSMAN, A. Y.; PALM, M. E. & MCCRAY, E.B. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology laboratory, ARS, USDA. Disponível em:http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/; acessado em: 5 de novembro de 2011.

FERREIRA, F. A. Patologia Florestal: Principais Doenças Florestais no Brasil. Viçosa, MG. Ed. Sociedade de Investigações Florestais, 1989.

GASGA. Micotoxinas em grãos. Publicado por: CTA Centro Técnico para a Cooperação Agrícola e Rural ACP-EU, Postbus 380 6700 AJ Wageningen Países Baixos, n.3.1997. Disponível em: <http://www.fao.org/WAIRDOCS/X5012O/X5012o01.htm#2. Micotoxinas relacionadas com alimentos> acessado em: 5 de novembro de 2011.

INDEX FUNGORUM. Banco de dados para consulta de táxons fungicos. Disponível em: <http://www.indexfungorum.org/Names/NamesRecord.asp?RecordID=275533> acessado em 26 de outubro de 2011.

KRUGNER, T. L. & AUER, C. G. Manual de Fitopatologia. Doenças das Plantas Cultivadas. Ed. Agronomias Ceres. 4º edição. São Paulo, 663 p. 2005.

KRUPPA, P. C.; RUSSOMANO, O. M. R. Fungos em plantas medicinais, aromáticas e condimentares – solo e semente. 2009. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/Fungos/index.htm> acessado em: 5 de outubro de 2001.

ROMERO, J. P. Manual de Fitopatologia. Doenças das Plantas e seu Controle. Ed.      Agronômica Ceres. São Paulo, 640 p. 1968.

SILVA, G. S.; ALFENAS, A. C.; ALFENAS, R. F. & ZAUZA, E. V. Cylindrocladium pteridis em Palmeiras Ornamentais. Fitopatologia Brasileira, v. 30, n. 3, p. 313, 2005.

SILVA, G. S. & PEREIRA, A. L. Novas ocorrências de Cylindrocladium pteridis em Palmeiras Ornamentais. Fitopatologia Brasileira, v.31, n. 4, p. 412, 2005.

VIDOTTO, V. Manual de Micologia Médica. Ed. Tecmedd. Ribeirão Preto, p. 204, 2004.

ZIPCODEZOO. Disponível em: http://zipcodezoo.com/Fungi/C/Cylindrocladium_pteridis/> acessado em 21 de outubro de 2011.

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