segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Aspectos gerais e morfológicos de Alternaria dianthicola

ASPECTOS GERAIS E MORFOLÓGICOS DO FUNGO Alternaria  dianthicola

Alexandre José Rosa
Acadêmico do curso de Agronomia

INTRODUÇÃO

Alternaria dianthicola foi descrita em 1945 por Neerg e este possui como forma anamórfica o fungo Lewia scrophulariae Simmons (1986), com a seguinte classificação taxonômica: Reino Fungi, Divisão Ascomycota, Classe Dothideomycetes, Subclasse Pleosporomycetidae, Ordem Pleosporales, Família Pleosporaceae, Gênero Lewia, Espécie scrophulariae. A forma teleomórfica possui a seguinte classificação taxonômica: Reino Fungi, Insertae sedis (grupo incerto), Fungos Mitospóricos, subgrupo Hyphomycetes. Não apresentando sinonímia (INDEX FUNGORUM, 2011).
Atualmente, existem, segundo Index Fungorum (2011), 636 espécies, formae speciales e variedades descritas para Alternaria sp..
Alternaria dianthicola foi registrada em nove diferentes espécies de hospedeiros, como: Dianthus barbatus, D. caryophyllus, D. chinensis, D. plumarius, D. sinensis, D. superbus var. longicalycinus, Liquidambar styraciflua, Withania somnifera (Farr e Rossman, 2011).
Sendo registrada 28 vezes, nos seguintes países: Armênia SIMONYAN (1981), Austrália CONNINGTON (2003), Canadá GINNS (1986), Chile MUJICA E OEHRENS (1967), China ZHANG (2003), Dinamarca SIMMONS (2007), Estados Unidos MILLER (1993), Hawaii RAABE et al. (1981), Índia MAITI et al. (2007), Coréia CHO  e SHIN (2004), Líbia EL-BUNI e RATTAN (1981), Malaui CORBETT (1964), Malásia JOHNSTON (1960), México BERGEROW et al. (1999), Nova Zelândia PENNYCOOK (1989), Rússia EGOROVA (2007), África do Su GORTER (1977) e Zimbábue WHITESIDE (1966) (Farr e Rossman, 2011).
Em todo o mundo, as alternarioses, estão entre as mais comuns doenças fúngicas em hortaliças. Causadas por fungos do gênero Alternaria caracterizam-se por afetar plântulas, folhas, caules, hastes, flores e frutos de várias hortaliças tais como solanáceas, apiáceas, aliáceas, crucíferas, curcubitáceas e chichoriáceas. (TÖFOLI E DOMINGUES, 2010).
      A alternaria sp é um fungo prejudicial a saúde humana, pois é um  alérgeno comum nos seres humanos, causando  a chamada  febre dos fenos ou reações de hipersensibilidade que às vezes levam à asma.  Prontamente podendo causar ainda, infecções oportunistas em pessoas imunodeprimidas, como doentes de AIDS. (Worldingo, 2010).
      As éspecies de alternaria maléficas ao homem, lembradas como agentes de     feohifomicoses descritas em literatura são: Alternaria alternata, A. chartarum, A. dianthicola, A. infectoria, A. stemphyloides, A. Tenuissima, sendo bem distrubuídas em todo o mundo. (Vidotto, 2002).

Uma característica comum, observada em algumas espécies de Alternaria, está na baixa capacidade ou mesmo ausência de esporulação em meio de cultura. Um grande número de trabalhos indica diferentes métodos para induzir esporulação com variações quanto à luz utilizada, meios de cultura, ferimentos do micélio, temperaturas e idades das colônias.(TÖFOLI E DOMINGUES, 2010).
Os fungos causadores de manchas, por serem parasitas facultativos, são capazes de sobreviver nos restos de cultura, na matéria orgânica do solo, em sementes, em hospedeiros alternativos ou mesmo nos tecidos da planta no caso de hospedeiro perene; as estruturas de sobrevivência envolvem principalmente micélio e conídios.
A disseminação dos propágulos é mais comumente realizada pelo vento, respingos de água e sementes contaminadas. O vento e as sementes são responsáveis pela dispersão a longas distâncias enquanto a água promove a distribuição do patógeno nas proximidades da fonte de inóculo.
Os conídios ou ascósporos, entando em contato com a superfície foliar de um hospedeiro suscetível, iniciam a etapa de infecção. A germinação das estruturas reprodutivas exige condições de alta umidade, geralmente na forma de um filme de água sobre a lâmina foliar, o qual é normalmente decorrente da deposição de orvalho. Os conídios germinam, formando um promicélio ou um tubo germinativo que se fixa na superfície vegetal através de um apressório. A hifa originária do apressório penetra de forma direta a superfície íntegra da folha, com o auxílio de enzimas e pressão mecânica; os ferimentos e estômatos também se constituem em portas de entrada para os patógenos.
A colonização desenvolve-se com a produção de toxinas e enzimas que matam o tecido vegetal e promovendo a sua decomposição, liberando os nutrientes requeridos para o crescimento do patógeno. Várias toxinas de origem fúngica tem sido identificadas, como a toxina produzida por Alternaria.(FILHO, et al., 1995).
Relatos sobre Alternaria dianthicola são encontrados na Áustria, Chile, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Jamaica, Malawi, Malásia, Holanda, Nova Zelândia, EUA, (Ellis M. B., 1971). No Brasil não e comum relatos sobre essa espécie de Alternaria.
Sobre as espécies Dianthus incluindo cravo; causa comum de botão de flor pálida rot. Induces esbranquiçada a amarelo acastanhado, escuro com bordas, manchas geralmente oval 5-10mm de comprimento, áreas, por vezes confluentes e formando vários centímetros de comprimento , nos caules, folhas, e brotos e produzindo imediatamente sobre a exposição das pétalas densas manchas verde-oliva de conídios que tornam botões florais invendáveis.Botões florais atacados em um estágio inicial girar o marron e murchar, sem abertura, o interior sendo completamente destruídos pelo patógeno. (ELLIS, 1971).
 De maneira geral, as alternarioses são doenças típicas de primavera e verão, todavia podem causar danos importantes em outonos e invernos atípicos. Os sintomas aparecem primeiramente nas folhas mais velhas e evoluem posteriormente para as partes mais novas da planta. A doença costuma apresentar alto poder destrutivo em condições de altas temperaturas e umidade. A ocorrência de epidemias severas da doença está sempre associada à temperaturas diárias de 25 a 32º C. A literatura cita que as temperaturas mínimas, ótimas, e máximas necessárias para a germinação dos conídios são as de 5 - 7, 25 - 27 e 30 - 32º C, respectivamente. A umidade, fator importante na germinação de conídios, pode ser conferida pela chuva, água de irrigação ou orvalho. A presença de água livre na superfície foliar é fundamental para a germinação, infecção e esporulação do fungo. De maneira geral, os maiores índices de mancha de alternaria ocorrem em condições de 40% de umidade relativa durante o dia e 95% durante a noite. A esporulação abundante do fungo ocorre na faixa de 14 a 26ºC, com umidade relativa de 100% durante 24 horas  (INSTITUTO BIOLÓGICO, 2011).
A adoção conjunta de diferentes práticas é fundamental para o efetivo controle das alternarioses em hortaliças. O estabelecimento de um programa de manejo para a doença deve incluir medidas como: plantio de sementes sadias, plantio de cultivares e híbridos tolerantes, rotação de cultura, redução do estresse das plantas pela correta adubação e irrigação, bem como a aplicação de fungicidas. (INSTITUTO BIOLÓGICO, 2011)
Este trabalho tem como objetivo descrever os aspectos físicos  e morfológicos do fungo Alternaria dianthicola.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no laboratório de micologia da EMBRAPA CENARGEM, localizada na Asa Norte, Brasilia-DF,2010.Os propágulos de folha de fumo assim que chegaram foram plaqueados e deixados em condição de câmara úmida, e após este processo foram analisadas em microscópio estereoscópico onde  encontrou-se estruturas fúngicas.
Essas estruturas forma pescadas com auxílio de um estilete ou uma pinça ponta fina e transferidos para uma gota de fixador a base de lacto fenol (composto por ácido lático, ácido acético, glicerina e água) em uma lâmina na qual logo após foi depositada uma lamínula, levada ao microscópio óptico onde foram encontradas estruturas, as quais comparadas com a literatura constatou-se que eram do fungo da gênero Alternaria espécie dianthicola,após isso a lâmina foi vedada com esmalte e etiquetada.
Os fungos foram classificados, conforme as suas características morfológicas e morfométricas ,medindo o tamanho dos conidióforos, células conidiogênicas, conídios e rostros, utilizando a micrométrica (WF10 X 118)  confeccionando fotos micrométricas das estruturas citadas .
No microscópio óptico a primeira objetiva a ser usada deve ser a menor (4x) para que se possam focalizar os propágulos depositados na lâmina, após a observação destes aumentou-se a objetiva para 10x e logo em seguida para a objetiva de 40x onde se observou com mais detalhes as estruturas fúngicas.


RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Figura 1. Estruturas microscópicas do fungo Alternaria dianthicola. A. Ramificação e septação da hifa(bar = 20 µm), B. Conidióforo e células conidiogênicas(bar = 10 µm), C. Conidio imaturo e apêndices ligados ao rostro (bar = 13 µm),D. Conidióforo, célula conidiogênica e conídio dictioseptado ( bar = 14 µm), E. Conídio maduro dictiseptado com germinação lateral( bar = 22 µm).

DESCRIÇÃO MICOLÓGICA

Algumas características da Alternaria dianthicola, por serem fungos mitospóricos apresentam hifa como estruturas reprodutivas neste caso hifa septada (Figura 1A)  conidióforos decorrentes individuais ou em grupos, eretos ou ascendentes 75 µm x 09 µm ,dando origem a células conidiogênicas (Figura 1B) , conídio imaturo apresentando apêndice, ligado ao rostro (Figura 1C) conídioforo dando origem a um conidio dictiseptado e a uma célula conidiogênica ( Figura 1D) conidio ja na fase madura dictioseptado 35 µm x 08 µm(Figura 1E).
Colônias efusas, geralmente cinza escuro, castanho-escuro ou preto. Micélio todos imersos ou parcialmente suerficial; hifas incolores, verde-escuro ou marrom ( Figura 1 A). Estroma raramente formado. Cerdas e hifopodio ausente. Conidióforos (Figura 1B,D) macronematoso, mononematoso, simples ou de forma irregular e pouco ramificada, septos  incolor  ou marrom, solitários ou em células conidiogênicas  terminais, integrado  tornando-se, poliblastica, simpodial, ou às vezes monoblastica, cicatrizada.(ELLIS, 1971).
Dimensões do fungo Alternaria dianthicola
Tabela 1. Comparação dos elementos morfológicos e morfométricos de Alternaria com os elementos morfológicos descritos por outros autores:

Descrição morfológica
Diâmetro (µm)
Ellis, (1971)
Conidióforo
75 µm x 09 µm
até 150 µm x 4-6 µm
Conidio
35 µm x 08 µm
93 µm x  13 µm
Rostro
23 µm x 05 µm
___________________


LITERATURA CITADA

BERGEROW, D.; HEREDIA, G.; LUTZ, M.; REYES-ESTEBANEZ, M.; OBERWINKLER, F. 1999. [Conidial fungi from cloud forest: some foliicolous and leaf litter species unknown from Mexico]. Rev. Mex. Micol. 15: 79-88. (37486)
CHO, W. D.; SHIN, H.D. 2004. List of plant diseases in Korea. Fourth edition. Korean Society of Plant Pathology, 779 pages.
CORBETT, D. C. M. 1964. A supplementary list of plant diseases in Nyasaland. Mycol. Pap. 95: 1-16. (6776
CUNNINGTON, J. 2003. Pathogenic fungi on introduced plants in Victoria. A host list and literature guide for their identification. Department of Primary Industries, Research Victoria : 57. (38245),
EL-BUNI, A. M.; RATTAN, S. S. 1981. Check List of Libyan Fungi. Al Faateh Univ., Fac. Sci., Dept. Bot., Tripoli., 169 pages. (7991).
EGOROVA, L. N.; 2007. [Additions to the biota of anamorphic fungi of the Zeysky Nature Reserve (Amur region, Russia)]. Mikol. Fitopatol. 41: 202-207. (41646)
ELLIS, M. B. Dematiaceous Hyphomycetes. Ed. CAB - Commonwealth Mylocogical Institute Kew, Surre, England. 1971.
FARR E ROSMAM, SBML Systematic Botany of Mycological Resources.Disponível em:Acessado em: 26/10/2011.
FILHO et. al. Manual de Fitopatologia. Principios e Concetos .Editora Agronimica Ceres Ltda. São Paulo- Sp. 1995.
GINNS, J .H. 1986. Compendium of plant disease and decay fungi in Canada 1960-1980. Res. Br. Can. Agric. Publ. 1813: 416. (8376).
GORTER, G. J. M. A. 1977. Index of plant pathogens and the diseases they cause in cultivated plants in South Africa. Republic South Africa Dept. Agric. Techn. Serv. Pl. Protect. Res. Inst. Sci. Bull. 392: 1-177. (6959)
JOHNSTON, A. 1960. A supplement to a host list of plant diseases in Malaya. Mycol. Pap. 77: 1-30. (6772)
INDEX FUNGORUM disponível em: < acesso em : 07/10/2010.
INSTITUTO BIOLÓGICO disponível em: em:01/11/2011. 
MAITI, C. K.; SEN, S.; PAUL, A. K.; ACHARYA, K. 2007. First report of Alternaria dianthicola causing leaf blight on Withania somnifera in India. Pl. Dis. 91: 467. (41394)
MILLER, J. W. 1993. Plant Pathology Section. Tri-ology Techn. Rep. Div. Pl. Indust., Florida 32(2): 7-8. (8435)
MUJICA, F.; OEHRENS, B. E. 1967. Segunda addenda a flora fungosa Chilena. Boletin Tecnico 27: 1-78. (6791).
PENNYCOOK, S. R. 1989. Plant diseases recorded in New Zealand. 3 Vol. Pl. Dis. Div., D.S.I.R., Auckland, -- pages. (6224)
RAABE, R. D.; CONNERS, L. L.; MARTINEZ, A. P. 1981. Checklist of plant diseases in Hawaii. College of Tropical Agriculture and Human Resources, University of Hawaii. Information Text Series No. 22. Hawaii Inst. Trop. Agric. Human Resources, 313 pages. (1710)
SIMMONS, E. G. 2007. Alternaria. An identification manual. CBS Biodivers. Ser. 6: 1-775. (42095)

SIMONYAN, S. A. 1981. [Mycoflora of Botanical Gardens and Arboreta in Armenia.]. Hayka, 232 pages. (12349)
VIDOTTO, V.Manual de  Micologia médica.São Paulo: Novo conceito. 2002.WHITESIDE, J. O. 1966. A revised list of plant diseases in Rhodesia. Kirkia 5: 87-196. (8318)
WORLDLINGO ALTERNARIA. Disponivel em: Acesso: 04/11/2011.
ZHANG, T. Y. 2003. Flora Fungorum Sinicorum. Vol. 16. Alternaria. Science Press, Beijing, 284 pages. (38664)

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