quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Aspectos gerais e morfológicos de Aphanomyces euteiches Drechsler

Aspectos gerais e morfológicos do fungo Aphanomyces euteiches Drechsler

Caio Abdalla Kehdy
Acadêmico do Curso de Agronomia

INTRODUÇÃO
           
            Alguns fungos oomicetos podem ser considerados os patógenos mais destrutivos da natureza e de plantas domesticadas. Um acontecimento de grande importância associado à um fungo oomiceto foi a fome da batata, em 1845, na Irlanda, onde a presença do agente etiológico, causador da requeima da batata, desencadeou uma epidemia da doença, levando à grandes perdas nas lavouras e a morte de mais de dois milhões de irlandeses (AGRIOS, 1988).
            Os oomicetos se assemelham a fungos verdadeiros (pertencentes ao Reino Fungi) em morfologia (crescimento micelial) e no estilo de sobrevivência de muitas espécies patogênicas. No entanto, há muito tempo se sabe que eles diferem dos fungos verdadeiros em muitos aspectos fisiológicos, por exemplo, sua parede celular é composta principalmente de celulose em vez de quitina (BALDAUF et al., 2000).
            O gênero Aphanomyces pertence a uma ordem de oomicetos (Saprolegniales) que
é filogeneticamente separados de outras ordens, como a Peronosporales e Pythiales, onde outros patógenos de plantas importantes são encontrados (PETERSEN e ROSENDAHL, 2000).
            Aphanomyces euteiches Drechsler é um teleomorfo pertence à classe Oomycota, ordem Saprolegniales, gênero Aphanomyces, espécie A. euteiches (INDEX FUNGORUM, 2011).
            De acordo com o Index Fungorum (2011), não há descrição e/ou identificação da fase anamórfica e nenhuma sinonímia para fungo em questão (INDEX FUNGORUM, 2011).
            A espécie A. euteiches  foi relatada infectando hospedeiros como Avena byzantina,
Avena sativa, Festuca elatior, Festuca rubra, Setaria viridis, Stipa viridula, Phaseolus vulgaris, Capsicum frutescens, Linum usitatissimum, Lycopersicon esculentum, Monochoria korsakowii, Spinacia oleracea, Viola sp, Equisetum palustre, Lathyrus palustris, Rorippa amphibia e Beta vulgaris, em países como Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, Taiwan, Coréia, Japão, África do Sul, Colômbia, Rússia, Reino Unido e Brasil (FARR E ROSMAN, 2011).
            A. euteiches é o patógeno responsável por causar em plantas, uma doença chamada podridão radicular. Espécies deste patógeno podem infectar uma grande variedade de legumes (MALVICK e PERCICH, 1998).
            Os sintomas geralmente são semelhantes entre os vegetais infectados, no entanto o ciclo da doença pode diferir entre plantas anuais e perenes. A podridão de Aphanomyces raramente resulta em podridão de sementes e/ou tombamento pré-emergente (PERSSON e OLSSON, 2000).
            A podridão radicular causada por A. euteiches é um exemplo de uma doença monocíclica, causando danos apenas em um ciclo de infecção por temporada, ao contrário de doenças policíclicas, que podem infectar novos hospedeiros e produzir ciclos múltiplos de doença dentro de uma única temporada. A. euteiches geralmente não é um saprófita na natureza e podem ser cultivados em meio de cultura em laboratório (WAKELIN et al., 2006).
            O patógeno pode potencialmente infectar hospedeiros a qualquer momento na estação de crescimento, mas a infecção normalmente começa durante a emergência das plântulas. A principal fonte de inóculo são os oósporos, que podem ser encontrados tanto no solo ou em restos de plantas hospedeiras infectadas (WAKELIN et al., 2006).
            Os sintomas na planta aparecem dentro de 10 dias após a infecção do patógeno, e oósporos podem ser formados entre 7 e 14 dias. Os oósporos se tornam dormentes depois de ser formado, e pode sobreviver por mais de 10 anos (LEVENFORS et al., 2003).
            De acordo com a Embrapa Banco de Dados Brasileiro de Micologia (2011), já houve relatos de A. euteiches no Brasil em lentilha. E segundo a Secretaria de Defesa Agropecuária, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2011), atualmente, o Brasil encontra-se livre da doença causada pelo patógeno durante o ciclo da cultura da lentilha, podendo ser exportador de sementes e grãos.
            A. euteiches desenvolve-se em condições de clima quente e solo úmido, mas podem sobreviver a uma gama de temperaturas moderadas. A infecção é mais comum quando as plantas hospedeiras estão em fase de mudas, e quando as temperaturas ficam entre 22-28ºC. A infecção torna-se mais fácil na presença de água, que favorece a movimentação do oósporos (LEVENFORS et al., 2003).
            O objetivo deste trabalho foi apresentar aspectos gerais e morfológicos do fungo Aphanomyces euteiches.    


MATERIAIS E MÉTODOS

            O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano Campus Urutaí, onde foi analisado em microscópio óptico,  uma lâmina semi- permanente, pertencente à coleção micológica do Laboratório de Microbiologia. Nesta lâmina semi-permanente estavam presentes as estruturas do fungo, colocadas em corante azul de algodão, sob lamínula e vedadas com esmalte.
            As lâminas foram visualizadas em microscópio óptico 10x e 40x para identificação das estruturas do fungo presentes na lâmina. Foram feitas as medições das estruturas do patógeno em microscópio óptico e tiradas fotos com câmera digital Canon® modelo Power Shot A580, dos frutos de pêssego com os sintomas e sinais do patógeno em microscópio estereoscópio e das estruturas do fungo presentes nas lâminas visualizadas no microscópio óptico em ocular 40x. A prancha de fotos foi confeccionada utilizando o programa Microsoft Office Power Point e programa de edição de imagens PhotoScape.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Figura 1: Aspectos gerais e morfológicos do fungo Aphanomyces euteiches. A. Oósporo hialino, com paredes espessas de A. euteiches (bar= 7,5 μm). B. Hifas de A. euteiches, que penetram diretamente nas células da planta hospedeira. (bar= 10 μm). C. Oósporos e hifas de A. euteiches (bar= 18 μm). D. Oósporo hialino, visualizado sem corante (bar= 6 μm).

DESCRIÇÃO MICOLÓGICA

            A. euteiches é um oomiceto hialino (Fig. 1CD), apresentando oósporos de 20-35 μm de diâmetro, com paredes espessas (Fig.1A) (Tab.1) (NECHWATAL, WIELGOSS e MENDGEN, 2007).
            A germinação do oósporo pode ser de forma direta ou indireta. De qualquer maneira, infecção começa na célula da extremidade da raiz da planta hospedeira. Na germinação direta, o oosporo produz hifas que penetram diretamente nas células da planta hospedeira (Fig. 1B). Na germinação indireta, o oosporo produz esporângios que liberam zoósporos. Os zoósporos então encistam sobre as células da planta hospedeira, e germinar. Após a germinação direta ou indireta, as hifas A. euteiches colonizam o tecido hospedeiro através de crescimento inter e intra-celular. Para a reprodução sexual, as hifas desenvolvem gametângios masculino e feminino chamado, respectivamente, anterídio e oogônio (BERGAMIN FILHO et al., 1995).
           
Tabela 1. Comparação dos elementos morfológicos e morfométricos de Monilia fructicola do isolado em estudo com os descritos por Assis et al.. (2011).

Descrição morfológica e morfométrica
Isolado em estudo
Assis et al. (2011)
Coloração
Hialino
Hialino
Paredes
Espessas
nd
Diâmetro dos oósporos
20-35  μm
28 (22-32) μm



LITERATURA CITADA

AGRIOS, G. N. Plant Pathology. Academic Press, London. 1988.

ASSIS, L.A.G., COELHO NETTO, R.A., DEZORDI, C., HANADA, R.E. Ocorrência de podridão radicular em Phaseolus vulgaris no estado do Amazonas. In: XLIV Congresso Brasileiro de Fitopatologia, 2011. Bento Gonçalves - RS. Summa Phytopatologica, 2011. v. 37.

BALDAUF, S. L., ROGER, A. J., WENK-SIEFERT, I. AND DOOLITTLE, W. F. A kingdom-level phylogeny of eukaryotes based on combined protein data. Science 290(5493): pág. 972-977. 2000.

BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. Manual de Fitopatologia. 3 ed. vol. 1. São Paulo. Agronômica Ceres, 1995.

EMBRAPA BANCO DE DADOS BRASILEIRO DE MICOLOGIA. Disponível em:   Acessado em: 02/11/2011.

FARR e ROSMAN, SBML Systematic Botany of Mycological Resources. Disponível em: . Acessado em: 04/11/2011.

INDEX FUNGORUM. Disponível em: . Acessado em: 03/12/2011.

LEVENFORS, J. P., WIKSTRÖM M., PERSSON, L., GERHARDSON, B. Pathogenicity of Aphanomyces spp. from different leguminous crops in Sweden. European Journal of Plant Pathology 109(6): pág. 535-543. 2003.

MALVICK, D. K., GRAU, C. R. Aphanomyces euteiches races associated with alfalfa in the Midwestern U.S. Phytopathology 91(6 Supplement): 57p. 2001.

MALVICK, D. K., PERCICH, J. A. Genotypic and pathogenic diversity among peainfecting strains of Aphanomyces euteiches from the central and western United States. Phytopathology 88(9): pág. 915-921. 1998.

NECHWATAL, J., WIELGOSS, A., MENDGEN, K. Diversity, host, and habitat specificity of oomycete communities in declining reed stands (Phragmites australis) of a large freshwater lake. Mycological research, in press. 2007.

PERSSON, L., OLSSON, S. Abiotic characteristics of soils suppressive to Aphanomyces root rot. Soil Biology & Biochemistry 32(8-9): pág. 1141-1150. 2000.

PETERSEN, A. B., ROSENDAHL, S. Phylogeny of the Peronosporomycetes (Oomycota) based on partial sequences of the large ribosomal subunit (LSU rDNA). Mycological Research 104: pág. 1295-1303. 2000.

SECRETARIA DE DEFESA AGROPECUÁRIA, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Disponível em: . Acessado em: 05/11/2011.

WAKELIN, S. A., WALTER, M., JASPERS, M., STEWART, A. Biological control of Aphanomyces euteiches root-rot of pea with spore-forming bacteria. Australasian Plant Pathology 31(4): 401-407. 2002.

  


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