segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Aspectos gerais e morfológicos de Bipolaris cynodontis

Aspectos gerais e morfológicos de Bipolaris cynodontis


Danilo dos Santos Oliveira
Acadêmico do curso de Agronomia

INTRODUÇÃO       

O fungo Bipolaris cynodontis descrito por R. R. Nelson (1964), apresenta a taxonomia da forma teleomorfa o Reino Fungi , divisão Ascomycota, subfilo Pezizomycotina, subdivisão Dothideomycetes, classe dos Ascomicetos, subclasse Pleosporomycetidae, ordem Pleosporales, família Pleosporaceae, e gênero Bipolaris. O gênero Bipolaris sp. apresenta 115 espécies válidas em literaturas, não apresenta formae especiales nem variedades segundo Index Fungorum (2011). A anamorfa ou seja Bipolaris cynodontis pertence ao Reino Fungi, Grupo dos Fungos Mitosporicos, subgrupo Hifomicetos. (KIRK et al., 2001)
Segundo Index Fungorum (2011), Bipolaris cynodontis apresenta as seguintes sinonímias: Helminthosporium cynodontis, Drechslera cynodontis. A forma teleomorfa do gênero B. cynodontis é o Cochliobolus cynodontis.
 Segundo Farr & Rossman (2011) o fungo Bipolaris cynodontis é hospedeiro das seguintes hospedeiras:  Arthraxon hispidus (Roane e Roane, 1996), Axonopus affinis (Sivanesan, 1987), Brachiaria brizantha (braquiaria) (Macedo e Barreto, 2007), Brachiaria platyphylla (Pratt, 2006), Cynodon dactylon (Mendes et al., 1998), Dactyloctenium aegyptium (Sivanesan, 1987), Eleusine indica (Roane, 2009), Elymus riparius (Roane, 2004), Eragrostis pectinacea (Roane, 2009), Hordeum sp. (Sivanesan, 1987), Hordeum vulgare (aveia) (Sivanesan, 1987), Leptochloa fascicularis (Roane e Roane, 1997), Microstegium vimineum (Roane, 2004), Miscanthus sinensis (Roane, 2004), Miscanthus sinensis var. purpurescens (Roane, 2009), Muhlenbergia mexicana (Roane, 2004), Muhlenbergia schreberi (Roane e Roane, 1997), Muhlenbergia sylvatica (Roane, 2009), Muhlenbergia tenuiflora (Roane, 2009), Oryza sativa (arroz) (Sivanesan, 1987), Panicum maximum (braquiarão) (Lenne, 1990), Pennisetum clandestinum (Lenne, 1990), Pennisetum purpureum (milheto) (Sivanesan, 1987), Senecio mesogrammoides (Caretta et al., 1999), Setaria geniculata (Lenne, 1990), Setaria glauca (Pratt, 2006), Setaria pumila (Caretta et al., 1999), Sorghum halepense (sorgo) (Pratt, 2006), Triticum sp. (trigo) (Sivanesan, 1987) e Zea mays (milho) (Sivanesan, 1987). Os registros de ocorrência procederam na Austrália, Brasil, Guinea, Quênia, Malásia, Nicarágua, Paquistão, Zâmbia, Zimbabwe, Índia, Turquia, Nova Zelândia, Yugoslávia, Trinidad e Tobago, Brunei Darussalam e Estados Unidos da América.
A ocorrência de fungos em sementes e plantas medicinais, condimentares e aromáticas no Brasil é grande, porém, podem-se destacar Alternaria, Aspergillus, Bipolares, Cladosporium, Curvularia, Epicoccum, Fusarium, Mucor, Penicillium, Pestalotiopsis, Phoma, Rhizopus e Tricoderma,como os de maior freqüência. As espécies dos gêneros Aspergillus, Epicoccum, Mucor, Penicillium, Rhizopus e Tricoderma são considerados contaminantes em sementes. Os gêneros Alternaria, Bipolaris, Fusarium e Phoma possuem espécies que podem causar importantes doenças em plantas conforme o hospedeiro envolvido (KRUPPA & RUSSOMANO, 2009).
A Produção de mirtilo (Vaccinium corymbosum) na Argentina tem crescido notavelmente nos últimos oito anos, devido à alta demanda mundial no mercado de entressafra fresco. Uma vez que é uma nova safra no país, as doenças estão apenas começando a tornar-se problemáticas para os agricultores. Levantamentos têm sido realizados desde 2000 para detectar associações de novos patógenos e avaliar sua distribuição, incidência e severidade em diferentes variedades de mirtilo e localidades.
Plantas de mirtilo cv. com queima do broto e ramo, foram observados no inverno de 2006 em La Plata, província de Buenos Aires, após a analise observou-se a presença do fungo B. cynodontis sendo este o primeiro relato do mesmo sobre mirtilo na Argentina (SISTERNA et al., 2008).
Na região do Submédio São Francisco BA foi encontrada a espécie Biporalis cynodontis infectando Heliconia spp. As características observadas permitiram identificar o gênero como agente etiológico de manchas necróticas em helicônias. . Este é o primeiro relato da mancha de Bipolaris em Heliconia spp. Ainda não havia sido relatado na região do Submédio São Francisco causando doença em espécies de helicônia. Outros relatos de Bipolaris cynodontis, associado a helicônias foi descrito em Pernambuco e no Distrito Federal (SANTANA et al. 2009).
Uma amostra aleatória de lotes de sementes de seis regiões produtoras de arroz no Estado do Rio Grande do Sul (RS), Brasil, ano de colheita 2004, foi examinada em teste blotter de sanidade de sementes. Fungos semelhantes a espécies de Bipolaris e Drechslera foram isolados para identificação das espécies. A observação de estruturas da fase permitindo a identificação de três espécies (anamorfo/teleomorfo): Bipolaris cynodontis (Cochliobolus cynodontis); B. curvispora (C. melinidis) e B. oryzae (C. miyabeanus). Todas as espécies estavam distribuídas nas seis regiões produtoras no Rio Grande do Sul. Este é o primeiro relato de B. cynodontis associada a sementes de arroz no Brasil (FARIAS et al., 2011).
Isolados fúngicos com características de fungos causadores de helmintosporiose foram encontrados associados à sementes de aveia preta produzidas no Estado do Rio Grande do Sul. Observações de características morfológicas permitiram a identificação das seguintes espécies: Bipolaris sacchari, B. cynodontis, B. sorokiniana, Drechslera avenaceae, D. dematioidea e D. gramineae. Sementes inoculadas artificialmente apresentaram redução drástica de germinação no teste padrão em rolo de papel. Todas as espécies demonstraram ser patogênicas à plântulas de aveia-preta, quando inoculados com suspensão de conídios, causando sintomas típicos de helmintosporiose e resultando em 20 a 50% de plântulas mortas (FARIAS et al., 2005).

De acordo com Vidotto (2004), não são encontrados doenças em humanos causadas pelo fungo B. cynodontis.
O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos gerais e morfológicos do fungo Bipolaris cynodontis.


MATERIAIS E METODOS

O trabalho foi realizado no Laboratório de Micologia da Embrapa Cenargem, localizada na Asa Norte, Brasilia-DF em 2006. Os propágulos de semente de sorgo assim que chegaram foram plaqueados e deixados em condição de câmara úmida, e após este processo foram analisadas em microscópio estereoscópico para localizar suas estruturas fúngicas.
Essas estruturas foram pescadas com auxílio de um estilete ou uma pinça ponta fina e transferidos para uma gota de fixador a base de lacto fenol (composto por ácido lático, ácido acético, glicerina e água) em uma lâmina na qual foi depositada uma lamínula. Logo depois foi levada ao microscópio óptico onde foram localizadas as estruturas, as quais foram comparadas com literatura constatando o gênero Bipolaris cynodontis, logo após a lâmina foi vedada com esmalte e etiquetada.
            No microscópio óptico a primeira objetiva a ser usada deve ser a menor (4x) para que se possam focalizar os propágulos depositados na lâmina, após a observação destes aumentou-se a objetiva para 10x e logo em seguida para a objetiva de 40x onde se observou com mais detalhes as estruturas fúngicas. Foram medidos os conidióforos, células conidiogênicas e conídios, utilizando a lente micrométrica (WF10 X 118).
            Para esse trabalho foram realizadas microfotografias das estruturas fúngicas no microscópio ótico utilizando câmera digital Canon modelo Power Shot A580. Para confecção da prancha de fotos que foram editadas com o Windows Live Galeria de Fotos e a prancha confeccionada no Microsoft Office PowerPoint 2007.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Figura 1. Aspectos morfológicos do fungo Bipolaris cynodontis. A. Conídios presos à célula conidiogênica, (Bar=10µm) B. Conidióforo simples, pálido, sinuosos e castanho médio, (Bar=6µm) C. Ascósporos muitas vezes rodeado por uma fina bainha micilaginosa,  (Bar=9 µm) D. Hilo bipolar germinação não protuberantes, (Bar=5,2µm) E. Conídio fusiforme – elipsoidal arredondado em ampla as extremidades de coloração escura (Bar=7,3µm).

Descrição micológica:

Ascomata preta, globosa a elipsóide, diametro 280-460 µm, com um bico para subconical astiolar parabolóide. Pseudoparaphyses filiformes, hialinos, septados, ramificados. Ascos cilíndricos a clavados (fig1-c), curto bitunicado, 1-8-septos, 140-210 x 16-28 µm. Ascósporos septados, 160-320 x 5-10µm, muitas vezes rodeado por uma fina bainha micilaginosa.
              Conidióforos simples ou em grupos pequenos, sinuosos, pálido ao castanho médio, simples, suave, septado, cilíndrico de até 170µm (fig1-b), longa 5-7µm de espessura. Nos conidióforos e na parede superfície abaixo deles verruculose. Conídios em sua maioria ligeiramente curvada, às vezes quase cilíndrico, mais amplo geralmente no meio afinando em direção as extremidades arredondadas, pálidas e meados marrom dourado, lisas, de paredes finas (fig1-e), 3-9 (normalmente 7-8) distoseptate, 30-75 x 10 - 16µm. Germinação de conídios é bipolar, mas as células incham final, por vezes, para formar um mais ou menos globoso, vesícula de parede fina a partir do qual dá origem os tubos germinativos. (SIVANESAN, 1987).

Figura 2. Comparação de elementos morfométricos de Bipolaris cynodontis.
Estruturas
Oliveira (2011)
Sivanesan (1987)
Conídio
6-(14,4)-45 µm
10-(23)-75 µm
Conidióforo
31-(37)-68 µm
até 170 µm
Nº de septos
8-14
7-8


LITERATURA CITADA

FARIAS, C. R. J. de; AFONSO, A. P. S.; PIEROBOM, C. R.; DEL PONTE, E.M. Levantamento regional e identificação de Bipolaris  spp. associadas às sementes de arroz no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural [online]. 2011, vol.41, n.3, pp. 369-372. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-84782011000300001&script=sci_abstract> acessado em 5 de novembro de 2011.
FARIAS, C. R. J. de; DEL PONTE, E. M.; LUCCA FILHO, O. A.; PIEROBOM, C. R. Fungos causadores de helmintosporiose associados às sementes de aveia-preta (avena strigosa, schreb). Disponível em:      <http://www6.ufrgs.br/agronomia/fitossan/epidemiologia/wp-content/uploads/2009/09/2004-Farias_fungos_Agrociencia.pdf> acessado em 5 de novembro de 2011.
FARR, D.F., & ROSSMAN, A.Y. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, ARS, USDA. Disponível em:< http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/> acessado em 5 de novembro de 2011.
INDEX FUNGORUM.Banco de dados para pesquisa de táxons fúngicos. Disponível em: < http://www.indexfungorum.org/names/NamesRecord.asp?RecordID=513895> acessado em 05 de novembro de 2011.
KIRK, P.M , CANNON, P.F , DAVID, J.C e STALPERS, J.A. Dictionary of the Fungi, 9º Edition, CABI Publishing, 2001.
KRUPPA, P. C.; RUSSOMANO, O. M. R. Fungos em plantas medicinais, aromáticas e condimentares – solo e semente. 2009. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/Fungos/index.htm> acesso em: 5/11/2011
SANTANA, C. V. S.; SANTOS, A. S.; ALMEIDA, A. C.; NASCIMENTO, A. R. P.; FRANÇA, F. S. Mancha de Bipolaris em Helicônias (Heliconia spp.) no Submédio São Francisco. Revista Verde (Mossoró – RN – Brasil) v.4, n.2, p. 05, 2009. Disponível em: < http://www.gvaa.com.br/revista/index.php/RVADS/article/viewFile/182/182> acessado em 5 de novembro de 2011.
SISTERNA, M. N.; PÉREZ, B. A.; DIVO DE SESAR, M. & WRIGHT, E. R. Blueberry blight caused by Bipolaris cynodontis in Argentina. Disponível em: <http://www.ndrs.org.uk/article.php?id=017034> acessado em 05 de novembro de 2011.
SIVANESAN, A. Graminicolous Species of Bipolaris, Curvalaria, Drechslera, Exserohilum and their Teleomorphs. Issued: CAB International Mycological Institute, 1987. 260p.
VIDOTTO, V. Manual de Micologia Médica; Ribeirão Preto – SP, Ed. Tecmedd, 2004. 204 p.

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