Bruna
Rodrigues de Oliveira
Acadêmica
do Curso Ciências Biológicas
INTRODUÇÃO
Entre
as categorias de Escherichia coli
diarreiogênicas encontra-se a E. coli
enteroagregativa (EAEC), cuja característica principal é a capacidade de
apresentar um padrão de adesão exclusivo em determinadas linhagens celulares
cultivadas in vitro, como HEp-2 e
HeLa. Esse padrão denominado de adesão agregativa (AA), foi estabelecido por
pesquisadores em1987, ao examinarem amostras de E. coli isoladas em um estudo epidemiológico sobre a etiologia da
diarreia infantil no Chile (TRABULSI & ALTERTHUM, 2008).
Ela
é reconhecida como um enteropatógeno emergente em razão de seu crescente
envolvimento com a doença diarreica aguda que acomete, especialmente crianças
de países em desenvolvimento, os mecanismos envolvidos na enteropatogenicidade
desses microrganismos ainda não foram esclarecidos e a virulência das EAEC parece
estar associada a uma multiplicidade de fatores e restrita a subgrupos
bacterianos carreadores de propriedades específicas (MANGIA et al, 2009).
A
doença diarreica é responsável por uma grande proporção de mortes em crianças
menores de cinco anos ao redor do mundo (20%) (BHUTTA Z, A apud ANDRADE, J, A,
B. 2011). Estima-se que a cada ano em todo o mundo, um bilhão de crianças
padeçam dessa enfermidade com uma mortalidade em torno de quatro a cinco
milhões de casos. Num país em desenvolvimento, crianças menores de 5 anos podem
apresentar de três a cinco episódios diarreicos por ano.
Considerando
a diversidade da categoria das EAEC e o seu reconhecimento como um
enteropatógeno emergente, o objetivo deste estudo foi investigar
características desses microrganismos, abordando os fatores de virulência,
epidemiologia, tratamento e controle.
DESENVOLVIMENTO
Fatores
de Virulência
Vários
potencias fatores de virulência já foram descritos para esta categoria, mas a
patogênese da diarreia causada por EAEC ainda permanece desconhecida. Os
mecanismos de patogenicidade de EAEC estão sendo investigadas e várias toxinas
e adesinas têm sido descritas, entre as toxinas descritas, aquelas bem mais
caracterizadas compreendem a toxina termoestável de EAEC (EAST-1) e a plasmid- encoded toxin (Pet). EAST-1
está relacionada com a toxina termoestável (ST) de E. coli enterotoxigênica, que provoca o aumento dos níveis de GMP
cíclico em enterócitos e altera a corrente sanguínea iônica de células
intestinais de coelhos in vitro.
Diversas
proteínas extracelulares foram descritas e caracterizadas em amostras de EAEC,
são elas:
Protein involved in intestinal
colonization (Pic), é uma serina protease de 116 KDa,
ela apresenta atividade de micinase, resistência a soro e de hemaglutinação;
ShET1
(Shigella enterotoxin 1),de 116 KDa,
causa acúmulo de fluido em modelo in
vitro de alça intestinal ligada de coelhos e sem atividade em Ussing-chamber;
Dispersina
é uma proteína imunogênica de 10 KDa, que promove a dispersão de EAEC na mucosa
intestinal colaborando com o espalhamento da infecção.
Existem
dois genes que codificam potenciais fatores de virulência , sendo o plasmideal
(shf ) e outro cromomossômico (irp 2), embora há estudos sobre EAEC,
seu papel ainda não foi estabelecido nessa categoria. O padrão AA está
associado à expressões de adesinas fimbriais ou não fimbriais em amostras de
EAEC, algumas adesinas fimbriais foram descritas na categoria EAEC por meio de
estudos de microscopia eletrônica de transmissão e de hemaglutinação,
entretando apenas as estruturas fimbriais denominadas aggregative adherence factores (AAF) I, II e III foram
caracterizadas.
Essas
estruturas fimbriais são codificadas pos plasmídios e necessárias para a
expressão do padrão AA, porém o envolvimento dessas estruturas com na patogênese
de EAEC in vitro ainda não
estabelecido. Adesinas não fimbriais, particularmente proteínas de membrana
externa apresentando entre 30 e 59 KDa, associadas ao padrão AA, têm sido
evidenciadas em diversas amostras de EAEC pertencentes a distintos sorotipos, a
grande heterogeneidade na expressão da adesinas e toxinas descritas nessa
categoria, aliada ao fato de que nem todas as amostras de EAEC causam diarreias
ou infecção experimental em voluntários, vem se difundindo a hipótese de que,
possivelmente, apenas um subgrupo de EAEC é portador de um conjunto de fatores
de virulência que teriam a capacidade d causar diarreia.
Patogênese
Infecções
intestinais causadas por EAEC, são manifestadas por diarreia secretora, mucoide
e aquosa que acometem crianças e adultos, com período de incubação curto, pouca
febre ou nenhum vômito, EAEC tipicamente induz um aumento na secreção de muco
intestinal, e as bactérias ficam emaranhadas em uma espessa camada de biofilme
contendo muco em abundancia, possivelmente a formação desse biofilme esteja
envolvida na capacidade de a bactéria colonizar e causar doenças persistentes e
má absorção de nutrientes.
Estudos
utilizando biopsias pediátricas de cólon revelaram que algumas amostras de EAEC
induzem o encurtamento das vilosidades intestinais, necroses hemorrágica do
topo das vilosidades e uma resposta infamatória branda, com edema e infiltração
mononuclear na submucosa; extrusão de enterócitos também foi evidenciado, os
danos nas microvilosidades e a presença de uma camada de biofilme, composta de
bactérias e muco intestinal, causam má absorção de fluidos e solutos,
desencadeando a diarreia. Dependendo das condições clinicas da criança, a
infecção pode manter-se assintomática, evoluir para uma diarreia aguda ou para
uma diarreia persistente, no caso da presença de imunossupressão ou
desnutrição. A EAEC tem sido associada ao retardo do crescimento (peso/altura) infantil, em
decorrência do processo inflamatória determinado pela colonização por EAEC,
assim sugere-se que essa categoria possa desempenhar um papel ainda maior em
doenças humanas, particularmente em países em desenvolvimento.
Diagnóstico
Para
detectar EAEC, é necessário que amostras de E.
coli isoladas das fezes sejam submetidas a ensaios de adesão em células
HEp-2 ou HeLa, para a pesquisa do padrão AA, como essa frequência EAEC promove
colonização sem causar doença, considera-se EAEC como causa provável de doença
quando o organismo é isolado de um paciente repetida vezes, em um grande numero
de amostras de EAEC, o padrão AA está associado à presença de um plasmídeo de
alto peso molecular, apresentando entre 60 e 65 MDa. O desenvolvimento de
sondas genéticas tem facilitado muito a identificação de cada uma das
categorias de E. coli diarreiogênicas conhecidas.
O
fenótipo de agregação bacteriana, verificado em culturas celulares infectadas
por EAEC, pode também ser evidenciado pela formação de uma película na
superfície da cultura bacteriana obtida em meio liquido, bem como a capacidade
de forma biofilmes sobre superfícies de poliestireno ou vidro. A determinação
do sorotipo não se constitui em uma ferramenta útil para a identificação de
amostras de EAEC, diferentemente do que ocorre para outras categorias de E. coli diarreiogênicas, isso porque
EAEC apresenta uma grande diversidade de sorotipos, além da presença de um
grande numero de amostras imóveis, rugosas ou não-tipáveis quanto aos antígenos
O e H.
Epidemiologia
Há
estudos que associam a EAEC com a diarreia aguda em crianças e adultos,
entretanto em outros estudos não há essa associação, essa discordância pode ser
devida a diferenças na metodologia empregada para detecção de EAEC, como também
fatores do hospedeiro, tais como idade, quadro imunológico e nutricional dos
pacientes avaliados, além de diferenças socioeconômicas, por outro lado em
vários países, inclusive no Brasil, EAEC tem sido fortemente associada à
diarreia persistente, ou seja, com duração igual ou superior a 14 dias, estudos
também revelam que a presença de EAEC nos primeiros dias de um episodio de
diarreia é um fator preditivo de doença prolongada.
Amostras
de EAEC já foram isoladas de animais, tais como cavalos, cães, macacos, bois e
porcos, entretanto o papel desses animais como reservatório de EAEC para o
homem ainda não foi estabelecido.
Tratamento
O
uso de antibióticos é indicado somente para casos de diarreia persistente
causadas por EAEC, uma vez que para as diarreias agudas a terapia de
reidratação oral é recomendada, quando o uso de antibióticos é necessário é
feito teste de avaliação de sensibilidade a ação desses antibióticos, são
indicados uma vez que a residência múltipla tem sido relatada com frequência em
amostras de EAEC isoladas de diferentes tipos de pacientes e região.
Controle
As
medidas de controle consistem em: melhoria da qualidade da água, destino
adequado de lixo e dejetos, controle de vetores, higiene pessoal e alimentar. A
educação em saúde, particularmente em áreas de elevada incidência de diarreia,
é fundamental, orientando as medidas de higiene e de manipulação de água e
alimentos. Locais de uso coletivo, tais como escolas, creches, hospitais,
penitenciárias, que podem apresentar riscos maximizados quando as condições
sanitárias não são adequadas, devem ser alvo de orientações e campanhas
específicas. Considerando a importância das causas alimentares nas diarreias das
crianças pequenas, é fundamental o incentivo a prorrogação do tempo de
aleitamento materno, comprovadamente uma prática que confere elevada proteção a
esse grupo populacional.
CONCLUSÃO
A
diarreia causada pela Escherichia coli
Enteroagregativa (EAEC) deve ser abordada como infecção comum, potencialmente
grave (em crianças pequenas, idosos, imunocomprometidos), que sendo tomadas as
devidas medidas de prevenção é possível é controle da doença.
LITERATURA CITADA:
TRABULSI,
L, R; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 5 ed. São Paulo: Atheneu, 2008.p 295.
MANGIA,
A, H, R. et al. Escherichia coli enteroagregativa
(EAEC): Fitotipagem e resistência a antimicrobianos em um enteropatógeno
emergente.Revista de Patologia Tropical. Vol. 38 (1): 27-34. jan.-mar. 2009.
ANDRADE,
J, A, B. et al. Escherichia coli enteroagregativa
como agente provocador de diarreia persistente: modelo experimental utilizando
microscopia óptica de luz. Rev Paul Pediatr 2011;29(1):60-6.
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