Ariane Guimarães
Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas
INTRODUÇÃO
Em 1983, foram
detectados bacilos negativos que assemelhavam-se a Campylobacter
em pacientes que sofrem de gastrite tipo B (inflamação crônica do antro
gástrico). Estes organismos foram classificados no início como Campylobacter, mas posteriormente
reclassificados como um novo gênero, Helicobacter.
Atualmente são reconhecidas
23 espécies, das quais duas têm sido isoladas exclusivamente do homem (H. fennelliae, H westmeadii) e dez com
potencial para infectar homem e animais (caráter zoonótico). As outras espécies
têm sido isoladas de diversas espécies de mamíferos e aves. Das espécies que
podem ser encontradas em associação com processos infecciosos do homem, quatro
encontram-se associadas com o epitélio gástrico (H. pylori, H. felis, H. bizzozironi e H. heilmannii). As outras oito se encontram em associação com o
epitélio intestinal.
A bactéria Helicobacter coloniza o trato
gastrointestinal superior, especificamente o estômago, provocando lesões na
mucosa gástrica, dando início a gastrite, úlceras e até câncer (COUTO, 2001). Das
espécies do gênero Helicobacter, a H. pylori é a principal espiroqueta
localizada na mucosa gástrica humana, podendo ser encontrada também em animais
(COUTO, 2001).
A Helicobacter pylori é a espécie tipo do gênero e foi isolada, pela
primeira vez, da mucosa gástrica do homem, em 1982, por Marshall e Warren.
Originalmente foi denominado como GCLO (gastric
Campylobacter like organism). C. pyloridis, C. pyloricus e C. pylori,
recebendo, em 1889, o nome definitivo de Helicobacter
pylori.
A infecção se dá pelas vias
gastro-oral e/ou fecal-oral, podendo ser sintomática ou assintomática. Taxas de
infecções atuais variam de nação à nação
sendo o índice mais elevado em países em desenvolvimento (BLASER, 2005).
O presente trabalho tem
como objetivo apresentar informações a respeito da sintomatologia,
epidemiologia e controle de Heliobacter
sp.
DESENVOLVIMENTO
Fisiologia e Estrutura
As espécies de Helicobacter são classificadas por meio da análise da sequência de seus genes 16S rRNA, a composição de sua gordura e presença
celular de flagelos
polares. A H. pylori é muito móvel (motilidade saca-rolhas) e sintetiza muitas moléculas de urease. O crescimento de H. pylori
e Helicobacter
requer um meio complexo complementado por sangue, soro, carvão vegetal, amido ou gema de ovo, condições microaeróbicas
(baixa de oxigênio e dióxido de carbono
aumentada) e um intervalo
de temperatura de 30 ° C a
37 ° C.
Fatores de Virulência
A maioria das pesquisas sobre os fatores de
virulência Helicobacter
tem se concentrado em H. pylori. Múltiplos fatores envolvidos na inflamação
gástrica, rompimento da produção de ácido gástrico e destruição dos tecidos são características da doença de H. pylori. A colonização inicial é facilitada por: 1) inibição da produção de ácido por
inibição da proteína bacteriana ácido, e 2) a neutralização
do ácido gástrico pela amoníaco gerado pela atividade
de urease bacteriana.
A atividade da urease bacteriana é aumentada por uma proteína de choque térmico (HspB) que é
co-expressa com urease
na superfície da
bactéria. Células de Helicobacter possuem mobilidade elevada podendo penetrar no
muco e aderir às células
epiteliais gástricas. Dano tecidual
localizado é mediado por resíduos
de urease, mucinase, fosfolipases
e formando vacúolos que danificam as células epiteliais e, em conjunto com o urease e lipopolissacarídeo bacteriano, estimulam a resposta inflamatória.
e formando vacúolos que danificam as células epiteliais e, em conjunto com o urease e lipopolissacarídeo bacteriano, estimulam a resposta inflamatória.
Motilidade
É
considerada fator de colonização, pois a alta motilidade conferida pelos
flagelos e mencionada no tópico anterior, permite á bactéria atravessar
rapidamente a camada viscosa de muco que recobre o estômago, para atingir a
superfície epitelial e as criptas. Dessa forma, evita, também, o efeito
destrutivo do suco gástrico, bem como resiste ás contraturas musculares do
estômago.
Epidemiologia
Desde 1984,
quando foi isolado pela primeira vez este organismo na cultura, reuniu-se uma grande
quantidade de informações sobre a prevalência do H. pylori (MURRAY, 2007). É uma bactéria de distribuição mundial que tem sido isolada somente do
epitélio gastroduodenal do ser humano. Não sendo reconhecidos reservatórios
animais ou ambientais, embora existam evidências da colonização do epitélio
gástrico de gatos e macacos (TRABULSI, 2008).
A taxa de
portadores é alta nos países em
desenvolvimento, em que 70% a 90% da população é colonizado, mais antes dos 10
anos. Ao contrário disto, em países desenvolvidos como os EUA observou-se que o
incidência de colonização por H. pylori
em indivíduos saudáveis é relativamente baixo na infância, mas aumenta para cerca
de 45% em adultos. Esses estudos também demonstraram que 70% a 100% dos
pacientes com gastrite, úlceras gástricas e duodenais estão infectados por FI. pylori. Acredita-se que a diferença
nas taxas de colonização entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos
é devido às melhores condições de higiene do último. O ser humano é o principal
reservatório do H. pylori, e transmissão
provavelmente segue uma rota fecal-oral. Assim, espera-se que diminua o risco
de colonização com melhoria das condições de higiene (MURRAY,
2007).
Doenças Clínicas
Espécies de Helicobacter são subdivididos em helicobacteria gástrica (como H. pylori) e entérico helicobacteria
(conforme H. cinaedi,
H. fennelliae, H. canis, H. canadensis, H. pullorum). A doença associada com Helicobacter apresenta
relação direta com a localização da
colonização. Por exemplo,
H. pylori está associada com gastrite, enquanto espécies entérico
originam gastroenterite.
Há agora uma grande experiência clínica que
H. pylori
é o agente causador em praticamente todos os casos de gastrite
tipo B. Estes sinais incluem: 1) quase 100%
de associação entre a gastrite e infecção
pelas bactérias, produção 2) de infecção experimental
em animais e seres humanos, e 3) a resolução das alterações
patológicas histológicas ao utilizar um tratamento específico para a erradicação
do organismo (MURRAY,
2007).
Sintomatologia
A grande maioria dos pacientes contaminados pelo H.
pylori não apresenta qualquer tipo de sintoma ou complicação. Há cepas da
bactéria mais agressivas e há cepas mais indolentes, o que explica, em parte, a
ocorrência de sintomas apenas em poucas pessoas contaminadas. O Helicobacter
pylori em si não causa sintomas. Os pacientes contaminados com H. pylori
que apresentam queixas o fazem pela presença de gastrite ou úlceras pépticas
provocadas pela bactéria. Nestes casos, os
sintomas mais comuns são: dor ou desconforto, na parte superior do abdômen; sensação
de inchaço barriga; saciação rápida da fome. No caso de úlceras, os seguintes
sinais e sintomas também são comuns: náuseas ou vômitos, fezes escuras, anemia
(GOODMAN, 2005).
Diagnóstico
O diagnóstico
pode ser realizado por métodos invasivos e não-invasivos.
§ métodos invasivos
È feito a
partir de amostras de biópsias gástricas ou duodenais obtidas por endoscopia.
§
observação microscópica direta
A
coloração pelo Gram destas amostras revela os típicos bacilos Gram-negativos
curvos, os quais também podem ser pesquisados utilizando-se outros corantes
como o alaranjado de acridina, brometo de etídio e coloração com prata, como é
o método de Warthin-Starry (TRABULSI,
2008).
§
urease
Uma
prova rápida, presuntiva, muito difundida na prática clínica, é a pesquisa da
urease no tecido gástrico. Faz-se depositando uma porção da biópsia num tubo
contendo 0,5 ml de uréia de Christensen. A urease presente no tecido hidrolisa
a uréia, e o meio muda de cor, do amarelo ao vermelho. Esta prova pode ser
positiva em mais de 60% dos casos nos primeiros 15 minutos, aumentando a
positividade até 90% depois de três horas de incubação. Kits comerciais também estão disponíveis para realizar esta prova.
§ histologia
O estudo histopatológico da biópsia permite
diagnosticar a inflamação da mucosa bem como as diferentes formas de gastrite e
os processos metaplásicos, mas também, permite observar a presença da bácteria.
§ cultura
A cultura deve ser feita o mais rápido possível após a
obtenção da biópsia, para se evitar a perda da viabilidade, pela dessecação ou
pelo efeito nocivo do oxigênio sobre o H.
pylori.
§ métodos não-invasivos
Estes correspondem a métodos diagnósticos que utilizam
amostras obtidas sem necessidade de recorrer á obtenção de biópsia gástrica.
§ teste do bafo ou da uréia marcada
Visando a realização de um diagnóstico não-invasivo
do H. pylori foi desenvolvida a
técnica do bafo (urea breath test)
através da qual os pacientes ingerem uma quantidade conhecida de uréia marcada
com carbono radioativo (*C13 ou *C14). Trinta minutos
depois da ingestão é medida a relação *C/C no ar exalado pelos pacientes. Nas
pessoas infectadas com H. pylori
detecta-se aumento significativo de *CO2 (TRABULSI, 2008).
SOROLOGIA
Uma vez que
existe estreita correlação entre a presença da bácteria e o desenvolvimento de
anticorpos séricos, vários testes sorológicos têm sido utilizados com fins
diagnósticos. Um dos mais utilizados é a técnica de ELISA empregando diversos
antígenos somáticos na pesquisa dos anticorpos específicos. Também têm sido
utilizados como antígenos a urease e a citotoxina VacA produzidas pelo H. pylori. A PCR ("Polymerase chain
reaction") tem sido proposta e utilizada na demonstração do genoma desta
bactéria em amostras de saliva.
Mas
recentemente, têm sido desenvolvidos vários testes que procuram antígenos de H.
pylori nas fezes, os quais são muito
utilizados em controle de tratamento (TRABULSI, 2008).
Tratamento
Foram
avaliados vários regimes de antibióticos no tratamento de infecções de FI. pylori. A maior taxa de sucesso na cura
de gastrite ou a úlcera péptica tem sido alcançado através da combinação um
inibidor da bomba de protões (por exemplo, omeprazol), com um ou mais (por
exemplo, antibióticos, tetraciclina, claritromicina, amoxicilina, metronidazol).
Atualmente são
utilizados vários esquemas de tratamento; No entanto, o tratamento com a
combinação de tetraciclina, metronidazol, bismuto e omeprazol durante 2 semanas
está associada a uma taxa mais elevada de erradicação de 90% (MURRAY,
2007).
Prevenção
A forma mais eficaz de prevenir a infecção seria o
desenvolvimento de uma vacina.
Postula-se que uma vacina ideal seria terapêutica, bem tolerada, segura,
de fácil administraçãoo e capaz de previnir ou reduziir a infecção a níveis de
50% ou menos nos vacinados. Atualmente, estão sendo pesquisados vários
antígenos, bem como modelos animais para o desenvolvimento de vacinas. Porém,
enquanto uma vacina não estiver disponível, o conhecimento da epidemiologia da
bácteria em diferentes partes do mundo permitirá proposta de estrátegias
eficazes de prevenção de infecção (MURRAY,
2007).
CONCLUSÕES
Conclui-se que a Helicobacter é um gênero de bactérias com distribuição universal e
morfologicamente corresponde a um bacilo Gram-negativo curvo ou espiralado, que
possui entre quatro e oito flagelos envelopados com bulbo terminal, com
crescimento lento e que requer uma atmosfera de microaerófilia estrita a
temperatura ótima de 37Cº para se desenvolver.
Acometem humanos e animais; coloniza o trato gastrointestinal
superior, especificamente o estômago, provocando lesões na mucosa gástrica,
dando origem a gastrite, úlceras e até câncer.
BLASER, M. J.; Scientific América Brazil; Espécie
em extinção no estômago; mar/2005; p. 68-75.
COUTO, C. G.; NELSON, R. W.; Medicina
Interna de pequenos animais – 2ª
Ed.; Guanabara – Koogan; Rio de Janeiro
– RJ; 2001; p. 332 – 335.
JONES,
T. C.; HUNT, R. D.; KING, N. W.; Patologia Veterinária; 6ª Ed.; Monolli; Barueri – SP; 2000; p. 442
– 444.
MURRAY, Patrick R. et al. Microbiología
médica. 5ª ed. Elsevier, 2007.
TRABULSI, L. R. Microbiologia. 5ª ed. São Paulo: Atheneu, 2008.
GOODMAN_2005>Goodman K, O'rourke K, Day R, Wang C, Nurgalieva
Z, Phillips C, Aragaki C, Campos A, de la Rosa J. (2005). "Dynamics of Helicobacter pylori
infection in a US-Mexico cohort during the first two years of life.".
Int J Epidemiol 34 (6): 1348-55.
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