segunda-feira, 8 de novembro de 2010

“ASPECTOS GERAIS E MORFOLÓGICOS DE Asperisporium caricae.”

Geovani Luciano de Oliveira

O fungo causador da varíola-do-mamoeiro Asperisporium caricae descrito por (Speg.) Maubl, teve sua descrição registrada na publicação Lavoura 16: 207 (1913) e apresenta como sinonímias: Cercospora caricae Speg., 1886; Epiclinium cumminsii Massee, 1898; Fusicladium caricae (Speg.), 1902; Pucciniopsis caricae (Speg.) Höhn., 1923; Pucciniopsis caricae Earle, 1902; Scolicotrichum caricae Ellis & Everh, 1892 (Index Fungorum, 2010).

A posição taxonômica do anamorfo de Asperisporium caricae é representada por: Reino Fungi, insertae sedis (grupo incerto) Fungos mitospóricos, subgrupo Hifomicetos. A forma teleomórfica pertence ao Reino Fungi, Divisão Ascomycota, Classe Dothideomycetes, Subclasse Dothideomycetidae, Ordem Capnodiales, Família Mycosphaerellaceae. O gênero é representado por 21 espécies não tendo nenhuma variedade descrita até o momento (Index Fungorum, 2010).

A varíola ou pinta preta causada pelo fungo Asperisporium caricae é uma doença comum em mamoeiro, sendo observada muito frequentemente em pomares comerciais e domésticos. Sua importância é devida à infecção ocorrer nas folhas e frutos, com consequente redução da taxa fotossintética da planta e depreciação da qualidade comercial dos frutos, respectivamente. Apesar das lesões nos frutos serem superficiais, o elevado número destas, causa grande desvalorização comercial do produto (Kimati et al., 2005).

Os sintomas da varíola ocorrem, inicialmente, nas folhas mais velhas. Nos frutos, os primeiros sintomas podem ser observados quando estes estão ainda pequenos e verdes e se caracterizam por áreas circulares encharcadas, de centro esbranquiçado, evoluindo por pústulas marrons e salientes, podendo atingir 5 mm de diâmetro, tomando o aspecto de pústulas semelhantes às das folhas e que lembram as pústulas da varíola humana. Estas lesões não atingem a polpa do fruto, são restritas apenas à casca, onde causam um endurecimento na parte afetada, porém desvalorizam o produto para o comércio. A presença de apenas algumas lesões inviabiliza a exportação. Com alta incidência da doença, pode ocorrer desfolha da planta, perda de vigor e, consequentemente, produção de frutos de qualidade inferior (Kimati et al., 2005).

Os danos foliares causados pela pinta preta podem ser mínimos, mas essa doença pode ser combinada com outras doenças (oídio) e artrópodes (ácaros de folha de mamão), causando uma infecção pesada fazendo com que as folhas inferiores sequem e caem (Ogata et al., 2001).

Recomendam-se a retirada de folhas e frutos doentes do pomar, para reduzir o inóculo do fungo, aliada à aplicação dos fungicidas protetores oxicloreto de cobre, óxido cuproso e clorotalonil ou dos sistêmicos difenoconazole, pyraclostrobin e thiabendazole, quando do aparecimento dos primeiros sintomas da doença, principalmente em pomares destinados à exportação (Kimati et al., 2005).

Foi identificada a doença, além do Brasil, na Austrália, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, El Salvador, Flórida, Guatemala, Haiti, Honduras, Indonésia, Jamaica, Japão, México, Nicarágua, Panamá, Filipinas, Porto Rico, África do Sul, Taiwan, Tailândia, Trindade, Tobago, Venezuela (Farr & Rossman, 2010).

A grande freqüência com que a doença é encontrada no campo sugere que o fungo não tem problemas de sobrevivência, provavelmente porque o mamoeiro apresenta folhas suscetíveis durante todo o ano, e também sugere que os esporos são facilmente disseminados pelo vento a longas distâncias (Rezende et al., 2005).

Sob condições de temperaturas alternando-se entre alta durante o dia e amena durante a noite, com formação de nevoeiro pela manhã, pluviosidade e ventos fortes, acontece a dispersão do fungo para as folhas mais novas e para os frutos ainda verdes, que são colonizados e, cerca de 15 dias após, começam a aparecer as novas lesões. A maior dispersão de esporos fruto a fruto observa-se a partir da erupção dos estromas que vão aparecer plenamente no início da sua maturação (Santos et al., 2007). Para a doença as condições favoráveis ao desenvolvimento de epidemias são de temperatura variando de 25 ºC a 30 ºC e umidade relativa variando de 80 % a 100 %, sendo que o pico da intensidade da doença ocorre entre os meses de novembro a março (Suzuki et al., 2007).

Foi relatada a presença de Asperisporium caricae associado apenas a espécie de planta Carica papaya L. (mamoeiro) no Brasil (Embrapa cenargen, 2010).
Segundo os dados do Systematic Botany of Mycological Resources de levantamento de fungos no mundo, foi relatado que o fungo infecta apenas Carica papaya L., nas Filipinas houve relato de infecção em Carica sp (Farr & rossman, 2010).

As principais espécies do gênero Asperisporium encontradas associadas à plantas no Brasil são: Asperisporium caricae (Speg.) Maubl. , Asperisporium mikaniigena (J.M. Yen & Lim) R.W. Barreto e Asperisporium sequoiae (Ellis & Everh.) B. Sutton & Hodges (Embrapa cenargen, 2010).

Não foi encontrado nenhum registro de doenças em humanos causadas pelo fungo Asperisporium caricae (Vidotto, 2004); registro de uso industrial do fungo também não foram encontrados.

O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos gerais e morfológicos do fungo Asperisporium caricae.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí.

Os propágulos do fungo foram retirados de folhas de mamoeiro (Carica papaya) coletadas no próprio Instituto Federal Goiano, localizado no município de Urutaí-GO. As folhas coletadas já apresentavam colônias fúngicas desenvolvidas, essas folhas foram levadas para visualização em microscópio estereoscópico (lupa) com a finalidade de se encontrar propágulos fúngicos.

Após a visualização dos propágulos estes foram coletados da superfície foliar, o método utilizado foi de pescagem direta que consiste na raspagem das folhas com auxílio de uma agulha e uma pinça. Após coletados, os propágulos foram colocados em uma lâmina contendo uma gota de fixador à base de azul de metileno (ácido lático, ácido acético, glicerina, água destilada, etanol), em seguida uma lamínula foi colocada sobre a lâmina. O excesso de corante foi retirado com um papel toalha, logo após a lâmina foi vedada com esmalte e o conjunto foi levado para visualização no microscópio ótico. No microscópio foi utilizada primeiramente a menor objetiva (4x), para a localização e focalização dos propágulos na lâmina, depois de localizados foi aumentado o tamanho da objetiva para 10x e em seguida para 40x, para observação das estruturas fúngicas com mais detalhes.

O corte histológico também foi realizado, olhando sempre na lupa com o auxilio de uma pinça e uma gilete foram feitos cortes bem pequenos e transversais da parte da folha do mamoeiro que o fungo estava presente, depois os cortes foram colocados em uma lâmina contendo uma gota de fixador azul de metileno e em seguida colocou-se uma lamínula sobre esta, vedou-se com esmalte e levou-se ao microscópio óptico.

Observou-se primeiramente na objetiva menor (4x), depois de focalizado a objetiva foi mudada para a de 10x e em seguida para a de 40x onde se observou uma protuberância em cima da epiderme da folha.

Foram medidos 50 conídios e 50 conidióforos utilizando o microscópio óptico com uma ocular micrométrica. As estruturas observadas no microscópio foram comparadas com estruturas descritas em literatura para a identificação do gênero e da espécie ao qual o fungo pertence. Neste trabalho o fungo identificado pertence ao gênero Asperisporium e a espécie caricae.

Para esse trabalho foram realizadas microfotografias das estruturas fúngicas no microscópio ótico e das frutificações fúngicas na epiderme das folhas do mamoeiro no microscópio estereoscópico, para isso foi utilizado à câmera digital Canon® modelo Power Shot SD750 de 7.1 mega pixel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Figura 1. Aspectos morfológicos de Asperisporium caricae em folhas de mamoeiro (Carica papaya). A. Sintomas em folhas (bar = 1400 µm), B. Massa pulverulenta na face abaxial (bar = 200 µm), C. Lesão necrótica dos bordos foliares (bar = 52 µm), D. Corte histológico da folha demonstrando massa de esporodóquio de coloração escura no tecido (bar = 4,2 µm), E. Célula conidiogênica (cc) e conídio (c) em corte histológico (bar = 2 µm), F. Conídio hialino didimosseptado (bar = 0,4 µm), G. Conídio hialino didimosseptado, alongado e com hilo evidente (h) (bar = 0,4 µm).

DESCRIÇÃO MICOLÓGICA:

O fungo Asperisporium caricae apresenta colônias pequenas, geralmente menores do que 3 a 4 mm de diâmetro, de conformação mais ou menos circular (Figura 1A), de coloração pardo-clara, circundadas por um halo amarelado. Na página inferior da folha, correspondendo á lesão, o fungo desenvolve frutificações pulverulentas (Figura 1B), escuras, dispostas, segundo círculos mais ou menos concêntricos, que dão á mancha um aspecto cinzento a preto (Figura 1C) (Rezende et al., 2005).

O fungo apresenta estroma subepidérmico no hospedeiro, surge através da epiderme, apresentam um estroma não subcuticular com setas ausentes. Os conidióforos são micronematosos, simpodiais, mononematosos, cespitosos, curtos e agrupados e apresentam medida de 45 x 6-9 µm. Os conídios (Figura 1E 1F e 1G) são elipsóides, piriformes ou clavados, escuros, coloridos, verruculosos, curtos, septados, bicelulares e de superfície rugosa, são solitários, raramente produzidos em cadeia, quase sempre possuem um septo, possuem célula hialina a meados de coloração marrom, possuem as dimensões de 14-26 x 7-10 µm e são formados no topo dos conidióforos. A célula conidiogênica (Figura 1E) é cicatrizada, poliblástica, percorrente, integrada, holoblástica e blástica. O esporodóquio (Figura 1D) é hipófilo de coloração marrom escuro ao preto. Esse fungo é sempre parasita de planta. As informações foram baseadas nas publicações de Barnett & Hunter (1998) e Ellis (1971).

LITERATURA CITADA

BARNETT, H.L., & HUNTER B.B. Illustraded genera of imperfect fungi. 4a ed. Minnesota: APS PRESS, 1998.

ELLIS, M. B. DEMATIACEOUS HYPHOMYCETES. Ed. CAB - Commonwealth Mycological Institute Kew, Surrey, England. 1971.

EMBRAPA CENARGEM. Fungos relatados em plantas no Brasil, Laboratório de Quarentena Vegetal. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbanco01.asp. Acesso em: 30/10/2010.

FARR, D.F., & ROSSMAN, A.Y. SBML Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, ARS, USDA. Disponível em: http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/. Acesso em: 18 de 10/2010.

INDEX FUNGORUM. Disponível em: http://www.indexfungorum.org/names/NamesRecord.asp?RecordID=100537. Acesso em: 14/10//2010.

INDEX FUNGORUM Disponível em: http://www.indexfungorum.org/Names/Names.asp. Acesso em: 14/10/2010.

OGATA, Y. D.; HEU, A. R. Black Spot of Papaya Disease. Hawaii, 2001. Disponível em: http://hawaii.gov/hdoa/pi/ppc/npa-1/npa01-01_blkspot.pdf. Acesso em: 06/11/2010.

REZENDE, J. A. M; MARTINS, M. C. Doenças do mamoeiro-carica papaya. in: KIMATI, H; AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M.; BERGAMIN FILHO A.; CAMARGO, L.E.A. Manual de Fitopatologia - Doenças das Plantas cultivadas. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 2005. v 2.

SANTOS, H. P. F. et al. Pinta preta do mamoeiro – Asperisporium caricae. Disponível em: http://www.agrosoft.org.br/agropag/27405.htm. Acesso em: 19/10/2010.

SUZUKI, M. S.; ZAMBOLIM, L.; LIBERATO, J. R. Progresso de doenças fúngicas e correlação com variáveis climáticas em mamoeiro. Summa phytopathol, Botucatu-SP, v. 33, n. 2, abr./jun. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-54052007000200011&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 01/11/2010.

VIDOTTO, V. Manual de micologia médica. Ribeirão Preto-SP: Tecmedd, 2004.

25 comentários:

  1. Na prancha poderia colocar em algumas letras uma cor mais clara para melhorar a visualização.

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  2. Poderia ter formatado a prancha(lados desiguais).

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  3. trabalho ótimoo.. meu best é demais né??

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  4. lados desiguais? aonde? favor especificar melhor.

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  5. Não precisava colocar o tamanho das objetivas nos materiais e metodos.

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  6. Tálita Borges.
    Desprezando os detalhes da prancha (aproveitar melhor os espaços disponíveis). No mais, bom trabalho!

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  7. Cássio: Não demonstrou a composição do fixador.

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  8. Faltou traduzir algumas citações. Bom trabalho.

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  9. Ficou muito bom o trabalho, a prancha ficou de boa visualização.

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  10. não e necessário citar as lentes utilizadas no microscópio

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  11. Poderia ter retirado os espaços em branco da prancha,

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  12. Poderia ter organizado um pouco melhor a prancha

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  13. Alicionon Oliveira: Otimo trabalho! Só organizar mais a prancha.

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  14. Marcelo Mueller: Trabalho muito bom.

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  15. Edvan Müller: Poderia ter organizado melhor a prancha. abraços

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  16. Alisson: teve otimas fotos, mas nao soube ultilizalas adequadamente.

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  17. Além do mamão que outras plantas estão associadas ao gênero fungico em questão?
    As letras referentes as fotos deveriam estar em negrito na legenda...

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