terça-feira, 14 de dezembro de 2010

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DO EUCALIPTO (Eucaliptus sp.)

Luciano Pacheco Máximo

1 INTRODUÇÃO

O eucalipto (Eucalyptus sp.) ocorre naturalmente na Austrália, Indonésia e ilhas próximas. O gênero Eucalyptus pertence à família das Myrtáceas, com cerca de 600 espécies e sub-espécies, e apresenta uma ampla plasticidade e dispersão mundial, crescendo satisfatoriamente em diferentes situações edafoclimáticas, extrapolando àquelas das regiões de origem. Menos de 1 % dessas 600 espécies têm sido usadas com propósitos industriais. Assim, o uso do eucalipto na indústria mundial é baseado em duas espécies, principalmente: E. globulus, E. grandis e seus híbridos com E. urophylla (Cotterill & Brolin, 1997) E. viminalis e E. dunnii, predominam na região sul.

É cultivado para os mais diversos fins, tais como, papel, celulose, lenha, carvão, aglomerado, serraria, óleos para indústrias farmacêuticas, mel, ornamentação e quebra-vento, entre outros.

A importância da cultura do eucalipto para o Brasil pode ser avaliada pela participação do setor florestal na economia do país. Inicialmente, apoiado por incentivos fiscais ao reflorestamento, e também pelos Programas Nacionais de Siderurgia a Carvão Vegetal e de Celulose e Papel, o setor responde atualmente por 4% do PIB (produto interno bruto), setecentos mil empregos diretos e dois milhões de empregos indiretos (Silva, 1997).

A área estimada das plantações com eucaliptos no Brasil é de 2,9 milhões de ha.

O eucalipto é atacado por vários patógenos, principalmente fungos, desde a fase de viveiro até os plantios adultos. Geralmente, os problemas são observados nas plantações, ocorrendo nos mais variados locais, espécies e épocas do ano. A solicitação contínua de informações por parte de produtores e empresas sobre a identificação e o controle de doenças (Fao, 2000).

As doenças da cultura do eucalipto são bastante comuns e podem ser causadas por fungos, bactérias, vírus, nematóides e fitoplasmas. Elas podem ocorrer na cultura desde a fase de viveiro até a fase de campo. No entanto, as doenças de origem fúngica têm causado grandes danos à cultura do eucalipto (Grigolletti Jr. e Santos, 2001)

A ocorrência de doenças causadas por bactérias, nematóides, vírus, fitoplasmas é bastante esporádica, pois a grande totalidade das doenças em espécies florestais é de origem fúngica que incidem desde a fase de viveiro até os plantios adultos (Alfenas et al., 2004). Dentre as principais doenças fúngicas do eucalipto destacam-se o mofo cinzento e o oidio. O mofo cinzento é comumente encontrado em canteiros com alta densidade de mudas (700 mudas/m2), sob condições de alta umidade (acima de 70%) e temperaturas amenas (outono e inverno) (Santos et al., 2001).

B. cinerea infecta várias espécies vegetais além do eucalipto. É um parasita facultativo, que vive saprofiticamente no solo e sobrevive na forma de estruturas de resistência. Sua disseminação ocorre principalmente, pelo transporte dos conídios pelo vento ou pelo uso de substrato contaminado (Santos et al., 2001).

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão bibliográfica a respeito das principais doenças que afetam a cultura do eucalipto levando em consideração uma série de aspectos discutidos a seguir.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 DOENÇAS FÚNGICAS

2.1.1 Tombamento de mudas (Cylindrocladium candelabrum Viégas, Fusarium sp., Phytophthora sp., Pythium sp. e Rhizoctonia solani Kuhn.)

Com o emprego de técnicas de formação de mudas que desfavorecem sua ocorrência, como o caso de semeadura direta em tubetes suspensos, o tombamento passou a ser uma doença de importância limitada em viveiros de eucalipto e outras essências florestais. No caso de sementeiras efetuadas para obtenção de mudas para posterior repicagem ou para obtenção de mudas de raiz nua, a tendência de ataques mais severos e maior comparada a semeadura direta em recipientes. A doença acarreta redução no numero de mudas (Ferreira, 1991).

Sintomas

O tombamento afeta sementes em germinação, destruindo-as (pré-emergência), e plântulas recém-emergidas, atacando tecidos tenros e suculentos (pós-emergência). No caso do eucalipto, sintomas do tombamento de pós-emergência são semelhantes àqueles de outras plantas. O sintoma típico da doença caracteriza-se pela ocorrência de uma lesão na região do colo da mudinha, a qual pode se estender a alturas variáveis no hipocótilo, com aspecto encharcado de início e depois adquirindo coloração escura. A destruição dos tecidos acaba provocando o tombamento da mudinha e sua morte. Murcha, enrolamento e seca dos cotilédones e das primeiras folhas verdadeiras podem ser notados como sintomas secundários, dependendo da idade e do tamanho das mudas (Ferreira, 1991).

E comum a ocorrência da doença em reboleiras, especialmente em canteiros novos, semeados a lanço. Nestas reboleiras encontram-se, com freqüência, mudinhas em todos os estádios de desenvolvimento da doença a partir das primeiras afetadas no centro. Em canteiros de recipientes e mesas de tubetes onde se efetua a semeadura direta, a doença tende a ocorrer esparsamente. Isto se deve às distâncias que separam as mudas de um recipiente para outro, o que dificulta a disseminação do patógeno (Ferreira, 1991).

Etiologia

Os principais fungos causadores de tombamento ou “damping-off” são habitantes do solo onde podem sobreviver saprofiticamente ou através de estruturas de repouso como escleródios (Rhizoctonia), microescleródios (Cylindrocladium) clamidósporos (Fusarium) e oósporos (Phytophthora e Pythium) (Alfenas e Maria, 2006).

Epidemiologia

Propágulos dos fungos causadores de tombamento são disseminados através de água de chuva ou irrigação, vento ou partículas do solo aderidas a implementos agrícolas. Zoósporos de Phytophthora e Pythium podem se locomover ativamente a curtas distâncias em filmes de água no solo. A penetração dos fungos no hospedeiro dá-se diretamente através das paredes celulares da epiderme da raiz ou hipocótilo com a subseqüente invasão do micélio nos tecidos da planta que acabam por serem degradados pela ação de enzimas e/ou toxinas (Alfenas e Maria, 2006).

De modo geral, temperaturas favoráveis para o crescimento das plantinhas são as mesmas para o desenvolvimento da doença, embora a ocorrência de temperaturas suficientemente baixas para retardar a germinação das sementes e o crescimento das plântulas pode aumentar a incidência da doença pelo fato de induzir as plântulas a um período mais prolongado de suscetibilidade. Fungos causadores de “damping-off” variam bastante quanto às temperaturas ótimas para crescimento. C. candelabrum, por exemplo, tem seu ótimo de crescimento ao redor de 28ºC, enquanto que certas espécies de Pythium têm seu ótimo a temperaturas bem mais baixas. Em viveiros localizados em regiões do país onde existem variações sazonais marcantes, principalmente com respeito à temperatura, a época de semeadura pode ter efeito na ocorrência de “damping-off” ao retardar o crescimento das plantas e favorecer o desenvolvimento de fungos que preferem temperaturas mais baixas (Alfenas e Maria, 2006).

Quanto à umidade, a presença de solos úmidos e alta umidade relativa do ar são condições que favorecem a ocorrência do tombamento. A composição do substrato também afeta a ocorrência da doença (Alfenas e Maria, 2006).

Seu conteúdo em matéria orgânica pode, por exemplo, servir de fonte de inóculo dos patógenos. Por outro lado, pode conter também organismos antagônicos aos patógenos, como Trichoderma spp. Sua textura, entre outros efeitos, regula a umidade e a aeração do mesmo. A fertilidade do solo pode influir sobre o “dampingoff’, principalmente com respeito ao nitrogênio. Fertilização pesada com nitrogênio predispõe as mudinhas ao ataque dos patógenos, uma vez que prolonga o período de suscetibilidade das mudas, fazendo-as mais tenras por mais tempo. Com respeito à densidade das mudas, quanto mais denso for o estande, maior será a incidência do “damping-off’ (Alfenas e Maria, 2006).

Controle

Medidas culturais de controle incluem o emprego de sementes, substrato e água de irrigação livres de inóculo dos patógenos, cobertura do solo do viveiro com brita ou material similar, desbaste das plântulas germinadas o mais cedo possível, “roguing” das plantas doentes e mortas, fertilização das mudas sem excesso de nitrogênio, emprego de substratos que permitam boa drenagem e controle da freqüência da irrigação (Santos et al., 2001).

O controle químico pode ser realizado mediante fumigação do substrato com produtos de amplo espectro biocida, como brometo de metila e dazomet, e aplicação de fungicidas, sensu strictu. Devido ao alto custo, periculosidade no manuseio e impacto ambiental, a fumigação deve ser evitada. Deve-se ressaltar, no entanto, que tal tratamento é o único que funciona eficientemente para substratos contendo certos patógenos como Cylindrocladium e Fusarium, que são pouco sensíveis à maioria dos fungicidas comuns e apresentam estruturas altamente resistentes à ação destes produtos. O emprego dos fungicidas pode, por sua vez, ser efetuado através de rega ou pulverizações sobre o substrato e/ou mudas, em intervalos que variam conforme a necessidade. Tais tratamentos funcionam principalmente como protetores, mas também podem ter efeito erradicante. Para o controle de Pythium e Phytophthora recomenda-se metalaxyl e para Rhizoctonia, uma combinação de captan com um ditiocarbamatos (maneb, zineb ou thiram) ou com PCNB ou iprodione. Para o caso de tombamento causado por Cylindrocladium ou Fusarium pode-se empregar captan ou thiram. Uma alternativa ao controle químico para desinfestação do substrato é o uso de calor que pode ser aplicado de duas formas: aquecimento com vapor produzido em caldeira (80-90ºC por 7 a 8 horas) ou solarização (Santos et al., 2001).

O emprego de medidas biológicas de controle pode ser feito diretamente por meio da infestação do substrato com linhagens ou espécies eficientes de Trichoderma, fungo antagonista da maioria dos patógenos de solo. De forma indireta, pode ser executado através da escolha de substratos ricos em matéria orgânica que contenham naturalmente propágulos deste e de outros antagonistas (Santos et al., 2001).

2.1.2 Podridão de raiz (Phytophthora spp., Pythium spp.)

O eucalipto, de um modo geral, não apresenta, no Brasil, problemas de podridão de raiz em condição de campo, mas é comum sua ocorrência em viveiros com sistema de tubetes. Condições desfavoráveis para o crescimento das mudas, como a presença de substrato de má drenagem, que condiciona alta umidade e aeração inadequada, poderá predispor as raízes à infecção por fungos patogênicos presentes no substrato como Phytophthora spp. e Pythium spp. Basicamente, o controle deve ser feito de forma similar ao do tombamento (Alfenas e Maria, 2006).

Podridão de estacas (Cylindrocladium spp., Rhizoctonia solani Kühn, Fusarium spp., Botryosphaeria ribis Grossenb. & Duggar (sin. Botryosphaeria dothidea (Moug. & Fr,) Ces & de Not) e Colletotrichum sp.)

Sintomas

A podridão á bem característica, tratando-se de uma lesão escura que progride da base para o ápice da estaca. Pode ocorrer na região da junção estaca/ substrato ou em porções superiores da estaca. A lesão avança sobre os tecidos, induzindo a morte das gemas, impedindo o enraizamento e escurecendo a estaca por completo (Kimati, et al., 2005).

Sobre as lesões podem ser encontradas frutificações branco-cristalinas de Cylindrocladium ou peritécios marrom-avermelhados da sua fase teleomórfica, esporodóquios de Fusarium, pontuações escuras (picnídios) de B. ribis ou acérvulos de Colletotrichum com ou sem sua massa alaranjada de esporos (Kimati, et al., 2005).

Etiologia

Esta doença pode ser causada por várias espécies de fungos pertencentes aos gêneros Cylindrocladium, Fusarium e Rhizoctonia. No caso de Cylindrocladium são relatadas as espécies C.clavatum, C. parasiticum Crous, Wingf. & Alfenas e C. candelabrum. Botryosphaeria ribis e Colletotrichum sp. são também fungos constantemente encontrados em associação com a podridão. O inóculo é trazido para a casa-de-vegetação no solo ou substrato dos recipientes, na forma de conídios e/ ou fragmentos de hifas ou estruturas de resistência dos fungos (Ferreira, 1997).

Epidemiologia

Salpiques de solo aderidos a folhas e hastes das estacas trazidas do campo também são eficientes como fonte de inóculo, assim como a água de irrigação previamente infestada.

Outras fontes de inóculo podem ser as brotações sem sintomas, com infecção latente por patógenos secundários no jardim clonal, como B. ribis e Colletotrichum sp., e que se manifestam posteriormente na casa-de-vegetação após o estresse provocado pela estaquia (Ferreira, 1997).

Controle

Medidas de controle recomendadas visam a redução ou eliminação de inóculo através de métodos químicos, físicos e culturais, como no caso do tombamento. Adicionalmente, deve-se efetuar tratamento das estacas com hipoclorito de sódio e/ou fungicidas, tratamento das caixas e recipientes com hipoclorito de sódio e fungicidas e limpeza total da casa-de-vegetação, após uma ou duas safras de estacas, empregando-se hipoclorito de sódio e sulfato de cobre (Alfenas e Maria, 2006).

2.1.3 Mofo cinzento (Botrytis cinerea Pers.)

Trata-se de uma doença que ocorre no Sul e Sudeste do Brasil. Ataques mais severos ocorrem em canteiros com alta densidade de mudas e sob condições de alta umidade e temperaturas amenas (Ferreira, 1997).

Sintomas

A doença afeta tecidos jovens da parte aérea das mudas, causando a morte do ápice ou até mesmo da muda toda, especialmente de mudas jovens. Os sintomas iniciam-se por um enrolamento das folhas seguido de seca e queda das mesmas. Comumente, aparece cobrindo as partes afetadas um crescimento acinzentado formado por micélio, conidióforos e massa de conídios do fungo (Kimati, et al., 2005).

Etiologia

O agente causal, B. cinerea, que ataca várias outras culturas, é um patógeno facultativo que vive saprofiticamente no solo e sobrevive na forma de escleródios ou micélio dormente (Kimati, et al., 2005).

Epidemiologia

Sua disseminação dá-se principalmente pelo transporte dos conídios pelo vento (Kimati, et al., 2005).

Controle

O controle da doença poderá ser feito mediante redução da densidade das mudas, fertilização sem excesso de N, eliminação de plantas doentes e de folhas infectadas caídas. O controle químico pode ser feito com pulverizações de thiram, maneb, captan, acetato de trifenil estanho, iprodione ou vinclozolin (Alfenas e Maria, 2006).

2.1.4 Cancro de cryphonectria (Cryphonectria cubensis (Bruner) Hodges.)

O cancro do eucalipto é considerado uma das doenças mais importantes da cultura. A doença ocorre desde o Estado de Santa Catarina até a Região Amazônica. E uma doença que ocorre praticamente em todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo, onde o eucalipto foi introduzido. As temperaturas mais baixas da região sul do continente americano parecem limitar sua ocorrência (Ferreira, 1989).

A doença pode causar prejuízos quantitativos e qualitativos, notadamente em áreas onde a doença ocorre com maior incidência e severidade (costa do Espírito Santo, Vale do Rio Doce, Minas Gerais, e em certas áreas do Estado de São Paulo). A morte ou o tombamento pelo vento de árvores atacadas chega a ocorrer em proporções elevadas em áreas plantadas com espécies mais suscetíveis, causando reduções significativas no rendimento volumétrico. A madeira afetada, por sua vez, além de ter seu valor prejudicado para uso em serraria, também tem seu rendimento em celulose reduzido (Kimati, et al., 2005)..

Além disso, a brotação de tocos atacados também poderá ser prejudicada. Outro prejuízo é a morte de tocos de jardins clonais, que interfere no programa de produção de mudas por estaquia (Ferreira, 1989).

Sintomas

O cancro do eucalipto é uma doença que tipicamente só ocorre em plantações. Começa a se manifestar a partir do quinto mês de cultivo onde, até mais ou menos um ano, causa, com freqüência, a morte das plantas por estrangulamento do colo. Estas morrem de forma esparsa na plantação, geralmente em baixa proporção. Arvores recém-mortas caracterizam-se pela coloração palha de sua folhagem, resultante do secamento geral da copa. Este, por sua vez, é decorrente do desenvolvimento de uma lesão que estrangula o colo da planta através de um corte superficial da casca onde se observa um escurecimento que contrasta com a coloração clara dos tecidos sadios. Este escurecimento pode se estender internamente até o câmbio e às vezes até o lenho e verticalmente até 30 cm acima do nível do solo. É comum ocorrer arroxeamento ou bronzeamento generalizado da folhagem, refletindo deficiência nutricional, seguido por murcha generalizada da folhagem e morte da planta. A morte de árvores com mais de 1 ano de idade por estrangulamento do colo, sem a manifestação externa de sintomas nesta região, também pode ocorrer. Esta manifestação da doença, no entanto é rara. Frutificações do fungo (picnídios e peritécios) são produzidas freqüentemente na superfície da casca da região do colo lesionado, na forma de pontuações negras, salientes e pontiagudas (Kimati, et al., 2005).

Um outro tipo de sintoma, em árvores de idade superior a um ano, ocorre geralmente na região do colo da planta ou ainda nas partes mais altas do tronco. Caracteriza-se por fendilhamento de casca associado geralmente ao seu intumescimento. E resultante do desenvolvimento da lesão na parte externa da casca, sem atingir o câmbio e o lenho. Com isto, a planta continua a produzir tecido de casca, forçando a parte atacada a romper-se em tiras ou trincas. Frutificações do fungo comumente aparecem na superfície da casca na área lesionada. E um tipo de sintoma bastante comum, embora tenha pouco significado econômico uma vez que não está envolvido com a região do câmbio e do lenho da planta. Esta continua a se desenvolver normalmente sem sofrer maiores danos aparentes (Alfenas et al., 2004).

Outro sintoma bem característico é aquele que culmina com a formação de um cancro típico no tronco da árvore. Este sintoma aparece inicialmente na forma de uma depressão na casca. Quando em desenvolvimento, a área lesionada contrasta-se com a área de tecido sadio por sua coloração escura . (Alfenas et al., 2004).

O cancro típico aparece com a delimitação do desenvolvimento da lesão através da formação de um tecido caloso contornando a lesão. A medida que o calo desenvolve-se, os tecidos da área lesionada secam e tendem a romper em fitas, podendo expor o lenho (Alfenas et al., 2004).

Na superfície da casca lesionada formam-se, com freqüência, frutificações do agente causal. A região do lenho ligada à área lesionada fica escura, com o alburno inativo, sujeita à ação de forças mecânicas. E comum, em áreas onde a severidade da doença é alta, a ocorrência de árvores tombadas pela ação do vento. As dimensões atingidas pelos cancros típicos variam bastante, dependendo entre outros fatores, do nível de suscetibilidade da árvore e das condições ambientais, especialmente temperatura e umidade. Em certas áreas, para certas procedências de cancros bastante compridos que estendem-se desde a base do tronco até quase o ponteiro da árvore. A circunferência do tronco também é variavelmente afetada. Com freqüência são observadas árvores com tronco quase anelado pelo cancro e que, apesar disso, continuam vivas, embora tendam a ser dominadas pelas árvores adjacentes (Alfenas et al., 2004).

Cancros dos tipos superficial e típico descritos acima, geralmente se formam na base do tronco, embora sejam encontrados com freqüência em várias alturas no tronco das árvores. Neste caso, aparecem comumente ao redor do ponto de inserção de um galho seco ou desramado, por onde provavelmente o patógeno penetrou (Alfenas et al., 2004).

O sintoma de gomose também pode aparecer associado aos tecidos afetados pela doença, especialmente em E. citriodora, E. maculata e E. paniculata (Alfenas et al., 2004).

Etiologia

C. cubensis cresce bem em meio BDA, onde apresenta uma taxa de crescimento micelial máxima na faixa de 28 a 32ºC. A temperatura parece ser o fator básico que governa a distribuição geográfica do patógeno. Não se conhece hospedeiros nativos do fungo que serviriam de fonte primária de inóculo para o desenvolvimento da doença, mas acredita-se que sejam mirtáceas nativas. Não se conhece também os mecanismos de sobrevivência do patógeno e as formas de inóculo primário que ocorrem antes da introdução do eucalipto (Kimati, et al., 2005).

O fungo produz dois tipos de frutificações: picnídios e peritécios. Picnídios são formados na superfície da casca, geralmente dispersos. São completamente superficiais ou com somente a base imersa no substrato, piriformes e negros quando maduros. Os conídios são hialinos, unicelulares, elípticos, medindo 2,5-4,0 x 1,8-2,2 μm. Sob condições de alta umidade, estes são liberados dos picnídios na forma de cirros de coloração castanho-amarelada. A fase anamórfica tem sido denominada Endothiella sp (Kimati, et al., 2005).

Os peritécios geralmente se formam nas mesmas áreas onde são formados os picnídios, mas mais tardiamente que aqueles. Dependendo do tipo de casca, os peritécios podem ser encontrados isolados e dispersos, agrupados, ou em filas nas fendas da casca. As bases dos peritécios são geralmente imersas no substrato, de forma globosa e coloração escura. Os pescoços apresentam-se externamente à superfície da casca, com comprimento variando de 1 a 2 mm. Sob condições de alta umidade podem atingir até 5 mm ou mais de comprimento. São também escuros quando maduros. Os ascos são unitunicados, cilíndricos, fusóides, com anel apical refringente numa das extremidades e oito ascósporos. Os ascósporos são hialinos, bicelulares, cilíndricos a ovais (Kimati, et al., 2005).

Epidemiologia

A penetração do fungo deve ser por ferimentos, por rachaduras naturais de casca e pelos pontos de inserção de ramos com o tronco (Kimati, et al., 2005).

Controle

O uso de populações resistentes é, até o momento, a única medida viável de controle. Tal medida deverá ser empregada nas áreas onde o risco de perdas é maior, ou seja, nas regiões com temperatura e umidade favoráveis ao desenvolvimento da doença. Material genético resistente poderá ser obtido em dois níveis básicos: interpopulacional e intrapopulacional. No primeiro, são escolhidas as espécies e procedências que apresentam maior resistência. Duas das espécies mais plantadas no Brasil, E. grandis e E. saligna apresentam, de um modo geral, baixa resistência ao patógeno. Por outro lado, os níveis de resistência nestas espécies variam em função das procedências empregadas, especialmente em E. grandis. Dentre as espécies resistentes, E. urophylla é a mais recomendada para fins de celulose. A qualidade da madeira para determinados fins, a capacidade de rebrota e o rendimento volumétrico podem limitar o uso de espécies imunes (E. paniculata, E. robusta, E. citriodora, E. camaldulensis, E. microcoris, E. tereticornis e E. pilularis) (Ferreira, 1989).

Em termos intrapopulacionais, a espécie E. grandis é a que oferecem as melhores perspectivas para exploração da resistência. Esta é feita através de seleções de árvores fenotipicamente resistentes em povoamentos com alta incidência da doença e avaliação de sua resistência através do teste de progênies (Ferreira, 1989).

Outro método que vem sendo empregado é a produção de híbridos vigorosos e resistentes de E. grandis e E. urophylla, propagados vegetativamente através de estaquia (Ferreira, 1989).

2.1.5 Doença rosada (Phanerochaete salmonicolor (Berk & Br.) Jul.)

A doença rosada ou rubelose é típica de áreas tropicais úmidas, onde afeta também outras espécies arbóreas como citros, seringueira e cacaueiro. No Brasil, foi constatada nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, afetando diversas espécies de eucalipto, entre elas, E. camaldulensis, E. saligna e E. urophylla e seus híbridos. Raramente causa danos sérios no Brasil, apesar de acarretar altos índices de mortalidade e danos variados em outros países como Costa Rica, Índia e Zaire (Mora e Garcia, 2000).

Sintomas

A doença é inicialmente observada na forma de pústulas esparsas, de coloração rosada, sobre a superfície de ramos e do tronco. A partir destas pústulas desenvolve-se um micélio de mesma cor que circunda as partes atacadas. O fungo causa necrose nos tecidos da casca e no câmbio, podendo também atacar o lenho. Em conseqüência, ocorre um estrangulamento dos ramos ou tronco. Os tecidos morrem e as folhas ligadas às áreas afetadas amarelecem e secam. De modo geral, no entanto, as lesões ocorrem nos

ramos em regiões altas da copa, o que provoca brotações na parte inferior não afetada. Isso pode deformar as árvores e afetar seu crescimento. O fungo produz também corpos frutíferos resupinados na superfície das áreas afetadas, formando um himênio membranoso, macio, de cor rosa-salmão (Mora e Garcia, 2000).

Etiologia

P. salmonicolor, anteriormente conhecido como Corticium salmonicolor (Berk. & Br.), é facilmente isolado em meio de cultura, crescendo moderadamente em BDA. Neste meio, apresenta crescimento máximo na faixa de 24-270C. Pode produzir dois tipos de esporos: conídios e basidiósporos. A fase imperfeita não foi constatada no Brasil. Os basidiósporos são hialinos, lisos, piriformes a elipsóides, medindo 8-11 x 8-9,8 μm. São formados a partir de basídios subclavados, com 2-4 esterigmas cada (Mora e Garcia, 2000).

Inoculações com esporos têm fracassado, sendo mais comum o emprego de micélio obtido em ágar ou em pedaços de casca de Hevea spp. para reprodução de sintomas da doença (Mora e Garcia, 2000).

Epidemiologia

A doença tende a ocorrer epidemicamente em faixas de idade do hospedeiro específicas. No Estado de Pernambuco, a doença foi constatada em plantios de E. camaldulensis de 1,5 a 2,5 anos de idade, manifestando-se extremamente danosa aos 2,5 anos de idade. Na Índia, adquire nível epidêmico a partir do terceiro ano. Nos locais onde a doença foi constatada no Brasil, a precipitação anual está ao redor dos 2.000 mm ou mais, sendo as temperaturas médias anuais em torno de 23-24ºC. Mostra ser assim uma doença tipicamente de áreas tropicais úmidas (Kimati, et al., 2005).

Controle

No caso do eucalipto, pelas proporções de ocorrência da doença, o controle não tem sido empregado. Caso a doença torne-se importante, mesmo em plantios experimentais, recomenda-se a remoção e queima periódica de galhos afetados, pulverizações com calda bordalesa ou outros fungicidas cúpricos e a exploração da resistência genética (Mora e Garcia, 2000).

2.1.6 Mancha de cylindrocladium (Cylindrocladium candelabrum Viégas, C. ilicicola (Hawley) Boedjin & Reitsma, C. parasiticum (Crous, Wingf. & Alfenas), C. pteridis Wolf e C. quinqueseptatum Boedjin & Reitsma)

A ocorrência de manchas foliares em viveiros de mudas e em plantações de eucalipto á bastante comum. No entanto, dificilmente causa prejuízos sérios. A mancha de Cylindrocladium é uma doença característica de plantios, mas pode ser encontrada em viveiros. Tem sido observada desde 1973 em diferentes regiões do Brasil, desde a Amazônia até os estados do Sul. Esta doença foi constatada em mais de 15 espécies de eucalipto, sendo E. urophylla, E. citriodora, E. cloeziana e E. grandis (algumas procedências) as mais suscetíveis. Danos mais sérios têm ocorrido nos Estados de Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Região Amazônica, geralmente em épocas chuvosas, quando ocorre desfolha intensa das plantas atacadas (Crous e Wingfield, 1994; Kimati et al., 2005).

No entanto, a morte de plantas devida à doença não tem sido observada. Mesmo intensamente atacadas, as plantas recuperam-se com a emissão de novas folhas nos meses que se sucedem ao ataque. A colonização e desfolha reduzem a área fotossintética e o crescimento das plantas. Em condições ótimas de temperatura e umidade, espécies de Cylindrocladium spp. podem causar murcha, seca e morte de brotações de eucaliptos, especialmente de E. grandis (Kimati et al., 2005).

Sintomas

Manchas associadas a Cylindrocladium spp. têm forma, tamanho e coloração variáveis, dependendo da espécie de Eucalyptus e de Cylindrocladium e das condições ambientes (Kimati et al., 2005).

Desfolha intensa pode ocorrer, afetando grande proporção da copa das árvores. Os brotos não são atingidos, o que permite a recuperação das plantas quando as condições ambientes voltam a ser desfavoráveis à doença. Ramos também podem ser atacados pelo patógeno, onde aparecem lesões necróticas escuras, recobertas, com freqüência, por um crescimento esbranquiçado, constituído por conidióforos e conídios do patógeno. Nas folhas, as frutificações são encontradas com maior freqüência na sua face inferior (Kimati et al., 2005).

Etiologia

Esta doença é causada por fungos do complexo Cylindrocladium. Em viveiros, duas espécies foram constatadas em associação com a doença: C. candelabrum e C. ilicicola. A espécie C. scoparium tem sido comumente relatada no Brasil em associação com manchas foliares. Recentemente, no entanto, estudos taxonômicos indicaram que esta espécie deve ser tratada como C. candelabrum, já descrita anteriormente no Brasil. Conídios de C. candelabrum são cilíndricos, hialinos e unisseptados, medindo 29-39 x 3-5 μm. A forma das vesículas, estruturas ligadas aos conidióforos através de uma estipe, é outra característica utilizada para diferenciação de espécies de Cylindrocladium. Vesículas de C. candelabrum são geralmente elípticas ou ovais. C. ilicicola apresenta também conídios cilíndricos, hialinos, mas com 1 a 3 septos, predominando os com 3 septos, e medindo 47-77 x 5,0-7,5 μm em BDA. As vesículas são semelhantes às de C. candelabrum. O fungo desenvolve a fase perfeita cm meio de cultura e nas plantas afetadas. Esta caracteriza-se pela produção de peritécios de coloração laranja a vermelho, ascos clavados e ascósporos com 1 a 3 septos. A fase perfeita do fungo foi identificada como Calonectria pyrochroa (Desm.) Sacc (Santos et al., 2001)..

Em plantações, as espécies constatadas foram C. candelabrum, C. ilicicola, C. parasiticum, C. pteridis e C. quinqueseptatum. C. parasiticum, que também causa manchas em folhas de mogno (Swietenia macrophylla) na Região Amazônica, apresenta conídios cilíndricos, hialinos, com 1 a 3 septos, predominando os com 3 septos, medindo e 47-76 x 4,5-5,9 μm em BDA. Suas vesículas são globosas a subglobosas. Esta espécie produz fase peritecial em meio de cultura ou nos tecidos do hospedeiro, a qual foi identificada como Calonectria ilicicola Boedjin & Reitsma. Os peritécios são de coloração laranja a vermelho, os ascos clavados e os ascósporos uni a triseptados, com predominância dos uniseptados, medindo 27-55 x 4,0-7,7 μm. C. pteridis apresenta conídios cilíndricos, hialinos, uniseptados, medindo 45-101 μm e é caracterizado por uma vesícula clavada. C. quinqueseptatum, que ataca também fruta-do-conde (Annona squamosa), pinha (A. reticulata) e cravo da Índia (Syzigium aromaticum), diferencia-se das outras espécies pelas dimensões e número de septos de seus conídios. Estes medem 75-106 x 5-7 μm, com 1 a 7 septos, sendo a maioria com 5-6 septos. Esta espécie produz também a fase perfeita, tanto nas plantas afetadas como em meio de cultura. Trata-se de Calonectria quinqueseptata Figueiredo & Namekata, que forma peritécios ovóides e elipsóides, alaranjados e castanho-avermelhados. Seus ascos são clavados, os quais contêm 8 ascósporos irregularmente dispostos. Estes são hialinos, curvos, com 1 a 6 septos, medindo 30-80 x 4-7 μm (Santos et al., 2001).

Controle

O controle das manchas foliares causadas por Cylindrocladium sp. normalmente não é exigido no viveiro, quando as mudas são mantidas sob condições de bom arejamento, evitando-se o adensamento das mesmas. Pulverizações preventivas em viveiros de maior risco ou curativas em caso de ocorrência epidêmica da doença poderão ser efetuadas, empregando-se fungicidas cúpricos ou ditiocarbamatos (Kimati et al., 2005).

Em campo, verifica-se boa recuperação das árvores atacadas, mesmo após passarem por períodos de até 6 meses com relativo grau de desfolhamento, não sendo necessárias medidas de controle químico. A melhor alternativa para controle desta doença em plantações seria a exploração da variabilidade genética, empregando-se espécies/procedências mais resistentes. Dentre as espécies mais plantadas atualmente, E. cloeziana, E. citriodora, E. urophylla e E. grandis são as mais suscetíveis, enquanto que E. saligna, E. maculata, E. torelliana e E. microcorys têm se revelado as mais resistentes (Kimati et al., 2005).

2.1.7 Ferrugem (Puccinia psidii Winter)

Esta doença tem ampla distribuição geográfica no Brasil, afetando diversas espécies de mirtáceas nativas e cultivadas. Várias espécies de eucalipto são hospedeiras do fungo, entre elas E. citriodora, E. cloeziana, E. grandis, E. obliqua, E. pilularis e E. saligna. Os danos podem ser consideráveis, dependendo do local, manejo silvicultural e da espécie/procedência utilizada. A doença ocorre em viveiros e plantações (Alfenas e Maria, 2003).

Sintomas

Os sintomas da doença ocorrem inicialmente nos tecidos jovens de folhas e caule ainda em desenvolvimento. Começam por pontuações cloróticas que se transformam em pústulas ou soros, onde se expõem, com o rompimento da epiderme, massas pulverulentas de urediniósporos (uredósporos), de coloração amarelo-ouro. Estas pústulas podem coalescer, recobrindo a superfície das brotações do eucalipto quando o ataque é intenso. Em conseqüência, os tecidos afetados morrem e secam, adquirindo coloração negra, como se fossem queimados. Dependendo das condições ambientais, a planta pode reagir, emitindo novas brotações. Com o desenvolvimento das folhas e do caule, a massa amarela de esporos desaparece dando lugar a lesões salientes, rugosas, de coloração marrom. Nas folhas, estas lesões aparecem dispersas em ambas as faces do limbo e às vezes sobre a nervura principal. São comumente delimitadas por um halo escuro, arroxeado. Nos ramos, a característica verrugosa das lesões torna-se bastante típica. Como o ataque se dá antes das folhas completarem seu desenvolvimento, estas freqüentemente acabam ficando deformadas (Alfenas e Maria, 2003).

Árvores altamente suscetíveis podem ter seu crescimento comprometido pela doença, sofrendo um enfezamento quando severamente atacadas. Estas plantas podem ser dominadas pelas adjacentes que, menos afetadas ou sãs, continuam crescendo normalmente. Plantas que não são dominadas pelas vizinhas acabam se recuperando. A partir do segundo ano, a doença dificilmente causa prejuízos sérios (Alfenas e Maria, 2003).

Etiologia

P. psidii produz eciósporos uredinóides, urediniósporos, teliósporos e basidiósporos. Os uredósporos, que são formados durante a fase favorável ao desenvolvimento do fungo, apresentam forma variável, predominando os globosos, elípticos, piriformes e angulosos, medindo 14-20 x 18-27 μm. São equinulados e apresentam epispório hialino. Os teliósporos são de ocorrência mais rara, formando-se sob condições desfavoráveis ao patógeno, freqüentemente nos mesmos soros onde se formam os uredósporos (Alfenas, 1991).

São bicelulares, de forma variável, predominando os elípticos e oblongo-ovais. A ferrugem pode ter como fonte primária de inóculo mudas ou plantios jovens de eucalipto ou mirtáceas nativas hospedeiras deste fungo (Alfenas, 1991).

Epidemiologia

Ataques mais severos ocorrem em mudas e plantios jovens, com 3-12 meses de idade, sob condições ambientais favoráveis. A ocorrência de temperaturas moderadas e elevados índices de umidade relativa do ar são os fatores críticos que condicionam ataques mais severos. Períodos noturnos de molhamento foliar iguais ou acima de 8 horas e temperaturas entre 15 e 25ºC são condições altamente favoráveis à infecção (Alfenas, 1991).

Controle

As perdas que ocorrem pela redução temporária do crescimento e desaparecimento das plantas mais suscetíveis, aparentemente não compensam os gastos com aplicações de fungicidas no campo (Alfenas e Maria, 2003).

No caso de ataque intenso no viveiro, o controle químico com fungicidas é eficiente. Mancozeb, oxicloreto de cobre, triadimenol, diniconazole ou triforine são os produtos recomendados (Alfenas e Maria, 2003).

O desenvolvimento de um programa de melhoramento genético através de seleção é uma alternativa recomendável para o controle da ferrugem no campo. E. camaldulensis, E. pellita, E. urophylla, E. torelliana e E. citriodora apresentam alta resistência (Alfenas e Maria, 2003).

2.1.8 Oídio - Oidium sp.

Várias espécies de eucalipto são atacadas por Oidium sp., em viveiros, casa-devegetação e campo.

Em E. citriodora, o ataque deste fungo tem sido mais freqüente e importante, até o estádio fenológico adulto.

A doença também tem sido observada em viveiros de E. dunnii (Ferreira, 1989).

Sintomas

Brotações e gemas são preferencialmente atacadas e, quando não morrem, dão origem a folhas de limbo enrugado, afilado e geralmente com uma metade as mais estreita do que a outra. O ataque sucessivo às brotações resulta em superbrotamento, com perda da qualidade da muda. No campo, o sintoma toma maior importância pela perda da dominância apical, comprometendo a formação de um fuste reto para a produção de postes e mourões. Recobrindo as partes afetadas, ocorre, com freqüência, crescimento esbranquiçado, pulverulento, constituído por micélio e estruturas reprodutivas do patógeno, típico dos oídios (Ferreira, 1989).

Etiologia

É comum citar-se Oidium eucalypti Rostr. como sendo o agente causal da doença, porém nenhum estudo crítico, no Brasil, apresentou o correto nome. Até o momento, a fase teleomórfica não foi encontrada em condições brasileiras. Oidium sp. é um parasita obrigatório que apresenta micélio estendido na superfície do hospedeiro. Das hifas são emitidos haustórios para dentro das células epidérmicas para a retirada de nutrientes. As hifas também emitem conidióforos eretos e hialinos. Os conídios são produzidos em cadeia basipetal, hialinos, oblongos a ovais, unicelulares, com dimensões que variam de 13-20 a 21-36μm (Ferreira, 1989).

Epidemiologia

A doença dissemina-se facilmente através do contato entre plantas doentes e sadias ou pelo vento e respingos de chuva. A incidência do oídio em eucalipto é mais freqüente na época de estiagem (Ferreira, 1989).

Controle

Em viveiro, o oídio pode ser controlado com a aplicação de benomyl mais enxofre molhável. No campo, o oídio é importante na folhagem juvenil de E. citriodora. Com a troca desta folhagem pela adulta, a doença não ocorre mais, o que dispensa medidas de controle. A existência de indivíduos sadios ou pouco afetados em áreas altamente infestadas indica a possibilidade do uso da variabilidade genética para seleção de material resistente (Ferreira, 1995).

2.2 DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS

2.2.1 Murcha vascular (Pseudomonas solanacearum E. E Smith.)

Esta doença, encontrada nos Estados do Amazonas, Bahia, Minas Gerais e Pará, é uma das poucas doenças bacterianas registradas em espécies florestais no Brasil. As espécies E. pellita, E. deglupta, E. pilularis, E. resinifera, E. tereticornis e E. urophylla (juntamente com seus híbridos comerciais) mostraram-se suscetíveis à doença. Ocorre em áreas recém-desmatadas reflorestadas com eucalipto, iniciando-se em árvores jovens com cerca de dois meses de idade (Kimati, et al., 2005).

Sintomas

Sintomas observados no campo são conseqüência da infecção sistêmica da planta pela bactéria. As folhas tornam-se cloróticas, com seca brusca e posterior queda devido ao bloqueio dos vasos de xilema. A doença é facilmente caracterizada pelos sinais apresentados, através do corte dos troncos das árvores. O xilema apresenta-se escurecido e, após alguns minutos, começa a exsudar pus bacteriano. O teste confirmativo da presença da bactéria pode ser feito através do corte transversal da haste com suspeita de murcha e sua imersão em água. Em poucos instantes, pode ser observada a corrida bacteriana na água, a partir dos vasos de xilema colonizados (Kimati, et al., 2005).

Etiologia

A bactéria associada à murcha vascular é P solanacearum. Existem, entretanto, consideráveis diferenças entre isolados quanto à patogenicidade. Esta bactéria vive no solo, em restos de matéria orgânica de matas e em plantas nativas hospedeiras (Kimati, et al., 2005; Robbs et al., 1988).

Epidemiologia

A penetração nas raízes da planta dá-se por aberturas naturais ou ferimentos. Uma vez no interior das raízes, dirige-se para o sistema vascular da planta, colonizando o xilema. A bactéria ataca fumo, solanáceas nativas e cultivadas, como tomate e pimentão, e bracatinga (Kimati, et al., 2005; Robbs et al., 1988).

Controle

Recomenda-se o plantio de espécies/procedências tolerantes ou resistentes. Outras medidas são: uso de mudas sadias, com sistema radicular bem formado, e plantio de mudas sem o afogamento do colo e dobramento das raízes (Robbs et al., 1988).

2.3 TÁTICAS DE MANEJO NA EUCALIPTOCULTURA

O manejo integrado de doenças pode ser definido como a utilização de todas as técnicas disponíveis dentro de um programa unificado, de modo a manter a população de organismos nocivos abaixo do limiar de dano econômico e minimizar os efeitos colaterais deletérios ao meio ambiente. Esse conceito desenvolvido originalmente no contexto da entomologia apresenta dois componentes, integração e manejo. Especialmente o componente manejo, que subentende o monitoramento da população do agente nocivo a determinação dos níveis de dano para efetivação das medidas de controle, é dificilmente aplicável no âmbito da fitopatologia. Isso porque para o monitoramento de populações de agentes microbianos, considerados os principais causadores de doenças em plantas, exigem-se técnicas laboratoriais e muitas são de difícil aplicação prática (Zauza, 2001).

Levando-se em conta os aspectos epidemiológicos das doenças e as características do processo produtivo florestal, o manejo integrado consiste na adoção de princípios e medidas que ao serem aplicados integradamente visam excluir e erradicar parcial ou totalmente as fontes de inoculo, proteger química, física, genética e, ou, biologicamente a planta contra patógenos e reduzir as condições favoráveis a multiplicação e disseminação de inoculo, bem como à infecção, a fim de minimizar os riscos de incidência e disseminação de doenças , otimizando o desenvolvimento da planta e sua produção sustentável (Zauza, 2001).

O desenvolvimento e a implementação das medidas de manejo integrado envolvem esforços em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, bem como em operação florestal propriamente dita.

Em face dos futuros desafios da atividade florestal, cada vez mais competitiva, devem-se considerar, nas pesquisas em Patologia florestal, os riscos de introdução de novas doenças, o melhor uso da resistência genética e da biotecnologia e os efeitos potenciais das mudanças climáticas sobre a incidência e severidade de doenças. Estrategicamente as pesquisas podem ser feitas em cooperação entre empresas florestais, universidades e institutos ou empresas publicas ou privadas de pesquisa, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico, a formação de recursos humanos e a sustentabilidade do setor florestal (Alfenas e Mafia, 2003).

O primeiro passo para a implantação do manejo integrado consiste na estruturação de um sistema de monitoramento florestal eficaz e em consonância com as linhas de pesquisa, desenvolvimento e operação a fim de obterem ganhos com o sinergismo entre as áreas correlatas, procurando-se integrar diferentes linhas de trabalho com a área de patologia florestal. Um modelo ideal consiste em concentra esforços para o monitoramento e a diagnose de anormalidades na cultura, integrando-se as áreas de silvicultura, entomologia florestal, patologia florestal, solos e nutrição florestal, incêndios florestais, e plantas daninhas(Alfenas e Mafia, 2006).

O desenvolvimento simultâneo e integrado dessas áreas é denominado “Proteção Florestal”, por exemplo, em sistemas de monitoramento deve-se observar a ocorrência de pragas e doenças, deficiências nutricional e plantas daninhas, bem como envidar esforços para se manter registros das condições climáticas ao longo do ano nas distintas microrregiões, dependendo dos recursos disponíveis , é possível que os recursos humanos destinados ao monitoramento no campo sejam úteis também no primeiro combate a incêndios (Mora e Garcia; 2000).

A importância epidemiológica das doenças na cultura do eucalipto varia de acordo com a fase do processo produtivo e com as condições de ambiente e manejo. Determinados patógenos causam perdas somente na fase de viveiro, outros apenas no campo e outros somente nos produtos da madeira. Alguns patógenos, no entanto, incidem em todo o ciclo da cultura. A partir dos dados acumulados de monitoramento classifica-se as doenças de acordo com sua importância relativa, para selecionar e estabelecer as medidas integradas de forma mais precisa (Ferreira, 1997).

3 CONCLUSÃO

Ao integrar patologia florestal e melhoramento genético, devem-se priorizar a determinação da base genética da resistência a doenças e a seleção de materiais superiores resistentes para plantio comercial.

Esses e outros exemplos demonstram que a integração da informação e do conhecimento é primordial para minimizar os custos, racionalizar e otimizar as atividades desde a produção de mudas ate o estabelecimento e condução da cultura no campo.

A escolha e a aplicação integrada dos princípios epidemiológicos (redução de inoculo, da taxa de progresso e do tempo) e das estratégias (exclusão, erradicação, proteção, resistência, terapia, escape e regulação) e respectivas medidas de controle durante o processo produtivo, são fundamentais para o manejo bem sucedido e econômico de doenças em culturas agrícolas e florestais.


4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Um comentário:

  1. Vi tudo e não vi da antracnose em MJC !
    Tá difícil de achar

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