INTRODUÇÃO
O maracujá (Passiflora sp), como é conhecido no Brasil, é palavra de origem indígena cujo significado é “comida preparada em cuia”. Mundialmente conhecido como fruta da paixão (passion fruit, fruit de la passion), derivado de “Flos Passionis”, por uma relação mística com a paixão de Cristo, o maracujazeiro é uma planta trepadeira vigorosa da família da passifloráceas, que pode atingir de cinco a dez metros de comprimento. A fruta é rica em vitamina C, cálcio e fósforo (Reiter e Heiden, 1998).
O maracujá é uma cultura de regiões tropicais, cujo centro de origem é o Brasil, suportando muitas vezes às condições adversas do clima, principalmente épocas de temperatura e evaporação elevadas. No Brasil, existem mais de 200 espécies conhecidas. No entanto, apenas três são cultivadas: o maracujá amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa), o doce (Passiflora alata) e o roxo (Passiflora edulis) (Paiva, 1996).
O maracujá pode ser consumido ao natural ou industrializado e seu suco destaca-se entre os produzidos com frutas tropicais, tendo excelente aceitação pelos consumidores (Paiva, 1996).
A antracnose tem como agente causal Colletotrichum gloeosporioides, é comumente encontrada nas regiões produtoras de maracujá no Brasil. Ocorre principalmente, em frutos desenvolvidos e se constitui na mais importante doença de pós-colheita da cultura, reduzindo o período de conservação dos frutos. Assume maior importância quando as condições climáticas são favoráveis, pois seu controle torna-se difícil. Sua ocorrência, associada à da mancha bacteriana, pode agravar ainda mais o problema (Ataíde et al., 2005).
Além do Brasil, C. gloeosporioides foi constatado em Passiflora edulis, na Austrália, China, Florida, Japão, Nova Zelândia, Península Malaia e Havaí (Farr e Rosman, 2010).
O objetivo desse trabalho foi identificar e analisar isolados de Colletotrichum gloeosporioides provenientes de planta de mostarda para conhecimento de seus sintomas na planta, sua epidemiologia, etiologia e métodos de controle.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí, onde amostras de folhas de maracujá obtidas da cidade de Ipameri Goiás foram analisadas em microscópio estereoscópio.
Foram feitas lâminas semi-permanentes das estruturas do fungo retiradas da folha do hospedeiro através de fita adesiva e fixada na lâmina com fixador a base de corante azul-de-metileno para observação em microscópio óptico.
Em microscópio óptico identificou-se o agente etiológico. Através de literaturas especializadas a respeito das doenças do maracujá, realizou-se diagnose indireta.
Também foram realizados cortes histológicos da folha do hospedeiro e colocadas em fixador para observação da interção patógeno hospedeiro (Fig. 1A).
Foram tiradas fotos com câmera digital dos sinais do fungo em microscópio estereoscópio e das estruturas do fungo presentes nas lâminas semi-permanentes em microscópio óptico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Hospedeiro/cultura: Maracujá (Passiflora sp)
Família Botânica: Passifloraceae
Doença: Antracnose
Agente Causal (Teleomorfo): Colletotrichum gloeosporioides Penz. & Sacc, (Anamorfo): Glomerella cingulata (Stoneman) Spauld. & H. Schrenk
Local de Coleta: Ipameri - Goiás
Data de Coleta: 07/10/10
Taxonomia: (Anamorfo) Pertence ao reino Fungi, filo Ascomycota, classe Sordariomycetes, Incertae sedis, família Glomerellaceae (Index fungorum, 2010).
Sintomatologia: Todos os órgãos aéreos da planta, como folhas, botões florais, gavinhas, ramos e frutos podem ser atacados. Nas folhas são produzidas manchas inicialmente pequenas, de 2 – 3 mm, de aspecto oleoso, adquirindo posteriormente cor pardo-escura, de formato irregular e diâmetro superior a 1cm. Na parte central das manchas, os tecidos tornam-se acinzentados, podendo ocorrer fendilhamento. Sob condições ambientais favoráveis (temperatura e umidade elevadas), surgem várias lesões no limbo foliar, provocando coalescência e ocupando grandes áreas, causando grande queda de folhas (Goes, 1998).
Nos ramos e gavinhas afetados são produzidas manchas pardo-escuras de 4 – 6 mm que, posteriormente, se transformam em cancros, expondo os tecidos lesionados. Dependendo da intensidade das lesões, pode ocorrer morte dos ponteiros e secamento parcial da planta (Goes, 1998).
Os frutos apresentam lesões grandes, arredondadas, de coloração escura, que evoluem para uma podridão mole e deprimida, atingindo grande extensão do fruto que acaba caindo. A doença é citada ocorrendo nas folhas, ramos e frutos verdes, na forma de manchas de aspecto aquoso e cor verde-escura, porém os sintomas foram reproduzidos somente quando a inoculação foi realizada através de ferimento e incubação em condições de alta umidade por cinco dias. As áreas lesionadas apresentam pequenos pontos pretos, que são os acérvulos do fungo, os quais em condições de alta umidade e temperatura média entre 26 e 28ºC, são cobertos por uma massa rosada constituída de conídios embebidos em uma matriz mucilaginosa (Kimati et al., 2005).
Etiologia: O agente da antracnose é o fungo Glomerella cingulata (Stoneman) Spaulding et Schrenk,, cuja fase anamórfica corresponde a Colletotrichum gloeosporioides. Os conídios são hialinos e unicelulares (Fig. 1DE), produzidos no interior de acérvulos subepidérmicos (Fig. 1B), dispostos em círculos (Fischer et al., 2005; Kimati et al., 2005). Geralmente, são formados em conjuntos de coloração salmão, retos e cilíndricos, com ápices obtusos e bases às vezes truncadas, medindo 12-17 µm x 3,5-6 µm. Os apressórios formados por esta espécie são clavados, ovóides, obovados ou lobados, de coloração castanha e medindo 6-20 µm x 4-12 µm (Fig, 1C). Forma colônias variáveis de coloração branco-gelo a cinza escuro e micélios aéreos, geralmente uniformes, aveludados ou repletos de conidiomato (Sutton, 1992).
Epidemiologia: O agente causal sobrevive em restos culturais e tecidos infectados na própria planta, ou em outras plantas hospedeiras vizinhas dos pomares. Sua dispersão, dentro da lavoura, ocorre principalmente por meio de respingos de água. A ação de C. gloeosporioides é favorecida por alta umidade, principalmente chuvas abundantes. A temperatura próxima de 27ºC favorece a produção dos esporos. Chuvas menos intensas favorecem o progresso da doença numa mesma planta já infectada, enquanto que chuvas acompanhadas de ventos tendem a transportar o fungo para outras plantas. Em períodos de temperaturas mais baixas, a importância da doença diminui, sendo pequena a sua incidência nos meses de inverno, mesmo que ocorram chuvas. Em inoculação artificial os sintomas nas folhas só foram reproduzidos com ferimentos, sendo o período de incubação de seis dias, em mudas de maracujazeiro (Kimati et al., 2005; Ruggiero et al., 1996).
Os danos causados por este patógeno são mais expressivos em plantios adultos, geralmente após o primeiro pico de safra, chegando a provocar secas de galhos e morte de plantas. O fungo infecta tecidos novos e brotações, podendo permanecer em estado latente ou quiescente, sem mostrar sintomas até que as condições climáticas se tornem favoráveis e/ou a planta sofra algum tipo de estresse, quer seja nutricional, hídrico ou por excesso de produção. Quando isso acontece, geralmente as plantas começam a secar (Junqueira et al., 2005).
Controle: O controle de doenças no maracujazeiro, assim como nas fruteiras em geral, deve ser iniciado no campo. Frutos com altas cargas microbianas, no momento da colheita, freqüentemente desenvolvem sintomas de doenças, por melhores que sejam os métodos de pós-colheita empregados para seu controle (Skipp et al., 1995).
Como medidas culturais de controle da antracnose que devem ser realizadas em campo, recomendam-se a realização de podas de limpeza e a remoção de restos culturais como folhas e frutos, uso de mudas sadias, produzidas em locais onde não ocorra a doença, manejo da irrigação e adubação equilibrada. Na fase pós-colheita, o manuseio adequado dos frutos evita os ferimentos, o que reduz a incidência do patógeno (Viana e Costa, 2003; Junqueira et al., 2003; Fischer et al., 2005; Kimati, et al., 2005).
Até o momento, não há registros de variedades ou cultivares de maracujá com algum tipo de resistência à antracnose (Agrofit, 2008). Entretanto, estudos realizados no Distrito Federal mostraram que a cultivar Roxo-australiano foi resistente à antracnose na pós-colheita em comparação com as cultivares Maguari, Marília e Vermelho (Junqueira, 2003).
Estudos recentes têm demonstrado que isolados de Trichoderma koningii Oudem. apresentam potencial antagônico a C. gloeosporioides em frutos e plantas de maracujá, indicando a possibilidade de seu uso no controle da doença em campo (Rocha & Oliveira, 1998; Fischer, 2005).
Para a utilização no controle químico são citados os fungicidas do grupo dos benzimidazóis, cúpricos, ditiocarbamatos, chlorotalonil e tebuconazole (Fischer, 2005). Durante a fase de frutificação, recomenda-se fazer de 3-4 pulverizações preventivas com fungicidas protetores, aplicados em intervalos de 7-14 dias durante chuvas intensas e prolongadas, e de 15-30 dias sob chuvas regulares, podendo-se dispensar as pulverizações no período de estiagem (Agrofit, 2010).
Figura 1. Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides Penz. & Sacc) em folhas de maracujá (Passiflora edulis Sims.). A. Interação patógeno hospedeiro; B. Detalhe dos acérvulos; C. Detalhe do apressório clavados e ovóides; D. Conídios; E. Conídios hialinos e unicelulares.
LITERATURA CITADA
AGROFIT – Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons Acessado em: 18/10/10.
ATAÍDE, E.M.; RUGGIERO, C.; RODRIGUES, J.D.; OLIVEIRA, J.C.; OLIVEIRA, H.J. de; SILVA, J.R. Efeito de Giberelina estimulante na indução floral e produtividade do maracujazeiro amarelo em condições de safra normal. In: Faleiro FG. Trabalhos apresentados na 4ª Reunião Técnica de Pesquisas em Maracujazeiro. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados. PP. 40-44, 2005.
FARR & ROSMAN, SBML Systematic Botany of Mycological Resources. Disponível em: http://www.ars.usda.gov/main/site_main.htm?modecode=12-75-39-00. Acesso em: novembro de 2010.
FISCHER, I.H.; KIMATI, H. & REZENDE, J.A.M. Doenças do Maracujazeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A. (Ed.) Manual de Fitopatologia. v2. 4.ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. p. 467-474.
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REITER, J.M.W.; HEIDEN, F.C.; Instituto de planejamento e economia agrícola de Santa Catarina. Maracujá. Florianópolis, 1998. 69p. (Estudo de economia e mercado de produtos agrícolas, 5.
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