terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Oídio (Oidium neolycopersici) incidente em folha de tomate (Lycopersicon esculentum Mill.)


Rogério E. Marangoni1 e Milton L. Paz Lima2
1Acadêmico do curso de Agronomia
2Professor do curso de Agronomia


O oídio, também conhecido como “cinza”, é uma doença bastante comum em folhas de tomateiro (Solanum lycopersicum L.). Mesmo não sendo considerada entre as mais destrutivas, tem merecido maior atenção dos tomaticultores pelo fato de estar ganhando importância devido ao aumento do cultivo do tomateiro sob condições protegidas, onde geralmente a temperatura é mais elevada, e em campo irrigado por gotejamento, onde não ocorre a “lavação” das folhas (Reis et al., 2009).
Sob o mesmo nome de oídio, a doença é causada por duas espécies de fungo: Oidium neolycopersici e Oidiopsis haplophylli (Teliomorfo = Leveilula taurica). Ambas têm distribuição generalizada no País, embora a segunda tenha um círculo de hospedeiras bem mais amplas (Kurozawa & Pavan, 1997; Lopes et al., 2005). O fato pouco comum de existirem duas espécies fúngicas causando sintomatologias distintas chamadas de oídio leva à reflexão sobre a necessidade de nomeá-las de forma diferente. Neste caso, a proposta é chamarmos de oídio-adaxial quando se trata de O. neolycopersici e oídio-abaxial, quando se trata de O. haplophylli (Reis & Lopes, 2009).
Os dois patógenos (O. haplophylli e O. neolycopersici) podem causar oídio em tomateiro numa ampla faixa de temperatura, que pode variar de 10º C a 35º C no caso de O. haplophhylli. A faixa de temperatura para ocorrência do oídio de O. neolycopersici ainda não está bem clara, mas a doença ocorre em verões e invernos secos. Assim, a temperatura não é fator ambiental limitante à doença, que é favorecida por umidades baixas, menor que 60% (Reis & Lopes, 2009).
É uma doença relativamente comum nos anos de inverno seco, mas é raro causar sérios danos à cultura em condições de campo. Entretanto, com o incremento da plasticultura, é possível que tanto Oidiopsis como Oidium tornem-se patógenos importantes (Kurozawa & Pavan, 1997).
De acordo com o Índex Fungorum (2010), pode-se observa que há 483 espécies de fungo do gênero Oidium sp. descrita em literatura, sendo a espécie Oidium lycopersici tendo como sua autoridade Cooke & Massee em 1888. E que no Brasil a doença é encontrada nos seguintes estados como CE, DF, SP, BA, PE (Mendes & Urben, 2010).
Segundo Farr e Rossman (2010), é encontrado o Oidium lycopersici em vários países do mundo, sendo os principais países com maior incidência da doença em espécies hospedeiras o Brasil, Austrália, China, África do Sul e dentre outros países do mundo, ocorrendo principalmente na planta hospedeira Lycopersicon esculentum Mill.. Sendo o gênero Oidium sp. tendo mais de 88 espécies de plantas hospedeiras da doença, sendo as principais hospedeiras da família das Asteraceae, Malvaceae, Solanaceae, Bignoniaceae, Fabaceae, Amaranthaceae, Brassicaceae, Moraceae, Cucurbitaceae, Myrtaceae, Euphorbiaceae, Rosaceae, Heliconiaceae, Hydrangeaceae, Convolvulaceae, Meliaceae, Onagraceae, Lauraceae, Sapotaceae, Vochysiaceae, Fagaceae, Lamiaceae, Anarcadiaceae, Gemeriaceae, Bignoniaceae (Mendes & Urben, 2010).
O objetivo deste trabalho foi identificar, descrever e apontar medidas de controle de Oidium neolycopersici incidente em folhas de tomateiro.

MATERIAL E MÉTODOS
Folhas de tomate apresentando sintomas de oídio-do-tomateiro (Fig. 1A) foram coletadas no dia 19 de setembro de 2010 em uma lavoura de tomate localizada próximo ao Distrito de Amanhece em Araguari, MG. As amostras foliares foram levadas para o Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano – campus Urutaí, GO.
Para o preparo das lâminas semi-permanentes foi observado em microscópio estereoscópico folhas sintomáticas (Fig. 1B), onde foram retiradas pequenas proporções de micélio fúngico (“pescagem direta”) encontrados presentes nas folhas de tomateiro e depositado em lâmina de microscópio contendo corante azul-de-metileno, e então vedadas com esmalte-incolor. Utilizando-se também o método da “fita adesiva”, foi possível preparar lâminas para caracterização das estruturas morfológicas do fungo para que pudesse ser analisadas (Fig. 1C). Sendo feito também observação do dimensionamento das estruturas do isolado, onde foi utilizada uma ocular no microscópio ótico com linhas milímetradas para fazer a leitura numérica do tamanho da estrutura do isolado e em seguida feita a correção da objetiva de acordo com a sua aproximação, podendo saber a morfometria do isolado. Depois de observados as lâminas semi-permanentes foram realizados procedimentos de macro e microfotografia digital utilizando máquina digital (Sony CANON Power Shot A580). As fotos, contendo diferentes estruturas do fungo Oidium sp. foram organizadas em uma prancha de fotos, feitas com o auxílio do computador, todas devidamente identificadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Hospedeiro: Tomate (Lycopersicon esculentum, Mill)
Família botânica: Solanaceae
Doença: Oídio-do-tomate
Agente causal: Oidium sp. cuja fase teleomófica corresponde a Erysiphe diffusa (Cooke & Peck) U. Braun & S. Takam (2000).
Local da coleta: Araguari - MG
Data da coleta: 19/09/2010
Taxonomia: O anamorfo pertence ao Reino Fungi, grupo Fungos Mitospóricos, hifomicetos. Já a forma teleomórfica, pertente ao Reino Fungi, Divisão Ascomycota, Classe Leotiomycetes, Ordem Erysiphales, Família Erysiphaceae (Index Fungorum, 2010).

Sintomatologia

A principal característica do oídio causado por Oidium neolycopersici, o oídio-adaxial, é a presença abundante de estruturas do fungo nas superfícies superior e inferior das folhas, evidenciando a aparência de um pó branco e fino na folhagem. Tanto folhas velhas como folhas novas são atacadas indiscriminadamente, e o ataque intenso causa clorose e necrose foliar (Reis & Lopes, 2009).
O sintoma mais comum é o aspecto pulverulento de cor branca a cinza, que se formam nos folíolos, pecíolos e caules dos tomateiros, constituído de micélio e de órgãos de frutificação assexuada do fungo. Num estádio mais avançado, as áreas afetadas passam a apresentar amarelamento e, finalmente, necrose. Este sintomas são mais evidentes nas folhas mais velhas da planta (Kurozawa & Pavan, 1997).
Quando a doença é causada por O. haplophylli, ou oídio-abaxial, a massa pulverulenta normalmente não é tão facilmente observada. Nesse caso, formam-se manchas amareladas nas folhas, que evoluem para necrose a partir do centro das lesões, sintoma que faz com que possa ser confundida com outras doenças como a pinta-preta. Quando o ataque é intenso, toda a folha pode secar. Os sintomas e as estruturas do fungo são encontrados principalmente nas folhas mais velhas que, mesmo infectadas, permanecem presas à planta, ao contrário do que ocorre com o pimentão, em que plantas afetadas pela doença perdem parte das folhas (Reis & Lopes, 2009).

Etiologia
Microscopicamente observaram hifas hialinas, septadas, ramificadas, 2-8µm de largura, os conidióforos são eretos de 50-110µm. de comprimento, com célula basal mais ou menos cilíndrica, com média de 35-50µm (com medidas entre 25-75µm) x 6-12µm, com 1-2 células menores, com células basais ocasionais seguida de septos, os conídios são elipsóides-oval, em forma de barris, sem corpos fibrosos (observável com eosina ou KOH 3%) de 28-45 x 15-20µm extremos mínimos e máximos de 20-50 x 13-28µm e com um grande número de vacúolos, com mais de 15, surgindo tubos germinativos em conídios nos extremos ou nas laterais, de 40-60 x 4-6µm, em forma de curvas, espirais ou flexuosos, com ápice simples, alongado, às vezes claramente ampliando, aumentando há largura da base ao ápice (Welt, 1995).
Caracteriza-se por apresentar conídios elípticos e hialinos crescendo em cadeia sobre conidióforos curtos, não ramificados, produzindo em micélio e de órgãos de frutificação assexuada do fungo (Fig. 1 EF). O fungo não cresce em meio de cultura, é uma doença que, apesar de ocorrer com certa freqüência em anos de inverno muito seco, muito raramente se constitui em problema sério. O fungo agente causal ataca todos os órgãos verdes da planta aparecendo com maior freqüência nos ramos, pecíolos e folíolos, onde desenvolve um crescimento branco, característico da doença, constituído de micélio e de órgãos de frutificação assexuada do fungo (Tokeshi et al., 1980).
O fungo Oidium neolycopersici apresenta conídios elípticos, hialinos (Fig. 1GI), surgindo isoladamente sobre conidióforos curtos, hialinos, não ramificados (Jones et al., 2001).
O fungo Oidium lycopersici caracteriza-se por apresentar conídios elípticos, hialinos, crescendo em cadeia sobre conidióforos curtos, não ramificados (Fig. 1D), produzidos em micélio superficial. A absorção dos nutrientes dos hospedeiros é feita via haustório, emitidos pelas hifas septadas e bastante ramificadas (Kurozawa & Pavan, 1997).
A característica de apresentar apenas um conídio por conidióforo distingue a espécie (Fig. 1F) O. neolycopersici de O. lycopersici, outro patógeno que causa a mesma doença, mas que aparentemente não ocorre no Brasil (Reis et al., 2009). O micélio é superficial, crescendo sobre a epiderme das folhas, preferencialmente na sua face superior. A absorção dos nutrientes da hospedeira é feita através dos haustórios, estruturas especializadas para fixação e absorção de nutrientes da planta (Fig. 1H) (Jones et al., 2001).
Em geral, temperaturas elevadas são mais favoráveis à ocorrência da doença, mas chuvas pesadas podem danificar o micélio superficial e os conidióforos, desfavorecendo o desenvolvimento do patógeno (Kurozawa & Pavan, 1997).

Tabela1 - Comparação de caracteres morfológicos e morfométricos do isolado encontrado com os critérios estabelecidos para Oidium neolycopersici obtidos por outros autores.

Caracteres morfológicos e morfométricos - Espécimen em estudo - Braun (1995)
Célula conidiogênica (µm)............................... 16 – 9,5....................n/d
Dimensões do conidióforo (µm)....................... 63,5 x 5,5............50 – 110 x 6 - 12
Dimensões dos conídios (µm)............................ 26 x 15............... 20 - 50 x 13 - 28

Epidemiologia
Os dois patógenos podem causar oídio em tomateiro numa ampla faixa de temperatura, que pode variar de 10º C a 35º C no caso de O. haplophhylli. A faixa de temperatura para ocorrência do oídio de O. neolycopersici ainda não está bem clara, mas a doença ocorre em verões e invernos secos. Assim, a temperatura não é fator ambiental limitante à doença, que é favorecida por umidades baixas, menor que 60%. Uma vez que ambos são parasitas obrigatórios e não se tem encontrado suas formas perfeitas no Brasil, acredita-se que a sua sobrevivência ocorra em plantas voluntárias e em outras hospedeiras. A curta e média distâncias, a disseminação ocorre principalmente pelo vento. Estes patógenos tiveram uma dispersão rápida entre os diferentes continentes, e acredita-se que isto tenha ocorrido através do comércio internacional de plantas ornamentais. Não se tem confirmação da veiculação desses patógenos por sementes (Reis & Lopes, 2009).

Controle
Apesar da existência de boas fontes de resistência no germoplasma do tomateiro, ainda não existem cultivares comerciais resistentes as duas formas de oídio. A irrigação por aspersão e a chuva desalojam os conídios das folhas e auxiliam no controle da doença. Na instalação de novos cultivos, principalmente sob proteção de plásticos, deve ser levado em conta o isolamento, pela distância ou barreiras físicas, de plantas de tomate, pimentão ou outras hospedeiras atacadas pela doença, pois os conídios do fungo são eficientemente disseminados pelo vento. A medida mais eficiente de controle tem sido o emprego de fungicidas aplicados preventivamente ou após o aparecimento dos primeiros sintomas. Neste caso, devem-se utilizar apenas fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura do tomateiro, além de realizar a aplicação dos produtos químicos, de modo a preservar o aplicador, o consumidor e o meio ambiente (Reis & Lopes, 2009).
A doença sem muita importância, por que pode ser controlada facilmente com fungicidas registrados para o controle de Oídio. Produtos com base de enxofre estão entre os recomendados. (Tokeshi et al., 1980).
O controle químico recomenda-se a utilização de produtos à base de enxofre, mas não devem ser aplicados nas horas mais quentes do dia, sendo a pesquisa realizada no site da agrofit e não havendo nenhum produto registrado e recomendado para o controle da doença em tomateiro (Agrofit, 2010).

LITERATURA CITADA
AGROFIT. Disponível em: acessado em: 24 de outubro de 2010

WELT, S. Oídios del tomate. In: STADNIK, M. J. & RIVERA, M. C. (Ed.) Oídios. Jaguariúna, SP: Embrapa Meio Ambiente, 2001. p. 306-309.

CAFÉ FILHO, A. C.; COELHO, M. V. S.; SOUZA, V. L. Oídios de hortaliças. In: STADNIK, M. J.; RIVERA, M. C. (Ed.). Oídios. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2001. p. 285-302.
FARR, D.F., & ROSSMAN, A.Y. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, ARS, USDA. Disponível em: acessado em: 24/10/10.
INDEX FUNGORUM. Disponível em: acessado em: 24 de outubro de 2010.

JONES, H.; WHIPPS, J. M.; GURR, S. J. The tomato powdery mildew fungus Oidium neolycopersici. Molecular Plant Pathology, v. 2, n. 6, p. 303-309, 2001.
JONES, J. B.; JONES, J. P.; STALL, R. E.; ZITTER, T. A. Compendium of tomato diseases. St. Paul: APS Press, 1991. 73 p.
KUROZAWA, C.; PAVAN, M. A. Doenças do tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.). In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A,; CAMARGO, L. E. A.; REZENDE, J. A. M. Manual de fitopatologia: volume 2: Doenças das plantas cultivadas. 3. Ed. São Paulo: Ceres, 1997. p. 690-724.

LOPES, C. A.; REIS, A.; BOITEUX, L. S. Doenças fúngicas. In: LOPES, C. A.; ÁVILA, A. C. (Ed.). Doenças do tomateiro. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2005. p. 17-51.

MENDES, M. A. S.; URBEN, A. F.; Fungos relatados em plantas no Brasil, Laboratório de Quarentena Vegetal. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/ michtml/fgbanco01.asp. Acesso em: 24/10/2010.

REIS, A.; BOITEUX, L. S.; FONSECA, M. E. N. Registro de Oidium neolycopersici como agente causal do oídio adaxial do tomateiro no Brasil. Tropical Plant Pathology, Brasília, DF, v. 34, p. S179, 2009. Resumo.

REIS, A.; LOPES, C. A. Oídios do Tomateiro. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2009. Comunicado Técnico 66.

TOKESHI, H.; CARVALHO, P. C. T. Doenças do tomateiro - Lycopersicon esculentum Mill. In: GALLI, F. CARVALHO, P. C. T, TOKESHI, H. BALMER, E, KIMATI, H, CARDOSO, C. O. N, BALGADO, C. L., KRUGNER, T. L, CARDOSO, E. J. B. N., BERGANMIN FILHO, A.: Manual de Fitopatologia, Volume 2 - Doenças das plantas cultivadas. Editora Agronômica Ceres, São Paulo, SP, 1980

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