segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mancha foliar causada por Pseudocercospora vitis (Lév.) Speg. em folhas de uva (Vitis vinifera Linn.)

Bruna Santos de Oliveira

Acadêmica do Curso de Agronomia


1 INTRODUÇÃO


A videira (Vitis vinifera Linn.) vem sendo cultivada desde tempos remotos e parece ser uma das primeiras frutas aproveitadas pelo homem, tendo como centro de origem a região do Mar Cáspio (Simão, 1998). Pertence à família Vitaceae, que possui onze gêneros e aproximadamente 450 espécies. O gênero mais importante é o Vitis, com quase cinqüenta espécies conhecidas, muitas das quais só existem na forma silvestre. Dessas espécies, trinta são originárias do continente norte-americano e as demais, da Ásia Menor até as Índias (Simão, 1998).

As videiras em clima úmido e quente são mais sujeitas a doenças causadas por fungos, sendo que dentre as principais destacam-se a cercosporiose, sendo o agente causal, o fungo em sua fase anamórfica Phaeoisariopsis vitis, porém recentemente mudanças taxonônimas designaram este novo agrupamento válido como Pseudocercospora vitis (Lév.) Speg., causador de manchas e queda das folhas (Simão, 1998; Souza et al., 2008), possui Mycosphaerella punctiformis (Pers.) Starbäck como a fase anamórfica (Index Fungorum, 2010).

As sinonímias do nome atual Pseudocercospora vitis (Lév.) Speg. (anamórfica) são: Cercospora viticola (Ces.) Sacc., Cercospora vitis Sacc., Cercosporiopsis vitis (Lév.) Miura, Cladosporium viticola Ces., Cladosporium vitis (Lév.) Sacc., Isariopsis vitis Lév., Mycosphaerella personata B.B. Higgins, Phaeoisariopsis vitis (Lév.) Sawada, Septonema vitis Lév. E as sinonímias da fase teleomórfica Mycosphaerella punctiformis (Pers.) Starbäck são: Asteromella maculiformis (Sacc.) Petr., Cryptosphaeria punctiformis (Pers.) Grev., Mycosphaerella punctiformis (Pers.) Starbäck, Mycosphaerella salicicola (Fuckel) Johanson ex Oudem., Phyllosticta betulina Sacc., Phyllosticta maculiformis Sacc., Ramularia endophylla Verkley & U. Braun, Sphaerella aequalis (Cooke) Auersw., Sphaerella arcana Cooke, Sphaerella corylaria (Wallr.) Fuckel, Sphaerella maculiformis var. aequalis Cooke, Sphaerella maculiformis var. arcana (Cooke) Auersw., Sphaerella punctiformis Cooke, Sphaerella punctiformis (Pers.) Rabenh., Sphaerella salicicola Fuckel, Sphaerella simulans Cooke, Sphaerella sparsa (Wallr.) Auersw., Sphaeria corylaria Wallr., Sphaeria punctiformis Pers., Sphaeria punctiformis var. hederae Hook., Sphaeria salicicola Fr., Sphaeria sparsa Wallr (Index Fungorum, 2010).

Segundo os dados do Systematic Botany of Mycological Resources (Farr & Rossman, 2010) de levantamento de fungos no mundo, demonstraram em Wisconsin, China, Coréia, Coréia do Sul, América do Norte, Argentina, Flórida, Iugoslávia, Flórida, Austrália, Brasil, Índia, Itália, Carolina do Norte, Suazilândia, Barbados, Bulgária, França, Hungria, EUA, Japão, Maurício, Mianmar, Nova Caledônia, Paquistão, Polónia, África do Sul, Província do Cabo, Taiwan, Tanzânia e Zimbábue, foram identificado o fungo Pseudocercospora vitis associado à Vitis sp e Vitis vinifera.

No Brasil, tem se relatos do fungo em Vitis sp. Linn. nos estados de São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul, e associado a espécie Vitis vinifera Linn. em São Paulo e Ceará (Mendes e Urben, 2010).

Esse trabalho tem como objetivo descrever aspectos relacionados à sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle da cercosporiose da uva.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Amostras de folhas de uva apresentando sintomas, procedentes do município de Urutaí – Goiás, foram encaminhadas ao Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano – campus Urutaí em setembro de 2010.

A técnica utilizada para a diagnose da doença foi a retirada de fragmentos do fungo, por raspagem de algumas folhas contendo os sinais do patógeno. A técnica utilizada chama-se “pescagem direta”, que consiste em raspar as folhas com o auxílio da agulha (seringa) e pinça, depositar o tecido com sinal na lâmina contendo gotas de fixador a base de azul de metileno, posteriormente a deposição da lamínula e sua vedação com esmalte. A diagnose da doença e a identificação do patógeno foram feitas com base nos sintomas e na observação das estruturas fúngicas em microscópio ótico.

Os sintomas da planta foram fotografados, primeiramente utilizando microscópio estereoscópio (lupa) utilizando câmera digital Samsung® modelo Lens ES17 e os sinais foram microfotografados, para a confecção da prancha de fotos utilizando câmera Canon® modelo Power Shot A580.

Ao final foram analisadas as características morfométricas e morfológicas do fungo em estudo, utilizando as lâminas já confeccionadas anteriormente. Os caracteres morfométricos analisados foram as dimensões (comprimento e largura) dos conídios, conidióforos, estroma e o tamanho das lesões. Já os caracteres morfológicos são a presença de septos, número de septos e a uniformidade conidial (tabela 1).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Hospedeiro/cultura: Uva (Vittis sp. Linn.)

Família Botânica: Vitaceae

Doença: Cercosporiose da uva ou mancha das folhas

Agente Causal (teleomorfo): Pseudocercospora vitis (Lév.) Speg.

Local de Coleta: Município de Urutaí - GO

Data de Coleta: 10/09/10

Taxonomia: A fase teleomórfica pertence ao Reino Fungi, Divisão Ascomycota, Classe Dothideomycetes, Ordem Capnodiales, Família Mycosphaerellaceae (Index fungorum, 2010).

Sintomatologia: Os sintomas se manifestam em todos os órgãos aéreos das plantas, principalmente nas folhas, onde são bastante característicos. Os tecidos jovens, verdes e suculentos são mais suscetíveis. Nas folhas o sintoma típico é caracterizado por pequenas manchas bem definidas de contorno irregular e coloração inicialmente castanho-avermelhada (Fig.1C), que mais tarde evoluem para pardo-escuras. As manchas podem atingir até 2 cm de diâmetro e apresentam um halo amarelado ou verde claro bem visível, sendo normalmente muito numerosas e podem coalescer; e na face inferior da folha (Fig.1B), no tecido correspondente, observa-se uma coloração pardacenta que são as frutificações do fungo. Não há perfurações nem deformações das folhas. Nas bagas, a doença manifesta-se como manchas circulares, necróticas e isoladas, podendo apresentar cerca de 5 a 8 mm de diâmetro, com centro acinzentado e bordos pardo-avermelhados, conhecidos comumente pelo nome de “olho de passarinho”. As frutificações do fungo se desenvolvem tanto na face superior como na inferior da folha (Fig.1AB). O ataque severo da doença provoca a queda prematura das folhas, com conseqüências sobre o vigor por falta de reservas que seriam acumuladas após a colheita da uva, prejudicando a maturação dos ramos, podendo predispô-los ao ataque de pragas e doenças (Sônego e Garrido, 2010; Kimati et al., 2005).

Etiologia (Sinais): Os esporos de pseudocercospora são bastante longos e multiseptados (Fig.1DE) sendo produzidos nas extremidades de conidióforos (Fig.1F) que se apresentam agrupados em feixes. Os conídios apresentam 5 a 10 septos, 25 a 90 por 5 a 8 µm, formados sobre sinêmios (conidióforos agregados em feixes) de coloração verde oliva (Kimati et al., 2005).

Tabela1 - Comparação de caracteres morfológicos e morfométricos do isolado encontrado com os critérios estabelecidos para Pseudoercospora vitis obtidos por outros autores.

Caracteres de morfologia e morfometria

Espécie em estudo

Chup (1954)

Deighton (1976)

Hsieh & Goh (1990)

Dimensões dos conídios (µm)

22-86,5 x 4-8

20-80 x 4-7

24-99 x 4-8

30-100 x 2-7

Dimensões dos conidióforos (µm)

12-31,5

5-400 x 3-4

200-250 x 3-5,5

30-100x2-7

Dimensões dos estromas (µm)

14-32

n/d

15-35

15-35

Presença de septos (µm)

Presente

Presente

Presente

Presente

Número de septos (µm)

3-12

3-7

3-17

3-17

Tamanho da lesão(µm)

1-5

2-12

1-5

1-5

Uniformidade conidial (µm)

Desuniformes

Desuniformes

Desuniformes

Desuniformes

A doença se desenvolve melhor em condições de alta temperatura e umidade, o que explica a maior ocorrência da doença durante verões chuvosos, aparecendo primeiro nas folhas mais velhas, geralmente no início de maturação da uva, em parreiras que não foram suficientemente tratadas contra míldio. A disseminação dos conídios produzidos nas lesões ocorre principalmente através do vento e por respingos de água de chuva e de irrigação. (Kimati et al., 2005).

A fase perfeita do fungo ocorre em folhas mortas, após o ciclo de produção. Já Pseudocercospora vitis ocorre principalmente no final do ciclo vegetativo da planta em cultivares americanos ou híbridos (Agrofit, 2010).

Práticas de manejo

Bibliografia consultada

AMORIM, L. & KUNIYUKI, H. Doenças da Videira. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. (Eds.) Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. v.2, p. 639-651.

MAIA, J.D.G.; NAVES, R.L.; GARRIDO, L.R.; SÔNEGO, O.R. & KUHN, G.B. Cultivo da Videira Niágara Rosada em Regiões Tropicais do Brasil. Embrapa Uva e Vinho. Sistemas de Produção, 5. ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica. Nov./2003

Pode provocar desfolha precoce, prejudicar a maturação dos ramos e enfraquecer a planta para o ciclo seguinte (Sônego e Garrido, 2010).

Controle: Bibliografia consultadaAMORIM, L. & KUNIYUKI, H. Doenças da Videira. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. (Eds.) Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. v.2, p. 639-651.

MAIA, J.D.G.; NAVES, R.L.; GARRIDO, L.R.; SÔNEGO, O.R. & KUHN, G.B. Cultivo da Videira Niágara Rosada em Regiões Tropicais do Brasil. Embrapa Uva e Vinho. Sistemas de Produção, 5. ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica. Nov./2003
O controle da mancha foliar pode ser feito através da resistência varietal, como as variedades européias de uva que são resistentes a este fungo. Recomenda-se evitar o plantio nas baixadas úmidas e em locais expostos aos ventos frios, eliminar os ramos da poda, formação de quebra-vento durante a implantação do vinhedo. Outro método seria o controle químico, que no caso de ataques severos da doença é recomendado realizar pulverizações no final da maturação com ingredientes ativos de oxicloreto de cobre como os produtos Cupra 500© (aplicação terrestre: 1 a 3 litros de calda por planta), Propose© (aplicação terrestre: 500 a 1000 litros por hectare) e Reconil© (aplicação terrestre: 1000 litros por hectare), mancozeb como o Cuprozeb© (aplicação terrestre: 500 a 1500 litros por hectare), ou tiofanato metílico como o Cercobin 700 WP© (aplicação terrestre: 700 a 1000 litros por hectare), Cerconil SC© (aplicação terrestre: 800 a 1000 litros por hectare), Cerconil WP© (aplicação terrestre: 800 a 1000 litros por hectare), Metiltiofan© (aplicação terrestre: 400 a 1000 litros por hectare), Tiofanato Sanachem 500 CS© (aplicação terrestre: 400 a 500 litros por hectare), Viper 700© (aplicação terrestre: 700 a 1000 litros de calda por hectare), sendo que todos os produtos citados á cima estão registrados no Ministério da Agricultura para a cultura da uva. A freqüência das aplicações varia com as condições climáticas, sensibilidade da cultivar e com o fungicida utilizado. Durante a condução da cultura, os tratamentos efetuados para controlar a antracnose e o míldio são suficientes para controlar também esta doença (Agrofit, 2010; Kimati, 2005).

Figura 1. Mancha foliar causada por Pseucocercospora vitis em folhas de uva (Vitis sp.). A. Sintoma de mancha necrótica na parte adaxial da folha; B. Parte abaxial da folha apresentando sintomas; C. Detalhe do formato e da cor da lesão em microscópio estereoscópio; D. Conídio apresentando septos (bar= 24µm); E. Conídio longo e multiseptado(bar=30µm); F. Conidióforo apresentando forma irregular na extremidade e presença de estroma(bar= 42µm).

4 LITERATURA CITADA

AGROFIT – Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: setembro de 2010.

CHUPP, C. A monograph of the fungus genus Cercospora.605p, 1954.

DEIGHTON, F.C. Studies on Cercospora and allied genera. VI. Pseudocercospora Speg., Pantospora Cif. and Cercoseptoria Petro. Mycological paper. pg.131.140, 1976.

FARR & ROSMAN, SBML Systematic Botany of Mycological Resources. Disponível em: http://www.ars.usda.gov/main/site_main.htm?modecode=12-75-39-00. Acesso em: setembro de 2010.

HSIEH, W.H. e GOH, T.K Cercospora and similar fungi from Taiwan; 353p, 1990.

INDEX FUNGORUM. Disponível em: http://www.indexfungorum.org/Names/Na-mes.asp. Acesso em: setembro de 2010.

KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. (Eds.) Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. v.2, p. 639-651.

MENDES, M. A. S.; URBEN, A. F.; Fungos relatados em plantas no Brasil, Laboratório de Quarentena Vegetal. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbanco01.asp. Acesso em: setembro de 2010.

SIMÃO, SALIM. Tratado de fruticultura. - Piracicaba: FEALQ, 1998. 760p.

SÔNEGO, O.R.; GARRIDO, L.R. Uvas americanas e híbridas para processamento em clima temperado. Embrapa Uva e Vinho. Disponível em: http://sistemasdeprodu-cao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Uva/UvaAmericanaHibridaClimaTemperado/autores.htm#olavo. Acesso em: setembro de 2010.

SOUZA, E.S.C., ARAÚJO, R.C.A., MAFFON, H.P., MENDES, K.F., OLIVEIRA, K.A., BRANDÃO, G.O. & PAZ LIMA, M.L. Phaeoisariopsis vitis infectando folhas de Vitis vinifera no Distrito Federal. Tropical Plant Pathology 33 (suplemento):234, 2008.

2 comentários:

  1. Só uma correção amigo, as uvas americanas são "Vitis labrusca"



    Fonte: EMBRAPA UVA E VINHO

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  2. Exatamente , na verdade o titulo do trabalho já está equivocado, já que as variedades européias "Vitis vinifera" são imunes, veja bem esse é o titulo do trabalho"Mancha foliar causada por Pseudocercospora vitis (Lév.) Speg. em folhas de uva (Vitis vinifera Linn.) "
    E eis a citação de controle "O controle da mancha foliar pode ser feito através da resistência varietal, como as variedades européias de uva que são resistentes a este fungo."
    Na verdade o único erro foi da designaçaõ da espécie utilizada.
    Mas um bom trabalho. Parabéns

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