quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Boletim Técnico: Ferrugem incidente em folhas de orelha-de-rato Dichondra repens J.R. Forst. & G. Forst. causada por Puccinia dichondrae Mont.


Leonel Teixeira Junior
Acadêmico do Curso de Agronomia
INTRODUÇÃO

A orelha-de-rato (Dichondrae repens) é uma planta da família Convolvulaceae tem seu ciclo de vida perene, é uma erva prostrada, rizomatosa e de textura herbácea, semelhante aos trevos (PLANTASONYA, 2011).
Sua ramagem é arroxeada e bastante ramificada. As folhas são reniformes (em forma de rim), arredondadas, como orelhas de rato, o que lhe valeu o nome popular (PLANTASONYA, 2011).
A orelha-de-rato é uma excelente forração, substituindo o gramado com maestria, principalmente em locais semi-sombreados (PLANTASONYA, 2011).
Não tolera o frio, geadas ou estiagem prolongada. De baixa manutenção, exige duas fertilizações por ano e cortes mensais. Multiplica-se por sementes ou por divisão da ramagem enraizada. Em alguns casos pode tornar-se invasiva (PLANTASONYA, 2011).
Segundo Mendes e Urben (2011) a planta Dichondrae repens é infectada no Brasil por: Meliola malacotricha Speg., Puccinia dichondrae Mont. e Sclerotium rolfsii Sacc.
A ferrugem da orelha-de-rato (Puccinia dichondrae Mont.) foi identificada pela primeira vez no continente americano, no Chile em 1852 (INDEX FUNGORUM, 2011).
De acordo com Index fungorum (2011) Puccinia dichondrae possui como sinonímias os seguinte nomes Dicaeoma dichondrae (Mont.) e Micropuccinia dichondrae (Mont.).
            As ferrugens são denominadas assim em razão das lesões amareladas, de aspecto ferruginoso, atacando uma grande variedade de hospedeiros. As ferrugens podem ter ação devastadora sobre seu hospedeiro, e tem sido reconhecida pelo homem desde a antiguidade (BEDENDO, 1995).
            O gênero Puccinia é o maior do Pucciniales e é considerado um dos gêneros de fungos biotrófico economicamente mais destrutivos. Os membros deste gênero são patógenos sérios em todas as principais espécies de cereais, exceto a culturas de arroz (BROADINSTITUTE, 2011).
                Os danos causados às plantas pelo gênero Puccinia são irreparáveis partindo do ponto de que os tecidos vegetais afetados não têm capacidade regenerativa (JARDINEIRO, 2011).
O fungo pertence ao Reino Fungi, Sub-reino Dikaria, Filo Basidyomicota, Subfilo, Pucciniomycotina, Classe Pucciniomycetes, Sub-classe Incertae sedis, Ordem pucciniales, Família Pucciniaceae, Gênero Puccinia sp., Espécie Puccinia Dichondrae (INDEX FUNGORUM, 2011).
Em resumos dos anais do Congresso de Fitopatologia não foi encontrado literatura referente ao fungo Puccinia dichondrae.
            O presente trabalho tem como objetivo identificar, descrever e apontar sintomatologia, etiologia, epidemiologia e medidas de controle de Puccinia dichondrae infectando orelha-de-rato (Dichondrae repens).

            MATERIAIS E MÉTODOS

            O trabalho foi conduzido no laboratório de microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí. As amostras de orelha-de-rato (Dichondra repens) foram coletadas na cidade de Bento Gonçalves - RS, após a coleta foram colocadas entre folhas papel para o transporte do material até o laboratório do campus Urutaí.
Deu-se inicio as atividades começando pelo registro fotográfico de sintomas ao ar livre ou com o auxílio de uma cartolina branca. No microscópio estereoscópico foram realizadas microfotografias ampliadas para melhor visualização dos sinais e sintomas para facilitar a identificação e caracterização da ferrugem da orelha-de-rato.
            Para o preparo de lâminas semi-permanentes foi utilizado o método de “pescagem direta” onde coletou-se os teliósporos e os depositou sobre uma lâmina com uma gota do fixador cotton-blue, constituído por 2,6 mL de ácido acético, 62,5 mL de ácido lático, 100 mL de glicerina, 100 mL de água destilada. O corante apresentou uma diluição de 1 g para 10 mL de etanol 70 %. Em seguida colocou-se uma lamínula sobre a lâmina, limpou-se o excesso do fixador com papel higiênico e vedou-se com esmalte.
            Para o preparo do corte histológico foi utilizado gilete e parte do tecido com presença de estruturas do fungo e lesão. Os cortes foram realizados com auxílio do microscópio estereoscópico e colocados em uma lâmina contendo fixador, cotton-blue, e vedados com esmalte.
            Todas as lâminas foram analisadas no microscópio óptico com objetivo de visualizar estruturas do fungo e suas fases de desenvolvimento. As microfotografias foram feitas com câmera digital Canon® modelo Power Shot A580 e editadas com o programa Office Picture Manager. As fotografias foram agrupadas utilizando o programa da Microsoft Office Power Point 2007.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Hospedeiro/cultura: Orelha-de-rato (Dichondra repens J.R. Forst. & G. Forst.).
Família Botânica: Convovulaceae
Doença: Ferrugem da orelha-de-rato
Agente Causal: Puccinia dichonndrae Mont. (1852).
Local de Coleta: Bento Gonçalves - RS
Data de Coleta: 18/08/2011
Taxonomia: O fungo pertence ao Reino Fungi, Sub-reino Dikaria, Filo Basidyomicota, Subfilo, Pucciniomycotina, Classe Pucciniomycetes, Sub-classe Incertae sedis, Ordem pucciniales, Família Pucciniaceae, Gênero Puccinia, Espécie Puccinia Dichondrae (INDEX FUNGORUM, 2011).

SINTOMATOLOGIA
           
            As plantas doentes tem seu processo fotossintético afetado tanto pela retirada de nutrientes promovida pelo fungo como pela destruição da área foliar decorrente da formação de pústulas (89,3-155,1µm) e da queda de folhas provocada pelo patógeno (BEDENDO, 1995).
Os sintomas aparecem em qualquer fase de desenvolvimento da planta nas folhas, são caracterizados por apresentarem pontos escuros e protuberantes na face abaxial da folha denominados télia. Provoca uma ferrugem pulverulenta de coloração marrom nas folhas de algumas espécies de Dichondra sp (SARROCCO et al., 2009).
            A protuberância (Télia) adquire uma coloração marrom escuro e em seguida abre-se um minúsculo poro, por onde são liberado os teliósporos que, quando espelidos acumulam-se ao redor da télia ou são levados pelo vento (SARROCCO et al., 2009).As estruturas de frutificação do fungo são bem visíveis na face abaxial da folha, devido ao acúmulo de teliósporos ao redor da télia (Fig.1C) (SARROCCO et al., 2009).
De acordo com a incidência da ferrugem, o tecido na face adaxial da folha apresenta coloração amarelada e os sintomas são mais visíveis (Fig 1B) (SARROCCO et al., 2009).
ETIOLOGIA

Segundo Farr & Rossman (2011) Puccinia dichondrae é um fungo que apresenta alta especialização com relação ao hospedeiro infectando apenas plantas do mesmo gênero e espécie.
Atuam como parasitas obrigatórios e como todas as ferrugens não apresentam fase saprófita em seu ciclo vital. São parasitas evoluídos capazes de colonizar intercelularmente os tecidos vegetais e retirar nutrientes diretamente do interior das células (BEDENDO, 1995).
O télio, que surge a partir do urédio, quando este cessa a produção de urediniósporos, passa a produzir esporos também dicarióticos, de parede espessa, denominados teliósporos. Estes podem atuar durante algum tempo como estruturas de sobrevivência (BEDENDO, 1995).
O fungo Puccinia dichondrae possui teliósporos bicelulares (22,5-37,5µm x 12,5-22,5µm) de coloração pardo a marrom avermelhado (Fig. 1GH) com papila em forma de cone, hialina e com aproximadamente 2,5-5 µm de profundidade (Fig. 1H.1), pedicelos filiformes e hialinos  (2,5-7,5 µm x 2,5-5 µm) (Fig. 1h.2). Alguns teliósporos possuem duas papilas sendo chamados bipapilares (Fig. 1I). A parede celular é lisa e bastante espessa (Fig. 1GH). Inicialmente os teliósporos formados no interior da télia (180-260 µm x 210-340 µm) são hialinos e progressivamente vão adquirindo coloração escura (Fig. 1G).
A télia é de coloração marrom avermelhado, hipófila e subepidérmica (Fig. 1D) encontrada na face abaxial da folha (Fig. 1A), recobrindo quase toda a superfície. Ela forma uma crosta com mais de uma camada de teliósporos (Fig.1 C) e possui um único poro por onde são liberado os teliósporos (Fig.1EF).
 
Dimensões em µm das estruturas de Puccinia dichondrae comparado com SARROCCO et al., (2009)

Dimensões obtidas
SARROCCO et al., (2009)

Teliósporos
22,5-37,5 x 12,5-22,5
9,4-18,8 x 18,8-37,6

Pedicelo
2,5-7,5 x 2,5-5,0
7,05-23,5 comprimento

Papila profundidade
2,5-7,5
______

Télia
180-260 x 210-340
89,3 x 155,1







Figura 1. Ferrugem (Puccinia dichondrae) incidente em folhas de orelha-de-rato (Dicondra repens). A. sintoma na face abaxial, B. sintomas na face adaxial, C. detalhe das pústulas na face abaxial, D. corte transversal do mesófilo foliar, visualizando a télia (bar = 190mm), E. corte transversal do mesófilo em detalhe para visualização da télia próximo a abertura do poro (bar = 149mm), F. estrutura telial contendo teliósporos (bar = 97mm), G. teliósporos bicelulares (bar = 17,5mm). g. teliósporo jovem hialino.  H. teliósporo em detalhe (bar = 16mm), h.1. detalhe da papila, h.2. detalhe do pedicelo, I. teliósporo bipapilar seta (bar = 20,6mm).


 
EPIDEMIOLOGIA

Puccinia dichondrae é um patógeno que atua como parasita obrigatório e como todas as ferrugens não apresenta fase saprófita em seu ciclo vital (BEDENDO, 1995).
A relação patógeno hospedeiro é bastante especifica e ocorre a nível de gênero e espécie segundo Farr & Rossman (2011).
Os teliósporos são transmitidos principalmente através do vento, pois na superfície foliar apresentam-se em uma camada pulverulenta. Como as plantas se desenvolvem muito próximas uma das outras, forma-se assim uma maneira pelo qual o fungo possa disseminar, através do contato físico. A água também é um método de disseminação do fungo, tanto a chuva quanto a irrigação podem favorecer a infestação da doença (BEDENDO, 1995).
No Brasil Puccinia dichondrae infecta as seguintes hospedeiras, Dichondra repens J.R. Forst. & G. Forst., Dichondra sericea Sw. e Dichondra sp. J.R. Forst. & G. Forst. (MENDES e URBEN, 2011).
As condições favoráveis para as ferrugens são de clima úmidos e com temperaturas entre 20-25C. Para que germinem exige umidade por volta de 95% sendo maior a disseminação e infecção em épocas de período chuvoso (BEDENDO, 1995).
De acordo com Farr & Rossman (2011) foram feito 59 registros de Puccinia dichondrae no mundo infectando as seguintes hospedeiras: Dichondra brevifolia na Nova Zelandia (Pennycook, 1989; Cunningham, 1931; McKenzie, 1998), infecta Dichondra carolinensis em Bermudas (Whetzel, 1928), EUA (Hanlin, 1966; Alfieri et al. 1984; Grand,     1985 ); infecta também Dichondra micrantha na Nova Zelândia (Pennycook, 1989; McKenzie, 1998), Dichondra repens na  Argentina (Lindquist, 1982), na  Austrália (Sampson, 1982; Cook, and Dubé, 1989; McAlpine, 1906), no Brasil  (McAlpine, 1906; Mendes et al., , 1998) nos EUA (Anonymous 1960; Anonymous 1931-1970; Blasdale, 1919) no Chile ( Mujica, Oehrens, 1967; Mujica, Vergara, 1945; Sarrocco et al., 2010) no Equador (Jorstad, 1956) na França (Cardin et al.,2005) na Itália (Cardin et al., 2005 , Sarrocco, et al.,2010) na Kenya (Nattrass, 1961) na Nova Zelândia (Pennycook, 1989, Cunningham, 1931; McKenzie, 1998) na África do Sul (Gorter, 1981; Crous  et al., 2000) Southern Africa (Doidge, 1950) no EUA (Anonymous, 1960) no Uruguay (Lindquist, 1982, Lindquist et al., 1967) Dichondra repens var. carolinensis: nos EUA (Parris, 1959) Dichondra sericea encontrada na Argentina  (Hernandez, Hennen, 2002)  no Brasil (Hennen et al.,1982; Mendes et al.,1998; Hennen, et.al., 2005) no Chile (Mujica, Vergara, 1945; Hennen  et al., 2005; Sarrocco,  et al., 2010) na Guatemala (Arthur, 1918) Dichondra sp.: na  Argentina (Hernandez, Hennen,  2002) na Bolívia (Jackson, 1931; Lindquist, 1982) no Brasil (Hennen, et.al.,1982; Mendes, et al., 1998; Hennen, et al., 2005) nos EUA (French,  1989) no Chile  (Mujica, Vergara, 1945; Jackson, 1931; Lindquist, 1982) e no EUA (Alfieri et al., 1984).
Quanto a suscetibilidade todas as plantas do gênero Dichondrae apresentam mesmo grau suscetível. Porem pode variar de acordo com o clima da região e condições que favorecem a germinação dos esporos (BEDENDO, 1995).
A doença não apresenta sintomas diferentes em outras hospedeiras, devido sua especificidade as espécies do gênero Dichondrae (MENDES e URBEN, 2011).

CONTROLE

Segundo o Agrofit, 2011 não há registros disponíveis para o controle químico de Puccinia dichondrae infectando Orelha-de-rato. Mas existe moléculas não registradas para Dichondra repens que controlam Puccinia sp.
Não há registros na literatura para o controle da ferrugem da orelha-de-rato, porém alguns cuidados podem ser tomados com a finalidade de diminuir ou eliminar a doença, como, a eliminação de plantas infectadas quando se trata de cultivo ornamental ou até mesmo a eliminação total das plantas, pois se trata de um parasita obrigatório especifico do gênero Dichondra (BEDENDO, 1995).
Como método de controle cultural a rotação e eliminação das plantas do gênero Dichondra pode ser eficiente.
Por se tratar de uma planta infestante ou cultivada como cobertura de solo e não apresenta potencial econômico expressivo, a utilização de controle genético torna-se inviável.

 
LITERATURA CITADA

AGROFIT disponível em: acessado em: 29/10/2011.
BEDENDO, I. P., Ferrugens. BERGAMIM, FILHO A., KIMATI, H., AMORIM, L. Manual de fitopatologia vol.1 3 ed. Editora agronômica Ceres. São Paulo, 1995.
BROADINSTITUTE disponível em: acessado em: 10/10/2011.
FARR, D.F., A.Y. ROSSMAN, M.E. PALM & E.B. MCCRAY. (n.d.). Fungal Databases, Systematic Botany and Mycology Laboratory, ARS, USDA. Retrieved October 10, 2011, from. Disponível em:< http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/>. Acessado em 20/10/2011
INDEX FUNGORUM disponível em: acessado em: 23/10/2011.
JARDINEIRO disponível em:   acessado em: 23/10/2011.  
MENDES, M. A. S.; URBEN, A. F.; Fungos relatados em plantas no Brasil, Laboratório de Quarentena Vegetal. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Disponível em: Acesso em: 20/12/2011.
PLANTASONYA disponível em: acessado em: 17/10/2011.
S. Sarrocco, M. Vergara and G. Vannacci* SARROCCO, S.; VERGARA, M. e VANNACCI, G. Relatório confirmou pela primeira vez a ferrugem Puccinia dichondrae em folha de Dichondra repens na Itália. Plant Pathology Section, Faculty of Agriculture, University of Pisa, I-56124, Pisa – Italy, 2009.



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