quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Boletim Técnico: Cercosporiose incidente em folhas de Sansão do campo (Mimosa caesalpineafolia Benth) causado por Mycovellosiella robbsii Barreto & Marini

Felipe Soares de Paula
Acadêmico do curso de Agronomia

1. INTRODUÇÃO
O Sansão-do-Campo (Mimosa caesalpineafolia Benth) pertence família Fabaceae, divisão Angiospermae de origem brasileira com ciclo de vida perene é uma planta espinhenta de 5 a 8m de altura, dotada de copa baixa e densa, com tronco de 20 a 30 cm de diâmetro, revestido por casca com ritidoma escamoso. Folhas alternas espiraladas, estipuladas, compostas. As flores são pequenas, com longos estames, de coloração branca-creme, reunidas em espigas cilíndricas. Os frutos são do tipo legume (vagem), com cerca de nove cm de comprimento e contendo 5 a 6 sementes por vargem (LORENZI, 2008).
 Originário do semi-árido nordestino, possui crescimento é muito rápido e com cerca de dois anos já forma uma cerca viva imponente. É indicada também como quebra-vento, e está sendo largamente utilizada com esta finalidade em pomares comerciais, como de laranjas. Por ser uma leguminosa, o sansão-do-campo, fornece forragem de elevado valor protéico, e é uma das importantes alternativas para a alimentação de caprinos. Quando implantada em pastagens, como cerca - viva, deve ser protegida dos animais, pelo menos no primeiro ano. Atinge altura máxima de 8 metros (LORENZI, 2008).
O sansão-do-campo é uma árvore de crescente popularização, utilizado principalmente como cerca - viva. A madeira do sansão-do-campo também é bastante explorada. Ela caracteriza-se por ser dura, pesada, compacta, resistente a cupins, e muito durável mesmo quando enterrada. Dela podem ser feitas estacas, moirões, dormentes, postes, porteiras, carvão, etc. Devido à facilidade de propagação, pode se tornar invasiva em áreas desmatadas (LORENZI, 2008).
As cercosporioses são doenças cujo agente pertence ao grupo que é composto de muitos gêneros, além obviamente do gênero Cercospora sp. As cercosporioses são doenças muito comuns em regiões quentes ou durante o verão, pois, é favorecida por temperaturas acima de 25ºC e umidade do ar acima de 90%. Plantas com estresse são mais sensíveis à doenças. São transmitidas por sementes, sendo, desta maneira, disseminada a longas distãncias. A curtas distãncias, esporos do patógeno são espalhados pelo vento.(BERGAMIN FILHO et al.,1995).
O nome mais antigo disponível para este grande complexo de táxons morfologicamente indistinguíveis de Cercospora é Cercospora apii. Esta abordagem foi questionada por Chupp (1954), que afirmou em sua monografia que espécies de Cercospora são geralmente específicas. Chupp (1954) posteriormente formulou o conceito de que "uma espécie de Cercospora é específica ao gênero ou família da planta hospedeira", esse conceito levou à descrição de um grande número de espécies com base no hospedeiro identificado, levando a criação de mais de 3000 nomes que foram listados por Pollack (1987). Um total de 659 espécies de Cercospora foi reconhecido, com mais 281 sendo referidas sinonímias de C. apii. Esta decisão foi apoiada por vários experimentos de inoculação que foram realizados no complexo C. apii e que levantou dúvidas quanto à especificidade do hospedeiro e existia dentro deste complexo. Até o momento apenas algumas espécies, pertencentes a C. apii foram cultivados, e os dados moleculares abordando a especificidade ao hospedeiro dentro deste complexo ainda está faltando. Três cenários são possíveis ao examinar a associação de espécies hospedeiras de taxas pertencentes ao complexo C. apii. O primeiro cenário é que uma única espécie de Cercospora sp. ocorre em uma ampla gama de hospedeiros, a segunda é que existem várias espécies com sobreposição de critérios morfológicos e o terceiro é que algumas espécies de Cercospora são específicas, enquanto outras não (HLLIS e BOL, 1971).
O gênero Mycovellosiella possui 200 espécies descritas no Index ffungorun 2011.
Barreto & Marini (2002) descreveram pela primeira vez a ocorrência e  propuseram a nova espécie do agente causador da mancha foliar do sansão do campo como sendo M. robbsii.
O fungo M. robbsii pertence ao Reino Fungi, Divisão Ascomycota, Classe Dothideomycetes, Ordem Capnodiales, Familia Mycosphaerellaceae, gênero Cercospora sp. (INDEX FUNGORUN, 2011).
O presente trabalho tem como objetivo identificar e descrever a cercosporiose em sansão-do-campo, causada por Mycovellosiella robbsii destacando também os sintomas, etiologia, epidemiologia e controle.

 2. MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi feito no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí.
As amostras de folhas de sansão-do-campo infectadas com cercosporiose foram coletadas na área do Instituto Federal Goiano campus Urutaí no mês de agosto de 2011. Estas foram levadas para o Laboratório de Microbiologia e colocadas em uma caixa do tipo Gerbox com papel filtro e água destilada, para o desenvolvimento das colônias fúngicas. Após 48h (quarenta e oito horas) apanhou-se as folhas da caixa e levou-as para a visualização em microscópio estereoscópico, com a finalidade de se encontrar propágulos fúngicos. Os propágulos foram coletados da superfície foliar com o auxílio de uma pinça e colocados em uma lâmina contendo uma gota de fixador lactofenol cotton-blue, em seguida colocou-se uma lamínula sobre a lâmina. Para visualização dos mesmos retirou-se o excesso de corante com papel higiênico, logo após vedou-se com esmalte e levou o conjunto para visualização em microscópio óptico.
A diagnose da doença e a identificação do patógeno foram feitas com base nos sintomas e na observação das estruturas fúngicas em microscópio ótico.
Foram realizados cortes histológicos utilizando lamina, onde os fragmentos foram depositados no fixador, sendo depositada sobre os fragmentos uma lamínula. Os sintomas da planta foram fotografados, primeiramente utilizando microscópio estereoscópico (lupa) e os sinais foram microfotografados utilizando câmera digital Samsung, para a confecção da prancha de fotos. Para esse trabalho foram realizadas microfotografias das estruturas fúngicas no microscópio ótico e das frutificações fúngicas na epiderme das folhas no microscópio estereoscópico, utilizando câmera digital Canon® modelo Power Shot SD750.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Hospedeiro/cultura: Sansão do campo (Mimosa caesalpineafolia Benth).
Família Botânica: Fabaceae
Doença: Cercosporiose (mancha foliar)
Agente Causal (Anamorfo): Mycovellosiella robbsii (BARRETO & MARINI 2002) Teliomorfo: Mycosphaerella sp. (INDEX FUNGORUM, 2011).
Local de Coleta: Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí                                   
Data de Coleta: 20/08/2011
Taxonomia: A forma Anamórfica pertence à Divisão Ascomycota, Classe Dothideomycetes, Ordem Capnodiales, Familia Mycosphaerellaceae, Reino Fungi. (ÍNDEX FUNGORUM, 2011).

Sintomatologia:
Plantas infectadas (Fig.1A) começaram a mostrar sintomas da doença oito dias após a contaminação com coloração clorotica e evoluindo para sintomas necroticos e o desenvolvimento dos sintomas (Fig.1D) e lento (até 24 mm diam em 19 dias). Inicialmente uma área fraca clorótica (Fig. 1B) aparece nas folhas e após alguns dias as lesões necróticas ficam generalizadas nas folhas e no centro das lesões pode se observar a presença de estroma. (BARRETO & MARINI, 2002).
Lesões em folhas vivas apresentam de 2-24 mm de largura, irregulares e subcirculares (Fig.1E) com uma periferia clorótico, nas lesões se observa um halo aquoso algumas vezes coalescente formando uma área necrosada unindo e levando à necrose de uma extensa da área foliar (Fig. 1C) e, finalmente, a queda das folhas. (BARRETO & MARINI, 2002).
Etiologia (sinais)
O gênero Mycovellosiella apresenta colônias efusas, marrom acinzentada ou marrom-escura e aveludada, micélio em parte superficiais, em parte imersos, estroma nomo ou rudimentar, Conidióforos macronematous ou semi-macronematous, geralmente muito ramificado, flexíveis, entrelaçamento, às vezes formando cordas de escalada com freqüência sobre os cabelos folha, pálido ou marrom Olivaceous, células conidiogênicas terminal, tornando-se simpodial, cilindrica ou clavadas, cicatrizada; às vezes pré conídios concatenar, correntes, muitas vezes ramificadas, simples, cilíndricas com extremidades arredondadas, estreitamente elipsoidal, fusiformes ou clavados, de cor marrom pálido ou marrom oliváceo, liso, geralmente 0-3 septos, mas ocasionalmente com mais de 3 septos. (ELLIS, 1991)
O fungo M. robbsii possui conídios (Fig. 1L) hialinos ou cinza, filiformes, retos ou ligeiramente curvados, os conídios são solitários, atenuados em direção ao ápice, muitas vezes, truncado na base com uma cicatriz larga, plana, conídios multisseptados (Fig.1I), incolor ou castanho claro. Ocasionalmente contritos, seu ápice sub-acutato, arredondado ou sub-truncado e base sub-truncada e são parasitárias em plantas superiores causadoras de manchas foliares. Micélio imerso na maior parte. Estroma presente com diametro 2,0-6,5 mm (Fig. 1F) apresenta Conidióforos (Fig. 1H) pálidos, em tufos, retas e flexíveis, raramente ramificados, marrons olivácea a marrom hialina, visível para o ápice. Apresenta dois tipos conidióforos anfígenos: o primeiro é fasciculado surgindo através da abertura de estômatos ou explosão através da cutícula, reto ligeiramente curvado e flexivel, e muito raramente ramificada 17,0-39,0 x, 3,0-4,0 µm, 1-5 septados, castanho, liso é o outro conidióforo oriundo do micélio externo, ligeiramente reto, não ramificado, possui de (12,5-31,5 x 3-5 µm) 0-3 septos, possui coloração marrom, superfície lisa. As células conidiogênicas (Fig. 1G) são terminais poliblásticas, simpodial. (BARRETO & MARINI, 2002).




 Figura1: Cercosporiose (Mycovellosiella robbsi) incidente em folhas de sansão do campo (Mimosa caesalpineafolia). A. Planta com sintoma no campo B. Lesões poligonais, escuras, marrons com halos cloróticos, C. Lesões confluentes de coloração marrom, D. Detalhe da lesão na fase adaxial (bar= 5,6 μm), E. Sinais no centro da lesão (Bar= 16,3 μm), F. Estroma (Bar=22,3 μm), G. Célula conidiogênica cicatrizada (Bar=4,5 μm), H. Célula basal, conidióforo e conídio (Bar=16,4 μm), I. Conídios multisseptados (Bar= 13,2), j. Conídio em estádio de germinação (Bar=14,3 μm), L. Conídio (Bar=20,4 μm).

Epidemiologia
Esporulação do fungo e observada nos tecidos necróticos das manchas nas folhas. Folhas infectadas caem posteriormente e produzem colônias idênticas  fonte de inoculos para a propagação da doença. O desenvolvimento das lesões sob as condições de período seco e relativamente lento, mais há doença especialmente no final da temporada de chuvas tropicais e onde a doença vem causando danos consideráveis ​​à folhagem de M. caesalpiniaefolia Benth no campo em qualquer estagio de desenvolvimento. Essa doença muito comun em regiões quentes ou durante o verão, pois, é favorecida por temperaturas acima de 25ºC e umidade do ar acima de 80%. Plantas com estresse são mais sensíveis à doenças. São transmitidas por sementes, sendo, desta maneira, disseminada a longas distãncias. As curtas distancias, esporos do patógenno são espalhados pelo vento e pela chuva. (BARRETO & MARINI, 2002).
Foi relatada a ocorrência de Mycovellosiella robbsii causando doença em sansão do campo na cidade de Caldas novas e Urutai, GO. (REZENDE, 2011).
O gênero Cercospora sp. é representado por aproximadamente 3.202 (três mil duzentos e dois) componentes sendo que muitos destes são causadores de danos às plantas, (INDEX FUNGORUM, 2011).
Foi relatado no mundo 13 gêneros de cercosporioses incidindo em plantas do gênero Mimosa sp, No mundo foi verificada, no Brasil (Braun & Freire, 2004), Equador (Chupp, 1953), Austrália (Hyde & Alcorn, 1993), cuba (Braun & Castaneda-Ruiz, 1991), Porto Rico (Stevenson, 1975), Colômbia (Chardon & Toro 1930), Argentina (Chupp, 1953), Índia (Yen, 1964), Jamaica, ( Sutton, 1993), Estados Unidos (Thaung, 1984) e Ilhas Virgens (Stevenson, 1975), mas não foi relatado nenhuma ocorrência do fungo M. Robbsii em Mimosa caesalpineafolia. (FARR & ROSSMAN, 2011).
Não foi encontrado na pesquisa em literatura nenhuma outra planta em que o fungo M. robbsii possa causar doença ou se hospedar.
Controle
O principal método de controle da cercosporiose é o químico mas o não possui produto registrado para M. robbsii. No entanto, uma prática alternativa é manejar a nutrição mineral para aumentar a resistência à doença (MARSCHNER, 1995).
O método de controle das cercosporioses, tanto químico quanto cultural, tem proporcionado resultados satisfatórios, porém, o mais eficiente tem sido o uso de cultivares mais resistentes (SOARES & LIMA, 1991).
Um levantamento realizado em mais de quinhentas localidades na China revelou grande variação na taxa de incidência de doenças registrando-se influências de estações do ano e variação da resistência entre as variedades cultivadas. São recomendados, como meios de reduzir a incidência, o uso de variedades resistentes, rotação de culturas, semeadura precoce, boa condução de poda para manter uma boa aeração da parte aerea da planta e o uso de fungicidas apropriados (PAN & YANG, 1999)
Devido a especie Mimosa caesalpineafolia ser uma cultura de baixo interesse comercial o controle biológico para M. robbsii. ainda não esta sendo desenvolvido nenhum estudo ou testes descritos em literatura.
No banco de dados do agrofit- Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários 2011 não existe nenhum relato de produto que possa controlar a M. robbsii em sansão do campo.
É importante frisar que essas práticas de manejo devem ser usadas de forma conjunta, de acordo com as circunstâncias e condições de cada região. É pouco provável que práticas de manejo adotadas de forma isolada sejam eficientes no controle da doença. (BERGAMIN FILHO et al.,1995).
4. LITERATURA CITADA:

AGROFIT – Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários. Disponível em: Acesso em: 4 de novembro de 2011.
BARRETO, R. W & MARINI, F. S, Mycovellosiella robbsii sp. Nov. Causing leaf-spot on Mimosa caesalpiniaefolia. Fitopatologia. Brasileira,  Brasília,  v. 27,  n. 6, nov.  2002.
BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, A. AMORIM, L.; Manual de Fitopatologia. 3ª Ed vol.1 São Paulo: agronômica Ceres, 1995.
CHUPP, C.. Uma monografia do fungo do gênero. Cercospora Ithaca, Nova York: 1954.
ELLIS M. L. Dematiaceous hyfhomycetes, commonwealth mycological institute kew, surrey, england,1991.
FARR, D.F., & Rossman, A.Y. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, ARS, USDA. Retrieved October 5, 2011, from /fungaldatabases/
HILLIS, M.S.; BOL, J.J.; Um teste empírico de bootstrapping como um método para avaliar a confiança na análise filogenética. 1993. Syst 42:182-192 Biol.
INDEX FUNGORUM. Disponível em: Acesso em 03 de Outubro de 2011.
LORENZI, H. Arvores brasileiras, manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil.2008. Vol.01 5ª edição.
MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. 2nd ed. New York. Academic Press. 1995.
PAN, Y.Z.; WANG, J.C. The occurrence and control of peanut leaf spot diseases. Jouranal of Henn Agricultural Sciences, Shangqui, n.6, p.21-22, 1999.
POLLACK F.G. Uma compilação de nomes anotados Cercospora. 1987. Mycol Mem 12:1-212.
REZENDE, B.P.M. ; TAVAREZ, C.J. ; PAZ LIMA, M. L.. Ocorrência de Mycovellosiella robbsii em sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniaefolia) na cidade de Caldas Novas, GO. In: 44 Congresso Brasileiro de Fitopatologia, 2011, Bento Gonçalves, RS. Tropical Plant Pathology. Brasilia, DF : Sociedade Brasileira de Fitopatologia, 2011. V. 36. p. 1191-1191.
SOARES, J.J; LIMA, E.F. Avaliação da resistência de cultivares a Cercosporioses.  Campina Grande: EMBRAPA, 1991. 12p.
 

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