quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Boletim Técnico: Ferrugem da braquiaria Brachiaria decumbens Staf. causada por Uromyces setariae-italicae Yoshino.

Nathalia M. de F. Melo
Acadêmica do Curso de agronomia

1. INTRODUÇÃO

     A Brachiaria decumbens Staf. é uma gramínea pertencente a família botânica Poaceae, conhecida popularmente como braquiária ou capim-braquiária, apresentam-se em todo território nacional, tendo como uso econômico fonte nutricional para pecuária brasileira (RODRIGUES, 2011).
     A planta B. decumbens é originária da região dos Grandes Lagos em Uganda (África). Essa gramínea foi introduzida no Brasil em 1960, onde se adaptou muito bem, principalmente nas áreas dos cerrados. A espécie é vigorosa e perene. É resistente à seca, adaptando-se muito bem em regiões tropicais úmidas. É pouco tolerante ao frio e cresce bem em diversos tipos de solos, porém, requer boa drenagem e condições de média fertilidade, vegetando bem em terrenos arenosos e argilosos (VILELA, 2011).
     Os nomes comuns da B. decumbens segundo o idioma: (Português) braquiária australiana, braquiária comum, braquiária de alho, capim Brachiaria decumbens, (Inglês) “Suriname grass”, “Signal grass”, “Kenya sheep grass”, “Sheep grass”, (Espanhol) B. decumbens, “Pasto alambre”, “Pasto braquiária”, “Pasto chontalpo”, “Pasto de la palizade”, “Pasto de las orillas”, “Pasto peludo”, “Pasto prodígio”, “Zacate prodígio” (VILELA, 2011).
     O ciclo vegetativo da B. decumbens é do tipo perene, seu crescimento é em touceiras, chegando a atingir 1,0 m de altura. Sua forma de uso é para pastagem e eventualmente produção de feno (VILELA, 2011).
     Existem 81 fungos registrados em literatura que afetam a espécie B. decumbens, sendo a sua maioria encontrada no Brasil e outros países como Colômbia, Venezuela, Etiópia, Quênia, Austrália, Uganda, Costa Rica, Equador e Peru (FARR e ROSSMAN, 2011).
     O genero Uromyces sp. é o segundo maior gênero de fungos causadores de ferrugnes. Suas espécies parasitam monocotiledôneas e dicotiledôneas em todo o mundo. Como Graminae, Liliaceae, Euphorbiaceae, Leguminosae entre outras (CUMMINS e HIRATSUKA, 1836). Pertencente ao reino Fungi, divisão Basidiomicota, classe Teliomyces, ordem Uredinales e familia Pucciniaceae (YOSHINO, 1906).
     Existem várias espécies economicamente importantes: ferrugem do feijão (U. appendiculatus (Pers.) Link), ferrugem da ervilha (U. pisi (DC.) G.H. Otth), ferrugem da alfafa (U. striatus J. Schröt.), ferrugem do trevo (U. trifolii-repentis Liro), ferrugem da beterraba (U. betae (Pers.) J.G. Kühn), ferrugem do grão de bico (U. ciceris-arietini (Grognot) Jacz. & G. Boyer), e ferrugem do cravo (U. dianthi (Pers.) Niessl) (CUMMINS e HIRATSUKA, 1836).
     São registrados 478 hospedeiros em diferentes países para o fungo Uromyces setariae-italicae (FARR e ROSSMAN, 2011). 1531 espécies do fungo, sendo 85 variedades e 26 formas especiais (INDEX FUNGORUM, 2011).
     O objetivo deste trabalho é descrever a incidência de Uromyces setariae-italicae em Brachiaria decumbens, enfatizando os processos de sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

      Foram coletadas folhas de Brachiaria decumbens na cidade de Vianópolis - GO, em agosto de 2011, e encaminhadas para o Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí.
     Foram realizados vários procedimentos técnicos para a identificação do fungo presente nas folhas de Brachiaria sp.. As amostras no laboratório foram analisadas inicialmente com o microscópio estereoscópico com a finalidade de se encontrar propágulos fúngicos. Após a visualização foi feita a raspagem direta e a deposição destes propágulos em lâminas contendo gota de fixador lactofenol cotton-blue e em seguida colocou-se a lamínula sobre a lâmina. Retirou-se o excesso de corante com papel toalha e logo após vedou-se com esmalte.      As várias lâminas feitas foram levadas para visualização em microscópio óptico.
Vários cortes histológicos foram feitos, com a finalidade de se visualizar a interação entre o patógeno e a estrutura do hospedeiro em microscopia óptica.
     Para esse trabalho foram realizadas microfotografias das estruturas fúngicas no microscópio óptico e das frutificações fúngicas na epiderme das folhas no microscópio estereoscópico, utilizando câmera digital Canon® modelo Power Shot SD750.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Hospedeiro/ cultura: Brachiaria decumbens Staf.
Família botânica: Poaceae
Doença: Ferrugem
Agente causal: Uromyces setariae-italicae Yoshino
Sinonímia: Uromyces leptodermus Syd. & P. Syd., in Sydow, Sydow & Butler, Annls mycol. 4(5): 430 (1906); Nigredo leptoderma (Syd. & P. Syd.) Arthur, N. Amer. Fl. (New York) 7(4): 224 (1912).
Local de coleta: Vianópolis, GO.
Taxonomia: Reino Fungi, Divisão Basidiomicota, Classe Teliomycetes, Ordem Uredinales, Família Pucciniaceae (Index Fungorum, 2011).
 Sintomatologia: Não observou-se manchas nas folhas e sim pequenas lesões altamente pulverulentas distribuídas em superfície do limbo foliar (Fig. 1A, 1B e 1C). Em áreas com elevada concentração de pústulas notou-se clorose generalizada englobando um conjunto de pústulas (Fig. 1D e 1E). O tecido quando necrótico apresenta coloração de aspecto pálio. As pústulas quando analisadas demostram desprendimento da epiderme por pressão mecânica da massa de urediniósporos (Fig. 1D e 1E).

Etiologia: A fase do ciclo da ferrugem encontrada foi a urédia (II) e télia (III). Os esporos na fase de urediniósporos (Fig. 1G) são de coloração marrom-alaranjada, unicelulares, elipsóides ou globosos (Fig. 1F), medindo 19 - (12,8) - 10 x 9 – 12,6 – 19  µm, com parede ornamental medindo 1-2 µm de espessura. Os teliósporos (Fig. 1H) podem ser formadas no final da estação de cultivo, em resposta a estímulos de temperatura, luz e umidade. Possui coloração marrom escura, dimensões de 28-38 x 20-36 µm, formato ovóide ou elipsoide, são unicelulares e apresentam pedicelos hialinos. A parede é grossa e lisa, medindo 2-4 µm (KIMATI et al., 1997).









Figura 1. Uromyces setariae-italicae incidindo em folhas de Brachiaria decumbens, A. Sintomas de manchas necróticas, B. área necróticas incidindo a face adaxial, C. Área te tecido morta de coloração pálea a pulverulenta, D. pústulas de coloração negra distribuídas uniformemente, E. destacamento do tecido epidérmico por compressão de urediniósporos, F. urediniósporos de formato esféricos, elipsóides, oblongos, escuros, apresentando de dois a três poros germinativos equatoriais, G. Urediniósporos de parede espessa, H. Urediniósporos com dois poros germinativos e teliósporos pedicelados.

Epidemiologia: Os urediniósporos são disseminados pelo homem, implementos agrícolas, animais e principalmente pelo vento. Podem sobreviver entre as estações de cultivo, iniciando nova epidemia quando as condições forem favoráveis. A penetração dá-se pelos estômatos, após o tubo germinativo entrar em contato com as células estomáticas e desenvolver apressório (KIMATI et al., 1997). Não há registros da espécie U. setariae-italicae na América do Sul em literatura (VIEGAS, 1961).

Controle: Como se trata de uma doença foliar, uma boa alternativa seria o controle químico. Contudo não se tem nenhum registro de ocorrência para esta cultura descrito no AGROFIT (2011).


4. LITERATURA CITADA

AGROFIT - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Disponível em: < http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acessado em 29 de outubro de 2011.
CUMMINS, G. B. e HIRATSUKA, Y. Ilustrated General of Rust Fungi. 1836.
FARR & ROSSMAN. Disponível em: < http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/fungushost/new_frameFungusHostReport.cfm>. Acessado em 01 de outubro de 2011.
INDEX FUNGORUM. Disponível em: . Acessado em 29 de outubro de 2011.
KIMATI, H., AMORIM, L., BERGAMINHO FILHO, A., CAMARGO, L.E.A., REZENDE,J. A. M. Manual de Fitopatologia. Vol. 2. Ed. Agronômica Ceres Ltda. São Paulo-SP. 1997.
RODRIGUES, J. D. disponível em: . Acessado em 29 de outubro de 2011.
VIEGAS. Índice de Fungos na América do Sul. Ed. Instituto Agronômico. 1961.
VILELA, H. disponível em: < http://www.agronomia.com.br/conteudo/artigos/artigos_gramineas_tropicais_brachiaria_decumbens.htm>. Acessado em 01 de outubro de 2011.
YOSHINO, 1906. Disponível em: < http://www.cybertruffle.org.uk/cgi-bin/nome.pl?organism=63917&glo=por>. Acessado em 11 de outubro de 2011.

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