terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Boletim Técnico: Cercosporiose da guariroba (Syagrus oleracea) causado por Passalora eitenii

Bruno Barboza dos Santos
Academico do curso de Bacharelado em Agronomia

INTRODUÇÃO

A guariroba (Syagrus oleracea) é uma palmeira nativa do Brasil (Figura 1), também conhecida por outros nomes populares, são eles: gueiroba, gariroba, palmito-amargoso, catolé, coco-babão, coco - amargoso. Possui como classificação científica os seguintes dados: Reino: Plantae, Divisão: Magnolipphyta, Classe: lipiopsida, Sub-classe: Commelinidae, Ordem: Arecales, Família: Arecaceae, Sub-família: Arecoideae, Tribo: Cocoeae, Gênero: Syagrus e Espécie: Syagrys oleracea (WIKIPÉDIA, 2011.)
A planta possui  estipe solitária, ereta, colunar, acinzentada, podendo atingir até 20 metros de altura, e 20 a 30 cm de diâmetro, com copa crispada e deflexa, suas folhas são grandes de até 3 metros de comprimento, bainha estreita, bainha caduca e flores que surgem em cachos durante a primavera até o outono, dispostas espiraladamente na copa; bainha fibrosa de 45-100cm de comprimento, pinas lineares de ápice acuminado e não pendentes; inflorescências interfoliares de até 70cm de comprimento, lenhosa, frisada, geralmente axilares, grandes, paniculadas e envolvidas por bráctea desenvolvida na forma de quilha (espata) que muitas vezes são lenhosas (cimba) (LORENZI, 2000)
As flores são numerosas, pequenas, curto-pediceladas ou sésseis, unissexuadas ou raramente andróginas, trímeras, actinomorfas, heteroclamídeas ou raramente monoclamídeas.  Androceu com 6 estames dispostos em 2 séries de 3, estaminódios frequentemente presentes. Gineceu de ovário súpero, tricarpelaro. Os frutos possuem aspecto lenhoso, indeiscentes e levemente elíptico, com polpa de coloração verde-amarelada, cujo mesocarpo possui amêndoas brancas oleaginosas, as quais são comestíveis, ocorre em cachos, são elipsóides, lisos, 4,0 - 5,5cm de comprimento com mesocarpo espesso, carnoso, adocicado e fibrosos, geralmente ocorrem entre outubro e fevereiro (LORENZI, 2004.)
Sua madeira é moderadamente pesada, macia, de boa durabilidade mesmo quando exposta ao tempo. A polpa do fruto é comestível e muito apreciada pelo gado e por porcos, a amêndoa além de fornecer óleo é também comestível, sendo até comercializada.  As folhas são usadas para confecção de vassouras e as flores são melíferas. A palmeira é bastante ornamental, sendo uma das mais cultivadas para a arborização urbana em diversas cidades do Brasil, muito utilizada em projetos de paisagismo, pois, além de ser uma planta de grande porte que propicia excelente sombra, é muito bonita e apreciada por muitos, também é ótima para plantios mistos em áreas de preservação permanente (LORENZI, 2000).
A propagação desta palmeira ocorre por sementes, embora cresça espontaneamente nas matas do Centro Oeste e Sudeste do Brasil, porém a planta prefere regiões de clima quente e solos bem drenados (WIKIPÉDIA, 2011).
Entre seus produtos destaca-se o palmito ou broto terminal, o qual tem grande aceitação pela sociedade, considerado por muitos como verdura de sabor amargo - o que de fato é quando comparado aos palmitos doces das espécies da Mata Atlântica, o palmito da guariroba é uma iguaria de largo aproveitamento culinário em alguns estados, inclusive algumas regiões de Goiás e Minas Gerais. Da semente se extrai óleo comestível (WIKIPÉDIA, 2011).
O seguinte trabalho teve como objetivo descrever o patógeno Passalora eitenii, considerando aspectos da taxonomia, sintomatologia, etiologia, epidemiologia e o controle do mesmo.

MATERIAIS E MÉTODOS

  Para a realização deste trabalho foram utilizados os seguintes matérias: Folhas de guariroba (Syagrus oleracea), microscópio estereoscópico (lupa), corante azul-de-algodão, seringa com agulha, lâmina, lamínula, microscópio e esmalte. Processos com observação na lupa da folha, captura do fungo, confecção da lâmina e fotos para a realização desse trabalho foram realizados no Laboratório de Microbiologia do IF Goiano campus Urutaí – GO.
O fungo foi coletado de uma folha de guariroba, da qual foi retirada através do método de pescagem direta (com auxilio de uma lupa para melhor visualização), com a agulha fixada em uma seringa as estruturas do fungo, as quais foram capturadas para em seguida ser realizada a confecção da lâmina. Para se fazer a lâmina é necessário colocar uma gota do fixador lactofenol-cotton-blue na superfície da mesma onde posteriormente será depositado o material coletado na folha de guariroba, após o termino se deposita, uma lamínulas em cima do material coletado. A vedação da lâmina foi realizada com esmalte ao redor da lamínulas. Observou-se a lâmina no microscópio óptico para a identificação das estruturas fúngicas.
Ainda usando o microscópio óptico iniciou-se o registro macro e microscópico utilizando-se a câmera digital Canon modelo Power Shot A580, concluído esse processo, baixou-se as fotos em um computador e utilizando o programa da Microsoft Office Picture Manager, editou-se as imagens, em seguida em outro programa Microsoft Office o Power Point, fez-se a montagem da prancha para ser colocada nos resultados e discussões do trabalho.






RESULTADOS E DISCUSSÃO

Hospedeiro/cultura: Guariroba (Syagrus oleracea)
Família Botânica: Arecaceae
Doença: Mancha-Foliar
Agente Causal (Anamorfo): Passalora eitenii
Local de Coleta: Cristalina - Goiás
Data de Coleta: Agosto de 2011.

Taxonomia: O teleomorfo pertence ao reino Fungi, divisão Ascomycota, classe Dothideomycetes, ordem Capnodiales, família Mycosphaerellaceae, gênero Passalora sp. O anamorfo pertence ao Reino Fungi, grupo incerto dos Fungos Mitospóricos, sub-grupo Hifomicetos.
  De acordo com INDEX FUNGORUN (2011), há apenas dois registros desse patógeno no Brasil até o presente momento. Já, o site USDA, apresenta que no Brasil já há até o presente momento três registros de Passalora eitenii, os quais foram descritos respectivamente por: Crous e Braun (2003); Medeiros e Dianese (1994); Mendes et al. (1998), Dianese et al. (1998).
Sintomatologia
Os sintomas primários da mancha foliar escura na guariroba podem observadas logo após a deposição do inóculo, na forma de pequenas manchas cloróticas, (sem ocorrência de encharcamento do tecido), a região central começa a sofrer necróses e posteriormente estabelecendo as lesões necróticas, com o passar de mais alguns dias, sendo estas lesões escuras e variando sua forma de circulares a irregulares as quais no futuro podem vir a coalescerem, se fundirem. A manifestação dos sintomas começa nas folhas, na sua face inferior, progredindo para as mais novas (BERGAMIN et al., 1995).
As lesões são geralmente menor (1 a 7 mm de diâmetro), de contornos mais uniformes, desenvolve frutificações do patógeno na superfície abaxial das folhas, na superfície adaxial ficam marrom escuro a preta, sendo que nas folhas severamente afetadas ocasiona a diminuição da área fotossintética, pois ocorre a coalescência das lesões e em seguida as mesmas caem com facilidade.
As manchas cloróticas são sintomas pleisonecróticos, as manchas de coloração marrom ou negra constituem sintomas holonecróticos e as frutificações do patógeno são os sinais da doença (PIO-RIBEIRO et al., 2005). Na face abaxial das folhas lesões apresentam no centro coloração páleo amarelada. Com presença de pulverulência, bordas necróticas.





Figura 1.: Sinais e sintomas de Passalora eitenii em folhas de Guariroba (Syagrus oleracea). A,B. Planta de guariroba de onde foram coletadas as amostras para realização dos estudos. C. Detalhe, confluência das lesões na face adaxial da folha.  D. Face adaxial apresentando lesões. E. Face abaxial apresentando lesões. F. Lesão na face abaxial. G. Lesão na face adaxial.


Etiologia
O agente causal da mancha foliar escura Passalora eitenii, produz hifas bem definidas, as quais se agrupam formando estroma (Fig. 2) na face abaxial de lesões mais velhas, produzindo numerosos conidióforos, não ramificados, os quais se reúnem em fascículos densos em círculos concêntricos, marrom pálidos a oliviáceos e conídios solitários, hialinos, em geral retos ou levemente curvos, arredondados no ápice e sem constrição, apresentando de um a nove septos, sendo mais freqüente três a quatro (BERGAMIN et al., 1995).
Outras características do fungo são conidióforos agregados em fascículos, emergindo de um estroma sub-cuticular na face abaxial de lesões velhas. Os conidióforos são lisos, retos, de coloração marron claro, não ramificados, maioria septados, medindo de 26-57µm x 4 µm, células conidiogênicas terminais, com cicatrizes escuras e pouco espessas. Os conídios são solitários, claros, retos a ligeiramente curvos, medindo de 32-70 µm x 4-5 µm, maioria com três septos, apresentando um hilo truncado e ápice obtuso. (MEDEIROS e DIANESE, 1994).

 Figura 2: Estruturas do patógeno. H,I. Lesões confluentes, escuras na face adaxial da folha. J. Conidióforo (bar= 40,3 µm), no detalhe em sua extremidade a formação de um conídio. L. Esporodóquio com presença de estroma. (bar= 41,9 µm) M, N. Conídio (bar= 52 µm), no detalhe a cicatriz no ponto exato onde se desprendeu da célula conidiogênica.  

Epidemiologia
O agente da mancha foliar escura (Fig. 2)  é um parasita facultativo, pois sobrevive de uma época de cultivo para outra, especialmente em restos de cultura e plantas voluntárias. O fungo P. eitenii estudado, é particularmente um agente patogênico ao gênero Syagrus sp. O inoculo inicial que dá início às infecções primárias pode ser produzido por estruturas de sobrevivência formadas por conídios e fragmentos de micélio produzidos nos tecidos dos restos culturais, especialmente nas folhas, na matéria orgânica do solo, em hospedeiros alternativos, ou mesmo em tecidos de plantas (BERGAMIN et al., 1995).
A disseminação dos propágulos ocorre logo após o início das primeiras lesões, a disseminação do inoculo, a curta distância, se dá por respingos de água, vento, insetos e movimento de fragmentos de material vegetal infectado, produzindo ciclos secundários de infecção. Ao serem depositados na superfície da planta, em condições favoráveis, dentro de seis a oito horas os conídios germinam, formando um ou mais tubos germinativos que irão penetrar através dos estômatos ou nas células da epiderme diretamente. Após um período de 5 a 14 dias, dependendo da espécie do fungo, do genótipo e idade das folhas do amendoim e condições ambientais surgem os primeiros sintomas. Tais patógenos podem ser disseminados a longas distâncias, através de estruturas fúngicas presentes, na parte externa e fragmentos de plantas infectadas como contaminantes (SHOKE e CULBREAT, 1997).
Os fatores que favorecem o desenvolvimento das manchas foliares escuras são: alta umidade relativa do ar (acima de 90-95 %), temperaturas iguais ou superiores a 19 oC, chuvas periódicas (maiores que 2,5 mm) durante o ciclo da cultura e o molhamento das folhas devido à alta umidade (proporcionado pelo orvalho ou pelas chuvas periódicas). A produção local de esporos é a principal fonte inicial de inoculo, visto que a disseminação ocorre só a pequenas distâncias, a não eliminação de restos culturais ou de plantas e o plantio de cultivares suscetíveis são fatores favoráveis para estas doenças (SHOKE e CULBREAT, 1997).
Controle
Ainda não se tem registros de controle práticas de manejo biológico e genético as quais possam ser realizados para esse controlar a incidência desse patógeno na cultura da guariroba.
Por outro lado, o controle da mancha foliar escura pode ser alcançado com boa eficiência através de estratégias básicas, como o uso de práticas culturais, que reduzem o inoculo inicial, retardando o início das epidemias, da adoção de medidas que diminuem a taxa de infecção, mantendo a ocorrência das doenças abaixo do nível de dano, juntamente com o uso sempre que possível, das medidas complementares, como por exemplo:  a  escolha de época de plantio para evitar condições favoráveis à ocorrência de epidemias, outra técnica de manejo recomendada é o controle de ervas daninha, para diminuir a formação de microclima junto às plantas, que favorece o desenvolvimento das doenças, além da mesma agir como hospedeiro alternativo para o patógeno, além do uso de mudas sadias, oriundas de boa procedência (BERGAMIN, et al., 1995).
 O controle químico com fungicidas tem sido recomendado para o controle das manchas foliares, porém ao optar pelo uso do fungicida, deve se atentar para os cuidados a fim de obter o máximo de eficiência: escolha adequada do produto, uso da dosagem recomendada, aplicação no momento adequado, método de aplicação, entre outros (BERGAMIN et al., 1995).
Segundo o Agrofit, 2011, fungicidas do grupo triazol como, difeconazole (Score 0,35 L/ha) e tebuconazole (Nativo-0,6 a 0,75 L/ha), ambos têm se mostrado eficientes no controle do agente da mancha foliar escura. Outros fungicidas como chlorothalonil (Vanox 500 SC-2,5 a 3,5 L/ha), por suas características de fungicida protetor, pode ser aplicado alternadamente com difenoconazole ou tebuconazole. O chlorothalonil e o tebuconazole reduzem a germinação de esporos e a intensidade de esporulação nas lesões, mas apenas o tebuconazole é capaz de reduzir a freqüência de infecção e aumentar o período de incubação após os tubos germinativos terem penetrado nas folhas da guariroba (AGROFIT, 2011).

LITERATURA CITADA

AGROFIT. Disponível em: HTTP://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_ cons/principal_agrofit_cons> consultado em: agosto de 2011.

BERGAMIN A.; KIMATI, H.; AMORIM, L.; Manual de Fitopatologia – Principios e Conceitos. Vol. 1; 3 edição. SP. Agronômica Ceres, 1995.

FARR, D.F., & Rossman, A.Y. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, ARS, USDA. Retrieved September 28, 2011, from /fungaldatabases/

INDEX FUNGORUM.  Disponível em:  consultado em: agosto de 2011.

LORENZI, H.; Hermes Moreira de Souza; Judas Tadeu de Medeiros Costa; Luiz Sérgio Coelho de Cerqueira; Evandro Ferreira: Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas. Instituto Plantarum, Nova Odessa, 2004 ISBN 85-86714-20-8;
LORENZI, H Árvores Brasileiras: Manual de identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil, Vol. 1;  3​ edição; Nova Odessa - SP. Instituto Plantarum, 2000.

MENDES, M. A. S.; URBEN, A. F.; Fungos relatados em plantas no Brasil, Laboratório de Quarentena Vegetal. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbanco01.asp. Acesso em: 27/9/2011.

MEDEIROS, R.B.; DIANESE, J.C. 1994. Passalora eitenii. nov. on Syagrus comosa in Brazil and a key to Passalora species. Mycotaxon, Li: 509-513

PIO-RIBEIRO, G.; ANDRADE, G.P. & MORAES, S. A. Principais doenças do amendoim e seu controle. In: Santos, R.C. edO agronegócio do amendoim no Brasil. Embrapa Algodão, Campina Grande, PB. 2005. Cap. VII. p. 263-337.

SHOKES, F.M.; CULBREATH, A.K. Early and late leaf spots. In: KOKALIS-BURELLE, N.; PORTER, D.M.; RODRÍGUES-KÁBANA R.; SMITH, D.H.; SUBRAHMANYAM P. (Eds.) Compendium of peanut diseases. 2. Ed. New York: The American phytopathological Society, 1997. p.17-20.

WIKIPEDIA, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guariroba, consultado em setembro de 2011.

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