Acadêmico do curso de Agronomia
INTRODUÇÃO
O agente causal da Ferrugem do pau-d’óleo é o fungo Diorchidium copaifera (P. Syd.) Cummins & Y. Hirats (1983). O fungo D. copaifera tem como sinonímia Sphenospora copaiferae P. Syd. (1924) (INDEX FUNGORUM, 2011).
O agente etiológico D. copaifera pertence ao reino Fungi, divisão Basidiomycota, classe Teliomycetes, ordem Uredinales, família Raveneliaceae e gênero Diorchidium sp. (INDEX FUNGORUM, 2011).
Segundo Rezende & Dianese (2002), espécies arbóreas da família Leguminosae, algumas exóticas para a região de cerrado, foram introduzidas na arborização urbana do Distrito Federal (DF), Brasília, inclusive no Campus da Universidade de Brasília (UnB), como ornamentais e/ou para sombreamento nos estacionamentos. Anualmente, essas plantas sofrem ataques de fungos causadores de ferrugens. Em áreas urbanas Copaifera langsdorfii Desf. (pau-d’óleo), frequente em matas ciliares, é hospedeiro de D. copaiferae com surtos do patógeno que levam à desfolha total nos meses de julho e agosto.
Segundo Bedendo (1995), as ferrugens são assim denominadas em razão das lesões amareladas, de aspecto ferruginoso, que causam nos hospedeiros atacados. Os patógenos responsáveis pelas ferrugens são fungos basidiomicetos pertencentes á ordem Uredinales. Estes organismos atuam como parasitas obrigatórios e não apresentam fase saprofítica em seu ciclo vital (não vivem decompondo material orgânico). É importante ressaltar que os teliósporos (células sexuais de reprodução) podem ficar viáveis no material em decomposição, contudo não exercitam sua atividade metabólica e parasítica no tecido morto.
Segundo Bedendo (1995), as ferrugens podem ter ação devastadora sobre seu hospedeiro. Acham-se distribuídas em regiões temperadas e tropicais. O vento tem um papel fundamental na dispersão dos esporos de ferrugem a longas distâncias, permitindo que os mesmos percorram distâncias intercontinentais.
Este trabalho tem por objetivo descrever a doença ferrugem do pau-d’óleo enfatizando aspectos de sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi feito no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano-Campus Urutaí.
As amostras de folhas de pau-d’óleo infectadas com ferrugem foram coletadas na cidade de Brasília-DF. Estas foram levadas para o Laboratório de Microbiologia do IF Goiano-Campus Urutaí para serem analisadas, com o objetivo de se identificar o agente causal da doença. No Laboratório o primeiro passo foi a visualização das folhas em microscópio estereoscópico para a observação das pústulas e preparo de lâminas semi-permanentes.
Após a visualização das pústulas foram coletadas estruturas do fungo da superfície foliar com o auxílio de uma pinça, por meio da “pescagem direta” e colocadas em uma lâmina contendo uma gota de fixador lactofenol cotton-blue, em seguida colocou-se uma lamínula sobre a lâmina. Retirou-se o excesso de corante com papel higiênico, logo após, vedou-se com esmalte e levou o conjunto para visualização em microscópio óptico.
Também foram preparadas várias lâminas semi-permanentes com corte histológico para observar a interação entre o patógeno e a estrutura do hospedeiro. Para o preparo dessas lâminas utiliza-se uma lâmina de barbear para realizar cortes bem finos da folha com a pústula. Após o corte as finas tiras da folha devem ser colocadas em uma lâmina contendo uma gota de fixador lactofenol cotton-blue e em seguida deve-se colocar uma lamínula sobre a lâmina retirando o excesso de corante com papel higiênico e vedar o conjunto com esmalte para que possa ser levado para visualização em microscópio óptico.
Para esse trabalho foram realizadas microfotografias das estruturas fúngicas no microscópio ótico e das frutificações fúngicas na epiderme das folhas no microscópio estereoscópico, utilizando câmera digital Canon® modelo Power Shot SD750.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Hospedeiro/cultura: Pau-d’óleo (D. langsdorffii Desf.)
Família Botânica: Leguminosae (Caesalpinioideae)
Doença: Ferrugem do pau-d’óleo
Agente Causal: Diorchidium copaifera (P. Syd.) Cummins & Y. Hirats (1983)
Local de Coleta: Brasília - DF
Data de Coleta: agosto/2011
Taxonomia: D. copaifera pertence ao reino Fungi, divisão Basidiomycota, classe Teliomycetes, ordem Uredinales, família Raveneliaceae e gênero Diorchidium sp. (INDEX FUNGORUM, 2011).
Sintomatologia: A lesão provocada pelo fungo pode ser visualizada na forma de pústulas de coloração morrom-avermelhada, podendo enegrecer em estádio avançado de desenvolvimento (Fig. 1C). As lesões são circulares e pequenas. Elas são encontradas basicamente nas folhas, mais especificamente na parte abaxial, sendo mais frequentes nas folhas mais novas. Elas encontram distribuídas uniformemente por todo o folíolo (Fig. 1B). Em casos de ataques severos pode ocorrer a desfolha total da planta.
Etiologia: Espermogônios e écios não-vistos (HENNEN et al., 2005). Urédios (147-) 227 (-392) x (98-) 162 (-196) μm, hipófilos, subepidérmicos, irrompentes, pulverulentos, laranja-ferrugíneos, parafisados. Paráfises (40-) 55 (-80) x (8-) 10 (-12) μm, curvadas sobre as urédios, himeniais e periféricas, em fascículos, oriundas de células curtas, septadas. Urediniósporos (27-) 38 (-50) x (12-) 14 (-18) μm, longos, curvados, reniformes ou elípticos, laranja-ferrugíneos, equinulados uniformemente com a base das equinulações cercada por nervura; dois poros germinativos equatoriais, unizonados; paredes laterais (1,5 - 2,0 μm de espessura) e parede apical (3 - 6 μm). Télios (118-) 227 (-392) x (98-) 157 (-196) μm, marrom-claros, pulverulentos, parafisados (Fig. 1D). Paráfises iguais as do urédio. Teliósporos (37-) 43 (-55) x (12-) 19 (-25) μm, pedicelados, bicelulares, elipsóides a obovóides, com um septo vertical, cada célula com uma projeção apical arredondada com 6 x 5 μm de diâmetro; paredes 1,0 - 1,5 μm de espessura, translúcidas, com um poro germinativo apical em cada célula (Fig. 1E). Pedicelos com até 40 μm de comprimento, hialinos. Germinação externa sem período de dormência (REZENDE & DIANESE, 2002).
Existem apenas 37 espécies de Diorchidium descritos em literatura. O gênero não apresenta formae speciales, subespécies e variedades (INDEX FUNGORUM, 2011).
Tabela 01. Comparação entre das estruturas morfológica entre o isolado identificado com a descrição feita por (REZENDE & DIANESE, 2002).
Figura 1. Fase de télia do fungo Diorchidium copaifera em folhas de pau-d’óleo (Copaifera langsdorfii), A. Arvore de pau-d’óleo hospedeira de D. copaifera (bar= 40 cm), B. Pústulas distribuídas uniformemente na parte abaxial dos folíolos (bar= 0,7 cm), C. Télio escuro e errompente (bar= 0,3 mm), D. Corte transversal do télio mostrando a epiderme rompida (bar= 56 µm), E. Teliósporo elipsóide com septo vertical, translúcido e com pedicelo (bar= 19 µm).
Epidemiologia: Tanto os urediniósporos quanto os teliósporos podem ser espalhados pelo vento ou pela água, e a planta doente passa a atuar como fonte do inoculo. As condições climáticas que favorecem a ocorrência da doença estão ligadas as condições de temperatura, umidade, molhamento foliar relacionado ao período de verão. É no período de inverno que se evidencia a produção de pústulas teliais (evento típico para a maioria das ferrugens – sobrevivência). No entanto, de modo geral, a presença de elevada UR e de temperaturas amenas são propicias ao desenvolvimento deste tipo de doença (KIMATI et al., 2005).
Segundo Hennen & Buriticá (1980) apud Franca & Sotão (2009), os fungos causadores de ferrugem são parasitas obrigatórios que apresentam grande diversidade e especificidade em relação aos hospedeiros, incluindo musgos, samambaias, gimnospermas e várias famílias de monocotiledôneas e dicotiledôneas, ocorrendo em cerca de 260 famílias (Hennen & Buriticá 1980).
Farr & Rossman (2011) apontaram em seu banco de dados que no mundo existe quatro registros de Diorchidium copaifera infectando duas espécies de árvores, ambas registradas apenas no Brasil, sendo: Copaifera langsdorffii (HENNEN et al., 2005) e Copaifera sp. (HENNEN et al., 1998; MENDES et al., 1998; HENNEN et al., 2005).
Controle: Como o pau-d’óleo é uma espécie que não possui grande importância econômica as medidas de controle para suas doenças são pouco estudadas. Assim basicamente não se encontram recomendações de controle para a ferrugem do pau-d’óleo.
Controle cultural: Recomenda-se também retirar e eliminar as folhas doentes que cairam, pois estas são fonte de inoculo da doença. Em caso de plantio para arborização recomenda-se plantar as arvores com um espaçamento maior para não adensar e facilitar a epidemia.
Controle químico: Não existe nenhum produto registrado, no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, (MAPA) para o controle dessa doença. Também não existe registro para nenhuma outra espécie de Diorchidium sp. (AGROFIT, 2011)
Controle genético: A busca de variedades resistentes, seja mediante a seleção dentro dos recursos genéticos existentes, seja mediante a geração de novas variedades por hibridação, é um método que até o momento não se utiliza pelo fato desta planta apresentar pouco interesse econômico.
Controle biológico: Também não se tem relatos de controle biológico empregados no controle dessa doença. Estudos com esse tipo de controle, geralmente, são feitos para espécies de grande interesse econômico.
LITERATURA CITADA
AGROFIT, sistema de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em:
BEDENDO, I. P.. FERRUGENS in: BERGAMIN FILHO, A., KIMATI, H., AMORIM, L. (Ed.) Manual de fitopatologia. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995.v.1, p.872-880.
FARR, D. F., & ROSSMAN, A. Y. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, ARS, USDA. 2011. Disponível em:
FRANÇA, I. F.; SOTÃO, H. M. P.. Novos registros de Ferrugens (Uredinales) sobre Fabaceae para o Brasil Acta bot. bras. 23(3): 860-863. 2009.
HENNEN, J. F., FIGUEIREDO, M. B., DE CARVALHO, A. A., JR., AND HENNEN, P. G.. Catalogue of the species of plant rust fungi (Uredinales) of Brazil. Unknown journal or publisher, 490 pages. 2005.
HENNEN, J. F., SOTAO, H. M. P., AND HENNEN, M. M. W.. The genus Diorchidium in the Neotropics. Mycologia 90: 1079-1086. 1998.
INDEX FUNGORUM, banco de dados para consulta de táxons fúngicos. Disponível em:< http://www.speciesfungorum.org/Names/SynSpecies.asp?RecordID=288652>. Acessado em março de 2011.
KIMATI, H., AMORIM, L., REZENDE, J.A.M., BERGAMIN FILHO, A., Manual de Fitopatologia, vol. 2, doenças das plantas cultivadas 4° ed. cap. 53, pág 469, São Paulo: Agronômicas Ceres, 2005.
MENDES, M. A. S., DA SILVA, V. L., DIANESE, J. C., and et al.. Fungos em Plants no Brasil. Embrapa-SPI/Embrapa-Cenargen, Brasilia, 555 pages. 1998.
REZENDE, D. V.; DIANESE, J. C.. Aspectos taxonômicos de Uredinales infetando leguminosas utilizadas na arborização urbana do Distrito Federal. Fitopatologia Brasileira 27: 361-371. 2002.
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