Patrícia Vaz
Acadêmica do curso de Agronomia
Acadêmica do curso de Agronomia
1. INTRODUÇÃO
O trevo branco (Trifolium repens L.) é uma das plantas silvestres mais conhecidas em lameiros, terrenos cultivados, margens dos rios e caminhos, frequentemente formando tapetes densos. Em muitas situações é considerada uma planta invasora causando alguns problemas de difícil solução, principalmente quando aparece junto com as relvas dos jardins. Em contrapartida, há regiões onde esta espécie e outras semelhantes, são cultivadas extensivamente e usadas para alimentar o gado. Sob certas condições fixa certos nutrientes ao solo pelo que muitas vezes é cultivada e enterrada, antes da floração, servindo como adubo (PLANTAS E FLORES DO AREAL, 2011).
O trevo branco pertence às Fabaceae, uma das maiores famílias botânica também conhecida por Leguminosae e que compreende cerca de 20.000 espécies divididas em mais de 700 gêneros. O gênero Trifolium possui mais de duzentas espécies diferentes de plantas similares que são vulgarmente conhecidas como trevos. Embora existam algumas destas espécies que apresentam 4, 5 e até mais de 20 folhas, as mais conhecidas nas nossas regiões temperadas são as que apresentam apenas três folhas (PLANTAS E FLORES DO AREAL, 2011).
Foi encontrada apenas uma espécie pertencentes ao gênero Cymadothea trifolii (Pers) F. A. na natureza ao qual possui o posicionamento taxonômico da seguinte forma: reino Fungi, divisão Ascomycota, classe Dothideomycetes, subclasse Dothideomycetidae, ordem Capnodiales e família Mycosphaerellaceae (ÍNDEX FUNGORUM, 2011).
O fungo C. trifolii (Pers) F.A. tem várias hospedeiras pelo mundo como: Trifolium alpestre na Polônia (MULENKO et al., 2008), Trifolium cyathiferum em Washington (SHAW, 1973), Trifolium fendleri em Novo México (ANONYMOUS, 1960) e Nevada (ANONYMOUS, 1960), Trifolium hybridum em Minnesota ( RENFRO e WILCOXSON, 1960), estados do Nordeste (KILPATRICK, 1956), Nova York (KILPATRICK, 1956), Oregon (SHAW, 1973), Faixa de host (ANONYMOUS, 1960) e Washington (SHAW, 1973), Trifolium incarnatum nos países do Oriente (ANONYMOUS, 1960) em Georgia (HANLIN, 1963), Louisiana (ANONYMOUS, 1960) e entre outros países.
Em um estudo observou-se que mancha fuliginosa era "a doença mais freqüentemente presemte" em locais de amostragem em Inglaterra e País de Gales, com número de folhas danificadas que vão 4-21% (Lewis & Thomas 1991). Cymadothea trifolii é comum em espécies Trifolium (Fabaceae), mas também foi relatado em alfafa (Medicago sativa) (PUSCHNER, 2005).
Embora o fungo não seja considerado um patógeno agrícola sério, tem um impacto significativo nas plantações de trevo utilizadas para a nutrição animal, e é freqüentemente encontrado em local natural (SIMON et al., 2009).
Apesar de a morfologia de C. trifolii ter sido devidamente documentado (WOLF, 1938), nenhuma evidência molecular está atualmente disponível para esclarecer sua taxonomia por ser um parasita obrigatório (SIMON et al., 2009).
Infectando trevo branco têm-se vários patógenos causadores de doenças registrados, como: Absidia sp. em New Hampshire (KILPATRICK, 1959), Aphanomyces euteiches em New Zealand (PENNYCOOK, 1989), Ascochyta trifolii em Scotland (FOISTER, 1961), Aspergillus flavus em New Hampshire (KILPATRICK, 1959), Colletotrichum sp. no Brazil ( MENDES, et al, 1998), Cymadothea trifolii em Alaska (CASH, 1953), Gibberella avenacea em New Zealand (PENNYCOOK, 1989) e Phomopsis sp. em Nova Zelandia (PENNYCOOK, 1989).
O objetivo do trabalho é identificar, descrever e apontar a sintomatologia, etiologia, epidemiologia e o controle de Cymadothea trifolii incidente nas folhas de trevo branco.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Laboratório de Microbiologia do IFGoiano- Campus Urutaí-GO, e o material coletado para descrição da doença foi em Bento Gonçalves/ RS no dia 18 de agosto de 2011.
Para o preparo de lâminas semi-permanentes foi utilizado o método de “pescagem direta” onde coletou-se os esporos e os depositou sobre uma lâmina com uma gota do fixador cotton-blue, constituído por 2,6 mL de ácido acético, 62,5 mL de ácido lático, 100 mL de glicerina, 100 mL de água destilada. Em seguida colocou-se uma lamínula sobre a lâmina, limpou-se o excesso do fixador com papel higiênico e vedou-se com esmalte.
Para o preparo do corte histológico foi utilizado gilete e parte do tecido com presença de estruturas do fungo e lesão. Os cortes foram realizados com auxílio do microscópio estereoscópico e colocados em uma lâmina contendo fixador, cotton-blue, e vedados com esmalte.
Todas as lâminas foram analisadas no microscópio óptico com objetivo de visualizar estruturas do fungo e suas fases de desenvolvimento. As microfotografias foram feitas com câmera digital Canon® modelo Power Shot A580. As fotografias foram agrupadas utilizando o programa da Microsoft Office denominado de Power Point 2007.
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
Hospedeiro/cultura: Trevo branco (Trifolium repens L)
Família Botânica: Fabaceae
Doença: Fuligem ou mancha preta do trevo.
Agente Causal: Cymadothea trifolii (Pers) F. A.
Local de Coleta: Bento Gonçalves/RS.
Data de coleta: 18/08/2011.
Taxonomia: Pertence ao reino Fungi, divisão Ascomycota, classe Dothideomycetes, subclasse Dothideomycetidae, ordem Capnodiales e família Mycosphaerellaceae, sua fase anamórfica é conhecida como Cymadothea Kunze Kunze & Schmidt (INDEX FUNGORUM, 2011).
Sintomatologia: Nas folhas jovens e maduras, surgem pequenos aglomerados aveludadas pretas espalhadas pela folha da planta parasitada (DOMINGUEZ, 2011).
O primeiro sintoma ocorre em superfícies inferiores da folha com pontos minúsculos de cor verde-oliva. Ampliando os pontos, tornam-se mais espessa e mais escura, e, eventualmente, se assemelham a uma almofada aveludada, de cor preta elevado. No outono, as almofadas são substituídas por outras áreas pretas que têm uma superfície brilhante. Manchas cloróticas que se tornam necróticas aparecem na superfície superior da folha em frente à almofada. Doença grave faz com que a folha inteira fique marrom, causa a desfolha e morte (NYVALL, 1991).
O fungo C. trifolii diferencialmente, dissolve o anfitrião da parede celular na área de contato: elementos esqueléticos (celulose e xiloglucanos) são deixados intactos, enquanto a matriz de pectina fica degradado (SIMON et al. 2005b). Assim, o patógeno presumivelmente aumenta o tamanho dos poros da célula da parede celular da hospedeira sem romper totalmente a integridade da célula atacada (SIMON et al, 2009).
O plasmalema da planta, em frente ao aparelho de interação, invagina para produzir uma bolha no hospedeiro. O aparelho interação e bolha de acolhimento são apoplástica e são ligados por um tubo com uma bainha de elétron denso que pode canalizar os nutrientes do hospedeiro ao patógeno. Dentro do tubo, as paredes das células do hospedeiro e parasita aparecem alteradas. O aparelho interação e bolha de acolhimento poderá ser análogo ou haustório em outros fungos biotrófico obrigatório (SIMON et al , 2004).
Etiologia (Sinais): O fungo apresenta colônias puntiformes ou efusas de coloração marrom oliváceas. O micélio é imerso, o estroma é pseudoparenquimatoso, marrom a escuro. As cetas e os hifopódios são ausentes. Conidióforos macronematosos, mononematosos, cespitosas, não ramificados ou com várias ramificações ao redor de um ponto, acima pode apresentar uma curvatura ou muitas vezes um afinamento em um lado da curvatura, muitas vezes podem ser torcido, de coloração medianamente marrom palha, e apresenta superfície lisa. A célula conidiogênica poliblástica, terminal, integrada, simpodial, cilíndrica, ondulada, cicatrizada, apresenta cicatrizes largas, plana, unilateral (ELLIS, 1971).
Apresenta colônias efusas ou puntiformes de coloração marrom oliváceas. Micélio imerso. Estroma pseudoparenquimatoso, marrom a preto. Pseudoparenquimatoso indistinta. Conidióforo em grupos, parte, não ramificados na curvatura superior, muitas vezes espessa no lado de distância da curvatura, ondulado, muitas vezes torcido, de coloração média a castanho claro, liso, até 100x 6-9µ. Células conidiogênica terminal, simpodial, ondular, cilíndrico, cicatrizada, com grandes cicatrizes unilaterais plana. Conídios macronematosos solitária, simples, cuneiformes ou piriforme, hialino a castanho claro, liso ou verrucoso, 1-septado, 17-24 µ de comprimento, 13-24 µ de espessura na parte mais larga, M 4-5µ na base. Em folhas de Trifolium a doença que causa mancha de fuligem foi encontrada nos países de Etiópia, Europa, Índia, Iraque, Israel, Jamaica, Quênia, Nova Zelândia, América do Norte, Paquistão (SCHMIDT, 1817).
O fungo C. trifolii foi descrito por (Pers.) F.A. Wolf 1935 e possui uma sinonímia sendo: Sphaeria trifolii Pers. 1801 (INDEX FUNGORUM, 2011). Segundo Farr & Rossman 2011, possui três sinonímias sendo: Plowrightia trifolii Kill. 1923, Mycosphaerella killianii Petr. 1941 e Dothidella trifolii Bayliss-Elliott & Stansfield 1924 (FARR & ROSSMAN, 2011).
Cymadothea trifolii, um patógeno biotrófico de folha, forma uma estrutura única dentro de suas próprias hifas, presumivelmente para a absorção de nutrientes de seu hospedeiro. Esta estrutura, chamada de um aparelho de interação, consiste de longas, finas, muitas vezes, rede, como cisternas rodeadas por uma membrana contínua, com a membrana plasmática fúngica. Entrar na fase de conídios no estroma é estabelecido sob a epiderme inferior. Células no estroma produzem conídios e conidióforos de paredes espessas, que crescem simpodialmente. Ambos os conidióforos e conídios contêm uma estrutura que nós consideramos como uma organela nova com a função ainda desconhecida (SIMON et al, 2005).
Tabela 1. Características morfológicas e morfométricas dos isolados encontrados.
Figura 1. Fuligem preta (Cymadothea trifolii) no trevo branco (Trifolium repens L.) A. Trevo branco, B. Sintoma na parte inferior da planta, mancha foliar, C. Detalhes da lesão, mancha clorótica na superfície da folha, D. Conidióforos agrupados (bar= 1.83µ), D. célula conidiogênica poliblástica (bar= 1.6 µ), E. Conídios macronematosos (bar= 22.86 µ), G. Conídio (bar= 15 µ) e conidióforo (bar= 10 µ), H. Conídio com um septo (bar= 32.5 µ), I. Conidióforo não ramificado (bar= 65.62 µ).
Epidemiologia: O ascomiceto Cymadothea trifolii, um membro de Dothideomycetes, é único entre os fungos biotróficos obrigatórios e possui a capacidade para apenas degradar parcialmente a parede celular do hospedeiro e na formação de um aparelho de interação incrivelmente complexa (IA) em suas próprias hifas, enquanto a célula da planta é atacada, o anfitrião é acionado para produzir uma bolha membranosa em frente ao IA (SIMON et al., 2009).
Embora o fungo não seja considerado um patógeno sério agrícola, tem um impacto significativo nas plantações de trevo utilizadas para a nutrição animal, e é freqüentemente encontrado em locais natural. Em um estudo observou-se que a fuligem preta era "a doença mais freqüentemente gravado" em locais de amostragem em Inglaterra e País de Gales, com o número de folhas danificadas que vão 4-21% (LEWIS & THOMAS, 1991). O fungo C. trifolii é comum em espécies de Trifolium (Fabaceae), mas tambémfoi relata do em alfafa (Medicago sativa) (PUSCHNER, 2005). O patógeno entra na folha através dos estômatos e prolifera intercelularmente. Nutrientes são assumidamente obtidas através de uma interação aparelho produzidas dentro do hospedeiro pelas hifas, em frente ao qual a célula hospedeira é acionada onde invaginam seu plasmalema. Raras tentativas de “auto-parasitismo "também foram vistos.Controle: Para controle químico não foi encontrado nenhum registro no Agrofit.
Para um controle cultural fazer monitoramento no local e arrancar as plantas que apresentarem os sinais da doença.
Por ser uma doença pouco conhecida não há registros de melhoramento genético para Trifolium repens.
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