segunda-feira, 2 de maio de 2011

Boletim Técnico: Verrugose (Elsinöe fawcetti) incidente nas hastes, nas folhas e nos frutos de limão-cravo (Citrus limonia)

Acadêmica: Bruna Ribeiro Machado

INTRODUÇÃO
Pode-se definir doença como um distúrbio fisiológico, resultado de uma irritação continua causada por agentes abióticos ou bióticos e que pode levar ao aparecimento de sintomas (Agrios, 1997). Em conseqüência dessa definição, doença não pode ser confundida com o patógeno nem com os sintomas, nem com injúrias. Também por essa definição, fica claro que o mais importante não é a natureza do agente causal, mas, sim, a interação que ocorre com a planta (Laranjeira et al., 2005).
Dentre os agentes bióticos, destacam-se os fungos e as bactérias, além dos vírus, viróides e nematóides. Os agentes abióticos podem ser temperaturas muito altas ou muito baixas, intoxicação por pesticidas ou minerais, falta ou excesso de luz ou umidade do solo, poluição atmosférica, acidez ou alcalinidade do solo, etc. (Laranjeira, et al., 2005).
Qualquer que seja o agente causal, as doenças podem ser tipificadas de acordo com o processo fisiológico que afetam, e a partir dele ter uma idéia da evolução e do comportamento da interação patógeno-hospedeiro (Laranjeira et al., 2005).
Dentre as doenças das plantas cítricas, a verrugose é a mais freqüente tanto em sementeiras e viveiros como em pomares, afetando somente frutos de laranjas doces (EMBRAPA).
Há dois tipos principais de verrugose: verrugose da laranja azeda, de ocorrência generalizada em todas as regiões citrícolas do globo, que afeta todos os órgãos aéreos de um pequeno número de variedades cítricas, incluindo laranjas azedas, limões rugosos, limões verdadeiros, limões Cravos, pomelos, trifoliatas, tangor, calamondin e algumas tangerinas (Cravo, King, Satsuma) e verrugose da laranja doce, de ocorrência restrita à América do Sul, que afeta principalmente frutos de laranjas doces e, com menor intensidade, outras espécies de citros e gêneros afins, como algumas tangerinas, limas doces, limas ácidas, Kunquates, pomelos
e tângelos. (Kimati, et al.,1997).
No Brasil, a verrugose da laranja azeda é de importância menor, por afetar espécies e cultivares de interesse econômico secundário. Entretanto, ela é muito importante em viveiros contendo porta-enxertos suscetíveis, que podem ter seu desenvolvimento muito comprometido pela doença (Kimati et al., 1997).

Objetivos
O objetivo deste trabalho é comentar a respeito desta doença, verrugose, visto que é prejudicial o seu ataque aos frutos, o principal produto da comercialização dos órgãos de reserva das plantas cítricas.

MATERIAIS E MÉTODOS
Os propágulos foram coletados na área da fruticultura do Instituto Federal Goiano campus Urutaí. A escolha destes propágulos baseou-se apenas no aspecto visual, uma vez que, a necessidade era coletar folhas ou frutos com sintomas de alguma doença. Assim, com o material escolhido, estes foram levados ao laboratório de Fitopatologia, também situado no Instituto Federal Goiano campus Urutaí, para uma análise mais profunda e posterior descobrimento de qual doença e qual patógeno estava infectando tal planta, no caso deste presente estudo, foram coletados amostras de limão Cravo (conhecido também como limão China) – folhas, ramos e frutos.
Com as amostras em mão e com a ajuda de uma lupa, observou-se possíveis estruturas do patógeno – neste caso o fungo causador da doença Verrugose – para a montagem da lâmina semi-permanente. Para a confecção desta lâmina semi-permanente foram usados uma lâmina, para servir de base; uma pinça, para a coleta de áreas da planta infectada por meio do método pescagem-direta; corante Azul Algodão, para colocar sobre a lâmina e fixar a área coletada com a pinça; uma lamínula, para colocar sobre o corante; um pedaço de papel toalha, para enxugar o excesso de corante. Assim, com a lâmina pronta, esta foi levada ao microscópio ótico para a observação de possíveis estruturas do fungo.
Com as estruturas identificadas do fungo, tanto na lupa quanto no microscópio ótico, foi possível o registro das imagens por meio de uma câmera fotográfica, a utilizada neste estudo foi uma máquina Cyber Shot da marca Canon, para posterior montagem da prancha de fotos. Para uma maior riqueza de detalhes e imagens várias lâminas semi-permanentes foram preparadas.
Outro método de se observar as características do fungo, é o crescimento em meio de cultura Agar Água. O procedimento é parecido com o citado anteriormente, primeiro, com a ajuda da lupa coletou-se cinco pedaços da planta com estruturas do fungo e em seguida, colocou esses cinco pedaços, distantes, na placa di Petri contendo o meio Agar Água. Após sete dias nesse meio de cultura foi possível observar o crescimento do fungo e com isso fazer uma repicagem, retirar algumas hifas desta placa e colocar em outra placa di Petri com meio de cultura Agar Água, também.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Hospedeiro/cultura: Limão-cravo (Citrus limonia)
Família Botânica: Rutaceae
Doença: Verrugose
Agente Causal (Anamorfo): Elsinöe fawcetti
Local de Coleta: Instituto Federal Goiano campus-Urutaí
Data de Coleta: 14/03/11
Taxonomia: Pertence ao reino fungi filo Ascomycota, classe Dothideomycetes, ordem Myriangiales, família Elsinoaceae, gênero Pezizomycotina.

Sintomatologia: A verrugose é doença de órgãos em desenvolvimento. A verrugose da laranja azeda afeta ramos, folhas e frutos. Mas as folhas com mais de 1,5 cm de largura, ou que tenham atingindo um quarto do seu tamanho final são praticamente imunes. Os frutos são suscetíveis até atingirem o tamanho aproximado de um quarto do seu diâmetro final, o que na prática corresponde ao período de 10 a 12 semanas após a queda das pétalas. Em todos os órgãos infectados as lesões são superficiais,
não se aprofundando no interior dos tecidos. (Kimati et al., 1997).
Em folhas, os sintomas geralmente aparecem de 4 a 7 dias após a infecção. As lesões são corticosas, irregulares e protuberantes de coloração palha ou acinzentada no local da infecção. As folhas tornam-se bastante distorcidas quando a infecção ocorre durante sua emergência. Uma protuberância desenvolve-se de um lado da lamina e uma depressão correspondente forma-se do outro lado. Quando a infecção ocorre perto do tempo em que as folhas adquirem resistência, as lesões são menores e há pouca distorção. Nos frutos, é comum ocorrer coalescência das lesões, sendo coberta grande extensão da casca. Em porta-enxertos, a doença causa deformações importantes nas folhas e nos ramos, podendo, inclusive, provocar nanismo nas variedades mais suscetíveis, particularmente na laranja-azeda e no limão-rugoso (Zambolim et al., 2002).
Etiologia (Sinais): Os agentes causais da doença são Elsinöe. fawcetti Bitancourt & Jenkins, correspondente, na fase imperfeita, a Sphaceloma. fawcetti Jenkins, causador da verrugose da laranja-azeda (Zambolim et al., 1997).
O gênero Elsinöe apresenta 141 espécies válidas em literatura e a publicação do táxon foi feita no ano de1936 na revista Phytopathology pelo descritores Bitanc & Jenkins (Index Fungorum, 2011).
Micélio imersos, ramificados, septados, hialinos a marrom pálido. Conidios acervulares, comunidades epífila ou caulicolas inicialmente separadas mas muitas vezes coalescentes, composto de texturas angulares marrom pálido a hialina. Conidióforos formados raramente, 1-2 septados, cilíndricos, ramificados, de coloração marrom ou hialina, formada a partir de células superior do conidiomas. Células conidiogênicas enteroblasticas, com 1-3 locus, integrada ou discreta, indeterminado, marrom pálido ou hialina. Conídios hialinos, asseptados, elipsóide, liso (Sutton, 1980).
E. fawcetti apresenta ascomas pulvinados, circulares a elípticos, de cor marrom-escura, com mais de 120 µm de espessura, composto de tecido pseudoparenquimatoso contendo vários lóculos com asco. Os ascos são subglobosos a elípticos, com parede espessada no topo, medindo 12 a 16 µm. Os ascósporos são hialinos, oblongo-elípticos, com 1 a 3 septos, usualmente constritos no septo central, medindo 10-12 x 5-6 µm. S. fawcetti produz conídios unicelulares em acérvulos epidérmicos a subepidérmicos, septados ou confluentes, compostos de pseudoparênquima hialino a marrom-pálido. Dois tipos de esporos são produzidos: conídios hialinos, elipsoidais, de 5-10 x 2-5 µm, e conídios de cor amarelo-pálido a castanho-avermelhado, medindo aproximadamente 4 x 10 µm, podendo atingir até 16 µm de comprimento (Kimati et al., 1997).

Epidemiologia: A produção de conídios requer condições de elevada umidade. A disseminação é feita por respingos de água a curtas distâncias e pelo vento a longas distâncias. Os conídios podem também ser dispersos de outras formas, como por insetos, ácaros, homem, etc. Os conídios são muito frágeis e em períodos secos sobrevivem sobre as lesões por períodos muito curtos. Entretanto, o fungo consegue sobreviver de um ano para outro em lesões de órgãos afetados. Quando sobrevêm condições favoráveis, essas lesões esporulam abundantemente após 1-2 horas de molhamento contínuo. Em presença de um filme de água sobre os órgãos suscetíveis, esses esporos podem germinar e iniciar infecções em 2,5 a 3,5 horas (Kimati et al., 1997).
O fungo foi identificado no limão-cravo, como hospedeira, em 8 países – Índia, Brasil, Itália, Argentina, Portugal, Cuba, Ásia Central e Espanha. Além do limão-cravo, o fungo E. fawcettii foi identificado em mais outras 58 hospedeiras, como por exemplo em Citrus tangerina registrado pela primeira vez na China, enquanto S. fawcettii foi identificado em mais outras 52 hospedeiras, entre elas Mangifera indica registrada pela primeira vez no Brasil (SBML, 2011).
No Brasil há registros de outros fungos que infectam o limão-cravo, além do fungo E.fawcetti, como por exemplo, relatos do fungo Alternaria citri causando podridão em São Paulo; relatos do fungo Phytophthora citrophthora causando podridão da raiz em Santa Catarina; etc. Há também registros do fungo E.fawcetti causando verrugose em outras 10 hospedeiras, como por exemplo, na Tangerina - Citrus nobilis Lour. e com registro em São Paulo; na Laranja-Amarga - Citrus aurantium L. registrado também em São Paulo; etc. (Cenargen, 2011).

Controle: Por ser de incidência freqüente, deve ser controlada anualmente em pomares em que o produto é comercializado para consumo in natura. De acordo com FEICHTENBERGER et al. (1997), a verrugose é a doença dos citros que mais contribui para o consumo de fungicidas no Brasil. Sua importância, portanto, está relacionada aos danos que causa e aos custos do controle, uma vez que não existem variedades resistentes (Zambolim et al., 2002).
O controle convencional da verrugose é feito por meio de pulverizações com fungicidas, visando sempre a proteção de tecidos jovens suscetíveis. A eficácia dos tratamentos depende não só do fungicida utilizado e sua dose, mas também da época e número de aplicações feitas. As pulverizações realizadas antes da floração das plantas são pouco eficazes. Os tratamentos devem ser iniciados quando cerca de 2/3 das pétalas tiverem caído, visando reduzir as infecções primárias nos frutos recém-formados, quando eles são muito suscetíveis. Recomenda-se uma segunda aplicação de 4 a 5 semanas após a primeira, no caso de pomares com histórico de doença severa nas safras anteriores. Em caso de ocorrência de floradas de importância após a florada principal, os frutos provenientes dessas floradas também devem ser protegidos. Em pomares irrigados por aspersão, recomenda-se também a realização de 2 aplicações, pois neles os níveis de infecção são geralmente maiores. Produtos cúpricos (oxicloreto de cobre, óxido cuproso e hidróxido de cobre), benzimidazóis (benomyl, carbendazin e tiofanato metílico) e ditiocarbamatos (ziram) vêm sendo recomendados no controle à doença. O controle de verrugose da laranja azeda em viveiros é essencial, pois os principais porta-enxertos de citros utilizados no país são muito suscetíveis. Métodos culturais de controle devem ser utilizados visando reduzir a severidade da doença. O viveiro deve ser mantido livre de restos de cultura, que podem funcionar como fontes de inóculo. As irrigações por aspersão devem ser evitadas nas 3 semanas após as brotações. As brotações novas devem ser protegidas com fungicidas cúpricos e benzimidazóis, em aplicações alternadas, para se prevenir um possível desenvolvimento de resistência do fungo aos benzimidazóis (Kimati et al., 1997).

Figura 1. A. Ramos de limão Cravo com sintomas da doença Verrugose. B. Fungo Elsinöe fawcettii, causador da verrugose, cultivado em meio de cultura Agar Água. C. Sinais do fungo Elsinöe fawcettii observados na lupa. D. Sintomas da doença Verrugose em frutos de limão Cravo. E. Sintomas da doença Verrugose nas hastes do limão Cravo. F. Sintomas da doença Verrugose na folha – parte adaxial – do limão Cravo. G. Sintomas da doença Verrugose na folha – parte abaxial – do limão Cravo.

CONCLUSÃO

Através deste trabalho foi possível concluir que a verrugose é uma doença muito comum entre os citros, principalmente entre os limões Cravo, na região. Apesar disso, o consumo do limão Cravo não diminui, uma vez que a doença não atrapalha seu consumo e que é um dos ingredientes preferidos dos consumidores para o tempero de sua salada.

LITERATURA CITADA:

BERGAMIN FILHO, A., KIMATI, H. & AMORIM, L. Manual de Fitopatologia: princípios e conceitos. 3a Ed, Vol. I, Editora Agronômica Ceres Ltda, São Paulo SP. 1995.

BERGAMIN FILHO, A., KIMATI, H. & AMORIM, L. Manual de Fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. , Vol. II, Editora Agronômica Ceres Ltda, São Paulo SP. 1997.

EMBRAPA., Embrapa Mandioca e Fruticultura Sistema de Produção de Citros para o Nordeste - Claudio Luiz Leone Azevedo. http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Citros/CitrosNordeste/doencas.htm Acesso em: 27 de fevereiro de 2011.

FARR & ROSMAN, SBML Systematic Botany of Mycological Resources. Disponível em: . Acesso em: 10 de abril de 2011.

INDEX FUNGORUM. Disponível em: . Acesso em: 10 de abril de 2011.

LARANJEIRA, F. F.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; AGUILAR-VILDOSO, C. I.; COLETTA FILHO, H.D. Citros – Fungos, procariotos e doenças abióticas. IAC – São Paulo, SP. 2005

MENDES, M. A. S.; URBEN, A. F.; Fungos relatados em plantas no Brasil, Laboratório de Quarentena Vegetal. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbanco01.asp. Acesso em: 08 de abril de 2011.

SUTTON, B. C.; The Coelomycetes Fungi Imperfecti with Pycnidia Acervuli and Stromata. COMMONWEALTH MYCOLOGICAL INSTITUTE. KEW, SURREY, ENGLAND. 1980.

ZAMBOLIM, L.; RIBEIRO DO VALE, F. X.; MONTEIRO, A.J.A.; COSTA, H.; Controles de Doenças de Plantas Fruteiras. Vol. I. Viçosa MG. 2002.




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