terça-feira, 3 de maio de 2011

BOLETIM TÉCNICO:Ferrugem tropical ou ferrugem branca (Physopella zeae) incidente na cultura do milho (Zea mays)

INSTITUTO FEDERAL GOIANO Campus Urutaí
CURSO DE BACHARELADO EM AGRONOMIA
DISCIPLINA DE FITOPATOGIA 1

Autor: Paulo Renato De Melo Júnior




Introdução

O milho (Zea mays  L. Poaceae) é um  cereal cultivado em grande parte do mundo, é extensivamente utilizado como alimento humano ou ração animal devido às suas qualidades nutricionais. Existem várias espécies e variedades de milho, todas pertencentes ao gênero Zea. O Brasil é o terceiro maior produtor de milho e sua produção corresponde a 6,1% da produção mundial. A importância do milho não está apenas na produção de uma cultura anual, mas em todo o relacionamento que essa cultura tem na produção agropecuária brasileira. Pela sua versatilidade de uso, pelos desdobramentos de produção animal e pelo aspecto social, o milho é um dos mais importantes produtos do setor agrícola no Brasil (Santos., 2010).
O milho sempre foi considerado uma planta rústica, capaz de suportar bem, estresses ambientais. No entanto, com a expansão das fronteiras agrícolas, esta realidade mudou. Surgiram novos problemas para a cultura, principalmente com relação às doenças, capazes de afetar seriamente o desempenho econômico das lavouras. Para a evolução segura do cultivo do milho, do ponto de vista fitossanitário, é importante que tais causas sejam percebidas e estudadas como parte de um processo evolutivo da própria agricultura (Pereira., 1997).
Dentre as doenças incidentes na cultura do milho este trabalho apresenta um boletim técnico referente à ferrugem tropical ou ferrugem branca (Physopella zeae) (Mains) Cummins & Ramachar, Mycologia 50(5): (743) (1959) [1958]. 
No Brasil, encontra-se distribuída no Centro - Oeste, e Sudeste (Norte de São Paulo) . O problema é maior em plantios contínuos de milho, principalmente áreas de pivot (Embrapa., 2011) .
O fungo causador da ferrugem tropical foi constatado no Estado do Espírito Santo, em 1976. Somente nos últimos anos, porém, a doença tornou-se de importância econômica, principalmente nas regiões Centro-oeste e Sudeste, onde encontrou condições favoráveis de desenvolvimento associadas ao freqüente plantio de híbridos suscetíveis (Pereira., 1997).
A doença pode ocorrer em qualquer fase de desenvolvimento da planta, não existem relatos de outras hospedeiras para este patógeno. Este fungo é um parasita obrigatório, e a disseminação ocorre principalmente pelo vento. As plantações localizadas em regiões de baixas altitudes, quentes e úmidas estão mais predispostas a esta doença. A ferrugem tropical ocorre nos plantios tardios, a partir de outubro. Até o momento, a literatura cita a existência de duas raças desse patógeno (Agrofit., 2011).
O objetivo deste trabalho foi apresentar em forma de boletim técnico os vários aspectos referentes ao agente causal da ferrugem tropical ou ferrugem branca (Physopella zeae), incidente na cultura do milho, bem como aspectos de sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle.

Materiais e métodos

            Este trabalho  se inicia na área ( Figura 1) de pivô central do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí, na parte cultivada com milho, cultivar AG 8060 YG( Agroceres).
















      Figura 1. Área experimental com plantio de milho transgênico cultivar 8060 YG.
Esta cultivar conta com a tecnologia YieldGard® que promove o controle e supressão das principais pragas da cultura do milho: Broca-do-colmo, Lagarta-do-cartucho e Lagarta-da-espiga. Para explorar todo o seu potencial produtivo e a qualidade de grãos – colheita na época de chuvas – recomendamos iniciar o plantio com o AG 8060 YG e na seqüência o AG 7000 YG. O AG 8060 YG apresenta alta tolerância a doenças, principalmente a Cercospora, comum nas regiões acima de 700 metros de altitude. (Sementes Agroceres, 2011).

Características da cultivar AG 8060 YG
Possui ciclo precoce, porte de planta médio, inserção da espiga média, grão duro alaranjado, stay Green bom, empalhamento bom, qualidade do colmo excelente, sistema radicular bom e sua finalidade de uso é produção de grãos (Sementes Agroceres, 2011).
                De acordo com as características atribuídas a cultivar, apresentadas pelo departamento de desenvolvimento de produtos da empresa sementes agroceres, em relação a tolerância de doenças, não há nada especificamente à respeito de Physopella zeae, o que podemos dizer que seja um indício da incidência desta doença na área plantada com esta cultivar.
            No que diz respeito à execução do boletim técnico, as amostras de folhas infectadas foram coletadas e conduzidas para o laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí.
            Inicialmente, pelos sinais apresentados, suspeitou-se que tratava da ferrugem comum (Puccinia sorghi) ou, ferrugem tropical ou ferrugem branca (Physopella zeae), o que posteriormente nos levou a realizarmos procedimentos para termos certeza de qual doença e agente causal, realmente se tratava.
Foram inicialmente observados e fotografados os sintomas da doença e os sinais do fungo a olho nu e em microscópio estereoscópico, respectivamente, em folhas da milho. Posteriormente foi preparada uma lâmina semi-permanente. Para coleta, foi utilizada uma pinça em formato de agulha e uma seringa, onde utilizando o método de “pescagem direta” com o auxílio de um microscópio estereoscópico, foram depositados fragmentos do fungo sobre uma lâmina contendo gotas do fixador-orante azul-de-metileno. Logo após homogeneização dos fragmentos depositados, adicionou-se uma lamínula sobre a gota e os propágulos, sendo esta vedada com esmalte para uma melhor fixação.
Foi realizado corte histológico para analisar a interação entre patógeno/hospedeiro. Os sintomas da planta foram fotografados, primeiramente utilizando microscópio estereoscópio (lupa) e os sinais foram microfotografados utilizando câmera digital Power shot.Maco Canon ®, 750, 7.1 mega Pixels. Foi feita uma prancha com as fotos para caracterização e descrição.
Através do microscópio óptico, com o uso de uma ocular micrométrica foram feitas as medidas de dimensões (comprimento e largura) dos esporos. Com o fator de correção  2,5 devido a lente de 40x realizou-se cálculos, obtendo as medidas em micrômetros de cada esporo e calculadas as amplitudes de comprimento e largura.
Através dos dados das amplitudes de comprimento (22-30µm) e de largura (15-22µm), de acordo com a literatura foi possível verificar por certo em qual etiologia dentre as ferrugens do milho estes se encaixavam.

           

Resultados e Discussão


Hospedeiro/cultura: Milho (Zea mays)

Família Botânica: Poaceae

Doença: Ferrugem tropical

Agente causal: Physopella zeae(Mains) Cummins & Ramachar (anam.)

Local de coleta: Área de pivô central do Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí

Data da coleta: 17/03/11
Taxonomia: Pertence ao reino fugi filo Basidiomycota, classe Pucciniomycetes, ordem Pucciniales, família Phakopsoraceae, gênero Physopella.
Sintomatologia: Os sintomas da ferrugem tropical ocorrem em ambas as faces da folha, na forma de pústulas dispostas em pequenos grupos, paralelos às nervuras. As pústulas têm formato arredondado ou oval, com comprimento entre 0,3 e 1,0 mm, de coloração amarelada a castanha, e são recobertas pela epiderme da folha, apresentando uma abertura na região central. Num estádio mais avançado, desenvolvem-se, ao redor das pústulas, halos circulares a oblongos, com bordos escuros, que correspondem à formação de télios subepidérmicos, distribuídos em grupos ao redor dos urédios. Em condições de alta incidência, comuns nos últimos anos em algumas regiões, pode ocorrer coalescência de grupos de pústulas, com a conseqüente morte prematura das folhas. A queda de produção é maior quando a infecção ocorre em plantas jovens e, aliado a isto, tiver condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do patógeno.
Etiologia: Os urediniósporos de Physopella zeae são elípticos ou ovóides, hialinos a amarelo-claros, moderadamente equinulados, com dimensões de 15-22 x 22-33 μm, sendo estas, as dimensões de urediniósporos , diferentes das outras ferrugens ocorrentes na cultura do milho,pois a Ferrugem comum (Puccinia sorghi) apresenta 21-30 x 24-33 µm e a Ferrugem polisora (Puccinia polysora) 20-29 x 29-40 µm. Neste trabalho verificamos as dimensões de15-22 x 22-30 μm.
 Os télios são escuros e subepidérmicos. Os teliósporos são cilíndricos, sésseis, unicelulares, amarelo-dourados a marrom-castanhos, ocorrendo em cadeias de 2 a 3 esporos, estes com dimensão de 12-18 x 16-36 μm,
A fase aecial não é conhecida. Os inóculos primário e secundário consistem de uredósporos provenientes de plantas de milho ou teosinto (Euchlaena spp.). A disseminação dos uredósporos dá-se, principalmente, pelo vento. O fungo é altamente destrutivo, podendo causar apreciáveis danos econômicos quando a planta é afetada antes do florescimento. A presença de água livre na superfície da folha é fator importante para ocorrer a germinação dos esporos.
Epidemiologia: Os uredosporos são o inóculo primário e secundário, sendo transportados pelo vento ou em material infectado. Não são conhecidos hospedeiros intermediários de P. zeae. A doença é favorecida por condições de alta temperatura (22-34ºC), alta umidade relativa e baixas altitudes. Por ser um patógeno de menor exigência em termos de umidade o problema tende a ser a maior na safrinha. Pelo menos duas raças de P. zeae são conhecidas.  Distribuição geográfica da ferrugem-tropical parece estar limitada a áreas quentes e úmidas do México, América Central e América do Sul e Caribe.Não tem sido relatada nos EUA.
Controle: As medidas de controle devem ser baseadas no uso de cultivares resistentes, escolha de melhor época e local de plantio, adubação equilibrada e aplicação de fungicidas. Existem no mercado nacional híbridos com níveis de resistência bastante satisfatórios. São conhecidas duas formas de resistência: uma de natureza monogênica (genes Ht), que se manifesta na forma de lesões clorótico-necróticas, com pouca ou nenhuma esporulação sobre as lesões, e outra poligênica, que se caracteriza pela ocorrência de lesões menores e em menor número sobre as folhas. Para o uso de cultivares com baixo nível de resistência, deve-se escolher a melhor época e local para plantio. Os meses de outubro e novembro e locais onde temperaturas amenas não sejam freqüentes podem resultar numa menor severidade da doença. A adubação com excesso de nitrogênio favorece a maior incidência da doença. A aplicação foliar de fungicida pode ser utilizada para materiais de alto valor econômico ou estratégico. As medidas de controle aplicadas conjuntamente constituem a melhor e mais eficiente prática de controle da doença. Os plantios contínuos tendem a agravar os problemas causados pelas ferrugens em geral. Recomenda-se a alternância de genótipos e a interrupção no plantio durante um certo período para que ocorra a morte dos urediniósporos.
No Agrofit foi verificado o registro de um produto representado pela marca comercial Tilt, sendo registrado com o n° 3058395 pela SYNGENTA PROTEÇÃO DE CULTIVOS LTDA CNPJ: 60.744. 463/0001-90. Fungicida extremamente tóxico muito perigoso ao meio ambiente de ação  sistêmica e formulação Concentrado Emulsionável , pode ser aplicado via terrestre ou aérea, é inflamável e não corrosivo. É comercializado em embalagens de cartucho de papel com saco solúvel de 1 Litro, bandeja plástica com saco solúvel de 1 Litro, lata de fibra com saco solúvel de 1 Litro, frasco coex de 1 Litro, lata de folha de flandres de 1 e 5 Litros, bombona coex de 5 Litros, balde de aço de 20 Litros, farm-pack de polietileno de alta densidade de 225, 420, e 530 Litros, farm pack de plástico de 640 e 1000 Litros (AGROFIT, 2011). Todas as informações para aplicação e precauções com este produto estão disponíveis.













Figura 1. Ferrugem tropical (Physopella zeae) incidente em folhas de Milho (Zea Mays).A. Sintomas do patógeno presentes na planta(pústulas) (E = 1 : 0,8 cm). B. Sintoma na face adaxial (E = 1 : 3 cm). C. Detalhe das pústulas na face adaxial (E = 1 : 0,1 cm). D. E.  corte transversal do mesófilo foliar. D. Urédias(conjunto de urediniósporos(barr = 60 µm)), em interação com a epiderme da folha (E = 1 : 0,6 cm) . E. Urédias(conjunto de urediniósporos(barr =25,7µm)) (E = 1 : 0.002 cm) . F. Urediniósporos com suas equinulações evidentes(barr = 8,5µm) (E = 1 : 0,0003 cm).






Literatura consultada


Agrofit,  Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento. disponível em acessado em 20 de abril de 2011.

Embrapa, Cultivo do Milho/ Doenças Foliares, disponível em < http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Milho/CultivodoMilho_2ed/doencasfoliares> acessado em 20 de abril de 2011.

Index fungorum, Physopella zeae, disponível em acessado em 20 de abril de 2011.
Pereira O. A. P., Manual de fitopatologia/editado por Hiroshi Kimari ... [et al]. - 3. ed.
São Paulo: Agronômica Ceres. 1995- 1997. 2v.: il.p. 500, 505.

Shurtlelff M.C., Holdeman Q., Horne C. W., Konsmedahl T., Martinson C. A., Nelson R. R., Schiefle G. C., Weishing J. L, Wilkinson D.R, Walf G.L., Wysong D. S., Smith H.E., A compendium of Corn Diseases. Production By The American Phytopathological Society, Inc. 3340 Knob Road, St. Paul, Minnesota 55121, Ed. 1. 1973.pág. 35.

Souza E. S. C., Relatório de doenças em grandes culturas, hortaliças e fruteiras, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Fitopatologia, Brasília, UNB. 2010, p. 74.

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