terça-feira, 9 de julho de 2013

Trabalho Acadêmico:Aspectos sintomatológicos, etiológicos, epidemiológicos e controle de Escherichia coli que causam infecções extra-intestinais (ExPEC)



DIÊGO ALBERTO TEODORO

Acadêmico do curso de Ciências Biológicas

 

INTRODUÇÃO

            A Escherichia coli é uma bactéria bacilar Gram-negativa na forma de bastonete e anaeróbica facultativa. Seu habitat primário é o trato gastrointestinal de humanos e outros animais endotérmicos. É considerado um indicador de qualidade de água e alimentos através da análise de coliformes fecais (ESCHERICHIA, 2013).
            Escherichia coli é uma espécie da família Enterobacteriacea extremamente heterogênea e complexa, embora um dos seus membros seja considero o ser vivo mais conhecido na face da Terra (E. coli K12). Do ponto de vista de sua relação com o homem, podem-se distinguir três grandes grupos de E. coli: o grupo das cepas comensais que habita os nossos intestinos, o grupo das cepas enteropatogênicas constituído de vários patótipos e o grupo das cepas patogênicas extra-intestinais capazes de causar diferentes tipos de infecções (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            Geralmente essa bactéria habita o intestino sem causar problemas de saúde. No entanto, ao entrar em contato com outras regiões do corpo, é capaz de provocar infecções (ESCHERICHIA, 2013).
            O grupo das cepas de E. coli que causam infecções extra-intestinais são designadas como ExPEC  (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            O presente trabalho tem como objetivo apresentar informações a respeito da sintomatologia, epidemiologia e controle de E. coli causadoras de infecções extra-intestinais (ExPEC).

DESENVOLVIMENTO

            As infecções do trato urinário, também conhecidas pela sigla UTI, podem atigir a uretra, a bexiga e os rins. As UTIs estão entre as infecções mais freqüentes em todo o mundo e têm como agente etiológico principal a E. coli uropatogência ou UPEC. (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            As UTIs estão dentro das infecções bacterianas mais freqüentes no homem, com uma estimativa da ocorrência de 150 milhões de casos anuais em todo o mundo. As UPEC são responsáveis por cerca de 50% a 60% dos casos. (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            Embora as UTIs possam afetar indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades, é mais comumente observada em mulheres, devido a sua anatomia, com maior incidência entre mulheres jovens durante a adolescência. Todavia, essa relação é invertida durante o primeiro ano de vida, quando esta patologia é mais comum em meninos. A maioria das infecções nas mulheres não resulta em sequelas duradouras ou danos renais, mas é responsável por uma alta morbidade. Entre as UTIs mais graves, aquelas associadas com cateteres urinários representam cerca de 40% de todas as infecções adquiridas nos hospitais, sendo o tipo mais comum de infecções hospitalarem. (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008; INFECÇÃO, 2013).
            Outro ponto que auxilia na ocorrência desse tipo de infecções em mulheres é o hábito de higiênico na direção ânus-vagina, facilitando a migração de bactérias intestinais até a vulva. Além disso, a uretra feminina é mais curta quando comparada com a masculina, facilitando o caminho desses microrganismos até a bexiga (INFECÇÃO, 2013).
            As UPECs têm origem intestinal, embora não façam parte das E. coli comensais. A partir dos intestinos, elas podem migrar e colonizar as regiões periuretrais. Oportunamente, entram na uretra, sobem para a bexiga e aderem ao epitélio vesical através das fímbrias tipo 1 e P que reconhecem seus respectivos receptores. Após a adesão, ocorrem invasão, multiplicação intracelular, apoptose e esfoliação das células infectadas. Alguns estudos sugerem que algumas células não sofrem esfoliação, permanecendo infectadas com as UPEC em estado de dormência. Estas células poderiam ser a causa de infecções recorrentes. A partir da bexiga a UPEC pode ganhar os ureteres e chegar aos rins onde adere ao epitélio renal, principalmente através da fímbria P. Segue-se a adesão, produção de toxinas que lesam os glomérulos. Eventualmente, a UPEC pode atravessar o epitélio e cair na corrente sanguínea (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            As infecções urinárias são mais freqüentes em mulheres devido à proximidade da uretra com o ânus e também porque a vagina se deixa colonizar facilmente pela E.coli. As infecções adquiridas em hospitais são mais facilitadas pelo uso de cateteres. As UPEC contam com eficientes mecanismos para regular a expressão de virulência de acordo com as necessidades que se apresentam. Um dos mais conhecidos é a variação de fase que faculta a UPEC a expressar ou não a fímbria tipo 1 e provavelmente a fímbria P. A expressão da fímbria 1 ocorre quando  a UPEC está localizada na bexiga e deixa de ocorrer quando ela sai da bexiga e se dirigi para os rins (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            Embora todas as porções do trato urinário possam ser afetadas, as infecções mais comuns são a cistite (bexiga) e a pielonefrite (rins). Os pacientes com cistite apresentam disúria (dor ao urinar) e necessidade iminente de urinar.Esses sintomas são decorrentes da irritação da mucosa do trato urinário inferior consequente da infecção. A pielonefrite é uma doença invasiva, que está frequentemente associada com dor intensa, náusea, vômito, febre, sudorese e indisposição. Em cerca de 30% dos casos de pielonefrite ocorre bacteremia, que, por sua vez, pode levar à sepse (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            INFECÇÃO (2013) cita, além dessas, outras manifestações clínicas observadas em pacientes com infecções no trato urinário, como: dor e ardência ao urinar, dificuldades para iniciar a micção, urgência miccional, vontade de urinar diversas vezes ao dia e em pequenas quantidades, urina com mau odor e coloração alterada, urina com sangue.
            A bactéria assintomática ocorre particularmente em pacientes idosos, geralmente mulheres, sendo caracterizada pela presença da bactéria na urina mas com ausência de sintomas. Por outro lado, existem também as UTIs complicadas, que são geralmente freqüentes em idosos. Normalmente, esses pacientes apresentam o trato geniturinário em mau funcionamento, geralmente em função de anomalias funcionais ou estruturais (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            A presença da UPEC ou de produtos bacterianos dentro do trato urinário induz uma resposta do hospedeiro que durante as primeiras horas é caracterizada pela produção de citocinas e pelo influxo de neutrófilos, observado no modelo experimental em camundongos. As interações entre a UPEC aderente e as células epiteliais e imunes do hospedeiro estimulam a expressão de várias moléculas pró-inflamatórias (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            O exame microscópico da urina é o primeiro passo no diagnóstico laboratorial das UTIs. O espécime clínico é centrifugado a 2000 rpm/5 minutos e o sedimento é examinado sob microscopia, após ou não à coloração de Gram ou com azul de metileno. Em geral, a presença de 10 a 50 células brancas/mm³ é considerada normal (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            No caso de cistite, é recomendado o uso da associação trimetoprim-sulfametaxazol (TMP-SMX), ciprofloxacina ou ofloxacina durante três dias consecutivos. Nas pielonefrites agudas, a terapia oral com fluoroquinolona (geralmente citoprofloxacina ou ofloxacina) por sete dias pode ser usada nos pacientes que não apresentaram náusea ou vômito e nenhum sinal de hipotensão ou sepse. Pacientes mais graves podem requerer hospitalização, com um tratamento parenteral durante um a três dias, seguido por um regime complementar de terapia oral (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            Segundo TRATAMENTO (2013), o tratamento para infecções urinárias na gravidez também é feita com o uso de antibióticos. Os medicamentos mais seguros contra a infecção urinária na gravidez são a amoxicilina e a cefalexina que podem ser utilizados em qualquer fase da gravidez.
            A E. coli também é o agente principal mais comum que causa meningite neonatal, com taxas de mortalidade em torno de 15% a 40%, e aproximadamente 50% dos sobreviventes apresentam sequelas neurológicas (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            Além de não despertar uma resposta imunológica humoral satisfatória, o antígeno K1 protege a E. coli  contra a fagocitose e o complemento, o que explica a sobrevivência destas E. coli na corrente circulatória (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            O recém-nascido deve adquirir a E. coli K1 durante a passagem pelo canal do parto. Uma vez adquirida, a E. coli é deglutida e coloniza o intestino da criança. Vários estudos têm demonstrado que parturientes são frequentemente portadoras de E. coli K1 e que a freqüência destas E. coli aumenta com a gestação (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            Os mecanismos que promovem a translocação da E. coli para a corrente circulatória não são bem conhecidos, mas, uma vez na circulação, a E. coli prolifera e atinge os níveis necessários para que ocorra invasão do sistema nervoso central. As MNECs fazem a translocação do sangue para o sistema nervoso central (SNC) sem dano aparente à barreira hematoencefálica, através de um mecanismo de zipper que não afeta a resistência elétrica transendotelial, permanecendo inalterada a membrana da célula hospedeira. A bactéria atravessa as BMECs dentro de um vacúolo, sem ocorrer multiplicação intracelular. (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            A meningite neonatal se caracteriza pela ocorrência de processo infeccioso nas meninges, ocorrem entre o nascimento e o 28º dia de vida. Os agentes infecciosos chegam ao sistema nervoso central (SNC) mais comumente por via hematogênica, razão pela qual a meningite está associada à septsemia neonatal em aproximadamente 75% dos casos. Como na maioria das afecções deste período, os sinais e sintomas da meningite neonatal são inespecíficos e pouco aparentes. Portanto, toda investigação de sepse deve incluir a pesquisa de líquido cefalorraquidiano (LCR), sendo a punção lombar (PL) um procedimento essencial para a precocidade diagnóstica da meningite neonatal. O diagnóstico de certeza para a meningite neonatal é a cultura positiva do LCR indicam acometimento menígeo do recém-nascido. Os importantes avanços obtidos em cuidados intensivos neonatais e a introdução de novos antibióticos nas últimas décadas têm resultado em declínio significativo da mortalidade pela meningite neonatal (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            A rigor, a E. coli pode causar infecções em qualquer tecido do corpo humano. Uma das infecções extra-intestinais mais freqüentes é as localizadas intraperitonealmente. Estas infecções podem ser representadas por peritonites e abscessos e geralmente surgem em consequência da contaminação da cavidade peritoneal devido a rupturas espontâneas de certos órgãos como o apêndice ou em consequência de processos cirúrgicos que envolvem os intestinos. Estas infecções são geralmente polimicrobianas, mas, na maioria das vezes, a E. coli aparece como um dos componentes da microbiota infectante (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008).
            Algumas medidas podem ser adotadas para a prevenção das infecções urinárias, como, por exemplo: ingerir pelo menos 2 litros de água por dia, pois o fluxo urinário elimina as bactérias que ainda não se fixaram no epitélio dos canais urinários; urinar sempre que sentir necessidade. Para as mulheres é importante fazer a higienização após evacuar sempre da frente para trás e, se possível, lavar a região perianal; evitar o uso prolongado de absorvente íntimo e evitar o uso constante de roupas íntimas de tecido sintético (INFECÇÃO, 2013).

CONCLUSÕES

            A Escherichia coli é uma espécie heterogênea e complexa de grande importância para os seres humanos, pois elas causam várias doenças, entre elas estão as infecções urinárias, meningite neonatal e infecções intra-abdominais.
            A E. coli pode causar infecções urinárias, como cistite e pielonefrite, acometendo principalmente as mulheres, causando dores ao urinar e dificuldades de micção. Essa bactéria pode causar, também, meningite neonatal que pode comprometer o sistema nervoso da criança. Durante cirurgias na região abdominal, a ruptura acidental do trato digestivo dessa região pode ocasionar infecções intraperitoneais.
            Uma das formas de prevenção, no caso de infecções urinárias, é o cuidado higiênico que devemos ter, principalmente por parte das mulheres que possuem os órgãos genitais mais predispostos a infecções desse tipo. O cuidado durante o parto e durante cirurgias abdominais é importante para evitar meningites e infecções intraperitoneais.
            Após realização da revisão bibliográfica, foi possível apresentar informações relevantes sobre a sintomatologia, epidemiologia e controle de Escherichia coli causadoras de infecções extraintestinais (ExPEC). Esclarecendo, também, quais são os tratamentos e a prevenção para evitar infecções causadas por essa bactéria.

LITERATURA CITADA

TRABULSI, L. R.: ALTERTHUM, F. Microbiologia 5ª ed. São Paulo: Atheneu, 2008.
ESCHERICHIA coli disponível em:< http://www.brasilescola.com/biologia/eschericha-coli.htm> acesso em junho de 2013.
INFECÇÃO urinária disponível em:< http://www.infoescola.com/doencas/infeccao-urinaria/> acesso em junho de 2013.
TRATAMENTO para infecção urinária disponível em:< http://www.tuasaude.com/tratamento-para-infeccao-urinaria/> acesso em junho de 2013.
 

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