segunda-feira, 15 de julho de 2013

Trabalho Acadêmico: Aspectos sintomatológicos, etiológicos, epidemiológicos e controle de Listeria monocytogenes



ALINE NARA DA SILVA

Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas






INTRODUÇÃO

A bactéria causadora da listeriose, Listeria monocytogenes, é conhecida desde o inicio do século XX, mas sua identificação definitiva como espécie bacteriana foi feita somente em 1940. Seu nome monocytogenes, vem da sua capacidade em causar monocitose (aumento do número de monócitos ou glóbulos brancos no sangue) em coelhos, porém no homem essa bactéria causa infecções não acompanhadas de monocitose. (CAMPOS & SILVA, 2008).
É um patógeno oportunista humano causador de diversas infecções, principalmente em gravida e recém-natos, ou seja, pessoas com o sistema imune debilitado. Essas infecções são causadas pela ingestão de alimentos contaminados, principalmente leites e seus derivados e produtos industrializados mantidos sob-refrigeração. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Essa infecção manifesta-se como gastroenterite, meningite, encefalite, infecção materno-fetal e septicemia. É uma bactéria que possui um arsenal de genes que a capacita a ter acesso a vários órgãos, porém sua prioridade é o tecido placentário e o sistema nervoso central. (CAMPOS & SILVA, 2008).
É uma bactéria de grande interesse na medicina, (os principais atingidos por essa infecção são pertencentes á alta sociedade) principalmente para microbiologista alimentar, que procuram estudar métodos de como evitar sua proliferação nos alimentos, evitando assim a contaminação do homem. É uma bactéria que possui grande resistência a temperaturas que podem variar de 4°C a 45°C, suportam variação de pH entre 6 e 9 e ainda suporta uma concentração de sal de até 20%, sendo assim uma bactéria de difícil controle. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Por ser uma bactéria contraída pela ingestão de alimentos, algumas medidas podem evitar essa contaminação, tais como: higienização das mãos do manipulador e dos alimentos, conscientização do consumidor, evitar leite in natura e seus derivados e alimentos refrigerados devem ser aquecidos antes de serem consumidos. E lembrando que a manifestação dessa infecção depende muito do sistema imune, da dose infectante e da virulência da cepa. (CAMPOS & SILVA, 2008).
            O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão bibliográfica a respeito da bactéria Listeria monocytogens levando em consideração aspectos de sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle da bactéria Listeria monocytogenes.
DESENVOLVIMENTO
Etiologia
A bactéria Listeria monocytogenes é um patógeno oportunista humano, causadora de diversas infecções graves em indivíduos com o sistema imunológico comprometido, dentre os quais os mais afetados são mulheres gravidas e recém-natos, causando gastroenterite, meningite, encefalite, infecção materno-fetal e septicemia. E essas doenças são adquiridas pela ingestão de alimentos contaminados. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Por possuir um arsenal de genes que facilitam sua sobrevivência intracelular, a Listeria monocytogenes realiza a invasão nas células sem que o sistema imune perceba sua presença. E por ser uma bactéria transmitida por alimentos vem despertando grande interesse dos microbiologistas da área. (CAMPOS & SILVA, 2008).
A bactéria Listeria monocytogenes é um bacilo Gram-positivo pleomórfico, não produtor de endósporos e cápsula, móvel, são anaeróbios facultativos, fermentadores de glicose e capazes de crescer numa faixa de temperatura entre 4°C e 45°C, suportam uma variação de pH entre 6 e 9 e concentração de sal de até 20%. (CAMPOS & SILVA, 2008).
 A bactéria Listeria monocytogenes possui várias estratégias para driblar o sistema de defesa, causando assim as infecções. Essas estratégias são chamadas de fatores de virulência. Dentre os quais estão presentes: As internalinas que são proteínas que funcionam como invasinas, induzindo á internalização da Listeria  monocytogenes em células epiteliais não fagocíticas in vitro. E o processo de invasão é induzidos por duas internalinas (Inl A e Inl B), além disso participam no espalhamento para as células adjacentes. As Listeriolisina o (LLO) que é o principal fator de virulência de L. monocytogenes, sendo uma hemolisina formadora de pores e colesterol-dependentes necessário para a sobrevivência e proliferação das listerias. Esta hemolisina causa a lise da membrana do fagossomo, o rompimento do vacúolo de dupla membrana formado durante o espalhamento da bactéria célula a célula. Os poros ou as lesões da membrana facilitam o acesso das fosfolipases, levando a uma total dissolução da barreira física que delimita o compartimento fagossômico.  As fosfolipases: PlcA e PlcB, promovem a degradação dos fosfolípideos presentes na membrana dos fagossomos. As ActA (Actin Nucleating Factor): é uma proteína secretada pela célula bacteriana que tem papel fundamental na motilidade bacteriana baseada em actina. As Ami (uma Autolisina envolvida na adesão) possuindo atividade lítica sob a parede celular da listeria e está envolvida na adesão bacteriana em células-alvo. O p60 (uma hidrolase de parede celular envolvida na virulência) sendo responsável por restaurar a capacidade invasiva da bactéria. O Mpl (Metaloprotease): contribui indiretamente para a virulência, estando possivelmente envolvida no processamento da fosfolipase PlcB. A Captação de Ferro que tem importância para o crescimento da Listeria nos tecidos do hospedeiro e para regulação da expressão de genes de virulência. E a desenvolveu mecanismos que captam o ferro necessário. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Sintomatologia
Listeria monocytogenes é um patógeno intracelular facultativo, sobrevivendo e proliferando em macrófagos, enterócitos e outras células. As infecções geralmente ocorrem após a ingestão de alimentos contaminados, sendo o gastrointestinal o sítio primário de entrada do hospedeiro. Alguns fatores podem favorecer a infecção, como o uso de antiácidos, de bloqueadores de H2 e realização de cirurgias previa de úlcera. (CAMPOS & SILVA, 2008).
O período de incubação pode variar de 20 horas após a ingestão de alimentos a 20-30 dias. A dose infectante vai de 106 a 109 bactérias. O curso da doença depende muito da suscetibilidade do hospedeiro, sendo os pacientes, com deficiências fisiológicas e patológicas que afetem a imunidade mediada por células T, os mais afetados. (CAMPOS & SILVA, 2008).
No intestino, a bactéria adere á mucosa intestinal e promove uma fagocitose induzida. No interior do fagossomo, a bactéria rompe a membrana e escapa para o citoplasma da célula hospedeira, onde pode se dividir e invadir os enterócitos vizinhos. Desde modo a bactéria vai se movendo de uma célula a outra sem ficar exposta a anticorpos. A Listeria é rapidamente translocada para tecidos mais profundos. As Listeria que conseguem atravessar a barreira intestinal são levadas através dos linfonodos e do sangue para os linfonodos mesentéricos, baço e fígado. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Apesar dos macrófagos residentes no fígado desempenharem um papel importante na contenção de infecções, os hepatócitos são o sítio preferencial de multiplicação de Listeria. E se essa infecção não é controlada no fígado, a intensa proliferação bacteriana pode levar a liberação da Listeria para a circulação. (CAMPOS & SILVA, 2008).
A Listeria monocytogenes tem a capacidade de parasitar diversos órgãos, mas a bactéria tem á preferência pela placenta e pelo sistema nervoso central. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Os sintomas variam de acordo com a doença ocasionada, sendo que pode ocasionar as seguintes doenças:
Listeriose fetal: a bactéria se propaga pela via transplacentária hematogênica, levando á colonização das listeria na membrana corioamniótica. A translocação através do tecido endotelial faz com que a bactéria atinja a corrente sanguínea do feto, levando a uma infecção generalizada, o que leva a um óbito ou nascimento prematuro de um neonato com várias lesões piogranulomatosas. (CAMPOS & SILVA, 2008).
A Listeriose fetal agrupa a listeriose da grávida e do recém-nascido. Quando a infecção ocorre durante os dois primeiros meses de gravidez ela pode ser a responsável por abortamento. A gravidade da afecção fetal é proporcional ao tempo decorrido entre a infecção e o nascimento. Para gravidez com mais de 28 semanas a listeriose é responsável por 20%de morte intrauterina, 14% de natimortos, 40% de infectados, porém viáveis e 25% de crianças indenes. (LABORATORIO BIOLIDER, 2013).
Infecção na Gestação: devido á baixa imunidade ás grávidas podem desenvolver uma bacteremia por Listeria. É manifestada como uma doença aguda febril, acompanhada por mialgias, artralgias, cefaleias e dores nas costas. Conseguindo proliferar em áreas da placenta onde cerca de 20% dessas infecções resultam em natimorto ou morte neonatal e o trabalho de parto prematuro é comum. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Infecção neonatal: quando ocorre a infecção no útero, o feto pode estar morto ou morrer em poucas horas em função de uma infeção disseminada conhecida como granulomatosis infantiseptica. Caracterizada pela presença de vários microabscessos ou granulomas, particularmente no fígado e no baço. Essas infecções podem se manifestar de duas formas: septicemia de início precoce, onde a bactéria se em contra no ouvido externo, nariz, garganta, mecônio, fluido amniótico, placenta e sangue; e meningite de início tardio, que ocorre cerca de duas semanas após o parto, devido presença da bactéria na vagina durante o parto (CAMPOS & SILVA, 2008).
Bacteremia: é caracterizada pela presença de um grande número de bactérias no sangue que pode gerar um quadro infeccioso grave chamado choque séptico. (TUA SAÚDE, 2012). É a manifestação mais comum por Listeria, onde os sinais incluem tipicamente febre e mialgias e sintomas prodrômicos como diarreia e náuseas (CAMPOS & SILVA, 2008).
Meningites: como a Listeria monocytogenes possui uma preferência pelo sistema nervoso central, particularmente pelo tronco cerebral e meninges. Com isso a infecção por Listeria é uma das três principais causas de meningite neonatal, e em segundo lugar entre as meningites que ocorrem com adultos com mais de 50 anos e a mais comum de meningites em pacientes com linfomas, transplantados ou imunossuprimidos por corticosteróides (CAMPOS & SILVA, 2008). Essa infecção causa febre alta, fortes dores de cabeça, rigidez de nuca, moleza em pacientes após 2 anos de idade, podendo evoluir gravemente em poucos dias ou até em horas. Outros sintomas podem aparecer náuseas vômitos, fotofobia, confusão mental e abatimento no estado geral. Em recém-nascido ou lactante, os sintomas clássicos de febre, dor de cabeça, rigidez de nuca e fontanela abaulada estão frequentemente ausentes, o que dificulta o diagnóstico nessa faixa etária. Ficar atento com sintomas como baixa atividade da criança, irritabilidade, choro intenso, gemência, vômitos, ou seja, sinais e sintomas inespecíficos (CVE SAÚDE, 2012)
Abscessos Cerebrais: constituem cerca de 10% das infecções do SNC por Listeria e nestes casos, a bacteremia está quase sempre presente e em 25% dos casos é observada uma meningite concomitante (CAMPOS & SILVA, 2008).
Endocardites: é uma inflamação das estruturas internas do coração, formada quando uma bactéria circulante na corrente sanguínea se aloja em uma das válvulas, multiplicando-se e formando o que chamamos de vegetação valvar. A vegetação das válvulas é um emaranhado de bactérias, glóbulos bancos, glóbulos vermelhos, fibrinas e restos celulares. Se não reconhecida e tratada a tempo, a endocardite infecciosa destrói a válvula acometida levando o paciente a um quadro de insuficiência cardíaca aguda e grave (MD SAUDE, 2009). Representa cerca de 7,5% das infecções por Listeria em adultos, particularmente nos portadores de prótese valvular (CAMPOS & SILVA, 2008).
Infecções localizadas: a bacteremia pode levar frequentemente a hepatite e abscessos hepáticos, coleocistite, peritonite, abscessos esplênicos, infecções pleuropulmonares, infecções nas articulações, osteomielite co-infecciosa (CAMPOS & SILVA, 2008).
A bactéria Listeria monocytogenes é identificada por testes de coloração de Gram, que mostra bacilos Gram-positivos pleomórficos, na observação da mobilidade típica a 10°C e 25°C, produção de ácido a partir da glicose, hidrólise da esculina e reações positivas de Voges-Proskauer e vermelho metila. A utilização de ágar sangue é importante devido ao tipo de hemólise que é bastante sugestivo (CAMPOS & SILVA, 2008).
EPIDEMIOLOGIA
A listeriose como atinge principalmente pessoas com sistema imune debilitado é muito raro em crianças e adultos com imunocompetentes. É uma doença que está relacionada com o sistema imune, com a dose infectante que deve ser alta e da virulência da cepa. Nos últimos 20 anos a Listeria têm sido reconhecida como responsáveis por surtos veiculados por alimentos nos Estados Unidos e na Europa, já que a listeriose é uma infecção de origem alimentar. Vale ressaltar que sua maior ocorrência é entre indivíduos das classes de maior poder aquisitivo, pois são os que mais consomem produtos industrializados. Os alimentos mais frequentemente contaminados incluem requeijão e outros produtos derivados do leite, patês, salsichas, defumados, saladas, enfim alimentos prontos para o consumo. Como a Listeria monocytogenes tolera altas concentrações de sal e pHs relativamente baixos e, além disso, são capazes de se multiplicar sob temperaturas de refrigeração, tornando a Listeria um dos microrganismos que mais preocupam a indústria alimentícia (CAMPOS & SILVA, 2008).
 Controle
            Para o tratamento é usado principalmente a ampicilina, um antibiótico que pode ser utilizado em associação á gentamicina, nos casos de bacteremia em que existe deficiência das funções de células T e em todos os casos de meningite e endocardite. É usado de forma alternativa o trimetopim-sulfametoxazol em casos de pacientes que possuem sensibilidade a penicilinas. Mesmo que a resistência antimicrobiana clinicamente significativa ainda não tenha sido documentada, a vigilância é necessária, uma vez que já existem relatos de transferência da resistência a drogas de Enterococcus para amostra de Listeria monocytogene (CAMPOS & SILVA, 2008).
Como a listeriose está diretamente ligada á alimentação por alimentos contaminados, evitar a ingestão desses alimentos seria a solução ideal, porém não seria fácil executá-la. Então a prevenção é a higienização das mãos dos manipuladores de alimentos e a conscientização do consumidor. Devem-se submeter os alimentos a cocção e evitar o consumo de leite in natura, queijos elaborados com leite não pasteurizado e vegetais crus sem lavar adequadamente. Como a bactéria se desenvolve em temperaturas de refrigeração, os alimentos aí condicionados devem ser aquecidos antes do consumo (CAMPOS & SILVA, 2008).
CONCLUSÃO
No presente estudo pude perceber que a Listeria monocytogenes, é uma bactéria muito resistente e que pode acometer grandes danos á saúde podendo levar até a morte do indivíduo, dependendo do seu sistema imune. É uma bactéria que penetra facilmente em qualquer órgão devido a sua virulência que é capaz de driblar o sistema imune do nosso organismo e infectar nosso corpo.
É uma bactéria de grande interesse médico e microbiológico, pois, é uma bactéria que é transmitida através da alimentação e que gera inúmeras doenças. Não é uma bactéria de fácil controle, porém algumas medidas preventivas, higiene e boa alimentação pode evitar sua epidemia. É uma doença que atinge principalmente a classe alta da sociedade, pois, são os que mais têm acesso a alimentos industrializados e de fácil consumo.

LITERATURA CITADA
CVE SAÚDE, disponível em:, acesso em 04/04/2013.
MD SAÚDE, disponível em: , acesso em 04/04/2013.
TUA SAÚDE, disponível em: http://tuasaude.com/bacteremia/&q=bacteremia&sa=X&ei=UdxdUcHHEIXQowHv6YH4Cw&ved=oCCI >, acesso em 04/04/2013.
LABORATÓRIO BIO LIDER, disponível em: http://www.laboratoriobiolider.com.br/media/images/00000624-LISTERIOSE.pdf&q=listeriose+fetal&sa=&ei=wdddufDy >, acesso em 04/04/2013.
CAMPOS, L. C.; SILVA, D.C.V. Listeria monocytogenes. In: TRABULSI, L.R. (ed.); ALTERTHUM, F. (ed.). Microbiologia. 5.ed.São Paulo: Atheneu, 2008. P.237-245.


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