segunda-feira, 15 de julho de 2013

Trabalho Acadêmico: Aspectos sintomatológicos, etiológicos, epidemiológicos e controle de Brucella sp.



TARINE DE ARAÚJO ALVES 

Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas

 


INTRODUÇÃO

            A brucelose foi inicialmente descrita no homem no inicio do século XIX, a partir de casos de febre ondulante seguidos de morte, ocorridos na Ilha de Malta, no Mar Mediterrâneo, sendo por isso denominada Febre Malta. Bruce em 1887 isolou o agente etiológico recebendo o nome Micrococcus melitensis. Mais tarde a bactéria foi renomeada como Brucella melitensis em homenagem a Bruce (POESTER, 2013).
A brucelose é uma enfermidade contagiosa especifica causada por diferentes gêneros da bactéria Brucella. Dentro deste gênero são descritas algumas espécies independentes, cada uma com seu hospedeiro de eleição. As principais são Brucella abortus, encontradas em bovinos; Brucella suis, de suínos; Brucella melitensis, de caprinos e Brucella cannis que afeta cães. Ela produz inflamação crônica em órgãos da reprodução, e ocorrem também em outras espécies de animais. Trata-se de uma zoonose, e o homem pode ser o eventual portador, pois, a brucelose humana é considerada profissional pelos órgãos da Saúde Pública. (LAUAR, 1983; POESTER et al 2002).
 A Brucella é um gênero de bactérias gram-negativas. São cocobacilos pequenos, que formam colônias muito pequenas, lisas, com tom esbranquiçado e não-hemolíticas. São imóveis, não capsuladas, não esporuladas e são aeróbios estritos, realizando metabolismo oxidativo. Reduzem nitratos a nitritos e são nutricionalmente exigentes (Corbel & Morgan, 1984).
 Esse trabalho tem como objetivo descrever os sintomas, epidemiologia, diagnóstico, tratamento, prevenção e controle da doença causada pela Brucella sp.






DESENVOLVIMENTO                                    
Sintomas

As bactérias são ingeridas com o leite ou outros alimentos lácteos e invadem a mucosa intestinal. Também podem ser aspiradas ou penetrar por feridas em contato com o animal. O período de incubação pode variar de uma semana a meses. A brucelose é uma doença crônica de progressão lenta. A infecção por Brucella mellitensis é mais grave que as outras formas. Os sintomas mais comuns no homem da enfermidade bacteriana generalizada de começo agudo ou insidioso envolvem febre continua, intermitente ou irregular, de duração variável, debilidade, cefaléia, suor profuso, sinusite severa, fadiga, perda de peso, fraqueza, linfoadenopatia, esplenomegalia e mal estar generalizado. Na forma crônica, os sintomas retornam mais intensos. Os mais característicos são: febre recorrente, grande fraqueza muscular, forte dor de cabeça, falta de apetite, perda de peso, tremores, manifestações alérgicas, pressão baixa, labilidade emocional e alterações de memória (CAVALCANTE, 2000).
Brucelose é uma doença sistêmica que, nos quadros mais graves, pode afetar vários órgãos, entre eles os sistema nervoso central, o coração, os ossos, as articulações, o fígado e o aparelho digestivo (BRASIL, 1998).

Etiologia

            brucelose, também conhecida por febre do Mediterrâneo, febre de Malta, febre de Gibraltar, febre de Chipre, doença de Bang e febre ondulante (pela remitência do seu quadro febril), foi estudada mais profundamente em 1887, em Malta, pelo médico escocês David Bruce que estabeleceu os seus agentes etiológicos. Em 1977 foi isolada de cães na Argentina (PEREIRA, 2013).
            É provocada por bacilos muito pequenos (alguns autores falam em cocobacilos), aeróbios (necessitam de meios oxigenados para sobreviverem) Gram negativos, imóveis, não encapsulados (o que dificulta a ação de alguns antibióticos), não formam esporos e são parasitos intracelulares facultativos (Corbel & Morgan, 1984).

Epidemiologia

A brucelose é uma zoonose que provoca grandes perdas econômicas nas criações animais, bem como o risco considerável à saúde pública (ACHA et al., 2001). Essa doença possui distribuição mundial, especialmente nos países mediterrâneos da Europa, no norte e oeste da África, na Índia, Ásia Central, México, América Central e América do Sul. As fontes de infecção e o agente etiológico variam com a zona geográfica. Em bovinos leiteiros, a brucelose provoca grandes perdas sanitárias e econômicas e também a possibilidade de transmissão pela ingestão do leite contaminado (SCHEIN et al., 2004).
A brucelose é uma zoonose que acomete primariamente várias espécies de animais domésticos e silvestres, podendo infectar o homem. De todas as espécies do gênero Brucella, quatro podem transmitir-se dos animais ao homem, sendo raríssima a transmissão entre pessoas. A Brucella melitensis, que infecta caprinos e ovinos, é a mais patogênica para o homem. A presença desta espécie bacteriana nunca foi reconhecida no Brasil. A Brucella suis, que infecta primariamente suínos, está presente no Brasil, mas com uma prevalência muito baixa. A Brucella abortus, infecta primariamente bovinos e bubalinos, assim como o homem, sendo que maiores prejuízos causa à bovinocultura do país, em função a extensão dos rebanhos brasileiros e de áreas com prevalências altas. A Brucella canis é a que apresenta menor patogenicidade para o homem e está bastante difundida no Brasil, especialmente nas grandes cidades. A Brucella ovis (ovinos), presente no Brasil, e a Brucella neotomae (rato do deserto), não encontrada no Brasil, não são patogênicas para o homem. Quanto às espécies marinhas, há poucos registros de infecções humanas, na maioria dos casos ocasionada por acidentes em laboratórios (POESTER, 2013).
O risco de contrair a infecção é maior no caso de homens adultos que trabalham com a saúde, criação e manejo de animais ou nos abatedouros e casas de carne. A transmissão ocorre através do contato com tecidos, sangue, urina, secreções vaginais, fetos abortados e em especial placenta provenientes de animais infectados. Os animais podem ser infectados através do ar nos currais e estábulos. No entanto, mulheres e crianças também podem ser infectadas, pelo consumo de leite e alimentos lácteos não pasteurizados de vacas, ovelhas e cabras, assim como é possível a transmissão vertical da enfermidade da mãe para o feto (FIGUEIREDO,1986).


Controle

A eliminação da doença no homem depende fundamentalmente da eliminação da enfermidade nos animais. A prevenção deve ser baseada na eliminação destas fontes. Torna-se, portanto, fundamental a adoção de medidas que reduzam o risco de infecção, como por exemplo, medidas de proteção nas diferentes atividades profissionais e medidas associadas à higiene alimentar (POESTER, 2013).
Nos bovinos, o controle da doença pode ser obtido pela vacinação dos animais de reprodução, visando aumentar a imunidade dos rebanhos e diminuir os riscos de abortos, seguido da eliminação de animais mediante segregação e sacrifício dos infectados (POESTER, 2013).
De acordo com o PNCEBT (Brasil, 2004), instituído para bovinos e bubalinos, a vacina oficial e obrigatória no Brasil é vacina B19, aplicada somente nas fêmeas entre 3 e 8 meses de idade. A restrição na idade de vacinação das fêmeas é devido à interferência na sorologia em animais vacinados acima deste período, confundindo o diagnóstico. Em função disto, as fêmeas vacinadas dentro da idade recomendada, só poderão ser testadas depois dos 24 meses de idade. O programa brasileiro permite, em situações especiais, o uso da vacina RB51 em fêmeas adultas. Sendo elaborada com uma amostra não aglutinogênica, esta vacina não interfere no diagnóstico sorológico, podendo por isso ser aplicada em fêmeas com qualquer idade (Brasil, 2007).
Na ocorrência de surtos, ou seja, dois ou mais casos requer a notificação imediata às autoridades de vigilância epidemiológica municipal, regional ou central, para que se desencadeie a investigação das fontes comuns e o controle da transmissão através de medidas preventivas (BRASIL, 1998).
As medidas preventivas mais comuns ocorrem por meio da educação da população para que não se consuma leite e derivados de leite sem pasteurização; educação dos granjeiros e dos trabalhadores de matadouros a respeito da natureza da enfermidade e do risco de manipular carnes ou produtos de animais potencialmente infectados; funcionamento apropriado dos matadouros para minimizar a exposição ou contato; aplicação de provas sorológicas nos animais suspeitos e eliminação dos animais infectados. Os produtos de origem animal como o leite e os produtos lácteos de vacas, ovelhas e cabras devem ser pasteurizados. Deve-se ter cuidado no manejo e na eliminação da placenta, secreções e fetos dos animais abortados. A desinfecção das zonas contaminadas também deve ser feita (SÃO PAULO, 2002).
Já nas medidas em epidemias, a busca do veículo comum da infecção deve ser feita, que normalmente seria o leite não pasteurizado e seus derivados, especialmente o queijo, provenientes de rebanho infectado. O controle seria efetivo ao reunir ou confiscar os produtos suspeitos e interromper a sua produção e distribuição, ao menos que estes sofreram pasteurização (SÃO PAULO, 2002).


CONCLUSÃO
Pode-se observar que a brucelose é uma patologia contagiosa, que afeta tanto homem como os animais. Os prejuízos causados por ela são significantes, sendo considerado um problema de saúde pública. Os sintomas variam de acordo com a espécie da bactéria, e no homem varia na forma aguda e crônica. O diagnóstico mais preciso, quando os sintomas característicos da doença são identificados em animais, é feito pelo isolamento e identificação da bactéria, mas quando isso não é possível o diagnóstico deve ser baseado em métodos sorológicos oficiais. Já em humanos o levantamento do histórico do paciente e a analise clinica criteriosa são fatores fundamentais para chegar ao diagnóstico exato. O uso de antibióticos para o tratamento de animais não é eficiente. Nos seres humanos o tratamento da brucelose tem como base a associação de antibióticos com repouso e hidratação. Por ser uma doença de distribuição universal as medidas de prevenção são as mesmas em todos os lugares. Assim a vacinação, o trabalho de conscientização da população e profissionais, a fiscalização das autoridades de vigilância epidemiológica, funcionamento apropriado dos matadouros e a pasteurização dos produtos de origem animal contribuem com a produção alimentícia e à promoção da saúde mundial.






LITERATURA CITADA
ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animales. 3. Ed. Buenos Aires: Organização Panamericana de la Salud, 2001. p. 28-56.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose - PNCEBT. 2006. 184p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Brasileiro de Vigilância Epidemiológica, Brasília, DF, 1998.

BRASIL. Secretaria de Defesa Agropecuária, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº 6 de 8 de janeiro de 2004. Aprova o Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal. Diário Oficial da União, Brasília, 12 jan. 2004, Seção 1, p. 6 - 10.

BRASIL. Secretaria de Defesa Agropecuária, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº 33 de 24 de agosto de 2007. Estabelece as condições para a vacinação de fêmeas bovinas contra brucelose, utilizando vacina não indutora da formação de anticorpos aglutinantes, amostra RB51. Diário Oficial da União, Brasília, 28 ago.2007, Seção 1, p. 6-7.
CAVALCANTE. F. A. Instruções Técnicas: brucelose, diagnóstico e controle. Embrapa, n. 26, p. 1-3, mar. 2000. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2013.
CORBEL, M. J.; MORGAN, W. J. B. Genus Brucella Meyer and Shaw, 1920, 173AL. In: Holt, J.G., editor. Bergey’s manual of systematic bacteriology vol. 1. Baltimore  (MD): Williams & Wilkins, p.377-388, 1984.
FIGUEIREDO, B. L. Brucelose ocupacional. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE ZOONOSE, 1986. Belo Horizonte: Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde, Secretaria de Saúde de Minas Gerais, p. 43-45, 1986.
LAUAR, N. M. Brucelose. Boletim técnico, Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral. n.169, 1983. p. 13.
PEREIRA, J. C. Brucelose.  Disponível em:  <http://www.nossoscaesegatos.hpg.ig.com.br/brucelose.html>. Acesso em: 30 jun. 2013.
POESTER, F. P. Brucelose. Disponível em: <http://setordevirologiaufsm.files.wordpress.com/2013/01/brucelose-rev2.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2013.
POESTER, F. P.; GONÇALVES, V. S. P.; LAGE, A. P. Brucellosis in Brazil. Veterinary Microbiology. v. 90, 2002, p. 55-62.
SÃO PAULO (Estado). Centro de Vigilância Epidemiológica. Manual das Doenças Transmitidas por Alimentos. São Paulo, 2002.
SCHEIN, F. B.; SANTOS, M. D.; SIQUEIRA, A. A. F.; MOSQUETTE, R.; FREITAS, S. H.; CASTRO, R. S.; SIMÕES, R. S.; CAMARGO, L. M. Prevalência de brucelose em bovinos de leite e fatores de risco associados a transmissão em seres humanos. Arquivo do Instituto Biológico, São Paulo, v. 71, p. 540-542, 2004.
 

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