TARINE DE ARAÚJO ALVES
Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas
INTRODUÇÃO
A brucelose foi inicialmente descrita
no homem no inicio do século XIX, a partir de casos de febre ondulante seguidos
de morte, ocorridos na Ilha de Malta, no Mar Mediterrâneo, sendo por isso
denominada Febre Malta. Bruce em 1887 isolou o agente etiológico recebendo o
nome Micrococcus melitensis. Mais tarde a bactéria foi renomeada como Brucella
melitensis em homenagem a Bruce (POESTER, 2013).
A brucelose é uma enfermidade contagiosa
especifica causada por diferentes gêneros da bactéria Brucella. Dentro
deste gênero são descritas algumas espécies independentes, cada uma com seu
hospedeiro de eleição. As principais são Brucella abortus, encontradas
em bovinos; Brucella suis, de suínos; Brucella melitensis, de
caprinos e Brucella cannis que afeta cães. Ela produz inflamação crônica
em órgãos da reprodução, e ocorrem também em outras espécies de animais.
Trata-se de uma zoonose, e o homem pode ser o eventual portador, pois, a
brucelose humana é considerada profissional pelos órgãos da Saúde Pública.
(LAUAR, 1983; POESTER et al 2002).
A Brucella
é um gênero de bactérias gram-negativas. São cocobacilos pequenos, que
formam colônias muito pequenas, lisas, com tom esbranquiçado e não-hemolíticas.
São imóveis, não capsuladas, não esporuladas e são aeróbios estritos, realizando
metabolismo oxidativo. Reduzem nitratos a nitritos e são nutricionalmente
exigentes (Corbel & Morgan, 1984).
Esse
trabalho tem como objetivo descrever os sintomas, epidemiologia, diagnóstico,
tratamento, prevenção e controle da doença causada pela Brucella sp.
DESENVOLVIMENTO
Sintomas
As bactérias são ingeridas com o leite ou
outros alimentos lácteos e invadem a mucosa intestinal. Também podem ser
aspiradas ou penetrar por feridas em contato com o animal. O período de
incubação pode variar de uma semana a meses. A brucelose é uma doença crônica
de progressão lenta. A infecção por Brucella mellitensis é mais grave
que as outras formas. Os sintomas mais comuns no homem da enfermidade
bacteriana generalizada de começo agudo ou insidioso envolvem febre continua,
intermitente ou irregular, de duração variável, debilidade, cefaléia, suor
profuso, sinusite severa, fadiga, perda de peso, fraqueza, linfoadenopatia,
esplenomegalia e mal estar generalizado. Na forma crônica, os sintomas retornam
mais intensos. Os mais característicos são: febre recorrente, grande fraqueza
muscular, forte dor de cabeça, falta de apetite, perda de peso, tremores,
manifestações alérgicas, pressão baixa, labilidade emocional e alterações de
memória (CAVALCANTE, 2000).
Brucelose é uma doença sistêmica que, nos
quadros mais graves, pode afetar vários órgãos, entre eles os sistema nervoso
central, o coração, os ossos, as articulações, o fígado e o aparelho digestivo (BRASIL, 1998).
Etiologia
A brucelose, também conhecida por febre
do Mediterrâneo, febre de Malta, febre de Gibraltar, febre de Chipre, doença de
Bang e febre ondulante (pela remitência do seu quadro febril), foi estudada
mais profundamente em 1887, em Malta, pelo médico escocês David Bruce que
estabeleceu os seus agentes etiológicos. Em 1977 foi isolada de cães na
Argentina (PEREIRA, 2013).
É
provocada por bacilos muito pequenos (alguns autores falam em cocobacilos),
aeróbios (necessitam de meios oxigenados para sobreviverem) Gram negativos,
imóveis, não encapsulados (o que dificulta a ação de alguns antibióticos), não
formam esporos e são parasitos intracelulares facultativos (Corbel &
Morgan, 1984).
Epidemiologia
A brucelose é uma zoonose que provoca grandes
perdas econômicas nas criações animais, bem como o risco considerável à saúde
pública (ACHA et al., 2001). Essa doença possui distribuição mundial,
especialmente nos países mediterrâneos da Europa, no norte e oeste da África,
na Índia, Ásia Central, México, América Central e América do Sul. As fontes de
infecção e o agente etiológico variam com a zona geográfica. Em bovinos
leiteiros, a brucelose provoca grandes perdas sanitárias e econômicas e também
a possibilidade de transmissão pela ingestão do leite contaminado (SCHEIN et
al., 2004).
A brucelose é uma zoonose que acomete
primariamente várias espécies de animais domésticos e silvestres, podendo
infectar o homem. De todas as espécies do gênero Brucella, quatro podem
transmitir-se dos animais ao homem, sendo raríssima a transmissão entre
pessoas. A Brucella melitensis, que infecta caprinos e ovinos, é a mais
patogênica para o homem. A presença desta espécie bacteriana nunca foi
reconhecida no Brasil. A Brucella suis, que infecta primariamente
suínos, está presente no Brasil, mas com uma prevalência muito baixa. A Brucella
abortus, infecta primariamente bovinos e bubalinos, assim como o homem,
sendo que maiores prejuízos causa à bovinocultura do país, em função a extensão
dos rebanhos brasileiros e de áreas com prevalências altas. A Brucella canis
é a que apresenta menor patogenicidade para o homem e está bastante
difundida no Brasil, especialmente nas grandes cidades. A Brucella ovis (ovinos),
presente no Brasil, e a Brucella neotomae (rato do deserto), não
encontrada no Brasil, não são patogênicas para o homem. Quanto às espécies
marinhas, há poucos registros de infecções humanas, na maioria dos casos
ocasionada por acidentes em laboratórios (POESTER, 2013).
O risco de contrair a infecção é maior no
caso de homens adultos que trabalham com a saúde, criação e manejo de animais
ou nos abatedouros e casas de carne. A transmissão ocorre através do contato
com tecidos, sangue, urina, secreções vaginais, fetos abortados e em especial
placenta provenientes de animais infectados. Os animais podem ser infectados
através do ar nos currais e estábulos. No entanto, mulheres e crianças também
podem ser infectadas, pelo consumo de leite e alimentos lácteos não
pasteurizados de vacas, ovelhas e cabras, assim como é possível a transmissão
vertical da enfermidade da mãe para o feto (FIGUEIREDO,1986).
Controle
A eliminação da doença no homem depende
fundamentalmente da eliminação da enfermidade nos animais. A prevenção deve ser
baseada na eliminação destas fontes. Torna-se, portanto, fundamental a adoção
de medidas que reduzam o risco de infecção, como por exemplo, medidas de
proteção nas diferentes atividades profissionais e medidas associadas à higiene
alimentar (POESTER, 2013).
Nos bovinos, o controle da doença pode ser
obtido pela vacinação dos animais de reprodução, visando aumentar a imunidade
dos rebanhos e diminuir os riscos de abortos, seguido da eliminação de animais
mediante segregação e sacrifício dos infectados (POESTER, 2013).
De acordo com o PNCEBT (Brasil, 2004),
instituído para bovinos e bubalinos, a vacina oficial e obrigatória no Brasil é
vacina B19, aplicada somente nas fêmeas entre 3 e 8 meses de idade. A restrição
na idade de vacinação das fêmeas é devido à interferência na sorologia em
animais vacinados acima deste período, confundindo o diagnóstico. Em função
disto, as fêmeas vacinadas dentro da idade recomendada, só poderão ser testadas
depois dos 24 meses de idade. O programa brasileiro permite, em situações
especiais, o uso da vacina RB51 em fêmeas adultas. Sendo elaborada com uma
amostra não aglutinogênica, esta vacina não interfere no diagnóstico
sorológico, podendo por isso ser aplicada em fêmeas com qualquer idade (Brasil,
2007).
Na ocorrência de surtos, ou seja, dois ou
mais casos requer a notificação imediata às autoridades de vigilância
epidemiológica municipal, regional ou central, para que se desencadeie a
investigação das fontes comuns e o controle da transmissão através de medidas
preventivas (BRASIL, 1998).
As medidas preventivas mais comuns ocorrem
por meio da educação da população para que não se consuma leite e derivados de
leite sem pasteurização; educação dos granjeiros e dos trabalhadores de
matadouros a respeito da natureza da enfermidade e do risco de manipular carnes
ou produtos de animais potencialmente infectados; funcionamento apropriado dos
matadouros para minimizar a exposição ou contato; aplicação de provas
sorológicas nos animais suspeitos e eliminação dos animais infectados. Os
produtos de origem animal como o leite e os produtos lácteos de vacas, ovelhas
e cabras devem ser pasteurizados. Deve-se ter cuidado no manejo e na eliminação
da placenta, secreções e fetos dos animais abortados. A desinfecção das zonas
contaminadas também deve ser feita (SÃO PAULO, 2002).
Já nas medidas em epidemias, a busca do
veículo comum da infecção deve ser feita, que normalmente seria o leite não
pasteurizado e seus derivados, especialmente o queijo, provenientes de rebanho
infectado. O controle seria efetivo ao reunir ou confiscar os produtos
suspeitos e interromper a sua produção e distribuição, ao menos que estes
sofreram pasteurização (SÃO PAULO, 2002).
CONCLUSÃO
Pode-se observar que a brucelose é uma
patologia contagiosa, que afeta tanto homem como os animais. Os prejuízos
causados por ela são significantes, sendo considerado um problema de saúde
pública. Os sintomas variam de acordo com a espécie da bactéria, e no homem
varia na forma aguda e crônica. O diagnóstico mais preciso, quando os sintomas
característicos da doença são identificados em animais, é feito pelo isolamento
e identificação da bactéria, mas quando isso não é possível o diagnóstico deve
ser baseado em métodos sorológicos oficiais. Já em humanos o levantamento do
histórico do paciente e a analise clinica criteriosa são fatores fundamentais
para chegar ao diagnóstico exato. O uso de antibióticos para o tratamento de
animais não é eficiente. Nos seres humanos o tratamento da brucelose tem como
base a associação de antibióticos com repouso e hidratação. Por ser uma doença
de distribuição universal as medidas de prevenção são as mesmas em todos os
lugares. Assim a vacinação, o trabalho de conscientização da população e
profissionais, a fiscalização das autoridades de vigilância epidemiológica,
funcionamento apropriado dos matadouros e a pasteurização dos produtos de
origem animal contribuem com a produção alimentícia e à promoção da saúde
mundial.
LITERATURA CITADA
ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisibles
comunes al hombre y a los animales. 3. Ed. Buenos Aires: Organização
Panamericana de la Salud, 2001. p. 28-56.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Manual Técnico do
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PNCEBT. 2006. 184p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Brasileiro
de Vigilância Epidemiológica, Brasília, DF, 1998.
BRASIL. Secretaria de Defesa
Agropecuária, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução
Normativa Nº 6 de 8 de janeiro de 2004. Aprova o Regulamento Técnico do
Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal.
Diário Oficial da União, Brasília, 12 jan. 2004, Seção 1, p. 6 - 10.
BRASIL. Secretaria de Defesa Agropecuária,
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº 33
de 24 de agosto de 2007. Estabelece as condições para a vacinação de fêmeas
bovinas contra brucelose, utilizando vacina não indutora da formação de
anticorpos aglutinantes, amostra RB51. Diário Oficial da União, Brasília, 28
ago.2007, Seção 1, p. 6-7.
CAVALCANTE. F. A. Instruções Técnicas: brucelose, diagnóstico e controle. Embrapa, n.
26, p. 1-3, mar. 2000. Disponível em: . Acesso em: 30 jun.
2013.
CORBEL, M. J.;
MORGAN, W. J. B. Genus Brucella Meyer
and Shaw, 1920, 173AL. In: Holt, J.G., editor. Bergey’s manual of
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FIGUEIREDO, B. L. Brucelose ocupacional. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE ZOONOSE, 1986.
Belo Horizonte: Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde,
Secretaria de Saúde de Minas Gerais, p. 43-45, 1986.
LAUAR, N. M. Brucelose. Boletim técnico, Campinas, Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral. n.169, 1983. p. 13.
PEREIRA, J. C. Brucelose.
Disponível em: <http://www.nossoscaesegatos.hpg.ig.com.br/brucelose.html>.
Acesso em: 30 jun. 2013.
POESTER, F. P. Brucelose. Disponível em: <http://setordevirologiaufsm.files.wordpress.com/2013/01/brucelose-rev2.pdf>.
Acesso em: 30 jun. 2013.
POESTER, F. P.; GONÇALVES, V. S. P.; LAGE, A.
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SÃO PAULO (Estado). Centro de Vigilância
Epidemiológica. Manual das Doenças Transmitidas por Alimentos. São
Paulo, 2002.
SCHEIN, F. B.; SANTOS, M. D.; SIQUEIRA, A. A.
F.; MOSQUETTE, R.; FREITAS, S. H.; CASTRO, R. S.; SIMÕES, R. S.; CAMARGO, L. M.
Prevalência de brucelose em bovinos de
leite e fatores de risco associados a transmissão em seres humanos. Arquivo
do Instituto Biológico, São Paulo, v. 71, p. 540-542, 2004.
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
CONCLUSÃO
LITERATURA CITADA
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