quarta-feira, 27 de abril de 2011

Melhoramento genético da cultura da uva ( Vitis vinifera)



Guilherme Augusto Mendes Padovani


IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA UVA NO BRASIL

O cultivo da videira representa uma parcela econômica e social importante na fruticultura brasileira, movimentando cerca de R$ 2,5 bilhões/ano e gerando 5 empregos/ha, um dos maiores índices do setor. Enquanto nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a maior parte da colheita é destinada à produção de vinho, suco e derivados; nas regiões Sudeste, Nordeste e no Paraná, a viticultura ainda é predominantemente voltada às cultivares de uva de mesa, fina e rústica, para consumo in natura. O sucesso dos vinhedos comerciais, dependente da qualidade das frutas, produtividade e longevidade das plantas, está bastante associado ao material propagativo utilizado na implantação das parreiras (EMBRAPA, 2011).
No Brasil, a quase totalidade das áreas vitícolas tradicionais foi implantada com material propagativo sem qualquer tipo de seleção sanitária, oriundo de vinhedos locais mais antigos ou introduzidos no país sem o cumprimento das normas estabelecidas na legislação (EMBRAPA,2011).
Apesar dessas áreas vitícolas não disporem da qualificação necessária quanto ao aspecto sanitário e à identificação varietal, elas continuam servindo como fonte de material propagativo para a expansão da cultura e a renovação dos vinhedos, processos estes que representam uma demanda anual de mais de 700.000 mudas, entre cultivares viníferas e americanas (EMBRAPA, 2011).


UM POUCO DA HISTÓRIA DA VITINICULTURA BRASILEIRA

As primeiras variedades de uvas foram introduzidas no Brasil pelos portugueses. Eram uvas finas (Vitis vinifera), cultivadas na Europa e selecionadas com base em informações e experiência pessoal dos vitivinicultultores europeus. A viticultura brasileira, porém, somente se consolidou em meados do século XIX, com a introdução da cultivar de uva americana Isabel (Vitis labrusca) pelos imigrantes italianos, culminando na rápida substituição dos vinhedos de uvas européias. (EMBRAPA UVA E VINHO).
O primeiro ciclo de expansão da viticultura brasileira, portanto, teve como base o cultivo de uvas americanas, rústicas e adaptadas às condições edafoclimáticas locais. Esta fase também estabeleceu novos rumos para a tecnificação da vitivinicultura nacional, principalmente visando prevenir o ataque de pragas e doenças (SOUZA, 1996).
No século XX, as uvas finas voltam a ganhar expressão para produção de vinhos e para o consumo in natura. Iniciativas de produção em escala comercial de uvas finas de mesa no Semiárido nordestino marcam o início da viticultura tropical no Brasil. Surgem novos polos de produção de uvas finas de mesa em condições tropicais, nas regiões do Norte do Paraná, Noroeste de São Paulo e Norte de Minas Gerais (LEÃO; POSSÍDIO, 2000; PROTAS et al., 2006).
Atualmente, observa-se o surgimento de novas áreas de plantio, indicando uma tendência de expansão da cultura no país (PROTAS et al., 2006). Esta evolução vem dando suporte ao desenvolvimento e à adoção de novas tecnologias que contribuem para o estabelecimento da vitivinicultura como uma atividade economicamente rentável no país.


PRIMEIROS REGISTROS DE MELHORAMENTO GENÉTICO DE UVA NO BRASIL

Os primeiros registros de melhoramento genético de uva no Brasil são iniciativas privadas datadas no final do século XIX (PAZ, 1898; SOUSA, 1959). Somente em 1940 é que o melhoramento genético da videira começa a ser desenvolvido em instituições públicas, primeiro em São Paulo e depois no Rio Grande do Sul (SOUSA, 1959; POMMER, 1993; SANTOS NETO, 1971, 1990; CAMARGO, 2000).
A principal contribuição do Programa de Melhoramento Genético do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi o desenvolvimento de porta-enxertos para as condições de clima tropical, além de cultivares de uvas de mesa, como ‘Piratininga’ e ‘Patrícia’, usadas no Vale do São Francisco (LEÃO, 2000; SANTOS NETO, 1971). Os porta-enxertos para condições tropicais têm sido amplamente utilizados, tanto na produção de uvas finas, quanto na produção de uvas rústicas (LEÃO, 2000; KUHN et al., 2003; GUERRA et al., 2006; REGINA, 2006).
O porta-enxerto ‘IAC 313’ ou ‘Tropical’ foi a base da viticultura do Vale do São Francisco, onde atualmente está sendo usado no cultivo de uvas apirênicas. Foi bastante usado também no Norte de Minas Gerais e no Noroeste de São Paulo. ‘IAC 572’ou ‘Jales’ é o porta-enxerto mais usado no cultivo de uvas rústicas nas regiões tropicais do Brasil. Outra opção para o cultivo da videira em condições tropicais é ‘IAC 766’ ou ‘Campinas’. A rápida disseminação destes porta-enxertos desenvolvidos especialmente para as condições tropicais brasileiras, praticamente substituindo os porta-enxertos originários de regiões de clima temperado, mostra o quanto o trabalho de melhoramento genético pode contribuir para o desenvolvimento da viticultura nacional, especialmente em condições tropicais (CAMARGO, 2000).



AS CADEIAS VITIVINÍCOLAS BRASILEIRAS E A CONTRIBUIÇÃO DO MELHORAMENTO GENÉTICO

As uvas finas (V. vinifera) são usadas em todo o mundo para consumo in natura e processamento. No Brasil, é também comum uso de uvas americanas (V. labrusca e outras espécies).
Assim, o Setor Vitivinícola Brasileiro é caracterizado principalmente pela diversidade. É formado por várias cadeias produtivas: uvas finas e americanas e híbridas para mesa, uvas para elaboração de vinhos finos, e uvas americanas e híbridas para a elaboração de vinhos de mesa e sucos. Como consequência, o mercado consumidor é segmentado. A estes fatores, soma-se a variabilidade de clima, solos e estrutura fundiária das diferentes regiões de produção, tornando o Setor mais exigente em soluções diferenciadas.
Apesar de complexo, este panorama estabelece oportunidades para que o país se firme no mercado internacional, por meio da oferta de uvas de mesa durante todo o ano e da produção em escala de derivados em pequenas plantas industriais (PROTAS et al., 2009). O melhoramento genético tem contribuído para o avanço e desenvolvimento do Setor Vitivinícola nacional através da obtenção de cultivares de uva para diferentes finalidades e adaptadas às condições edafoclimáticas brasileiras.
O desenvolvimento de cultivares resistentes a doenças e pragas é demanda comum de todos os segmentos da cadeia produtiva de uva. Em regiões onde o clima favorece o desenvolvimento de doenças como míldio (Plasmopara viticola) e oídio (Uncinula necator), o controle fitossanitário pode representar 30 % do custo de produção (GRIGOLETTI; SÔNEGO, 1997). As demandas de cada cadeia produtiva de uva estão relacionadas com a adaptação de cultivares às diferentes regiões produtoras e com a qualidade da uva para finalidades
específica.


UVAS DE MESA FINAS, AMERICANAS E HÍBRIDAS

A produção das uvas finas para consumo in natura está concentrada em regiões subtropicais e tropicais tendo por base a cultivar Itália e suas mutações (NACHTIGAL, 2003). O interesse, principalmente internacional, por uvas sem semente é uma realidade, e as várias tentativas de viabilizar o cultivo de materiais introduzidos de uvas sem sementes nas condições brasileiras foram frustradas (CAMARGO et al., 1997).
É prioritário o desenvolvimento de novas cultivares de uvas finas, principalmente apirênicas, adaptadas às diferentes regiões, e que apresentem elevada fertilidade natural, qualidade compatível com as exigências de mercado e que sejam menos exigentes em mão-de-obra especializada em práticas como o raleio de bagas.
No mercado nacional, as uvas comuns de mesa, como ‘Niágara Rosada’, ‘Isabel’ e ‘Niágara Branca’, são bastante apreciadas e respondem por 50 % do volume comercializado de uvas in natura. No Brasil, estas uvas são produzidas tradicionalmente na região Sul, nos meses de janeiro e fevereiro. Novas regiões de produção começam a se firmar no mercado, principalmente após o ajuste do manejo para climas tropicais (CAMARGO; MAIA, 2008)
A ampliação do período de oferta de uvas comuns no mercado nacional pode ser obtida por meio do desenvolvimento de cultivares de ciclos diferenciados, mais tardios e mais precoces e do desenvolvimento de cultivares de uvas rústicas adaptadas a climas tropicais. Outra demanda deste segmento é a obtenção de cultivares de uva que apresentem maior vida útil de prateleira, já que uma das principais dificuldades na comercialização, principalmente de ‘Niágara Rosada’, se constitui em problemas pós-colheita (CAMARGO; MAIA, 2008).


UVAS PARA PROCESSAMENTO: SUCOS E VINHOS

A produção brasileira de suco de uva está concentrada no Rio Grande do Sul, mas observa-se, em anos recentes, uma forte tendência de expansão para regiões tropicais como Mato Grosso, Goiás e Vale do Rio São Francisco (CAMARGO, 2005). As principais cultivares utilizadas são Isabel, Concord e Bordô. O baixo teor de açúcar da matéria-prima é o principal problema do segmento de sucos de uva. O preço pago ao agricultor é menor pela produção com baixo conteúdo de açúcar, de acordo com a legislação brasileira (BRASIL, 1978, 1988). Para a indústria, a matéria-prima com baixo conteúdo de açúcar onera tanto custos adicionais, como o transporte, quanto custos operacionais, já que uma quantidade maior de uvas deve ser trabalhada para obtenção de 1 kg de suco. Outros requisitos importantes para cultivares de uva para elaboração de suco são a cor, o aroma e o sabor. O desenvolvimento de cultivares de ciclo curto, adaptadas ao cultivo em áreas tropicais, permitindo a obtenção de duas ou mais safras por ano, e cultivares com diferentes níveis de precocidade, visando a ampliação do período de processamento em regiões de viticultura com um ciclo anual, também devem ser levados em consideração no programa de melhoramento de uvas para elaboração de sucos.
O segmento de vinhos de mesa representa cerca de 80 % do mercado brasileiro de vinhos. A maior qualidade da matéria-prima também é a demanda dos vitivinicultores, havendo espaço para o desenvolvimento de cultivares de uva para elaboração de vinhos tintos de mesa, com boa estrutura e cor, de vinhos brancos de mesa aromáticos e vinhos espumantes.


UVAS PARA PROCESSAMENTO: VINHOS FINOS

Apesar da produção de uvas da espécie V. vinifera para elaboração de vinhos fazer parte da história do Brasil, a produção destes vinhos no país em nível comercial foi incentivada por acontecimentos que remetem ao final do século passado, nas décadas de 70 e 80. Observa-se o crescimento de áreas com V. vinifera, a partir da instalação de empresas multinacionais ligadas à produção de vinhos finos no Sul do país. Outro evento determinante foi o incentivo governamental oferecido para produção de variedades viníferas no Rio Grande do Sul, durante a década de 1980 (PROTAS et al., 2009).
A produção de uvas finas para produção de vinhos está concentrada em regiões de clima temperado do Sul do país, embora o fenômeno de expansão para novas áreas, inclusive de climas tropicais também esteja sendo observado neste segmento da cadeia vitivinícola brasileira (PROTAS et al., 2006)
O mercado de vinhos finos no Brasil corresponde a cerca de 20 % da comercialização de vinhos no país. Com a abertura do mercado brasileiro, este segmento vem sofrendo forte concorrência dos vinhos importados, principalmente dos países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai (PROTAS, 2008).
Este segmento também demanda por castas mais resistentes às principais doenças da videira, embora seja caracterizado pela tradição e pouca receptividade no que diz respeito à incorporação de novas cultivares. Uma contribuição potencial é a incorporação de resistência a doenças por meio de biotecnologias como a Engenharia Genética. Outra contribuição que o melhoramento genético pode oferecer é o desenvolvimento de cultivares mais resistentes às podridões do cacho causadas por Botrytis cinerea.


PROGRAMA DE MLEHORAMENTO DE UVA MANTIDO PELA EMBRAPA UVA E VINHO

No Rio Grande do Sul, após a iniciativa realizada na Estação Experimental de Caxias do Sul, a Embrapa Uva e Vinho, desde 1977, vem conduzindo um programa de hibridações visando o desenvolvimento de novas cultivares de uvas de mesa e para elaboração de sucos e vinhos. (EMBRAPA UVA E VINHO, 2011).
O germoplasma básico usado neste trabalho inclui V. vinifera, V. labrusca, além de espécies tropicais selvagens e híbridos interespecíficos complexos, criados na Europa após a disseminação de filoxera (CAMARGO, 1998; BANCO, 2009).
Como resultado de cerca de 1.300 cruzamentos realizados entre estes materiais nos últimos 32 anos, são mantidas para avaliação aproximadamente 400 seleções de uvas na Embrapa Uva e Vinho-Estação Experimental de Viticultura Tropical (EEVT), em Jales-SP. Anualmente, são realizados 50 novos cruzamentos e avaliados 3.000 novos híbridos de uva para mesa e para a agroindústria.
Nos últimos anos, foram lançadas cultivares que atendem às demandas das diferentes cadeias produtivas de uva que formam o Setor Vitivinícola nacional. De maneira geral, estas cultivares se caracterizam por apresentar adaptação às condições edafoclimáticas brasileiras, que se refletem em elevada produtividade e maior nível de resistência às principais doenças que atacam a cultura da videira, como o míldio (Plasmopara viticola), o oídio (Uncinula necator) a podridão cinzenta da uva (Botrytis cinerea), a antracnose (Elsinoe ampelina), a podridão da uva madura (Glomerella cingullata), entre outras (RITSCHEL; MAIA, 2009).


DONA ZILÁ: RESISTÊNCIA A ANTRACNOSE AO OÍDIO E AS PODRIDÕES DO CACHO

Dona Zilá (CAMARGO et al., 1994) é uma uva de mesa rosada, do tipo americano (Vitis labrusca), resultado do cruzamento entre ‘Niágara Rosada’ e ‘Catawba Rosa’, realizado em 1965, por Moacyr Falcão Dias, na então Estação Experimental de Caxias do Sul. Em 1980, foi propagada para avaliação na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves-RS e, em 1988, foi multiplicada para validação em áreas de produtores na Serra Gaúcha.
A planta é vigorosa, bastante exigente em amarrio, quando cultivada em sistemas verticais. No sistema de latada, deve ser conduzida em poda mista, deixando-se um grande número de varas de tamanho menor, considerando-se a baixa porcentagem de brotação de gemas. Pode ser cultivada em sistema direto, apresentando também bom comportado sobre os porta-enxertos ‘101-14’ e ’Paulsen’ (1103).
Apresenta bagas esféricas de tamanho médio em cachos cônicos de tamanho médio. O sabor é aframboezado, com polpa mucilaginosa, típicos de uvas americanas. O conteúdo de açúcar varia entre 16,5 e 17,5 °Brix e a acidez entre 50 e 60 mEq/L.
‘Dona Zilá’ apresenta resistência à antracnose, ao oídio e às podridões do cacho. O ataque de míldio pode se tornar um problema em primaveras muito chuvosas.
É uma cultivar de ciclo longo, recomendada para cultivo em regiões de altitude, onde pode ser colhida na segunda quinzena de março, quando não existe mais oferta de uvas de mesa do tipo americano na região Sul do Brasil.



BRS CLARA: RECOMENDADA PARA PLANTIO NO VALE DO SÃO FRANCISCO

‘BRS Clara’ (CAMARGO et al., 2003) é uma uva de mesa sem sementes, resultado do cruzamento entre ‘CNPUV 154-147’ *Seyve Villard 12327 X CG 87746 (Moscato Rosa X Beauty Seedless)+ e ‘Centenial Seedless’, realizado em 1998. Os embriões resultantes deste cruzamento foram cultivados e regenerados in vitro e as plantas enxertadas a campo em 1999, na Embrapa Uva e Vinho-EEVT. Em 2000, foi selecionada a planta que deu origem à ‘BRS Clara’. O material foi propagado e suas características confirmadas em 2001. Foram então instaladas sete unidades de validação, em áreas tropicais.
‘BRS Clara’ foi testada com sucesso sobre os porta-enxertos ‘IAC 572’ e ‘IAC 566’. A planta é vigorosa e fértil, podendo produzir até 30 t/ha/ano em espaçamentos maiores que 2,5 m X 2,0 m. Em sistemas onde são realizadas duas podas e uma produção, recomenda-se a poda longa; já em sistemas onde os ciclos de produção são sucessivos, recomenda-se a poda mista.
As bagas são verde-amareladas, com polpa de textura crocante e leve sabor moscatel. O melhor equilíbrio entre doçura e acidez é atingido quando o conteúdo de açúcares está na faixa de 18-19 °Brix. Não apresenta tendência ao rachamento de bagas e à degrana e não exige raleio de bagas. Devem ser usados reguladores de crescimento para aumento do tamanho das bagas.
‘BRS Clara’ exige proteção fitossanitária similar àquela demandada pela cv. Itália. Testes no Vale do São Francisco indicam um bom comportamento frente ao cancro bacteriano.
‘BRS Clara’ foi originalmente recomendada para plantio no Vale do São Francisco, Norte de Minas Gerais e Noroeste de São Paulo, com ciclo variando entre 95 e 110 dias.
Observações realizadas em áreas de produção, no Rio Grande do Sul indicam o potencial de ‘BRS Clara’ nesta região, com recomendações específicas (NACHTIGAL, 2007).



BRS MORENA: EQUILÍBRIO ENTRE DOÇURA E ACIDEZ

‘BRS Morena’ (CAMARGO et al., 2003) é uma uva apirênica de película escura, resultado do cruzamento entre ‘Marroo Seedless’ e ‘Centennial Seedless’. A estratégia de desenvolvimento deste material e também o comportamento frente às doenças fúngicas são os mesmos descritos para ‘BRS Clara’. O uso de poda longa ou mista também depende do sistema de condução do vinhedo.
Porta-enxertos como ‘IAC 572’ e ‘IAC 566’ são recomendados para ‘BRS Morena’. O vigor é moderado, o que requer atenção especial durante a etapa de formação da planta. A fertilidade é alta, podendo ser obtidas produtividades entre 20 e 25 t/ha. Para evitar a formação de cachos muito soltos, deve-se conduzir apenas um cacho nos ramos mais vigorosos e realizar o desponte, o desnetamento e o desbaste dos cachos excedentes cerca de 4-5 dias antes do florescimento. Reguladores de crescimento como ácido giberélico devem ser usados com o objetivo de aumentar o tamanho de bagas.
O grande destaque da ‘BRS Morena’ é o sabor, que apresenta bom equilíbrio entre doçura e acidez, e a textura firme e crocante da polpa. Resiste bem ao rachamento das bagas na ocorrência de chuvas durante a maturação. A manipulação durante os procedimentos de colheita e embalagem devem ser realizados com cuidado, já que a aderência da baga ao pedicelo é fraca.
É uma cultivar precoce, com ciclo variando entre 95 a 110 dias, na região de Jales-SP. É recomendada para plantio na região Noroeste de São Paulo, na região Norte de Minas e no Vale do Submédio São Francisco.


VINHOS DE MESA – AMERICANAS E HÍBRIDAS – MOSCATO EMBRAPA

‘Moscato Embrapa’ (CAMARGO; ZANUS, 1997) é uma uva branca, resultado do cruzamento realizado entre ‘Courdec 13’ e ‘July Muscat’, em 1983, sendo a planta selecionada em 1990. A partir de 1991, a seleção foi propagada em escala semicomercial e avaliada por vitivinicultores, empresas e cooperativas vinícolas e enólogos, sendo lançada em 1997.
O vigor e a fertilidade são altos, apresentando, em média 2 cachos por ramo e índice elevado de brotação de gemas, sendo necessária a realização de podas verdes para permitir a aeração e entrada de luz no dossel. Os espaçamentos recomendados variam na faixa de 2,5 m a 3,0 m entre filas e 1,8 m a 2,5 m entre plantas sobre os porta-enxertos ‘101-14 Mgt’ ou ‘Paulsen 1103’. Deve ser conduzida em poda mista. No sistema de latada, pode atingir até 35 t/ha.
A baga apresenta coloração verde-clara, com polpa semicarnosa e sabor moscatel. Em média, o conteúdo de açúcares atinge 19 °Brix e a acidez total varia entre 90 e 100 mEq/L. Apresenta reação semelhante à da cultivar Isabel em relação ao míldio, mas é susceptível à antracnose. Tem se mostrado bastante tolerante ao oídio e à podridão cinzenta da uva.
‘Moscato Embrapa’ é uma uva tardia, recomendada para plantio na Serra Gaúcha, visando a elaboração de vinho branco de mesa, tipicamente aromático e com baixa acidez. Embora tenha originalmente sido desenvolvida para cultivo em regiões de clima temperado, tem sido testada com sucesso também em regiões de clima tropical.



BRS RÚBEA: BOM POTENCIAL NO ESTADO DE GOIÁS
BRS Rúbea’ (CAMARGO; DIAS, 1999) é uma uva tintureira, da espécie V. labrusca, resultado do cruzamento entre ‘Niágara Rosada’ e ‘Bordô’, realizado em 1965 na antiga Estação Experimental de Caxias do Sul, pelo pesquisador Moacyr D. Falcão. Parcerias com as Indústrias Alimentícias Maguary e a Cooperativa São João contribuíram para a validação e lançamento desta cultivar em 1999.
É uma planta vigorosa, de média fertilidade, podendo atingir produtividades entre 15-25 t/ha, em densidades não superiores a 2000 plantas/ha, recomendando-se o uso de poda mista para a produção de ‘BRS Rúbea’. Foi testada com sucesso sobre os porta-enxertos ‘101-14 Mgt’ e ‘1103 Paulsen’. Para melhoria da qualidade da uva, recomenda-se a poda verde, durante a primavera, e a desponta, limitando o comprimento dos ramos.
As bagas apresentam coloração intensa, com teor de açúcar de cerca de 15 °Brix e acidez total em torno de 60 mEq/L. Em testes de análise sensorial que incluíram ‘Bordô’, ‘Isabel’ e ‘Concord’, ´BRS Rúbea destacou-se pelas características “co”’, “sabor”, “aroma” e “nota geral”. Apresenta comportamento rústico, comparável ao de ‘Bordô’, em relação a doenças da videira como antracnose, míldio, oídio e podridões de cacho.
‘BRS Rúbea’ é recomendada para cultivo na região Sul, para elaboração de suco de uva com boa cor, em cortes com outras cultivares, e de vinhos tintos de mesa. No Rio Grande do Sul, a área plantada com esta cultivar vem crescendo. No Norte do Paraná, ´BRS Rúbea é cultivada para elaboração de sucos em cortes com sucos de ‘Isabel’ e ’Concord’.
Esta cultivar vem demonstrando bom potencial de produção em dois ciclos anuais para elaboração de vinhos de mesa em algumas regiões de clima tropical, como no Estado de Goiás. Não apresentou, entretanto, bom desempenho na região do Vale do São Francisco, onde as podas sob temperaturas amenas resultam em brotação desuniforme.

CICLOS PRODUTIVOS E QUALIDADE
O conjunto de novas cultivares de uvas para elaboração de sucos, lançado pela Embrapa Uva e Vinho, vem complementar o grupo de cultivares tradicionalmente usado na elaboração de sucos, como ‘Isabel’, Bordô’ e ‘Concord’.
Durante o processo de obtenção destas novas cultivares buscou-se materiais que apresentassem ciclos produtivos diferenciados e altas produtividades, além de características que agregassem qualidade ao suco de uva, como o sabor, o alto conteúdo de matéria corante e de açúcares.
O desenvolvimento das novas cultivares para elaboração de sucos, com ciclos precoces e tardios, abre a possibilidade de um incremento de aproximadamente 25 dias no período de safra, em regiões de clima temperado, como a Serra Gaúcha. Os clones ‘Isabel Precoce’ e ‘Concord Clone 30’ antecipam o início da safra em cerca de 15 dias e ‘BRS Carmem’ posterga o final da safra em cerca de 10 dias. Como conseqüência, o período de ocupação da plataforma industrial instalada para elaboração de sucos de uva pode ser aumentado de cerca de 50 %, considerando que a safra das cultivares originais apresenta duração em torno de 45 dias (Figura 2) (CAMARGO, 2005).
Por outro lado, a obtenção de materiais adaptados a regiões de clima tropical e que apresentem ciclo curto, como ‘Isabel Precoce’ permite a realização de duas safras durante o período seco ou ainda de três safras por ano (CAMARGO, 2005). O desenvolvimento de novas cultivares para elaboração de suco com características relacionados à qualidade como sabor e aroma adequados, alto conteúdo de matéria corante e alto conteúdo de açúcar, vem contribuir, não somente para a melhoria do produto final, mas também para o rendimento do processo industrial.
‘BRS Rúbea’ foi lançada como uma alternativa de uva tintureira, para compor, em corte com ‘Isabel’ ou ‘Concord’, um suco que reúna sabor, aroma e coloração adequados. Não apresenta problemas relacionados à regularidade de produção, como é característico da cultivar tradicional ‘Bordô’. Outras novas cultivares tintureiras, como ´BRS Cora’ e ‘BRS Violeta’, também apresentam alto conteúdo de açúcares (Figura 2). Esta característica permite o incremento do rendimento industrial, já que quanto maior o conteúdo de açúcar, menor a quantidade de matéria-prima necessária para a produção de 1 kg de suco. Além disso, o maior conteúdo de açúcar da uva também contribui para a redução de custos adicionais, como o transporte.


REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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