sexta-feira, 2 de julho de 2010

Galhas causadas por nematóides Meloidogyne incognita em quiabeiro (Abelmoschus esculentus L. Moench)




Autor: Ranieri Martins Silva


A cultura do quiabeiro (Abelmoschus esculentus L. Moench), de regiões tropicais e sub-tropicais de baixas altitudes da Ásia, África e América (Charrier, 1984). Este vegetal é importante fonte de vitaminas e sais minerais, incluindo cálcio, que são frequentemente carentes na dieta dos países em desenvolvimento (Hamon et al., 1990). Quando instalada em solos arenosos, é freqüentemente atacada por nematóides do gênero Meloidogyne sp. (Kimati et al., 2005).
Os prejuízos variam em função da severidade do ataque e são maiores quando há associação com fungos que provocam murcha (Kimati et al., 2005).
Plantas atacadas apresentam redução no crescimento, amarelecimento de folhas e murcha nas horas mais quentes do dia. Em casos mais graves ocorre a morte da planta. Raízes afetadas exibem vigorosas galhas induzidas pela infecção do nematóide. No interior destas encontram-se fêmeas obesas do nematóide facilmente destacada com o auxílio de uma galha (Kimati et al., 2005).
Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cenargen) o levantamento de nematóides no Brasil no estado de Minas Gerais (MG), foi identificado nematóide Meloidogyne incógnita associado a espécie hospedeira Abelmoschus esculentus (Cenargen, 2010).
O objetivo deste trabalho é identificar, descrever e apontar medidas de controle de Meloidogyne incognita incidente em raízes de quiabeiro.

As amostras foram coletadas no setor de olericultura do Instituto Federal Goiano campus Urutaí, em março de 2010 e posteriormente levadas ao laboratório de microbiologia da própria instituição para as devidas avaliações.
No laboratório, foram inicialmente observados e fotografados os sintomas da doença em raízes do quiabeiro, em microscópio estereoscópio. Posteriormente foi preparada uma lâmina semi-permanente da amostra do nematóide. Para coleta, foi utilizada uma pinça e uma seringa, onde utilizando o método de “pescagem direta” e com o auxílio de um microscópio estereoscópio depositou as fêmeas do nematóide sobre uma lâmina contendo gotas do corante. Logo após homogeneização dos fragmentos depositados, depositou-se uma lamínula sobre a gota e os fragmentos. A vedação foi realizada com esmalte incolor de unha.
A lâmina semi-permanente foi observada em microscópio ótico, onde foi confirmada a presença do nematoide Meloidogyne incógnita, também foram feitas fotos no microscópio ótico para posterior criação da prancha.
Todos os procedimentos de laboratório foram registrados com câmera fotográfica digital (Canon PowerShot A580).


Hospedeiro/cultura: quiabeiro (Abelmoschus esculentus L.)
Família Botânica: Malvaceae
Doença: Meloidoginose ou Nematóide-das-galhas.
Agente Causal: Meloidogyne incógnita (Kofoid & White, 1919) Chitwood, 1949
Local de Coleta: Instituto Federal Goiano campus Urutaí
Data de Coleta: 21/03/10
Taxonomia: Pertence ao reino Animalia filo Nematoda, classe Secernentea, ordem Tylenchida, família Heteroderidae, gênero Meloidogyne.

Sintomatologia.

Os sintomas diretos observados são as galhas, ou seja, um “engrossamento” das raízes que aumentam o seu diâmetro em função do desenvolvimento do corpo da fêmea do nematóide (Fig.1A). Redução do volume do sistema radicular, também ocorre devido à infestação de Meloidogyne sp., prejudicando a absorção de água e nutrientes do solo pela planta (Kimati et al., 2005).
No caso de sintomas reflexos que ocorrem na parte aérea, as plantas crescem desiguais podendo ser em “reboleiras” murchamento da planta, queda na produtividade (Kimati et al., 2005).

Etiologia.

O ciclo de vida dos nematóides esta relacionado com a deposição de ovos formando um aglomerado que é feito pelas fêmeas. Dentro dos ovos encontram-se juvenis de 1º estádio (J1), passando a juvenis de 2º estádio (J2). Após isso eclodem e vão parasitar os hospedeiros no caso raízes de quiabo. Após penetrar a raiz atravessam o parênquima cortical e começam a parasitar, eles através do aparelho bucal estilete injetam secreções, com isso formam células nutridoras. Daí sofre outra ecdise (J3) e logo em seguida (J4). As fêmeas são endoparasitas e sedentárias e estando sexualmente maduras são globosas, os machos tem corpo vermiforme e alongado e não possuem bolsa-de-copula . Sob condições de estresse podem trocar de sexo as formas juvenis femininas. Fatores abióticos influenciam o ciclo de vida, mas de modo geral dura em torno de três a quatro semanas (Kimati et al., 2005).



Epidemiologia.

As espécies de Meloidogyne sp., que atacam o quiabeiro inicialmente penetram na raiz, na fase infectiva - juvenil de segundo estágio(J2). Posteriormente, os machos adultos abandonam o sistema radicular, e, as fêmeas, permanecem no interior das raízes, como endoparasitas sedentárias, até o final do seu ciclo de vida, induzindo a formação de galhas. O ciclo de vida do nematóide das galhas é de aproximadamente quatro semanas, podendo prolongar-se sob condições de temperatura mais favoráveis. Temperaturas inferiores a 20oC ou superiores a 35oC e condições de seca ou de encharcamento do solo afetam o desenvolvimento e a sobrevivência do nematóide. Geralmente, o quiabeiro sofre mais danos, pelo nematóide, em solos arenosos do que em solos de textura mais fina (Embrapa Clima Temperado, 2005).



Controle.

Como principal medida de controle recomenda-se evitar o plantio em local que tenha apresentado problema anteriormente, principalmente na cultura do tomate. Alem disso é aconselhável o tratamento de sementes com nematicidas. A rotação de culturas, embora muito utilizada para reduzir a população de nematóides no solo, não apresenta muita eficiência devido à polifagia da espécie M. incognita, se a espécie em questão for M. javanica, que possui um menor número de hospedeiros a rotação de culturas se torna uma medida viável. A resistência varietal dos nossos materiais é muito pouco conhecida (Kimati et al., 2005).
Métodos culturais, a exemplo da rotação de culturas com espécies não hospedeira e/ou antagonista, têm sido efetivos no manejo de nematóides (Santos e Ruano, 1987).
O controle químico de nematóides através do uso de nematicidas é anti-econômico e pouco eficiente, podendo causar, também, sérios problemas à saúde humana e contaminar o meio ambiente. No Brasil, ainda não se dispõe de nenhum nematicida registrado para a cultura quiabeiro (Agrofit, 2010).


Figura 1. Meloidogyne incógnita em raízes de quiabeiro, A. raízes apresentando sintomas de “galhas” B.,C.fêmeas do Meloidogyne incógnita (barr = 0,1 mm), D.d. detalhe do região esôfago, E. Estagio juvenil J1, F. Detalhe da cutícula que reveste o corpo f. cutícula.

Literatura Citada.

H. KIMATI; L. AMORIN; J. A. M. REZENDE; A. BERGAMIN FILHO; L. E. A. Camargo Manual de Fitopatologia 4. ed.,São Paulo: Agronômica Ceres, 2005.

SANTOS MA, RUANO O (1987) Reação de plantas usadas como adubos verdes a Meloidogyne incognita raça 3 e M. javanica. Nematologia Brasileira.

AGROFIT acessado em 27/04/10.

NEMATÓIDE E MÉTODOS DE CONTROLE (EMBRAPA CLIMA TEMPERADO) disponível em: acessado em 28/04/2010.

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