ALINE NARA DA SILVA
Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas
INTRODUÇÃO
A
bactéria causadora da listeriose, Listeria
monocytogenes, é conhecida desde o inicio do século XX, mas sua
identificação definitiva como espécie bacteriana foi feita somente em 1940. Seu
nome monocytogenes, vem da sua capacidade em causar monocitose (aumento do
número de monócitos ou glóbulos brancos no sangue) em coelhos, porém no homem
essa bactéria causa infecções não acompanhadas de monocitose. (CAMPOS &
SILVA, 2008).
É
um patógeno oportunista humano causador de diversas infecções, principalmente
em gravida e recém-natos, ou seja, pessoas com o sistema imune debilitado.
Essas infecções são causadas pela ingestão de alimentos contaminados,
principalmente leites e seus derivados e produtos industrializados mantidos sob-refrigeração.
(CAMPOS & SILVA, 2008).
Essa
infecção manifesta-se como gastroenterite, meningite, encefalite, infecção
materno-fetal e septicemia. É uma bactéria que possui um arsenal de genes que a
capacita a ter acesso a vários órgãos, porém sua prioridade é o tecido
placentário e o sistema nervoso central. (CAMPOS & SILVA, 2008).
É
uma bactéria de grande interesse na medicina, (os principais atingidos por essa
infecção são pertencentes á alta sociedade) principalmente para microbiologista
alimentar, que procuram estudar métodos de como evitar sua proliferação nos
alimentos, evitando assim a contaminação do homem. É uma bactéria que possui
grande resistência a temperaturas que podem variar de 4°C a 45°C, suportam
variação de pH entre 6 e 9 e ainda suporta uma concentração de sal de até 20%,
sendo assim uma bactéria de difícil controle. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Por
ser uma bactéria contraída pela ingestão de alimentos, algumas medidas podem
evitar essa contaminação, tais como: higienização das mãos do manipulador e dos
alimentos, conscientização do consumidor, evitar leite in natura e seus
derivados e alimentos refrigerados devem ser aquecidos antes de serem
consumidos. E lembrando que a manifestação dessa infecção depende muito do
sistema imune, da dose infectante e da virulência da cepa. (CAMPOS & SILVA,
2008).
O objetivo deste trabalho é fazer
uma revisão bibliográfica a respeito da bactéria Listeria monocytogens levando em consideração aspectos de
sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle da bactéria Listeria monocytogenes.
DESENVOLVIMENTO
Etiologia
A
bactéria Listeria monocytogenes é um
patógeno oportunista humano, causadora de diversas infecções graves em
indivíduos com o sistema imunológico comprometido, dentre os quais os mais
afetados são mulheres gravidas e recém-natos, causando gastroenterite, meningite,
encefalite, infecção materno-fetal e septicemia. E essas doenças são adquiridas
pela ingestão de alimentos contaminados. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Por
possuir um arsenal de genes que facilitam sua sobrevivência intracelular, a
Listeria monocytogenes realiza a invasão nas células sem que o sistema imune
perceba sua presença. E por ser uma bactéria transmitida por alimentos vem
despertando grande interesse dos microbiologistas da área. (CAMPOS & SILVA,
2008).
A
bactéria Listeria monocytogenes é um
bacilo Gram-positivo pleomórfico, não produtor de endósporos e cápsula, móvel,
são anaeróbios facultativos, fermentadores de glicose e capazes de crescer numa
faixa de temperatura entre 4°C e 45°C, suportam uma variação de pH entre 6 e 9
e concentração de sal de até 20%. (CAMPOS & SILVA, 2008).
A bactéria Listeria
monocytogenes possui várias estratégias para driblar o sistema de defesa,
causando assim as infecções. Essas estratégias são chamadas de fatores de
virulência. Dentre os quais estão presentes: As internalinas que são proteínas
que funcionam como invasinas, induzindo á internalização da Listeria monocytogenes em células epiteliais não
fagocíticas in vitro. E o processo de invasão é induzidos por duas internalinas
(Inl A e Inl B), além disso participam no espalhamento para as células
adjacentes. As Listeriolisina o (LLO) que é o principal fator de virulência de L. monocytogenes, sendo uma hemolisina
formadora de pores e colesterol-dependentes necessário para a sobrevivência e
proliferação das listerias. Esta hemolisina causa a lise da membrana do
fagossomo, o rompimento do vacúolo de dupla membrana formado durante o
espalhamento da bactéria célula a célula. Os poros ou as lesões da membrana
facilitam o acesso das fosfolipases, levando a uma total dissolução da barreira
física que delimita o compartimento fagossômico. As fosfolipases: PlcA e PlcB, promovem a
degradação dos fosfolípideos presentes na membrana dos fagossomos. As ActA
(Actin Nucleating Factor): é uma proteína secretada pela célula bacteriana que
tem papel fundamental na motilidade bacteriana baseada em actina. As Ami (uma Autolisina
envolvida na adesão) possuindo atividade lítica sob a parede celular da
listeria e está envolvida na adesão bacteriana em células-alvo. O p60 (uma
hidrolase de parede celular envolvida na virulência) sendo responsável por
restaurar a capacidade invasiva da bactéria. O Mpl (Metaloprotease): contribui
indiretamente para a virulência, estando possivelmente envolvida no
processamento da fosfolipase PlcB. A Captação de Ferro que tem importância para
o crescimento da Listeria nos tecidos
do hospedeiro e para regulação da expressão de genes de virulência. E a
desenvolveu mecanismos que captam o ferro necessário. (CAMPOS & SILVA,
2008).
Sintomatologia
Listeria monocytogenes
é um patógeno intracelular facultativo, sobrevivendo e proliferando em
macrófagos, enterócitos e outras células. As infecções geralmente ocorrem após
a ingestão de alimentos contaminados, sendo o gastrointestinal o sítio primário
de entrada do hospedeiro. Alguns fatores podem favorecer a infecção, como o uso
de antiácidos, de bloqueadores de H2 e realização de cirurgias
previa de úlcera. (CAMPOS & SILVA, 2008).
O
período de incubação pode variar de 20 horas após a ingestão de alimentos a 20-30
dias. A dose infectante vai de 106 a 109 bactérias. O curso da doença depende
muito da suscetibilidade do hospedeiro, sendo os pacientes, com deficiências
fisiológicas e patológicas que afetem a imunidade mediada por células T, os
mais afetados. (CAMPOS & SILVA, 2008).
No
intestino, a bactéria adere á mucosa intestinal e promove uma fagocitose
induzida. No interior do fagossomo, a bactéria rompe a membrana e escapa para o
citoplasma da célula hospedeira, onde pode se dividir e invadir os enterócitos
vizinhos. Desde modo a bactéria vai se movendo de uma célula a outra sem ficar
exposta a anticorpos. A Listeria é
rapidamente translocada para tecidos mais profundos. As Listeria que conseguem atravessar a barreira intestinal são levadas
através dos linfonodos e do sangue para os linfonodos mesentéricos, baço e
fígado. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Apesar
dos macrófagos residentes no fígado desempenharem um papel importante na
contenção de infecções, os hepatócitos são o sítio preferencial de
multiplicação de Listeria. E se essa
infecção não é controlada no fígado, a intensa proliferação bacteriana pode
levar a liberação da Listeria para a
circulação. (CAMPOS & SILVA, 2008).
A
Listeria monocytogenes tem a
capacidade de parasitar diversos órgãos, mas a bactéria tem á preferência pela
placenta e pelo sistema nervoso central. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Os sintomas variam de acordo com a
doença ocasionada, sendo que pode ocasionar as seguintes doenças:
Listeriose
fetal: a bactéria se propaga pela via transplacentária hematogênica, levando á
colonização das listeria na membrana corioamniótica. A translocação através do
tecido endotelial faz com que a bactéria atinja a corrente sanguínea do feto,
levando a uma infecção generalizada, o que leva a um óbito ou nascimento prematuro
de um neonato com várias lesões piogranulomatosas. (CAMPOS & SILVA, 2008).
A
Listeriose fetal agrupa a listeriose da grávida e do recém-nascido. Quando a
infecção ocorre durante os dois primeiros meses de gravidez ela pode ser a
responsável por abortamento. A gravidade da afecção fetal é proporcional ao
tempo decorrido entre a infecção e o nascimento. Para gravidez com mais de 28
semanas a listeriose é responsável por 20%de morte intrauterina, 14% de
natimortos, 40% de infectados, porém viáveis e 25% de crianças indenes.
(LABORATORIO BIOLIDER, 2013).
Infecção
na Gestação: devido á baixa imunidade ás grávidas podem desenvolver uma
bacteremia por Listeria. É
manifestada como uma doença aguda febril, acompanhada por mialgias, artralgias,
cefaleias e dores nas costas. Conseguindo proliferar em áreas da placenta onde
cerca de 20% dessas infecções resultam em natimorto ou morte neonatal e o
trabalho de parto prematuro é comum. (CAMPOS & SILVA, 2008).
Infecção
neonatal: quando ocorre a infecção no útero, o feto pode estar morto ou morrer
em poucas horas em função de uma infeção disseminada conhecida como granulomatosis infantiseptica. Caracterizada
pela presença de vários microabscessos ou granulomas, particularmente no fígado
e no baço. Essas infecções podem se manifestar de duas formas: septicemia de
início precoce, onde a bactéria se em contra no ouvido externo, nariz,
garganta, mecônio, fluido amniótico, placenta e sangue; e meningite de início
tardio, que ocorre cerca de duas semanas após o parto, devido presença da
bactéria na vagina durante o parto (CAMPOS & SILVA, 2008).
Bacteremia:
é caracterizada pela presença de um grande número de bactérias no sangue que
pode gerar um quadro infeccioso grave chamado choque séptico. (TUA SAÚDE, 2012). É a manifestação
mais comum por Listeria, onde os
sinais incluem tipicamente febre e mialgias e sintomas prodrômicos como
diarreia e náuseas (CAMPOS & SILVA, 2008).
Meningites:
como a Listeria monocytogenes possui
uma preferência pelo sistema nervoso central, particularmente pelo tronco
cerebral e meninges. Com isso a infecção por
Listeria é uma das três principais causas de meningite neonatal, e em
segundo lugar entre as meningites que ocorrem com adultos com mais de 50 anos e
a mais comum de meningites em pacientes com linfomas, transplantados ou
imunossuprimidos por corticosteróides (CAMPOS & SILVA, 2008). Essa infecção
causa febre alta, fortes dores de cabeça, rigidez de nuca, moleza em pacientes
após 2 anos de idade, podendo evoluir gravemente em poucos dias ou até em
horas. Outros sintomas podem aparecer náuseas vômitos, fotofobia, confusão
mental e abatimento no estado geral. Em recém-nascido ou lactante, os sintomas
clássicos de febre, dor de cabeça, rigidez de nuca e fontanela abaulada estão
frequentemente ausentes, o que dificulta o diagnóstico nessa faixa etária.
Ficar atento com sintomas como baixa atividade da criança, irritabilidade,
choro intenso, gemência, vômitos, ou seja, sinais e sintomas inespecíficos (CVE
SAÚDE, 2012)
Abscessos
Cerebrais: constituem cerca de 10% das infecções do SNC por Listeria e nestes casos, a bacteremia
está quase sempre presente e em 25% dos casos é observada uma meningite
concomitante (CAMPOS & SILVA, 2008).
Endocardites: é uma inflamação das estruturas
internas do coração, formada quando uma bactéria circulante na corrente
sanguínea se aloja em uma das válvulas, multiplicando-se e formando o que
chamamos de vegetação valvar. A vegetação das válvulas é um emaranhado de
bactérias, glóbulos bancos, glóbulos vermelhos, fibrinas e restos celulares. Se
não reconhecida e tratada a tempo, a endocardite infecciosa destrói a válvula
acometida levando o paciente a um quadro de insuficiência cardíaca aguda e
grave (MD SAUDE, 2009). Representa cerca de 7,5% das infecções por Listeria em adultos, particularmente nos
portadores de prótese valvular (CAMPOS & SILVA, 2008).
Infecções
localizadas: a bacteremia pode levar
frequentemente a hepatite e abscessos hepáticos, coleocistite, peritonite,
abscessos esplênicos, infecções pleuropulmonares, infecções nas articulações,
osteomielite co-infecciosa (CAMPOS & SILVA, 2008).
A
bactéria Listeria monocytogenes é
identificada por testes de coloração de Gram, que mostra bacilos Gram-positivos
pleomórficos, na observação da mobilidade típica a 10°C e 25°C, produção de
ácido a partir da glicose, hidrólise da esculina e reações positivas de
Voges-Proskauer e vermelho metila. A utilização de ágar sangue é importante
devido ao tipo de hemólise que é bastante sugestivo (CAMPOS & SILVA, 2008).
EPIDEMIOLOGIA
A
listeriose como atinge principalmente pessoas com sistema imune debilitado é
muito raro em crianças e adultos com imunocompetentes. É uma doença que está
relacionada com o sistema imune, com a dose infectante que deve ser alta e da
virulência da cepa. Nos últimos 20 anos a Listeria
têm sido reconhecida como responsáveis por surtos veiculados por alimentos nos
Estados Unidos e na Europa, já que a listeriose é uma infecção de origem
alimentar. Vale ressaltar que sua maior ocorrência é entre indivíduos das
classes de maior poder aquisitivo, pois são os que mais consomem produtos
industrializados. Os alimentos mais frequentemente contaminados incluem
requeijão e outros produtos derivados do leite, patês, salsichas, defumados,
saladas, enfim alimentos prontos para o consumo. Como a Listeria monocytogenes tolera altas concentrações de sal e pHs
relativamente baixos e, além disso, são capazes de se multiplicar sob
temperaturas de refrigeração, tornando a Listeria
um dos microrganismos que mais preocupam a indústria alimentícia (CAMPOS
& SILVA, 2008).
Controle
Para
o tratamento é usado principalmente a ampicilina, um antibiótico que pode ser
utilizado em associação á gentamicina, nos casos de bacteremia em que existe
deficiência das funções de células T e em todos os casos de meningite e
endocardite. É usado de forma alternativa o trimetopim-sulfametoxazol em casos
de pacientes que possuem sensibilidade a penicilinas. Mesmo que a resistência
antimicrobiana clinicamente significativa ainda não tenha sido documentada, a
vigilância é necessária, uma vez que já existem relatos de transferência da
resistência a drogas de Enterococcus
para amostra de Listeria monocytogene
(CAMPOS & SILVA, 2008).
Como
a listeriose está diretamente ligada á alimentação por alimentos contaminados,
evitar a ingestão desses alimentos seria a solução ideal, porém não seria fácil
executá-la. Então a prevenção é a higienização das mãos dos manipuladores de
alimentos e a conscientização do consumidor. Devem-se submeter os alimentos a
cocção e evitar o consumo de leite in natura, queijos elaborados com leite não
pasteurizado e vegetais crus sem lavar adequadamente. Como a bactéria se
desenvolve em temperaturas de refrigeração, os alimentos aí condicionados devem
ser aquecidos antes do consumo (CAMPOS & SILVA, 2008).
CONCLUSÃO
No
presente estudo pude perceber que a Listeria monocytogenes, é uma bactéria
muito resistente e que pode acometer grandes danos á saúde podendo levar até a
morte do indivíduo, dependendo do seu sistema imune. É uma bactéria que penetra
facilmente em qualquer órgão devido a sua virulência que é capaz de driblar o
sistema imune do nosso organismo e infectar nosso corpo.
É
uma bactéria de grande interesse médico e microbiológico, pois, é uma bactéria
que é transmitida através da alimentação e que gera inúmeras doenças. Não é uma
bactéria de fácil controle, porém algumas medidas preventivas, higiene e boa
alimentação pode evitar sua epidemia. É uma doença que atinge principalmente a
classe alta da sociedade, pois, são os que mais têm acesso a alimentos
industrializados e de fácil consumo.
LITERATURA CITADA
CVE
SAÚDE, disponível em:,
acesso em 04/04/2013.
MD
SAÚDE, disponível em:
, acesso em 04/04/2013.
TUA
SAÚDE, disponível em: http://tuasaude.com/bacteremia/&q=bacteremia&sa=X&ei=UdxdUcHHEIXQowHv6YH4Cw&ved=oCCI
>, acesso em 04/04/2013.
LABORATÓRIO
BIO LIDER, disponível em: http://www.laboratoriobiolider.com.br/media/images/00000624-LISTERIOSE.pdf&q=listeriose+fetal&sa=&ei=wdddufDy
>, acesso em 04/04/2013.
CAMPOS,
L. C.; SILVA, D.C.V. Listeria monocytogenes. In: TRABULSI, L.R. (ed.); ALTERTHUM, F. (ed.). Microbiologia. 5.ed.São
Paulo: Atheneu, 2008. P.237-245.