sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Boletim Técnico (1-2015): MOFO BRANCO DA SOJA (Glycine max) CAUSADO POR Sclerotinia sclerotiorum

MOFO BRANCO DA SOJA (Glycine max) CAUSADO POR Sclerotinia sclerotiorum

Alexandre Garcia Rezende
Acadêmico do curso de Agronomia

INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max - Fabaceae) teve a sua Introdução no Brasil no ano de 1901 como marco principal. É quando começam os cultivos na Estação Agropecuária de Campinas e a distribuição de sementes para produtores paulistas (APROSOJA, 2014). O sétimo levantamento da safra 2014/2015 da Conab, demostrou que a área cultivada de soja no Brasil é de 31.504,2 milhões de hectares, com produtividade de 2.993 Kg/ha e produção de 94.280,5 milhões de toneladas (APROSOJA, 2014).
Dentre as principais doenças, o mofo-branco apresenta grande importância em função de sua severidade e perdas provocadas, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary. Na cultura da soja, a fase mais vulnerável à infecção vai da floração plena (R2) ao início da formação dos grãos (R5) (DANIELSON et al., 2004).
          No cerrado, os primeiros relatos de mofo branco em soja foram feitos há 20 anos, ocorrendo desde então de forma endêmica (MACHADO & CASSETARI NETO, 2010). Em Goiás, o mofo branco aumentou consideravelmente, afetando cerca de 45% da área cultivada na safra 2009/2010 (PIMENTA, 2010).
         O agente causal S. sclerotiorum (Lib.) de Bary, é um fungo extremamente polífago sendo capaz de atacar mais de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies (DEMANT, 2010).
Sua disseminação se dá principalmente por sementes infectadas, pois o patógeno sobrevive no solo por tempo indefinido por meio de estruturas de resistência (escleródios), cuja população aumenta a cada plantio de espécie hospedeira (EMBRAPA, 2008).
As epidemias do mofo branco são iniciadas após a germinação dos escleródios no solo úmido. Os escleródios germinam dando origem a pequenos cogumelos em forma de taça, chamados de apotécios, que liberam esporos no ar, para inicialmente colonizar flores em senescência (JUNIOR, 2010).
O objetivo deste boletim técnico é descrever a sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle do mofo branco da soja causado por S. sclerotiorum.

DESENVOLVIMENTO
Hospedeiro/cultura:        Soja (Glycine max (L.) Merril)                    
Família Botânica: Fabaceae
Doença: Mofo branco
Agente Causal (Teleomorfo): Sclerotinia sclerotiorum
Local de Coleta: Fazenda Capão Grande / Cristalina- GO                            
Data de Coleta: 28/02/2015
Taxonomia: Pertence ao reino fugi filo Ascomycota, classe Discomycetes, ordem Helotiales, família Sclerotiniaceae, gênero Sclerotinia. Descrito por Libert de Bary in Vergh. Morph. Biol. Des Pilze, Mycet. Bact. P.236, 1884.
Sintomatologia: Os sintomas iniciais da doença são lesões encharcadas nas folhas ou qualquer outro tecido da parte aérea que normalmente tenham tido contato com as flores infectadas. As lesões espalham-se rapidamente para as hastes, ramos e vagens. Nos tecidos infectados aparece uma eflorescência branca que lembra algodão, constituindo os sinais característicos da doença (FURLAN, 2009).
         Até a cultura chegar ao florescimento, dificilmente a doença torna-se importante. Após este período, a doença é disseminada rapidamente porque a flor é fonte primária de energia, servindo de alimento para o fungo iniciar novas infecções (FURLAN, 2009). Em poucos dias, o micélio transforma se em massa negra, rígida, o escleródio, que é a forma de resistência do fungo. Os escleródios variam em tamanho de poucos milímetros alguns centímetros e são formados tanto na superfície como no interior da haste e das vagens infectadas (KIMATI et al., 2005).






Figura 1. Mofo Branco causado por Sclerotinia sclerotiorum incidente em soja (Glycine max) A.  Haste com abundante produção micelial  B. Início da formação de escleródio (conglomerados e esbranquiçados) C. Abundante formação de micélio superficial, D. Cultura com formação de escleródios.



Etiologia (Sinais): Em meio de cultura ágar, as características observadas nas colônias foram, o micélio de coloração branca creme, os escleródios coloração negra, a  distribuição dos escleródios é aleatoriamente na colônia eles são superficiais e ficam sempre acima da superfície do meio de cultura, os escleródios tem mais de 2 mm de diâmetro, e apresentam formatos  globoso a alongado, a parte interna do escleródio apresenta um anel distinto,  diferente da estrutura interior  presente, eles podem apresentar um tecido chamado de prosoplectenquima, que  nada mais é que tecido denso com hifas que apresentam células visíveis, de textura intrincada, as paredes das células são extremamente finas com ramificação distal na parte final, as hifas de  S. sclerotiorum, apresentam ramificação distal na célula final, as  hifas  podem se ramificar na região onde contém os septos, dando origem a hifas de espessuras menores e as hifas podem apresentar até 5 µm de diâmetro (MORDUE et al., 1989).
As colônias em meio BDA são brancas ou de coloração acinzentada, usualmente podem até ter um micélio aéreo, mas algumas vezes mostram um micélio mais compacto e abundante, os escleródios desenvolvidos são negros, a superfície das colônias são claras em placas de Peri e muitas dela tem uma estrutura hifalíca que cresce rapidamente, elas são circundadas ou alongadas, as hifas são arredondadas em algumas situações tem o formato reniforme na secções verticais , a superfície pode ser lisa ou ligeiramente com alguma imperfeição, as células das hifas tem parede fina com conteúdos granulares densos, apresentam espessura de 9 – 4 µm de largura, e o topo da célula apresenta 300 µm de comprimento, algumas com mais ramificações no primeiro septo, que apresenta de 30 – 50 µm de comprimento, as células secundarias subsequentes  se ramificam na hifa e ocorre um estreitamento dessa hifa primaria, quando se realiza a montagem em fixadores lactofenol particularmente com “cotton blue”, isso é suficiente para levar a célula a características da célula que se mostram com a presença de poros na região próximos aos septos, o inicio da formação dos escleródios desenvolve de forma que os micélios que se ramificam primariamente nos micélios aéreos e usualmente podem formar escleródios, os escleródios maduros se mostram diferenciados, eventualmente podem parecer finos,  com parede fortemente pigmentada,  apresentam tecido cortical com 2 a 3 células finas, apresentam formato isogeométrico a parede celular é fina e a medula interna pode se diferenciar em alguns diâmetros  e a hifa primariamente mostra coloração e parede fina. As células do córtex e da medula mostram um conteúdo granulado e as células não tem um formato esférico os espaços interhifalícos da medula do escleródio não contem material gelatinoso, no hospedeiro o micélio se espalha na superfície se ramifica tanto intracelularmente quanto intercelularmente, os escleródios se desenvolvem internamente na superfície interna e externa e são algumas vezes numerosos dentro das cavidades, os escleródios podem passar por período de dormência depois maturação e resultar na formação da fase apotecial que é raramente vista em associação em plantas doentes, à espécie S. trifolium, mostra características culturais muito similares e a estrutura dos escleródios são indistinguíveis e desenvolve-se bem menos que S. sclerotiorum (MORDUE & HOLLIDAY, 1976).

Epidemiologia: A doença é mais destrutiva em temperaturas moderadas (15 a 25º C) em alta umidade. O fungo sobrevive no solo, por alguns anos, na forma de escleródios (COOK et al., 1975). A infecção da planta ocorre pela germinação direta dos escleródios ou, indiretamente, por meio de ascósporos e pela produção de micélio que coloniza a planta hospedeira. Os ascósporos, o principal inoculo primário do patógeno, são produzidos em estruturas semelhantes a pequenos cogumelos, denominadas apotécios, que são formados a partir de escleródios. Os ascósporos podem sobreviver até 12 dias no campo, são levados pela ação de vento e respingos de agua oriundos de chuva e de irrigação, para diferentes partes da planta e para outras plantas da mesma área, podendo atingir ainda outros campos de cultivo nas proximidades (ABAWI & GROGAN, 1975).                                      
Em temperaturas superiores a 20º C inibem a formação do apotécio, a germinação de ascósporos, por sua vez, é favorecida por temperaturas em torno de 20ºC. No campo, flores senescentes provem a energia necessária para a germinação dos ascósporos. A doença se dissemina de um local para outro por meio de escleródios misturados ou aderidos as sementes, as quais também podem apresentar-se infectadas com micélio do fungo. Os escleródios permanecem no solo e nos restos de cultura podem ser disseminados pela agua de irrigação, enxurradas ou implementos agrícolas (CARDOSO et al., 1996).
Controle: O controle do mofo branco e dificultado devido à permanência de escleródios viáveis por um longo tempo no solo, aliado ao fato de que os ascósporos que produzem a infecção aérea podem ser provenientes de escleródios existentes a longas distancias (JUNIOR, 2010).
O controle químico por meio de fungicidas tem sido o mais eficaz, em função da rapidez de evolução da doença, promove condições adequadas à planta e favorece a retenção e absorção dos produtos. O controle do mofo branco requer muita atenção do produtor. Sua eficiência depende sobre tudo da época de aplicação (OLIVEIRA, 2005). A primeira pulverização deve ser feita preventivamente, na abertura das primeiras flores é o chamado estádio R2. Deve ser feita quando as condições forem favoráveis à doença e surgirem os primeiros apotécios. Além disso, a qualidade de aplicação do produto químico a ser utilizado e tão importante quanto à época de aplicação, pois precisa alcançar as partes inferiores da planta e a superfície do solo, além de proteger as flores (OLIVEIRA, 2005).  Segundo VIEIRA (2001) o fluazinam é o produto que mais se destaca no controle, conseguindo deter por mais tempo o avanço da incidência e severidade da doença na cultura da soja. Porém pode ser inviável em razão dos custos e das dificuldades de se obter uma cobertura total da planta durante a pulverização.
Entre as recomendações para manejo do mofo-branco, podem ser destacadas práticas como o controle cultural com formação da palhada para o sistema de plantio direto (SPD) e o controle biológico com antagonistas.
O controle cultural através de uso de sementes sadias, racionalização do volume de água na lavoura, fuga de épocas muito favoráveis como alta umidade e temperaturas mais baixas, ter cobertura do solo com palhada pode inibir a formação de apotécios, conforme demonstrado em condições experimentais (FERRAZ et al., 1999; FERGUSON et al., 2001).
     Já o controle biológico com aplicação de Trichoderma harzianum pode reduzir em 62,5% o número de escleródios viáveis (MENENDEZ & GODEAS, 1998).

Já para controle genético não existe cultivares de soja resistente a S. sclerotiorum. Porém as cultivares Emgopa 316® e BRSGO Milena® comportaram se como moderadamente resistentes com a inoculação na planta. (GARCIA & JULIATTI, 2012).

LITERATURA CITADA
ABAWI, G.S.; GROGAN, R.G. Source of primary inoculum and effects of temperature and moisture on infection of beans by Whetzelinia sclerotiorum. Phytopathology 65:300-9 1975.
APROSOJA  BRASIL, Disponível em: http://aprosojabrasil.com.br/2014/sobre-a-soja/a-historia-da-soja/. Acesso em 23 de Abril de 2015.
APROSOJA BRASIL, disponível em: http://aprosojabrasil.com.br/2014/wp-content/uploads/2015/04/7%C2%BA-levantamento-de-Safras-Gr%C3%A3os-CONAB-2014-15.pdf. Acesso em 23 de Abril de 2015.
CARDOSO J.E; SARTORATO, A.; RAVA, C.A. Doenças causadas por fungos do solo. In: ARAUJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L. F.; ZIMMERMANN, M. J.O. (Eds). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba, POTAFOS, p, 701-22. 1996.
COOK, G. E.; STEADMAN, J.R.; BOOSALIS, M.G. Survival of Whetzelinia sclerotiorum and initial infection of dry  edible beans in western Nebraska. Phytopathol. 65:250-5, 1975.
DANIELSON, G.A.; NELSON, B.D.; HELMS, T.C. Effect of Sclerotinia stem rot on yield of soybean inoculated at different growth stages. Plant Disease, v.88, p.297-300, 2004.
DEMANT, C. A. R. Mofo branco e seu manejo no Oeste baiano. Boletim Passarela da soja, fundação BA Março/2010 - Ano 02 - Nº 02.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Soja (Londrina, PR). Tecnologias de Produção de soja na Região Central do Brasil 2009 e 2010. Londrina:EMBRAPA/CNPSo, 2008. 261p. (EMBRAPA - Soja. Sistemas de Produção, 13).
FERGUSON, L.M.; SHEW, B.B. Wheat straw mulch and its impacts on three soilborne pathogens of peanut in microplots. Plant Disease, v.85, p.661-667, 2001.
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KIMATI, H.; AMORIM, A.; BERGAMIN FILHO, L. E. A.; CAMARGO, J. A. M. R. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômia Ceres, 2005. v. 2,  (pág.: 580).
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VIEIRA, R.F., PAULA JUNIOR, T.J. de, PERES, A.P. & MACHADO, J.C. Fungicidas aplicados via agua de irrigação no controle do mofo-branco no feijoeiro e incidência do patógeno na semente. Fitopatologia Brasileira 26:770-773. Dezembro, 2001.

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