Crosta-marrom-do-abacate
(Persea americana) causada por Phyllachora gratissima.
Bruna do
Carmo Vieira
Acadêmica do
Curso de Agronomia
INTRODUÇÃO
O
abacateiro Persea americana Mill. -
Lauraceae é originário da América é cultivado em quase todas as regiões
tropicais e subtropicais, particularmente no México, América Central, partes da
América do Sul, nas Índias Ocidentais, África do Sul, Israel e no Havaí; em
menor extensão, na Índia, Samoa, Taiti, Argélia, Austrália, EUA (OLIVEIRA et
al., 2000).
O
abacate (P. americana) é um fruto
climatérico, com alta taxa respiratória e produção elevada de etileno após a
colheita; portanto, altamente perecível sob condições ambientais. O controle do amadurecimento é fundamental
para o aumento da vida útil após colheita, visando ao mercado interno e à
exportação de frutas. Já a comercialização do fruto na forma processada é um
grande desafio, pois a polpa escurece rapidamente depois de cortada, por
presença de enzimas responsáveis pelo escurecimento, principalmente a
polifenoloxidase (DAIUTO et al., 2011).
As
qualidades organolépticas, o valor nutritivo e a riqueza em vitaminas do
abacate justificam plenamente a expansão do seu consumo. O abacate contém as
vitaminas lipossolúveis que em geral faltam nas outras frutas. É muito rico em
vitaminas A e B, medianamente rico em vitaminas D e E e muito pobre em vitamina
C. O valor calórico por 100 gramas de fruto pode variar de 55 a 200 calorias
(OLIVEIRA et al., 2000).
As informações
sobre as doenças desta espécie são escassas. Geralmente são mencionados sérios
problemas com doenças. O Phyllachora
bakeriana tem sido relatada em Cassia
fistula, C. hoffinanseggiana e C. inaequilatera. Outros autores citam a
P. canafistulae Chardon. e P. cassiae Henn. em Cassia fistula, mas estes são considerados sinônimos (ESQUIVEL,
2009).
Por
ser uma espécie tropical que provavelmente não mostra sazonalidade marcada, mas
ascomas parecem ser mais frequentemente em janeiro ou fevereiro (CMI 1990).
A
espécie P. gratissima foi descrita
por Rehm, publicada no ano de 1892 (INDEX FUNGORUM, 2015).
No
mundo P. gratissima encontra-se
distribuída na Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Haiti,
México, Porto Rico e Venezuela (MYCOBANK, 2015).
No
mundo tem sido registrado o patógeno em um gênero e três espécies de plantas
hospedeiras representadas por Persea americana, P. gratissima e P. persea
(FARR, & ROSSMAN, 2015).
O objetivo deste boletim técnico é
descrever a sintomatologia, etiologia, epidemiologia e controle da
crosta-negra-do-abacateiro causado por P.
gratissima.
DESENVOLVIMENTO
Hospedeiro/cultura: Abacateiro (Persea americana Mill.)
Família Botânica:
Lauraceae
Doença:
Crosta-negra-do-abacateiro
Agente Causal: Phyllachora gratissima Rehm (Teleomorfo)
Local de Coleta:
área de jardim, Urutaí, GO.
Data de Coleta:
06/03/2015
Taxonomia:
Pertence ao reino Fungi, Divisão Ascomycota, classe Sordariomycetes, ordem
Phyllachorales, família Phyllachoraceae, gênero Phyllachora sp., espécie P.
gratissima.
Sintomatologia:
No material coletado foram observados sintomas da doença em uma porcentagem
significativa de folhas de diferentes idades. As lesões começam como pontuações
escuras arredondadas na parte adaxial, rodeados de coloração amarela
arredondada, que por elipsoides em evolução torna-se rodeado por um halo de
larguras cloróticas (Fig. 1A). No centro das lesões foram observadas
frutificação globosas subepidérmicas, de coloração preta, representados pelos
sinais da presença do patógeno Fig. 1B (ESQUIVEL, 2009).
Causa
lesões não claramente definidas (Fig. 1C), e óbvias apenas uma vez que os
estromas foram parasitados por outros fungos; muitas vezes, formando padrão
circular para os pontos marrons escuros de aproximadamente a 10 mm diâmetro
(Fig. 1D), não associadas com as nervuras (MYCOBANK, 2015). Estes pontos são
compostos de um material estromático de até 1 mm (ESQUIVEL, 2009).
Figura 1. Sintomas da crosta-marrom-do-abacate (Persea americana) causada por Phyllachora gratissima. A. Sintomas na
face adaxial (barr= 2,25 cm). B. Sinais na face abaxial (barr= 2,2 cm), C.
Detalhe dos sinais do patógeno na face adaxial circundado por halo clorótico
(barr= 10 mm), D. Detalhe dos sinais na face abaxial formando abundante tecido
fúngico crostoso e superficial (barr= 5 mm).
Etiologia (Sinais):
A fase anamórfica encontra-se em lóculos dentro do
estroma. Os conidióforos são formados a partir de uma camada basal de hialina
para empalidecer, empalidecido, textura angular castanha, curta, muitas vezes
ramificada uma ou duas vezes simpodial. Células conidiogênica nas 22-36 x 3-4 µm, lanceoladas ou gradualmente afinando, muitas vezes com
espessamento periclinal conspícuo, não colateral visto. Conídio 44-58 x 1,5-2 µm, estreitamente lanceoladas, filiforme, mais largo perto
da base, o ápice fortemente atenuado, a base também atenuada, hialina, asseptados,
lisa, sem apêndices mucosos (MYCOBANK, 2015).
A fase teleomórfica apresentou estromas 400 -1200 µm, de forma irregular e aglutinanda, 1-4 lóculos por
lesão, fortemente negra, com bordas irregulares, os ostíolos não conspícuo (Fig.
2A). Ascomas de 350 µm de diâmetro, superficialmente cônico, a parede superior
a 50 µm de espessura, quebradiço, composto por células
epidérmicas hospedeiras fortemente oclusas por depósitos de melanina negra, com
uma camada interna de células fúngicas comprimido, a parede inferior mal
definida, composta por células fúngicas marrom escuro, achatada, comprimidas
contra o tecido (Fig. 2B). Asca 90-124 x 24-29 µm, clavada para sacular, o ápice obtuso, de paredes
espessas, sem estruturas apicais claramente definidos com 8 esporos (Fig. 2CG).
Os ascósporos dispostos bilaterais (Fig. 2D), 21,5-25 x 11-13 µm, com uma face ± plana, hialina, asseptados, liso, com um
apêndice gelatinosa pulvinate com 2 µm de largura e 4 µm de comprimento em cada extremidade como mostrado a
Fig.2.F (MYCOBANK,
2015). Não
existe de acordo com Mycobank, 2015, nenhum registro de especialização
fisiológica.
Tabela 1. Comparação
entre as estruturas morfológicas entre o isolado identificado com a descrição
feita por Mycobank, (2015).
Figura 2. Sintomas da crosta-marrom-do-abacate (Persea americana) causada por Phyllachora
gratissima. A. Vários peritécios
localizados na superfície da face adaxial foliar (barr= 45 µm), B. Detalhe do
peritécio não estiolado (barr= 45 µm), C. Asca hialina contendo oito ascósporos
(barr= 20 µm), D. Região apical da asca no ato da liberação do ascósporo (barr=
20 µm), E. Saída da asca do corpo de frutificação (peritécio) (barr= 18 µm), F.
Ascósporos (barr= 15 µm), G. Conjunto de ascas (barr= 75 µm).
EPIDEMIOLOGIA:
O patógeno Phyllachora gratissima apresentou 19 registros de ocorrência
infectando os seguintes hospedeiros: infectando P. americana foi registrado na Colômbia (SPAULDING, 1961), Cuba
(ARNOLD, 1986), República Dominicana (SPAULDING, 1961; CIFERRI, 1961),
Guatemala (SPAULDING, 1961; MCGUIRE, 1967), Honduras (MCGUIRE, 1967), Jamaica
(SPAULDING, 1961), México (ALVAREZ, 1976), Porto Rico (STEVENSON, 1975;
SPAULDING, 1961), Venezuela (SPAULDING, 1961) e Ilhas Virgens (STEVENSON,
1975); infectando P. gratissima foi
registrado na Colômbia (CHARDON, 1930; DENNIS,1970), Equador (DENNIS,1970),
Venezuela (CHARDON, 1930; DENNIS, 1970); infectando P. persea foi registrado no Equador (SEAVER, 1928).
No mundo P.
gratissima encontra-se distribuída na Colômbia, Costa Rica, República
Dominicana, Equador, Haiti, México, Porto Rico e Venezuela (MYCOBANK, 2015).
CONTROLE:
Embora o fungo P. gratissima seja difundido e comum, o
seu efeito sobre o hospedeiro não foi devidamente estudado (GARCÀ e ORTIZ,
1984). Assim basicamente não se encontram recomendações de controle para a
crosta-negra-do-abacateiro.
Controle cultural: Recomenda-se também retirar e eliminar as
folhas doentes que caíram, pois estas são fonte de inoculo da doença. Em caso
de plantio para recomenda-se plantar as arvores com um espaçamento maior para
não adensar e facilitar a epidemia.
Controle químico: Não existe nenhum produto registrado, no
Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, (MAPA) para o controle
dessa doença (AGROFIT, 2015). Porém contém para a espécie Phyllachora torrendiella, doença
do Coqueiro, não contendo registros de fungicida para o controle deste fungo.
Vários trabalhos de pesquisa têm sido realizados para possibilitar o controle
químico deste patógeno, mas a utilização desta técnica em grandes culturas é
considerada inviável devido ao tamanho das plantas (AGROFIT, 2015).
Controle genético: A busca de variedades resistentes seja
mediante a seleção dentro dos recursos genéticos existentes, seja mediante a
geração de novas variedades por hibridação, é um método que até o momento não
se é utilizado para P. americana no
controle da doença crosta-negra-do-abacateiro.
Controle biológico: Também não se tem relatos de controle
biológico empregados no controle dessa doença. Estudos com esse tipo de
controle, geralmente, são feitos para espécies de grande interesse econômico.
LITERATURA CITADA:
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