segunda-feira, 4 de julho de 2011

Boletim técnico: Ferrugem (Puccinia mogiphanis) incidente em folhas de terramicina

Ferrugem (Puccinia mogiphanis) incidente em folhas de terramicina
(Alternanthera dentata)

Lorena Natácia da Silva Lopes
Acadêmica do curso de agronomia

INTRODUÇÃO

O gênero Puccinia é um importante táxon de fungo causador de doenças do tipo ferrugem. Possui 5.251 espécies descritas, as quais estão amplamente distribuídas no mundo e possuem inúmeros hospedeiros registrados em literatura. O fungo Puccinia mogiphanis agente causal da ferrugem da terramicina foi descrito por Arthur (1918), (Index Fungorun, 2011).
O anfitrião Alternanthera brasiliana é conhecido principalmente das Américas que se estende do sul do México até a Argentina. Esta planta ornamental foi introduzida na Nigéria há aproximadamente 15 anos e hoje é amplamente distribuída. Parece provável que a ferrugem foi introduzido com o anfitrião, (Farr et al., 2011).
A planta terramicina Alternanthera dentata (Amaranthaceae) espécie muito semelhante a Alternanthera brasiliana é originária da Amazônia, e freqüentemente cultivada como ornamental. Apresenta características como coloração arroxeada nas folhas e ramos e a presença de brácteas mais longas que as tépalas e com margens lacerdo denteada. Ela e amplamente utilizada na medicina popular em quase todo o Brasil, (Lorenzi et al., 2001).
Os fungos da ordem Uredinales possuem patógenos obrigatórios em praticamente todos os continentes, causando sérias perdas em plantios comerciais por interferir com a fisiologia do hospedeiro, reduzindo a produtividade e depreciando os produtos agrícolas (Cummins & Hiratsuka, 1983; Hawksworth et al., 1995, Agrios, 1997). No Brasil a Ordem Uredinales esta representada por 56 holomorfos, 9 anamorfos e cerca de 800 espécies, (Hennen et al, 2005).


Muitas espécies de plantas são atacadas pela doença mais conhecida como ferrugem, mas embora o nome seja o mesmo, muitas vezes o agente causador da ferrugem não é o mesmo em se tratando de plantas distintas. Apesar da importância incontestável das ferrugens como fitopatógenos, certas particularidades da biologia desse grupo de organismos fazem com que ainda se saiba muito pouco sobre a maioria de seus representantes. Entre essas particularidades está o fato de se tratarem de fungos biotróficos, não podendo ser facilmente cultivados à parte de seus hospedeiros, (Hennen et al., 2005).
As ferrugens podem ter ação devastadora sobre seu hospedeiro e têm sido reconhecidas pelo homem desde a antiguidade. Estas doenças provocam constantemente enormes perdas em varias culturas, que sofrem redução na produção devido ao ataque de doenças deste grupo. As condições climáticas que favorecem a ocorrência das ferrugens nas condições brasileiras são bastantes variáveis, em função da combinação patógeno- hospedeiro. (H. Kimati, 2005).
Poucos trabalhos têm sido publicados no Brasil sobre as relações entre plantas medicinais e fitopatógenos (Urben et al., 1987; Souza et al., 1995).
O objetivo deste trabalho foi de descrever a ferrugem da terramicina causada por Puccinia mogiphanis.

MATERIAIS E MÉTODOS

Esse trabalho foi realizado no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí.
Os propágulos da superfície da folha terramicina foram coletadas na área urbana da cidade de Urutaí, em jardirm de ornamentação. Os sinais das folhas foram extraídos com o auxilio de uma pinça, sendo os propágulos depositados em uma lâmina contendo uma gota de fixador azul de algodão (2,6 mL de ácido acético, 62,5 mL de ácido lático, 100 mL de glicerina, 100 mL de água destilada; o corante apresentou uma diluição de 1 g para 10 mL de etanol 70 %), em seguida misturou-se os propágulos e adicionou-se uma lamínula sobre a lâmina. Retirou se o excesso do fixador com papel absorvente, logo após vedou se a lamínula com esmalte e levou para visualização em microscópio óptico.
Os cortes histológicos foram realizados com o auxilio do microscópio estereoscópico e lâmina de barbear, onde os fragmentos do tecido foram depositados em fixador contendo lamínula e esmalte para vedação.
Para realização do teste de germinação dos esporos, foi utilizado amostras de plantas contendo urediniósporos, água destilada e estéril, meio de cultura Agar água (AA) e lamínulas. Procedeu-se da seguinte forma: raspagem direta dos urediniósporos presentes na folha com auxilio de um instrumento pontiagudo, estes foram depositados sobre uma lâmina contendo água destilada e estéril em câmara de fluxo laminar.
Em seguida a suspensão de esporos foi colocada sobre o meio de cultura AA cobertos com lamínulas e vedados, e depositados para incubar as 25 oC por um período de 5 a 10 dias. Após a incubação, lâminas utilizando fixador azul de algodão foram preparadas para visualização da germinação dos urediniósporos. Analisou-se da seguinte forma, se os “esporos” coletados formassem basidias e basidiósporos tratava-se da fase telial, em caso de apenas formar tubos germinativos, tratava-se que o isolado em questão fosse considerado como sendo a fase uredinial.
A identificação do agente causal foi baseada na relação da espécie do agente etioliologico com o hospedeiro uma vez que não foi identificado a faze telial pelo teste de germinação de “esporos”.
Foram realizadas fotos dos sintomas das folhas infectadas e microfotografias das estruturas fúngicas no microscópio óptico, utilizando câmera digital Canon® modelo Power Shot A580, para confecção da prancha de fotos que foram editadas com o “Windows Picture Manager” e a prancha foi organizada no Microsoft Office Power Point.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Hospedeiro/cultura: Terramicina ( Alternanthera dentata ).
Família Botânica: Amaranthaceae
Doença: Ferrugem
Agente Causal: Puccinia mogiphanis Arthur (1918)
Local de Coleta: Urutaí, GO.
Data de Coleta: 12/03/2011
Taxonomia: O agente causal pertence ao Reino Fungi, Divisão Basidiomycota, Classe Urediniomycetes, Sub-classe Teliomycetes, Ordem Uredinales, Família Pucciniaceae,Gênero Puccinia e Espécie Puccinia mogiphanis (Index Fungorum, 2011; Kirk et al., 2001).

Sintomatologia

Na face adaxial observou-se sintomas de manchas distribuídas aleatoriamente na face adaxial, sem pulverulência, apenas pequenas lesões necróticas, distribuídas equidistantemente, contudo maior frequência de lesões nas folhas mais velhas e próximas as bordas das folhas. E ainda observou-se pela natureza da formação de pústulas uma organização circunscrita das pústulas e das lesões necróticas.
Observou-se na face abaxial avermelhada a presença de massa de esporos de pulverulenta de coloração alaranjada típica de fungos causadores de ferrugens.

Etiologia
A pústula uredinial foi observada somente na face abaxial e a fase telial não foi identificada nos teste de germinação do urediniósporos.
O gênero Puccinia apresenta as seguintes características morfológicas: Teliósporos pendicelados, germinação externa, bicelulares, com paredes pigmentadas. Télio acervular, no máximo um poro germinativo em cada célula do teiósporos, pedicelos simples. Pícnia em forma se garrafa com himênio fortemente côncavo. Ècio ecidióde e com uredinia uredinóide.
O micélio das ferrugens pode ser uninucleado e binucleado depois. Após a penetração, o micélio cresce internamente no hospedeiro sendo inteiramente endobiótico, extraindo os alimentos por meio de haustórios que ser formam a partir das hifas intercelulares penetrando as células do hospedeiro e localizando se entre a parede celular e a parede plasmática. Os haustórios são bastante variáveis em tamanho e forma, porém constantes para cada espécies, (Martins ET al., 1995).
Urédia anfígena podendo ser encontrada abaixo da folha, podendo ser hipofila, algumas vezes podendo causar lesões no caule, distribuidas de uma forma irregular, formando erupções no tecido, formando agrupamento de aproximadamente 7 mm de diametro, ela pode apresentar um formato circular, algumas vezes pode ter 1mm de diametro, urediniósporo esferico podendo ser eliptico com dimensões de 28–43 x 24-40 µm, parede espessa e podendo apresentar 1,5-4 µm de espessura, superficie do urediniósporo é densamente verrugosa podendo apresentar de 3- 4 poros germinativos com no máximo 6 poros, podem estar numa posição equatorial ou nas laterais, (Hernandez etal.2005).

Epidemiologia
Os fungos representantes da Ordem Uredinales, são responsáveis pelas ferrugem em plantas, e apresentam alta especificidade em relação a seus hospedeiros, sendo capazes de infectar um grande número de plantas vasculares, cultivadas ou silvestres (Cummins & Hiratsuka, 1983; Hawksworth et al., 1995, Agrios, 1997).
O principal mecanismo de dispersão dos esporos é o vento, que pode carregá-los por milhares de quilômetros. As ferrugens geralmente se beneficiam de climas amenos, com temperaturas moderadas e alta pré
cipitação. Observam-se maiores incidências em anos chuvosos e propensos a formação de orvalho sobre as folhas. Estes fatores se relacionam com a necessidade de haver molhamento das folhas para que o esporo germine, (Jardineiro net, 2011).
O agente causal já foi descrito e registrado no Caribe e da América Central do Sul e na Africa (Farr & Rossman, 2011). Apenas o estágio uredinial, mais frequente no campo, foi encontrado na Nigéria, onde a ferrugem é abundante no período de março a setembro. A fase de télia parecem ser raros e foram encontrados apenas em uma das coleções examinadas (BPI 848454, do Peru). Esta descrição da Telia é baseada no modelo peruano (Laundon 1965).
Existem relatos dessa espécie Puccinia mogiphanis no Brasil nos seguintes estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba e no Ceará. Com uma maior incidência no estado do Rio de janeiro (Embrapa Cenargem, 2011).

Segundo Hernedez etal,(2005) foi apontado registros de ocorrência da Puccinia mogiphanis em Achyranthes sp. (Amaranthaceae) no Equador, Quito, Peru, Pasco; em Alternanthera brasiliana (Amaranthaceae) na Nigéria na cidadede Nsukka; em Alternanthera puberula (Amaranthaceae) no Brasil, Rio de Janeiro na cidade de Niteroí; em Alternanthera ramosissima (Amaranthaceae) em São Paulo; em Mogiphanes sp. (Amaranthaceae) no Mato grosso.
Como uredo maculans (sinonímia de Puccinia mogiphanis): Achyranthes sp., Costa Rica na cidade de Alajuela; em Alternanthera flavescens nos Estados Unidos no estado da Florida, Venezuela, Caracas; em Alternanthera williamsii, Panamá; em Pfaffia iresinoides (Amaranthaeae) Trinidade e Tobago,(Hernandez etal.2005).

Controle

As medidas de controle para esta doença serão aplicadas mediante a importância ou efeito ornamental que a planta hospedeira possa estar exercendo no ambiente. Em ornamentais o ideal é destruir as plantas atacadas para evitar que outras plantas sejam afetadas.
Em se tratando de uma espécie pouco cultivada e difundida no Brasil, devido seu uso, a existência de moléculas artificiais para controle químicos registrados no Agrofit (2011), e inexistente. Em cultivos comerciais onde se extrai propriedades farmacológicas das partes vegetativas do hospedeiro faz necessário o uso de materiais mais resistentes, podas de ramas, controle de molhamento foliar, realizar plantios consorciados com outras plantas não hospedeiras (não pertencentes a família Amaranthaceae).


LITERATURA CITADA


AGRIOS, N.G. Plant pathology. 4. ed. San Diego: Academic Press, 1997. 635p.

AGROFIT Sistema de Agrotóxicos Fitossanitário. , acessado em 15/04/2011.

ARA INBIO Disponível em acessado em 14/04/2011.

CENARGEN Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbanco01.asp. Acesso em: 17/4/2011.

CUMMINS, G.B. & HIRATSUKA, Y. Illustrated Genera of Rust Fungi. 2. ed. rev. Saint Paul:American Phytopathological Society, 1983

JARDINEIRO NET. Disponível em: < http:// .jardineiro.net/br/pragas/ferrugem.php > acessado em: 16/04/2011.

FARR, D.F., A.Y. ROSSMAN, M.E. PALM & E.B. MCCRAY. (n.d.). Fungal Databases, Systematic Botany and Mycology Laboratory, ARS, USDA. Disponívl em :, acesssado em maio de 2011.

HAWKSWORTH, D.L., KIRK, P.M., SUTTON, B.C. & PEGLER, D.N. Ainsworth & Bisby's dictionary of the fungi. 8. ed. Wallingford:CAB international, 1995.

HENNEN , J.F; FIGUEIREDO, M.B.; CARVALHO JUNIOR, A.A.&Hennen, P.G. Catálogo de plantas Rust Fungi (Uredinales) do Brasil, 2005.

HERNANDEZ, J. R.; EBOH, D.O.; ROSSMAN, A.Y. New reports of rust fungi (uredinales) from Nigeria. Caldasia 27 (2): 213 – 221. 2005.

HIRATSUKA ,Y.CUMMIS ,G.B. Illustrated Genera Of Rust Fungi Edição Revisada.

INDEX FUNGORUM, Disponível em: < http://www.indexfungorum. org/names/NamesRecord.asp?RecordID=495633> . Acessado em 2010.

KIMATI, H., AMORIM, L., REZENDE, J.A.M., BERGAMIN FILHO, A., Manual de Fitopatologia, vol. 2, doenças das plantas cultivadas 4° ed. cap. 53, pág 469, São Paulo: Agronômicas Ceres, 2005
LAUNDON, G.F. Rust fungi III: On Alangiaceae, Amaranthaceae and Amaryllidaceae. Mycological Papers 102: 1-52. 1965.

LORENZE , H.;MATOS, F.J.A. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas cultivadas. Instituto plantarum, Nova Odessa, SP, 2007.

MARTINS, E.M.F.; CARVALHO JUNIOR, A.A.; FIGUEIREDO, M.B. Obtenção de culturas axênicas esporulantes de Melampsora epitea Thüm, ferrugem do chorão (Salix sp.) a partir de urediniósporos puros. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.62, p.58, 1995. Suplemento. Trabalho apresentado na REUNIÃO ANUAL DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 8., 1995, São Paulo. Resumo 071.

URBEN, A.F., MATTOS, J.K.A. & MENDES, M.A.S. Fungos associados a manchas de folhas em plantas de uso medicinal, no Distrito Federal. Fitopatologia Brasileira 12:390-394. 1987.

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