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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Podridão-vermelha (Colletotrichum falcatum) incidente em folha de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.)

Autor: Marcus Vinícius Santana


A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum Linneu) é originária da Nova-Guiné e foi levada para o sul da Ásia onde foi usada, de início, principalmente em forma de xarope. A primeira evidência do açúcar em sua forma sólida, data do ano 500, na Pérsia (Mozanbani et. al., 2006). A cana-de-açúcar é um produto de suma importância econômica e social no Brasil, em virtude dos seus derivados, principalmente o álcool e o açúcar. Atualmente, o Estado de São Paulo destaca-se por contribuir com cerca de 60 % da produção nacional, o que equivale a aproximadamente 300 milhões de toneladas anuais (Raizer, 1998).
Dentre as principais doenças que ataca a cana-de-açúcar destaca-se a podridão-vermelha-da-cana-de-açúcar, doença essa que causa grandes prejuízos à cultura. Esta doença ocorre em épocas quentes e chuvosas, podendo incidir de maneira drástica nas folhas, toletes e principalmente em colmos, prejudicando a produção e a qualidade do produto para a comercialização e a industrialização (Rago e Tokeshi, 2005).
A doença existe desde o início do cultivo da cana e ocorre no mundo todo. A podridão vermelha causa prejuízos importantes à cultura, sobretudo pela inversão de sacarose, o que diminui o rendimento no processamento da cana. São freqüentes os relatos de perdas de 50% a 70 % de sacarose em colmos atacados simultaneamente pelo fungo e pela broca-da-cana, pois ao perfurar o colmo ela abre caminho para a entrada do fungo (Santiago e Rossetto, 2010).
A podridão-vermelha-da-cana-de-açúcar é causada pelo fungo Colletotrichum falcatum Went (1893). O gênero Colletotrichum sp. é um anamorfo pertencente ao Reino Fungi, grupo incerto Fungo Mitospórico, subgrupo coelomicete. Já a sua forma teleomórfica pertencente à Divisão Ascomycota que engloba muitas espécies causadoras de doenças em uma gama extensiva de hospedeiros (Bailey & Jeger, 1992). Espécies deste gênero apresentam diversas estratégias na invasão dos tecidos de plantas, que vão de hemicelular hemibiotrófica a intracelular necrotrófica. Além disso, estes patógenos desenvolvem uma série de estruturas de infecção especializadas, incluindo tubos germinativos, apressórios, haustórios, hifas intracelulares necrotróficas secundárias e acérvulos (Sutton, 1980).
O presente trabalho tem como objetivo identificar e descrever a Podridão-vermelha-da-cana-de-açúcar, destacando também os sintomas, etiologia e controle da doença.

As amostras foram coletadas no setor de zootecnia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí, no dia 23 de março de 2010 e posteriormente levadas ao Laboratório de Microbiologia para processamento das amostras.

No laboratório, foram inicialmente observados e fotografados os sintomas da doença em folha da cana-de-açúcar, em microscópio estereoscópio. Os sinais do fungo na face abaxial da folha foram registrados (Fig. 1B). Posteriormente, foi preparada uma lâmina semi-permanente utlizando a técnica de “pescagem direta” utilizando uma pinça e uma seringa, e ainda com o auxílio de um microscópio estereoscópio depositou-se os fragmentos do fungo sobre uma lâmina contendo gotas de um fixador contendo corante azul-de-algodão. Logo após homogeneização dos fragmentos depositados, adicionou-se uma lamínula sobre a gota e os fragmentos. A vedação foi realizada com esmalte incolor de unha.

A lâmina semi-permanente foi analisada em microscópio ótico, onde foi confirmada a natureza etiológica do fungo Colletotrichum falcatum, na lâmina foi observado a estrutura do fungo notando a presença de setas, acérvulos e conídios (Fig. D E), os conídios foram bastantes observados para a devida classificação e confirmação da espécie do fungo (Fig. G F).

Em seguida, foi preparada uma lâmina semi-permanente utlizando a técnica de “corte histológico” utilizando uma lâmina de barbear retirou-se uma fina camada do tecido vegetal infectado e depositou-os sobre uma lâmina contendo gotas de um fixador contendo corante azul-de-algodão. Logo após homogeneização dos fragmentos depositados, adicionou-se uma lamínula sobre a gota e o corte vegetal. A vedação foi realizada com esmalte incolor de unha.

No “corte histológico” foi observado vários acérvulos (Fig. C) infectando o tecido vegetal, confirmando a etiologia do fungo.

Foram realizados registros microfotográficos, com uma máquina fotográfica da marca Sony CyberShot, as fotos foram arranjadas e as escalas feitas no Programa Microsoft Power Point e em seguida as imagens foram editoradas utilizando o programa Microsoft Office Picture Manager para criação da prancha.

Hospedeiro: Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum Linneu)

Família botânica: Poaceae

Doença: Podridão-vermelha

Agente causal: Colletotrichum falcatum Went (1893) (fase anamórfica: Glomerella tucumanensis Arx & Müller (1954)).

Local da coleta: Urutaí - GO

Data da coleta: 23/03/2010

Taxonomia: Seu anamorfo pertencente ao Reino Fungi, grupo incerto Fungo Mitospórico, subgrupo coelomicete. A fase teleomórfica pertence à Divisão Ascomycota, Classe Pyrenomycetes, Ordem Phyllachorales, Família Phyllachoraceae.

SINTOMAS

Esta doença pode se manifestar na cana-de-açúcar sob diferentes formas, de acordo com os órgãos afetados e estádio vegetativo. Durante a germinação do tolete, provoca o apodrecimento completo do tolete e os tecidos internos apresentam coloração vermelha, marrom e cinza de tonalidades variáveis, causando a morte de gemas e redução na germinação. Nos colmos, o patógeno causa internamente uma podridão vermelha, que dá o nome da doença (Rago e Tokeshi, 2005).
Na nervura central das folhas aparecem lesões vermelhas (Fig. 1A) que mais tarde ficam com centro mais claro. O tamanho das lesões é variável, mas em folhas velhas pode atingir toda a extensão da nervura. Na parte inferior (abaxial) das folhas ficam com a superfície recoberta de pontuações negras (Fig. 1B), que correspondem a frutificações do fungo. Resultados similares foram encontrados por Rago e Tokeshi (2005); Del Ponte (2007).


ETIOLOGIA

A Podridão-Vermelha é causada pelo fungo mitospórico Colletotrichum falcatum. O fungo é um parasita obrigatório que infecta a planta por meio de conídios (esporos) e lesões nos tecidos vegetais. O fungo produz acérvulos sub-epidérmicos eruptivos com setas retas ou tortuosas, pardo-escuras, septadas e abundantes (Fig. 1CDE). Na base das setas estão conidióforos curtos (Fig. 1E), simples, hialinos, com conídios fusiformes unicelulares, hialinos e envoltos em massa gelatinosa que dá ao conjunto tom levemente rosado (Figura 1FG) com tamanho variando de 15,5-26,5 x 4-5 µ.

EPIDEMIOLOGIA

As lesões na nervura central são consideradas a maior fonte de inóculo durante a fase de crescimento da planta. Colmos afetados também são fontes de inóculo importantes. A disseminação do inóculo acontece pela ação dos ventos, chuva, orvalho e água de irrigação. Outros hospedeiros do fungo não são considerados fontes de inóculo representativas. Tanto a disseminação quanto a severidade dos sintomas estão relacionados com condições ambientais. Após o plantio, os sintomas são mais severos em condições de umidade excessiva do solo (Maccheroni et. al., 2006).

O gênero Colletotrichum possui 702 espécies relatadas até o momento (Index Fungorum, 2010). Sendo relatado em vários países como Australia; Bangladesh; Brasil; China; Costa Rica; Cuba; Dominican Republic; El Salvador; Florida; Ghana; Guatemala; Hawaii; Honduras; India; Indonesia; Jamaica; Japan; Malaysia; Mauritius; Mexico; Mississippi; Myanmar; Nepal; Netherlands; New Caledonia; Nicaragua; Nigeria; Panama; Philippines; Range of host; Reunion; Samoa; Solomon Islands; South Africa; Southern Africa; Sri Lanka; Taiwan; Tonga; Trinidad and Tobago; Vanuatu; Venezuela (USDA, 2010).


O fungo C. falcatum é relatado por USDA (2010) como incidente em várias espécies vegetais no mundo: Carica papaya, Cynodon dactylon, Dactylis glomerata, Dichorisandra sp., Echinochloa crus-galli, Eremochloa ophiuroides, Erianthus giganteus, Imperata cheesemanii, Ophiopogon japonicus, Pisum sativum var. macrocarpon, Saccharum officinarum, Saccharum sp., Sorghum arundinaceum var. sudanense, Sorghum bicolor, Sorghum halepense, Sorghum vulgare, Sorghum vulgare var. saccharatum, Sorghum vulgare var. sudanense, Sorghum vulgare var. technicum, Syngonium sp., Zebrina pendula, Zoysia japônica, Zoysia tenuifolia.

Não existe relatos sobre Raças desse fungo ou até mesmo Formae specialis (Index Fungorum, 2010).

O fungo sobrevive por muitos anos no solo e nos restos culturais na forma de clamidospóros, conídios e micélio com paredes espessas. Este inóculo pode promover infecção primária dos toletes plantados no viveiro ou plantio comercial nas ocasiões de preventivo na fase de brotação é essencial para um bom estabelecimento da lavoura e para produtividades altas (Maccheroni et. al., 2006).

CONTROLE

O uso de variedades resistentes é o modo de controle mais efetivo e utilizado. Boas práticas culturais ajudam a reduzir a incidência da doença tais como a eliminação dos restos da cultura, boa drenagem do solo e boa procedência de mudas que garantam a rápida germinação dos toletes. A utilização de fungicidas foliares não é recomendada, pois apresenta baixa eficiência para o controle da doença (Maccheroni et. al., 2006).

Segundo a Agrofit (2010) não existe método de controle químico para a podridão-vermelha-da-cana-de-açúcar.

O método de controle mais eficiente é o uso de variedades resistentes, mas algumas práticas como eliminação dos restos da cultura, controle da broca-da-cana e plantio de mudas de boa qualidade podem diminuir a incidência.

Figura 1. Podridão vermelha (Colletotrichum falcatum) incidente em folhas de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum). A. sintomas nas nervuras centrais, B. sinais do fungo na nervura central, C. organização acervular emitida através das aberturas estomatais, D. detalhe do bulbo da base do acérculo e setas acerculares, E. células conidiogênicas, conídios e setas (Bar=40µ), F. massa de conídios hialinos (Bar=88µ), G. conídio hialino, falcado, amerosseptado e não gutulado (Bar=9µ).


REFERÊNCIAS

AGROFIT. Pragas. Disponível em http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons /principal_agrofit_cons Acesso em 30 de junho de 2010.

BAILEY, J.A & JEGER, M.J. Colletotrichum: biology, pathology and control. Kew. CAB International. 1992.

DEL PONTE, E.M. (Ed.) Fitopatologia.net - herbário virtual. Departamento de Fitossanidade. Agronomia, UFRGS. Disponível na Internet: http://www.ufrgs.br/agronomia/fitossan/ herbariovirtual. Acesso em: 02 ago 2007.

MACCHERONI, W.; MATSUOKA, S. Manejo das principais doenças da cana-de-açúcar. p. 12. In: SEGATO, S. V.; PINTO, A. S.; JENDIROBA, E.; NÓBREGA, J. C. M. (Organizadores). Atualização em produção em cana-de-açúcar. Piracicaba: CP, 2006. 415 p.

MOZAMBANI, A. E.; PINTO, A. S.; SEGATO, S. V.; MATTIUZ, C. F. M. Histórico e morfologia da cana-de-açúcar, p. 12. In: SEGATO, S. V.; PINTO, A. S.; JENDIROBA, E.; NÓBREGA, J. C. M. (Organizadores). Atualização em produção em cana-de-açúcar. Piracicaba: CP, 2006. 415 p.

RAGO, A. & TOKESHI, H. Doenças da Cana-de-açúcar In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. (Eds.) Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. v.2, p. 185-196.

RAIZER, A. J. Interações genótipos x ambientes e estabilidade fenotípica em novas variedades de cana-de-açúcar (Saccharum spp.) para o Estado de São Paulo. Piracicaba: ESALQ, 1998. 104 p. Dissertação de Mestrado.

ROCHA, J. R. S.; OLIVEIRA, N. T.; MENEZES, M. Comparação da eficiência de métodos de inoculação na avaliação da patogenicidade de isolados de Colletotrichum gloeosporioides em frutos de maracujá (Passiflora edulis). Brazilian Archives of Biology and Technology, Curitiba, v. 41, p. 145-153, 1998.

SANTIAGO, A. D.; ROSSETTO, R. Disponível em http://www.agencia. cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar Acessado em 30 de junho de 2010.

SUTTON, B.C. The Coelomycetes. Surrey. CMI Kew. 1980.

USDA. Database search. Disponível em hhttp://www.ars.usda.gov/main/ site_main.htm?modecode=12-75-39-00 Acesso em 30 de junho de 2010.

VIANA, F. M. P.; COSTA, A. F. Doenças do maracujazeiro. In: FREIRE, F. das C. O.; CARDOSO, J. E.; VIANA, F. M. P. (Ed.). Doenças de fruteiras tropicais de interesse agroindustrial. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2003. p. 108-143.


Um comentário:

  1. ótimo gostei,obrigada tava precisando :-) tenho um seminário amanha cedo...

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