quarta-feira, 26 de junho de 2013

Trabalho Acadêmico: Sintomatologia, epidemiologia e controle da bactéria Ehrlichia chaffeensis.

DIEFERSON DA COSTA ESTRELA
Acadêmico do curso de Ciências Biológicas

INTRODUÇÃO

   O gênero Ehrlichia teve sua patogenicidade reconhecida em 1935 através da espécie Ehrlichia canis que foi encontrada como infectante de cachorros. Em 1950 foi documentado no Japão a infecção de humanos pela bactéria Ehrlichia sennetsu (Wilson; BLITCHINGTON; GREENE, 1990) e nos EUA pela Ehrlichia chaffeensis, que foi visualizada no sangue de um paciente em 1986 (ANDERSON, et al., 1991). Desde então o gênero é estudado por causar a doença denominada Ehrlichiose que acomete mamíferos humanos e não humanos.

   São conhecidas cinco espécies que podem infectar o homem E. canis, E. chaffeensis, E. phagocytophila, E. ewingii e E. sennetsu, dentre estas espécies, as quatro primeiras tem como vetores carrapatos dos gêneros Amblyomma sp., Dermcentor sp., Ixodes sp. e Rhipicefalus sp. e pouco se sabe sobre a quinta espécie, sua biologia e relação com o vetor não é bem conhecida, no entanto, acredita-se que a bactéria seja proveniente da ingestão de peixe cru (MARTINEZ; TRABULSI, 2008).

   Segundo Chen, et al. (1994) as bactérias do gênero Ehrlichia são obrigatoriamente bactérias intracelulares e residem num fagossoma no interior de células hematopoiéticas do hospedeiro. A doença causada por elas (Ehrlichiose) é caracterizada por febre, dores de cabeça, calafrios, mialgias, dentre outros sintomas que precisam ser tratados imediatamente, evitando assim o agravamento da doença (MARTINEZ; TRABULSI, 2008).

Diante da importância em se conhecer os membros deste gênero que podem causar sérios problemas à saúde humana, o presente trabalho teve o objetivo de apresentar informações a respeito da sintomatologia, epidemiologia e o controle da espécie E. chaffeensis.
 
DESENVOLVIMENTO
 
Sintomatologia
São conhecidas duas formas da doença, monocítica e granulocítica, estas variam de acordo com o tipo celular infectado, a forma monocítica infecta os monócitos e macrófagos, já a granulocítica infecta os neutrófilos. A espécie E. chaffeensis quando infecta humanos provoca o tipo monocítica. A doença é caracterizada por febre, dores de cabeça, calafrios, mialgias, mal-estar geral, anorexia e exantemas em aproximadamente 20% dos casos. Esta doença pode ser confundida com a febre
maculosa e tem período de incubação com duração de uma a duas semanas (MARTINEZ; TRABULSI, 2008).
 
Epidemiologia
   A Ehrlichiose Humana apresenta casos espalhados por todo o globo, mas as principais estatísticas são provenientes do EUA, já foi mencionado que o primeiro caso de ehrlichiose humana nos EUA ocorreu em 1986, o paciente era um militar lotado no forte Chaffee, em Arkansas. Inicialmente os pesquisadores acreditaram que fosse uma amostra de E. canis, no entanto, descobriram uma nova espécie, esta por ter sido descrita a partir do soro de um soldado do forte Chaffee recebeu o nome de E. chaffeensis (ANDERSON, et al., 1991). Esta espécie tem como vetores os carrapatos dos gêneros Amblyomma sp. e Dermcentor sp. e como hospedeiros o ser humano, o veado e os cães (MARTINEZ; TRABULSI, 2008).
   Mais de dois mil casos de ehrlichiose já foram diagnosticados nos EUA, a maioria sendo proveniente das regiões onde predominam os carrapatos vetores. A ehrlichiose é uma doença infecciosa tipicamente emergente, quase sempre transmitida pelas picadas de carrapatos (MARTINEZ; TRABULSI, 2008).
 
Tratamento e Controle
   Os pacientes suspeitos de serem portadores de ehrlichiose devem ser tratados imediatamente, porque o retardo no tratamento pode facilitar a ocorrência de complicações sérias. A droga de maior uso atualmente tem sido a doxiciclina. A prevenção tem por base evitar as áreas onde os carrapatos infectados são encontrados, uso de vestimentas protetoras e de repelentes de insetos. Carrapatos fixados na pele devem ser retirados imediatamente (MARTINEZ; TRABULSI, 2008).
 
CONCLUSÃO
   Após a realização desta revisão foi possível concluir que a ehrlichiose humana é conhecida e estudada há alguns anos, são conhecidos mecanismos de vida e infecção da espécie. No entanto, seu diagnóstico é dificultado pelas características silenciosas e comuns a várias outras enfermidades, o que é agravado pela necessidade de tratamento imediato, que não sendo ministrado em pouco tempo acarreta sérias complicações.
   Sendo assim, são necessários mais estudos visando formas mais eficientes e acessíveis de diagnóstico da ehrliquiose.
 
LITERATURA CITADA
ANDERSON, B. E., et al. Ehrlichia chaffeensis, a New Species Associated with Human Ehrlichiosis. Journal of Clinical Microbiology, v. 29, n. 12, p. 2838-2842, dez. 1991.
CHEN, S. M., et al. Identification of a granulocytotropic Ehrlichia Species as the Etiologic Agent of Human Disease. Journal of Clinical Microbiology, v. 32, n. 3, p. 589-595, Mar. 1994.
MARTINEZ, M. B.; TRABULSI, L. R. Ehrlichia. In: TRABULSI, L. R. (ed.); ALTERTHUM, F. (ed.). Microbiologia. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2008. p. 449-450.
WEISBURG, W. G., et al. 16S ribosomal DNA amplification for phylogenetic study. J. Bacteriol, v. 173, p. 697-703, 1991.
Wilson, K. H.; BLITCHINGTON, R. B.; GREENE, R. C. Amplification of bacterial 16S ribosomal DNA with polymerase chain reaction. J. Clin. Microbiol, v. 28, p. 1942-1946, 1990.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Trabalho Acadêmico: Sintomatologia, epidemiologia e controle de Francisella sp.



CARLOS CESAR DA SILVA
Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas
Junho de 2013.




INTRODUÇÃO

O gênero Francisella consiste em F. tularensis, causador da doença tularemia ou febre do coelho, F. novicida e F. philomiragia (anteriormente Yersinia philomiragia) estão associados com septicemia e infecções invasivas sistêmicas, Francisella tularensis e Francisella philomiragia (MURRAY, 2007).
 F. tularensis é o agente etiológico da tularemia, também chamada febre glandular, tanto em animais como em humanos. F. tularensis é subdividido em quatro subespécies. A espécie Francisella tularensis tularensis constitui o membro mais virulento do gênero (LOPES, 2009)
F. philomiragia era a antiga espécie Yersinis philomiragia, que após análise molecular e com base em seu ADN foi transferida para o gênero Francisella (I. Lopes, 2009).
Francisella é composto por cocobacilos Gram-negativos pequenos, sendo pleomórficos, aeróbios estritos, apresentam capsula lipídica delgada. São imóveis e exigentes do ponto de vista nutricional. Sua detecção em cultivo necessita de um período de incubação de ao menos três dias. Exigente para o crescimento em meio de cultura, necessitando de substancias contendo sulfidril para o crescimento (considerado um organismo fastidioso) (MURRAY, 2007).
É parasito intracelular que pode sobreviver por períodos prolongados nos macrófagos do sistema reticuloendotelial devido à inibição da fusão do fagossomo com o lisossomo. Cepas patogênicas possuem uma cápsula antifagocitária rica em polissacarídeos, e a perda da está associada a diminuição da virulência. A cápsula protege as bactérias da destruição mediada pelo sistema complemento durante a fase com bacteremia (presença de bactérias no sangue) da doença. Possui endotoxina como todo bastonete Gram-negativo, sendo menos ativa que em outros (MURRAY, 2007).
Possui distribuição ao longo do Hemisfério Norte, desde o círculo Ártico em direção ao Sul, até aproximadamente a latitude de 20 graus Norte. E tularensis é encontrado em diversos animais selvagens, aves e artrópodes hematófagos; focos mais comuns são encontrados em coelhos, carrapatos, lebres, roedor do campo, ratos almiscarados e castores. A tularemia humana é adquirida mais frequentemente pela picada de um carrapato infectado ou pelo contato com um animal selvagem ou doméstico que atacou um animal infectado. Também pode ser adquirida pela ingestão de carne ou água que estão contaminadas ou pela inalação de um aerosol infeccioso. Para a infecção por F. tularensis são necessários apenas 10 organismos quando a exposição ocorre pela picada de um artrópode ou contaminação da pele íntegra, 50 organismos quando inalados e 108 quando ingerido. Representa um grande perigo, pois pode ser utilizada como arma biológica por apresentar fácil dispersão por meio de aerossóis (MURRAY, 2007).

O objetivo deste trabalho foi apresentar informações a respeito doa sintomatologia, epidemiologia e controle de Francisella sp.
     
DESENVOLVIMENTO
Sintomas
Os sintomas começam subitamente de 1 a 10 dias (geralmente 2 a 4 dias) após o contato com a bactéria. Os sintomas iniciais incluem cefaleia, náusea, vômito, febre de até 40 °C e o intenso esgotamento. O indivíduo apresenta fraqueza extrema, calafrios recorrentes e sudorese profusa. Em 24 a 48 horas, aparece uma bolha inflamada no local da infecção (geralmente em um dedo da mão, em um braço, em um olho ou no palato), exceto nos tipos glandular e tifóide da tularemia. A bolha enche-se rapidamente de pús e rompe, formando uma úlcera. Sobre os membros superiores e inferiores pode aparecer uma única úlcera, enquanto que na boca e nos olhos comumente surgem múltiplas úlceras. Geralmente, apenas um olho é afetado. Os linfonodos em torno da úlcera aumentam de volume e podem produzir pus, o qual, posteriormente, é drenado. Os indivíduos com pneumonia tularêmica podem apresentar delírios. Contudo, a pneumonia pode causar apenas sintomas leves, como a tosse seca que produz uma sensação de queimação na região central do tórax. Em qualquer momento durante a evolução da doença, pode ocorrer uma erupção cutânea. (MURRAY, 2007)

Epidemiologia
A tularemia é amplamente distribuída no Hemisfério Norte, sendo evidente em muitas espécies selvagens como lagomorfos, roedores, insetívoros, peixes, entre outros (I. Lopes, 2009). Pessoas que trabalham em laboratórios, agricultores, veterinários e pessoas que manuseiam carne crua possuem maior risco de infecção. (LOPES, 2009).
A doença causada por F. tularensis se subdivide em diversas formas de acordo com a apresentação clínica: ulceroglandular, oculoglandular, glandular, tifoide, pneumônica e orofaríngea ou gastrointestinal. Pode apresentar variações destas apresentações (MURRAY, 2007).
A tularemia ulceroglandular é a manifestação mais comum, a lesão cutânea começa como uma pápula dolorosa que se desenvolve no local da picada do carrapato ou da inoculação direta do organismo na pele. A pápula forma uma úlcera com centro necrótico e bordas elevadas, Linfadenopatia localizada e bacteremia também podem estar presentes (MURRAY, 2007).
A tularemia oculoglandular é uma forma especializada da doença resultado da contaminação direta do olho. O organismo pode ser introduzido no olho por dedos contaminados ou pela exposição a água ou aerossóis. O paciente apresenta conjuntivite dolorosa e linfadenopatia regional (MURRAY, 2007).
A tularemia pneumônica resulta da inalação de aerossóis infecciosos e está associada a alta morbidade e mortalidade, a menos que o organismo seja isolado rapidamente em hemoculturas, mas de difícil detecção em culturas respiratórias (MURRAY, 2007).
A infecção é de difícil confirmação por exame laboratorial, tem-se maior ocorrência nos meses de verão, com aumento drástico nos casos de infecção após um inverno quente e um verão chuvoso, aumentando assim a população de carrapato. Pessoas com risco de infecção são caçadores, profissionais de laboratório e pessoas expostas a carrapatos (MURRAY, 2007).
A suspeita da presença de infecção por F. tularensis se dá quando um indivíduo desenvolve certos sintomas súbitos e as úlceras características dessa infecção após ter estado exposto a carrapatos ou ter tido contato (ainda que ligeiro) com um mamífero selvagem, especialmente um coelho. As infecções que as pessoas que trabalham em laboratórios contraem apenas nos gânglios linfáticos ou nos pulmões são difíceis de diagnosticar. O diagnóstico pode ser confirmado observando o crescimento das bactérias nas amostras obtidas a partir das úlceras, dos gânglios linfáticos, do sangue ou da expectoração (MURRAY, 2007).
O diagnóstico laboratorial é um processo perigoso tanto para o médico como para o profissional do laboratório, pois na coleta, processamento e isolamento para cultivo o microrganismo pode penetrar na pele intacta e mucosas em virtude de seu pequeno tamanho. A tularemia é rara, mas o contágio em laboratório é comum (MURRAY, 2007).
O meio de cultura mais recomendado para F. tularensis é o CHAB (Agar de cisteína enriquecido com sangue achocolatado (9%), apresentando crescimento característico neste meio (LOPES,2009).
A detecção por coloração Gram quase sempre falha, devido o organismo ser extremamente pequeno e corar-se fracamente. Para uma detecção mais específica é usado coloração direta da amostra com anticorpos marcados com fluoresceína contra o organismo. Também estão sendo desenvolvidos ensaios baseados em PCR (reação de polimerase em cadeia) (MURRAY, 2007).

Tratamento
O tratamento se dá pelo uso do antibiótico estreptomicina, para todas as formas de tularemia com exceção de situações de meningite (LOPES, 2009). Embora esta droga não esteja amplamente disponível e apresenta grande toxidade. A gentamicina é usada como uma alternativa, penicilinas e cefalosporinas apresentam pouca eficácia (MURRAY, 2007).
Para evitar a infecção, deve-se evitar os vetores e reservatórios da infecção. A utilização de vestuário de proteção e uso de repelentes de insetos reduz o risco de exposição. Pessoas com risco devem receber antibióticos profiláticos (MURRAY, 2007).

CONCLUSÕES

Através deste trabalho foi possível informar sobre os sintomas em decorrência da contaminação por Francisella spp., das formas de infecção, informações sobre o patógeno causador da tularemia e a bactéria Francisella sp. A necessidade de cuidados no manuseio de carcaças de animais e também de carne é indispensável para a diminuição da possibilidade de infecção.
É importante salientar o risco para uso como arma biológica que é oferecido por Francisella sp. visto que a dispersão ocorre com muita facilidade inclusive através do ar. A necessidade identificação e tratamento são importantes para evitar a morte do paciente.

LITERATURA CITADA
LOPES, I.C.Tularemia, Acta Medica Portuguesa. 22(3):281-290. 2009.
MURRAY, P. R. et al. Microbiología médica. 5 ed. Elsevier, 2007.

Relatório de Campo: DIVERSIDADE MICROBIANA E DE MACRORGANISMOS EM DIFERENTES USOS DO SOLO NA FAZENDA PEDRA BRANCA E PALMITAL, URUTAÍ, GO.




Autores:
ANA FLÁVIA DE JESUS PINTO (1)
DÉBORA PIVA LIMA (2)
DIEGO DE ALMEIDA (1)
FERNANDA CORRÊA (1)
JADH TAINÃ COSTA AQUINO (1)
LAYANE YASMIM BERNARDES DINIZ (1)
RAÍSSA RODRIGUES CANEDO (2)
TONY DE LIMA (1)

Estudantes do Curso de Agronomia(1) e Tecnologia em Gestão Ambiental(2)

 Urutaí, 19 de junho de 2013.




1. INTRODUÇÃO


O uso intensivo e inadequado das diversas áreas exploradas tem contribuído para o declínio considerável da fertilidade natural dos solos. Esse manejo inadequado tem contribuído para o processo de degradação da matéria orgânica, causando perdas de algumas propriedades físicas, químicas e biológicas, acelerando a erosão e diminuindo o potencial produtivo das culturas (CALEGARI, 2000).



A diversidade de microrganismos como indicador da qualidade do solo tem sido bastante debatido, especialmente na última década, com o advento de técnicas de biologia molecular que têm favorecido a avaliação dos microrganismos em amostras ambientais (COUTINHO et al., 1999; ROSADO, 2000; TIEDJE et al., 2001). O principal argumento a favor dessa característica ambiental é o fato da diversidade microbiana manter-se naturalmente inalterada ao longo do ano (SMIT et al., 2001; JOHNSON et al., 2003).

Vê-se, dessa forma, que a diversidade de microrganismos é crítica para o funcionamento do ecossistema, porque há a necessidade da manutenção de processos ecológicos como a decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, agregação do solo e controle de patógenos dentro do ecossistema (KENNEDY, 1999). Dessa forma, é extremamente importante a busca de métodos de avaliação da diversidade de microrganismos no solo e também de formas de utilização desses dados como indicadores do estado da qualidade do solo.

Fungos e bactérias de solo são onipresentes no ambiente e cumprem uma gama de funções ecológicas importantes,  em particular  aqueles associados  à mineralização de nutrientes no solo ( ANDERSON & CAIRNEY,  2004 ).  Apesar  disto,  a compreensão da dinâmica das  populações  de fungos  de solo e bactérias  é um desafio,  em especial  fungos  micorrízicos  arbusculares (FMAs), devido à dificuldade de cultivo e identificação destes organismos. Estudos através de isolamentos em meios  de cultivo artificiais  são difíceis  de serem executados  e muitas  vezes  fornecem resultados não conclusivos.  Entretanto este desafio está sendo vencido com o auxílio de novas técnicas  baseadas  no uso de marcadores moleculares.  Recentes investigações sobre a ecologia de fungos do solo estão sendo realizadas através da extração do material genético diretamente  do solo ou de raízes colonizadas, o que tem trazido significativo aumento na compreensão da diversidade de fungos em raízes de plantas e/ou solo (SIQUEIRA & MOREIRA, 1999). 

A fauna do solo tem um importante papel na regulação dos sistemas agrícolas e, desde os anos 1980, vem sendo pesquisada no Brasil como indicador de sustentabilidade do manejo dos solos tropicais. Tem importante atuação nos processos de decomposição, mineralização e humificação de resíduos orgânicos; imobilização e mobilização de macro e micronutrientes; fixação de nitrogênio atmosférico; estruturação e agregação do solo e conseqüente conservação e regulação de pragas e doenças (auto-regulação), beneficiando os sistemas de produção como um todo (LAVELLE et al, 1997).

Alguns organismos da macrofauna, principalmente os térmitas, as formigas, as minhocas e larvas de coleópteros, são denominados “engenheiros do ecossistema”, pois suas atividades levam à criação de estruturas biogênicas (galerias, ninhos, câmaras e bolotas fecais), que modificam as propriedades físicas dos solos onde vivem e a disponibilidade de recursos para outros organismos (WOLTERS, 2000). Por meio de suas ações mecânicas no solo, a macrofauna contribui na formação de agregados estáveis, que podem proteger parte da matéria orgânica de uma mineralização rápida e que constituem, também, uma reserva de nutrientes potencialmente disponível para as plantas (LAVELLE & SPAIN, 2001; DECÄENS et al., 2003).

A macrofauna é constituída por uma complexidade de organismos que diferem no tamanho, metabolismo, atividades e mobilidade (PASINI E BENTO, 2004), com comprimento maior que 2 mm (SWIFT et al., 1979). Conforme Bayer e Mielniczuk (1999), a macrofauna tem papel fundamental na fragmentação e incorporação dos resíduos ao solo, criando assim, condições favoráveis à ação decompositora dos microorganismos. Entretanto os benefícios da fauna edáfica são poucos conhecidos em solos brasileiros (ALVES et al., 2006) apud Montenegro et al. (2010).

O objetivo deste trabalho é quantificar a diversidade microbiana e de macrorganismos em diferentes usos de solo na fazenda Pedra Branca e Palmital.




2. MATERIAL E MÉTODOS
 
O trabalho foi conduzido nos dias 26 de março e no dia 2 de abril, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, IF Goiano – campus Urutaí, localizado no sudoeste goiano. As armadilhas foram instaladas na área de mata, em pastagem e na área de pivô (cultivada).

Foram utilizadas armadilhas do tipo “Pitfall” compostas de garrafas PET com capacidade de 600 mL cortadas na região do gargalo, de modo que o fundo da garrafa fosse enterrado e o orifício ficasse ao nível da superfície do solo. Em cada ambiente, as armadilhas foram marcadas com estacas posteriormente geo-referenciadas. Sobre as armadilhas foi colocada uma proteção, essa proteção foi feita com bandejas de isopor e palitos de churrasco, em cada extremidade da bandeja foi colocado um palito e eles foram fincados no solo, formando uma casa para a garrafa pet.  Em todas as áreas foram colocados 5 pontos escolhidos aleatoriamente totalizando 20 amostras, 5 amostras de cada grupo.

Foram coletadas aproximadamente 300 gramas de solo, em uma profundidade máxima de 20 cm, utilizando enxadão para a retirada das amostras e colocadas em sacos plásticos e levadas ao Laboratório de Microbiologia. Onde foi realizada a diluição em série. Vale ressaltar que a coleta foi realizada logo após uma chuva.

 Cada armadilha continha uma mistura de 100 mL de solução etanol e detergente. Após sete dias a campo as armadilhas foram coletadas e encaminhadas para o laboratório de microbiologia para posterior identificação da macrofauna edáfica.

Para a realização desse método, tomou-se 1 grama da amostra composta, pesada em balança de precisão. Em seguida, essa amostra foi levada a câmara de fluxo laminar, onde se realizou o restante dos procedimentos. Esta amostra foi transferida para um tubo de ensaio, com o auxílio de pinça, contendo 9 mL de solução salina esterilizada, tornando-se um solução diluída com concentração 10-1.

Logo em seguida foi preparada a solução de 10-2, transferindo com uma pipeta estéril, 1 mL da concentração 10-1, que foi agitada por aproximadamente 30 segundo em agitador, para outro tubo de ensaio contendo 9 mL de solução salina.


Foram realizadas as diluições para as concentrações 10-3, 10-4 e 10-5, seguindo o mesmo procedimento realizado anteriormente, esse procedimento pode ser melhor compreendido de acordo com a Figura 1. Para a determinação da densidade microbiana as concentrações de 10-1 e 10-2 foram descartadas.



Figura 1. Sequencia de atividade de diluição e plaqueamento utilizando o método de diluição  em série para quantificação de densidade microbianas.




Logo após, de ser feitas as diluições foi feita a semeadura, com a ponteira, de 1μL das mesmas em placas de Petri contendo meio de cultura BDA, com duas repetições para cada concentração. As placas foram vedadas e etiquetas e levadas à estufa de crescimento biológico e deixadas por 48 horas à 35 oC.
Posteriormente, foi realizada a contagem da Unidade Formadora de Colônias (ufc), de forma visual, dividindo a placa em quadrantes. Na contagem foi levado em consideração o número total de unidades formadoras de colônias. Em seguida foi realizado o cálculo para determinação da densidade microbiana. O cálculo foi feito da seguinte maneira: como o volume na placa de Petri era de 1 μL, foi necessário encontrar o número de ufc/mL através de regra de três simples, este valor foi multiplicado pelo índice de diluição da amostra.
O valor de ufc encontrado nas placas de Petri foram submetidas à análise estatística utilizando o software SAS. Foi realizado o teste paramétrico (ANOVA) e o teste de Tukey. E quando submetidas à análise de significância as médias necessitaram ser transformadas para melhorar a confiabilidade da análise.
O material coletado foi lavado em peneira e com o auxílio de pinças, foi feita a contagem e identificação da macrofauna, os organismos foram então, colocados em um vidro contendo álcool.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância usando o software SAS e quando significativos (p<0 a="" aplica="" as="" avaliada="" baseado="" cies="" coeficiente="" compara="" da="" de="" dias="" diversidade="" do="" e="" entre="" esp="" fisher="" foi="" m="" meio="" ndices="" nos="" o="" p="" pela="" pelos="" por="" realizado="" riqueza="" shannon="" simpson="" software="" spade.="" teste="" tukey.="" utilizando="" valores="" varia=""> 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
 

A comparação da diversidade dos indivíduos da macrofauna presente nos demais ambientes: área de mata, pastagens e área do pivô (cultivada) demonstrou uma grande variação de grupos faunísticos, onde foram coletados 1613 indivíduos, pertencentes a vários grupos taxonômicos. Observou-se um maior número de indivíduos da ordem dos Coleoptera (besouros, vagalume), Hymenoptera (formiga, mariposas) e Orthoptera (grilo, gafanhoto), o grupo de menor representante foi Hylidae (Perereca) onde se encontrou 1 indivíduo.
Por causa da grande área rizosférica e grande quantidade de matéria orgânica fornecida era de ser esperar que a floresta apresentasse um grande de microrganismos. Mas a área de culturas (pivô) apresentou se um maior número de ufc’s (Tabela 1). Deve-se A diversidade vegetal, umidade, aeração e presença de uma vasta rizosfera onde os microrganismos se desenvolvem e contribuem para um bom solo onde se proporciona um substrato ideal para um crescimento de árvores, gramíneas.
Média do Número de Unidades Formadoras de Colônias por mL de solução do solo (ufc/mL) em relação às diluições e as áreas.



Tabela 1. Média do número de Unidades Formadoras de Colônias por mL de solução de solo (ufc/mL) em relação às diluições.



Analisando as médias de ufc por cada mL de solução do solo a densidade microbiana nos solos de culturas é superior. A pequena diferença entre as médias em solo de cultivo e pastagem pode ser explicada pelo uso contínuo de fertilizantes para o plantio e cobertura. Estes fertilizantes possibilitam um maior número de nutrientes disponível as plantas, melhorando, então, a rizosfera. Além disso, estes fertilizantes não deixam de liberar nutrientes diretamente para o desenvolvimento de microrganismos.
Estatisticamente, pelo teste F (ANOVA) a análise de variância é um procedimento utilizado para comparar três ou mais tratamentos. Existem muitas variações da ANOVA devido aos diferentes tipos de experimentos que podem ser realizados. A hipótese da nulidade H0 foi rejeitada tanto a 1% quando a 5 % sendo o valor F calculado maior que o valor F tabelado (Tabela 2), as médias se diferem entre elas, portanto os tratamentos são diferentes. 

Tabela 2. Teste paramétrico ANOVA das médias do número de ufc transformadas encontradas nas diluições. 



A diversidade biológica foi avaliada através da aplicação dos índices de Shannon, Simpson e de Fisher, que mostram o domínio dos grupos faunísticos nas áreas estudadas. O índice de Shannon mede o grau de incerteza em prever a que espécie pertencerá um indivíduo escolhido ao acaso. Quanto menor o valor do índice de Shannon, menor o grau de incerteza e, portanto a diversidade da amostra é baixa. A diversidade tende a ser mais alta quanto maior o valor do índice. Um parâmetro utilizado é a riqueza de espécies, que diz pouco a respeito da organização da comunidade, mas serve com indicativo de diversidade de organismos onde houve maior número na área da mata quando comparada com a área de pivô que apresentou menor número de riqueza sendo o ambiente mais desequilibrado das áreas pesquisadas.




Figura 2. Médias dos valores de riqueza de espécies nos diferentes usos do solo (valores seguidos de mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a P~0,05).

 O teste de Riqueza de Espécies (Figura 2), a área de Floresta apresentou maior índice de 25.3, enquanto a pastagem 2 (Fazenda Palmital), culturas e pastagem 1 (Pedra Branca) apresentaram  os seguintes valores 22.5; 10.2 e 4.1 respectivamente. Floresta e Pastagem 2 foi classificado “a” por apresentar um grande número de organismos naquele espaço, onde pode ser considerados estatisticamente iguais, já Culturas e Pastagem 1 foi classificado “b” por  ressaltar diferença  de organismos no ambiente assim sendo diferentes da Floresta e Pastagem 2 .




Figura 3. Médias dos valores do índice de Shannon nos diferentes usos do solo (valores seguidos de mesma letra não diferem entre si ao Teste Tukey a P~0,05).

No índice de Shannon (Figura 3) é observada a diversidade de espécies, onde se leva a riqueza e a equabilidade em consideração. A floresta, pastagem 2 e cultura (pivô) apresentaram os valores  respectivamente maiores do que a Pastagem1 que se diferencia  por ter um menor índice.



Figura 4. Médias dos valores do índice de Simpson nos diferentes usos do solo (valores seguidos de mesma letra não diferem entre si ao Teste Tukey a P~0,05). 

O Índice de Simpson (Figura 4) também  leva em consideração a riqueza e a  igualdade como nos demais gráficos. Neste índice, a pastagem 1 obteve maior índice , pois possui um número maior  de indivíduos, pois neste ambiente pode ser de um solo estável de bom desenvolvimento aos organismos. Diferenciando dos demais índices pastagem 2, floresta e culturas que estão menor mais são equivalentes. 



Figura 5. Médias dos valores do índice de Fisher nos diferentes usos do solo (valores seguidos de mesma letra não diferem entre si ao Teste Tukey a P~0,05).



No Índice  de Fisher (Figura 5) é analisada a relação do número de espécies representadas por apenas 1 indivíduo na comunidade. Novamente a área de floresta apresentou se uma maior média se diferenciando  dos demais tratamentos que apresentaram médias como a pastagem 2, a área de cultura e  a pastagem 1. Isso pode ser explicado pela grande diversidade que a área de floresta apresenta, pois ela apresenta uma vegetação mais diversificada, fornecendo maior matéria orgânica e conseqüentemente um maior número de organismos interagindo no ambiente.

4. CONCLUSÃO
A preservação de áreas florestais contribui para a existência de uma elevada densidade microbiana no solo, devido a fatores favoráveis ao desenvolvimento desse tipo de organismos. Em áreas que sofreram ações antrópicas essa densidade é inferior, já que houve interferência nas propriedades físicas, químicas e na diversidade vegetal do ambiente, cujas estão interligadas ao crescimento de microrganismos no solo.
As áreas em que foi feito a análise de ambientes diferentes como floresta, pastagem 1, pastagem 2 e culturas era de se esperar que a área de floresta apresentasse média superior de ufc e organismos comparadas as demais. Isso se deve a grande biodiversidade das áreas preservadas, que pode ser explicado pela maior quantidade de matéria orgânica oriunda da diversidade vegetal, umidade, aeração e presença de uma vasta rizosfera, proporcionando um substrato ideal para o desenvolvimento de microrganismos.
Mas isso não ocorreu, a área de culturas apresentou um maior número de ufc e organismos, talvez haja um fator de desequilíbrio onde tal espécie possa estar predominando no momento, por falta de competição ou agentes que a controla, a contagem do número de ufc também pode ter sido feita de maneira errônea em qualquer área estudada. Outro fator que pode ter interferido no número de organismos encontrados na área de pivô foi o fato de terem utilizado sacolas plásticas de cor amarela o que chama atenção dos organismos.
Uma área nativa constitui um sistema em equilíbrio e sofre pouco influências antrópicas como os demais tratamentos e o não revolvimento do solo e a permanência dos resíduos possibilitam melhor desenvolvimento dos microrganismos, principalmente devido ao aumento dos teores de matéria orgânica nas camadas mais superficiais. Nas áreas de cultura e pastagem há o uso de fertilizantes para plantio, o que permite um maior número de nutrientes disponível para as plantas. Também se percebe que o tipo de manejo, seja ele um plantio direto com milho ou uma pastagem não interfere na densidade microbiana entre os solos desses ambientes.


5. LITERATURA CITADA
ALVES, M. V.; BARETTA, D.; CARDOSO, E. J. B. N. Fauna edáfica em diferentes sistemas de cultivo no estado de São Paulo. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.5, n.1, p.34, 2006;
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