quarta-feira, 27 de abril de 2011

Melhoramento Genético da Cultura dos Citros

Aluna: Bruna Ribeiro Machado

1. INTRODUÇÃO
A citricultura brasileira apresenta números expressivos que traduzem a grande importância econômica e social que a atividade tem para a economia do País. Alguns desses números são mostrados concisamente: a área plantada está ao redor de 1 milhão de hectares e a produção de frutas supera 19 milhões de toneladas, a maior no mundo há alguns anos. O País é o maior exportador de suco concentrado congelado de laranja cujo valor das exportações desse e de outros derivados tem gerado cerca de 1,5 bilhão de dólares anuais. O setor citrícola brasileiro somente no Estado de São Paulo gera mais de 500 mil empregos diretos e indiretos (EMBRAPA, 2003).
Apesar de sua importância, a vulnerabilidade da citricultura nordestina, a exemplo da brasileira, é muito grande, pela presença quase única da combinação laranja ‘Pêra’ [Citrus sinensis (L.) Osb.] / limão ‘Cravo’ (C. limonia Osb.) na sustentação de nossos pomares, tornando urgente a diversificação de variedades. A par deste fato, verifica-se uma adaptação inadequada das variedades hoje disponíveis às nossas condições tropicais de cultivo, conforme se constata pelo período de vida útil relativamente baixo que apresentam (em torno de 12 anos), em comparação com o que se observa em outras regiões produtoras como Flórida, Califórnia, Mediterrâneo e Japão, nas quais esse período pode se prolongar por mais de 60 anos (EMBRAPA, 1998).
Porém, a produtividade média de 22 t/ha é considerada muito baixa, se comparada à de outros países produtores, como os Estados Unidos. Esse índice justifica-se, em parte, pela expansão simultânea de pragas e doenças e à estreita base genética utilizada. Grande parte da produção de laranjas doces – 93% - é apoiada em apenas quatro variedades – Pêra, Valência, Natal e Hamlin - , com o agravante de utilizar como porta-enxerto poucas espécies, como o limão Cravo (80%) e a tangerina Cléopatra (10%). Portanto, não é surpresa constatar que os desafios da atual citricultura estão quase todos associados a problemas da ordem fitossanitária. As principais doenças limitantes à cultura incluem a clorose variegada dos citros (CVC), a leprose, a tristeza, a morte súbita (MSC), a mancha preta e, mais recentemente, o amarelão ou huanglongbing (greening) (Machado et al., 2004).
Sob a ótica comercial, os pontos fortes da citricultura brasileira – sobretudo da paulista – são o seu custo de produção competitivo e um parque industrial que atua em escala global. Por outro lado, o ponto fraco encontra-se no principal ativo: os pomares. Nos últimos anos, o aparecimento de severas doenças comprometeu o custo e a oferta futura. Mas, a história mostra que o setor acabou encontrando soluções graças à habilidade e à agilidade de uma pesquisa de ponta, aliada à elevada capacidade técnica de agrônomos para difundir tecnologias e dos produtores para absorvê-las (Boteon e Neves, 2005).
Assim, o presente trabalho tem como objetivo mostrar de forma sucinta programas, metas e expectativas sobre o melhoramento dos citros.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Origem e dispersão dos Citros
As plantas cítricas como as do gênero Citrus, os kunquats( do Fortunella), o trifoliata (do Poncirus) e outros gêneros relativos à subfamília Aurantioideae, família Rutaceae, são nativas do sudeste do continente asiático, com ramos filogenéticos que se estendem do Centro da China ao Japão, e do leste da Índia à Nova Guiné, Austrália e África Tropical. O Norte da região Indo-Burma também é apontada como centro de origem da maioria das espécies cítricas. A região de Yunnan, no Centro Sul da China, também pode ter sido importante para origem e dispersão inicial de um grande número de espécies primitivas (Moreira et al., 2005).
A mais antiga região de cultivo dos citros compreende o Sudeste da China, Sul da Península Malaia e Oeste de Myanmar, antiga Birmânia, onde tiveram origem as tangerinas, toranjas e limas, havendo evidências de que essas frutas já fossem exploradas no Sul da China há mais de 4.000 anos, daí dispersando-se em direção ao sudeste, pelas Filipinas e numerosos grupos de ilhas do Pacífico (Spurling, 1969). A cidra foi a primeira espécie a se destacar em termos de distribuição geográfica. Há indícios de que seu cultivo já era realizado na Pérsia em período anterior a 500 a.C., sendo alvo da atenção de gregos e hebreus (Webber et al., 1967; Soost & Cameron, 1975). Com o fim do domínio romano, a dispersão das espécies cítricas passou a ser influenciada pelos árabes (Webber et al., 1967), que no século X introduziram a laranja azeda no Este do Mediterrâneo e posteriormente na África e Sul da Europa, havendo indicações de que os limões, as limas ácidas e as toranjas tenham se dispersado de modo semelhante, durante a primeira metade do século XII (Soost & Cameron, 1975). Após o domínio árabe, as Cruzadas, cujo início data do final do século XI, passaram a ter grande influência sobre a expansão dos citros na Europa (Webber et al., 1967). Quanto a laranja doce, presume-se que sua introdução no continente europeu tenha ocorrido somente em princípios do século XI, as tangerinas, também extensivamente exploradas na China e no Japão desde épocas remotas, passaram a ser conhecidas na Europa a partir do século passado, inicialmente na Inglaterra, de onde difundiram-se pelo Mediterrâneo (Webber et al.,1967; Soost & Cameron, 1975). O pomelo, por sua vez, é considerado como um mutante espontâneo da toranja, atribuindo-se sua origem à Ilha de Barbados, em princípios do século XVIII, tendo sido introduzido na Flórida em 1823 (Nishiura, 1965; Webber et al., 1967) e na Região Mediterrânea no início deste século (Gonzales-Sicilia, 1969), por parte de genovêses, apesar de seus cultivos serem bastante antigos na China (EMBRAPA, 1998).

2.1.1 História da Citricultura no Brasil
Encontrando no Brasil melhores condições para vegetar e produzir do que nas próprias regiões de origem, as plantas cítricas se expandiram para todo o País, tornando-se até supostamente “nativas” em certos lugares, como em Mato Grosso. Naturalmente, com o aumento da população e do consumo, foram sendo plantadas por toda a parte, em pequenos pomares caseiros e pomares comerciais (Moreira et al., 2005).
Inicialmente, a citricultura desenvolveu-se mais nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. No Rio Grande do Sul, no vale do rio Taquari, em 1760, em plantações de pé-franco, as quais se expandiram ao vale do Caí. Em Taquari, foi fundada a Estação Experimental de Pomicultura, principal centro de pesquisas citrícolas no sul. Na região central, as missões religiosas e os bandeirantes que avançavam pelo interior do País tiveram, certamente, influência na implantação dos laranjais por toda a parte. Há registro de laranjeiras nas margens do rio Miranda, em Mato Grosso, em 1867. Na região nordestina, as plantações de citros aumentaram no Ceará por volta de 1880. Nos municípios de Maranguape e Pacatuba, na região serrana, chegaram a exportar para a Inglaterra, via Fortaleza (Moreira et al., 2005).

2.2 Morfologia dos Citros
A morfologia vegetal compreende o estudo das estruturas internas e externas da planta, auxiliando a interpretar a adaptação e as relações do vegetal com o ambiente. Hoje, com o avanço do conhecimento do genoma vegetal, muitas funções das plantas serão compreendidas, utilizando-se técnicas de hibridação in situ e análises anatômicas. As plantas superiores, onde se incluem os citros, são estruturas organizadas e constituídas por órgãos que desempenham funções especificas e que, por sua vez, constituem-se de tecidos e, estes, de células que controlam todo o mecanismo de desenvolvimento vegetal (Queiroz-Voltan e Blumer, 2005).

2.3 Taxonomia dos Citros
O gênero Citrus é representado por plantas de porte médio (arbóreo/arbustivo), flores brancas e aromáticas e frutos do tipo baga, contendo vesículas preenchidas por um suco de grande interesse comercial. Os representantes desse gênero possuem um conjunto básico cromossômico x=9, sendo relatados poucos indivíduos triplóides e tetraplóides na natureza. Observa-se grande complexidade na classificação desse grupo de plantas. A taxonomia dessa subfamília foi marcada pela proposição de novos gêneros, segregados de Citrus, como Poncirus, Fortunella e Microcitrus. Em se tratando de Citrus, diferentes sistemas taxonômicos têm sugerido um número variável de espécies, sendo descritas de 11 até mesmo 162 espécies distintas (Araújo e Roque, 2005).
Parte da complexidade filogenética e taxonômica observada em Citrus deve-se a particularidades de sua biologia reprodutiva e a sua ampla história de cultivo. Seus representantes apresentam grande intercompatibilidade sexual, o que possibilita a origem natural de híbridos intergenéricos e interespecíficos ao longo do processo de evolução do grupo. Alguns híbridos são férteis por embriões derivados do zigoto ou podem tornar-se férteis pela formação espontânea de embriões nucelares, que contribuem para manter a estabilidade genética e perpetuar os híbridos como clones apomiticos. Algumas linhagens de híbridos receberam o status de espécie (Araújo e Roque, 2005).
Um dos sistemas de classificação mais utilizado, proposto por Swingle (1943), reconheceu 16 espécies para Citrus e classificou-o entre os seis gêneros que compunham o grupo subtribal denominado “árvores de citros verdadeiros”, subtribo Citrinae, tribo Citreae, subfamília Aurantioideae da família Rutaceae. Atualmente, uma reavaliação dos sistemas de classificação tem sido feita com base em estudos filogenéticos, apoiados por dados morfológicos, quimiotaxonômicos e macromoleculares (Araújo e Roque, 2005).

2.4 Fisiologia dos Citros
Informações sobre fisiologia e ecofisiologia dos citros são fundamentais ao estabelecimento de um manejo racional da cultura e orientadoras dos programas de melhoramento genético (Medina et al., 2005).
A germinação dos citros é do tipo hipógea, ou seja, os cotilédones permanecem sob a superfície do solo, e é dependente da temperatura e da umidade – o encharcamento é extremamente nocivo, pois a anoxia intensifica a produção de etileno, que causa anomalias morfofisiológicas na plântula. As sementes são recalcitrantes, em vista do seu elevado teor de lipídeos, sendo, por exemplo, muito sensíveis à desidratação. Os citros têm um longo período juvenil que depende da espécie, do cultivar e das condições ambientais de crescimento, variando normalmente de 5 a 13 anos. A juvenilidade pode constituir um problema para o melhoramento genético, mas há técnicas que permitem encurtá-la (Medina et al., 2005).
O crescimento vegetativo dos citros é muito sensível aos fatores do ambiente. Sua intensidade e características também dependem de fatores endógenos – hormônios, carboidratos e aminoácidos, bem como da carga de frutos e da época da colheita. Ou seja, os citros têm, geneticamente, certo potencial de crescimento que se expressa, dependendo das condições do ambiente, sob a forma de vários e bem definidos “lançamentos”, “surtos” ou “fluxos”, durante o ano (Medina et al., 2005).
A filotaxia mais comum da maioria das espécies de citros é em três voltas completas, formam-se oito folhas. O sentido da espiral se inverte a cada surto de crescimento. As folhas começam a se expandir antes do término do alongamento do ramo e alcançam 80% do seu tamanho máximo entre um e dois meses; são, inicialmente, verde-claras e, ao final, tornam-se verde-escuras e coriáceas. O grau de enfolhamento dos citros é fundamental para a produtividade. Tanto o excesso quanto a deficiência são prejudiciais ao rendimento e à qualidade dos frutos. Por outro lado, condições adversas do ambiente podem reduzir drasticamente o potencial produtivo do pomar, pela redução da área foliar. Assim, um bom programa de podas é preponderante para a rápida formação das folhas e a longevidade da máquina fotossintética e, conseqüentemente, da manutenção da produtividade e qualidade dos frutos (Medina et al., 2005).
O desenvolvimento dos ramos dos citros sofre influência acentuada do clima, principalmente da temperatura e da umidade. O florescimento mais importante surge no surto de crescimento da primavera, quando a planta emite ramos vegetativos e reprodutivos. A abertura das flores, a antese, ocorre após o período de indução e diferenciação, quando as condições ambientais são adequadas. As inflorescências cítricas floríferos, classificadas botanicamente como cimosas. A primeira flor a abrir é a apical, seguida das basais e, posteriormente, das flores da parte mediana da inflorescência (Medina et al., 2005).
O crescimento dos frutos cítricos é do tipo sigmoidal simples, crescendo todas as partes do fruto até a maturação, mas com taxas diferenciadas. O crescimento pode ser dividido em três fases, embora não seja possível distinguir claramente o término de uma fase e o inicio da subseqüente. O vingamento da flor, o pegamento do fruto e o seu posterior desenvolvimento dependem de características genéticas, do tipo de inflorescência, do número de flores e frutos, de fatores climáticos, dos tratos culturais, da disponibilidade de carboidratos e hormônios, etc. (Medina et al., 2005).

2.5 Botânica e Cultivares
Assim como a origem dos citros, a botânica é complexa e controvertida. As variedades ou cultivares atuais são muito distantes das antigas, dificultando o processo da taxonomia e classificação dos cítricos. Apesar de todos esses problemas, alguns pesquisadores e taxonomistas tentaram classificá-los, a exemplo de Tenore, Loureiro e muitos outros. Dentre esses pode-se destacar três classificadores mais importantes que são Walter T. Swingle, Tyôzaburô Tanaka e R. W. Hodgson. Resumindo, coloca-se a seguir as variedades porta-enxertos e copas mais exploradas comercialmente no Brasil (RAMOS, et al., 1997).

2.5.1 Porta-enxertos
A operação de enxertia objetiva criar uma associação entre dois indivíduos, geneticamente diferentes, cada qual com suas características, que devem passar a viver em estreito relacionamento, mutuamente benéfico, para que a nova planta seja produtiva e longeva. O porta-enxerto induz à copa alterações no crescimento, no tamanho, precocidade de produção, maturação e peso dos frutos, fertilidade do pólen, tolerância às condições adversas, entre outros. O uso destes permitiu superar fatores e obter ganhos, mas foi também responsável por grandes adversidades da citricultura, como gomose, tristeza, declínio e morte súbita dos citros (Pompeu Junior, 2005).
• Limoeiro “Cravo” – Citrus limonia Osbeck cv. Cravo – Boa tolerância à seca; suscetibilidade à gomose de Phytophthora e ao declínio; boa produtividade; produção e maturação precoces de frutos de qualidade regular (EMBRAPA).
• Limão Volkamariano – Citrus volkameriano Pasq. – Boa tolerância à seca; menor suscetibilidade à gomose que a do “Cravo”; suscetibilidade ao declínio; produção e maturação precoces; boa produtividade; frutos de qualidade regular; incompatibilidade com a copa da laranja “Pêra” (EMBRAPA).
• Limão “Rugoso” – Boa tolerância à seca e moderada à salinidade; ótima adaptação a solos arenosos profundos; suscetibilidade à gomose e ao declínio; boa produtividade; produção e maturação precoces de frutos de qualidade inferior; as cultivares Nacional e Flórida são incompatíveis com a copa de laranja “Pêra” (EMBRAPA).
• Tangerineira “Cleópatra” – Citrus reshni Hort. ex. Tan. e Tangerineira “Sunki” – Citrus sunki Tanaka – Tolerância moderada à seca e à gomose; maior tolerância ao declínio que “Cravo”, Volkameriano e rugoso; boa produtividade; produção e maturação tardias; frutos de boa qualidade. A tang. “Cleópatra” tem a menor tolerância à salinidade dentre os porta-enxertos comerciais (EMBRAPA).
• Cintrange Carrizo – Híbrido de Laranja x Trifoliata - e Citrange Troyer – Híbrido de Laranja x Trifoliata – Pequena tolerância à seca e ao declínio; boa tolerância à gomose; inicio de produção tardia; maturação tardia de frutos de boa qualidade; incompatibilidade com as cultivares “Pêra” e “Murcott” (EMBRAPA).
• Citrumelo 4475 – Híbrido de Pomelo x Trifoliata – Tolerância moderada à seca, á salinidade e ao declínio; resistência à gomose; boa produtividade; inicio de produção tardia; frutos de boa qualidade; incompatibilidade com a copa de laranja “Pêra” (EMBRAPA).
• “Trifoliata” – Poncirus trifoliata (L.) Raf
• Laranjeira “azeda” – Citrus autantium (L.)
• Laranjeira “caipira” – Citrus sinensis Osbeck
A escolha do porta-enxerto é tão importante quanto a escolha da variedade copa, existindo, contudo, em todas as regiões citrícolas do mundo tendência de emprego de um único. No Brasil essa regra é confirmada de maneira contundente: - apesar de existir um número expressivo de resultados experimentais que possibilitam a diversificação das combinações copa/porta-enxerto, o citricultor insiste no uso excessivo do limoeiro “Cravo”, usado em todo país, nos diferentes tipos de clima e de solo, combinação com todas as variedades comerciais. Embora essa preferência seja natural, já que o “Cravo” possui características que satisfazem os viveiristas e citricultores, existe sempre o risco de surgimento de doenças ou de distúrbios de outra natureza, originando desastres, como a destruição dos pomares brasileiros causada pelo vírus da “tristeza”, no final da década de 30 (EMBRAPA).
A fim de contornar os riscos quando são adotados porta-enxertos pouco conhecidos ou de indicação recente de trabalhos experimentais, é aconselhável diversificar as combinações utilizando-se porta-enxertos tradicionais, acompanhados, em menor escala, desses menos conhecidos (EMBRAPA).

2.5.2. Laranjeiras Copas
• Laranjeira “Pêra” – Citrus sinensis (L.) Osbeck
• Laranjeira “Natal” – Citrus sinensis (L.) Osbeck
• Laranjeira “Valência” – Citrus sinensis (L.) Osbeck
• Laranjeira “Hamlim” – Citrus sinensis (L.) Osbeck
• Laranjeira “Westin” – Citrus sinensis (L.) Osbeck
• Laranjeira “Barão” – Citrus sinensis (L.) Osbeck
• Laranjeira “Rubi” – Citrus sinensis (L.) Osbeck
• Laranjeira “Baianinha” - Citrus sinensis (L.) Osbeck
Recomenda-se o plantio de cultivares de diferentes épocas de maturação (precoces, meia-estação e tardias), com a finalidade de ampliar a faixa de colheita do pomar. O pomar bem diversificado permite diversas colheitas ao longo do ano, evitando a concentração da safra em um período determinado, o que resulta em preços baixos (EMBRAPA).

2.5.3 Limões Verdadeiros
• Eureka – Citrus limon (L.) Brum.
• Siciliano – Citrus limon (L.) Brum.

2.5.4 Limeiras Ácidas
• Taiti – Citrus aurantifolia Tan
• Galego – Citrus aurantifolia Swingle

2.5.5 Tangerineiras
• Ponkan – Citrus reticulata Blanco
• Cravo - Citrus reticulata Blanco

As frutas cítricas pertencem a família Rutaceae. Os limoeiros são árvores verdes que dão frutos de diferentes formas e tamanhos (de volta a oblongo), que estão cheios de sabor, fragrância e suco. Uma seção desses frutos permite a identificação de diferentes camadas: - Uma cor aproximada, robustos e brilhantes (de amarelo para laranja) da pele ou casca, conhecida como epicarpo, que abrange o setor das frutas e protege contra danos. Suas glândulas contem os óleos essenciais que dão o seu fruto típico da fragrância cítrica. - O mesocarpo branco, grosso e esponjoso ou albedo, que, juntamente com o epicarpo formas do pericarpo ou casca da fruta.
- A parte interna que faz com que a polpa. Ela é dividida em segmentos individuais ou sacos de suco (com ou sem sementes, de acordo com as variedades) por uma película de espessura radial ou endocarpo. Esta parte é rica em açúcares solúveis, quantidades significativas de vitamina C, pectina, fibras, diferentes ácidos orgânicos e sais de potássio, que dá o seu fruto característico sabor cítrico (UNCTAD).

2.6 Melhoramento Genético dos Citros
A biotecnologia consiste no desenvolvimento e aplicação em larga escala (transferência para o setor produtivo) dos avanços científicos e tecnológicos, resultantes de pesquisas em ciências biológicas. Ao longo da historia da citricultura, a biotecnologia tem contribuído ativamente no avanço tecnológico dessa atividade, especialmente no controle de doenças. Dentre suas principais contribuições, destacam-se a proteção cruzada (pré-imunização) contra a tristeza, a indexação e limpeza clonal de vírus e viróides, o desenvolvimento de novas técnicas de diagnostico, a geração de variedades resistentes, a partir de técnicas envolvendo cultura de tecidos e, mais recentemente, o seqüenciamento do genoma de citros e de seus patógenos, em combinação com o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas (Astua-Monge et al., 2004).
Os citros apresentam uma diversidade muito grande de gêneros, espécies, variedades e clones; no entanto, um número relativamente pequeno é utilizado nos atuais plantios comerciais, não sem algumas razões botânicas e históricas. Como espécies de propagação comercial exclusivamente vegetativa (borbulhas para variedades-copas e sementes nucelares para porta-enxertos), os citros tiveram, na seleção massal, a via mais rápida de melhoramento, principalmente por apresentarem elevada taxa de mutações somáticas, promovendo, com freqüência, o surgimento de novas seleções que se tornam variedades comerciais. Programas tradicionais de melhoramento genético via hibridação e seleção recorrente sempre esbarraram em obstáculos de ordem genética e botânica, características desse grupo de plantas (Machado et al., 2005).
Os desafios ao melhoramento de citros persistem, apesar de todo avanço em produção no Brasil e no mundo. A necessidade de ampliação das bases genéticas atuais dos citros, assim como a potencialização de germoplasma já existente, impõem a necessidade de desenvolver programas de melhoramento. Nesse contexto, a biotecnologia pode contribuir efetivamente, e está contribuindo, no ganho ou potencialização de características (Machado et al., 2005).

2.6.1 Espécies, variedades, híbridos e germoplasma
A variabilidade morfológica que genótipos do gênero Citrus apresentam nem sempre permite a caracterização precisa de uma variedade. Essa alta variabilidade está associada com fatores ambientais, idade fisiológica da planta, ocorrência de patógenos sistêmicos (vírus e viróides), e do manejo (porta-enxerto, nutrição etc.). Embora diversas características morfológicas possam sofrer variação em função desses fatores, o fruto, particularmente, apresenta alterações em cor do epicarpo e do suco, teor de sólidos solúveis, espessura do albedo, número de sementes, época de maturação e tempo de fixação na planta, o que faz que com cada variedade deva ser sistematicamente testada em cada área de plantio (Machado et al., 2005).

2.6.1.1 Híbridos
Espécies do gênero Citrus e outras correlacionadas manifestam compatibilidade genética, produzindo híbridos que, muitas vezes, foram caracterizados como espécies puras (Swingle & Reece, 1967). Não há separação clara, portanto, entre espécies. Exemplo típico dessa compatibilidade são os híbridos de Citrus com P. trifoliata. Nenhuma linhagem endogâmica foi ainda desenvolvida (Roose et al., 1998). O fato de os Citrus e os gêneros relacionados, como Poncirus e Fortunella, se hibridizarem com certa facilidade tem criado um grupo de plantas interessante para o melhoramento. A existência de híbridos é comum entre Citrus e esses gêneros relacionados (Machado et al., 2005).

2.6.1.2 Banco Ativo de Germoplasma (BAG)
Tais bancos de citros são mantidos em campo e nas condições mais próximas possíveis do sistema de produção comercial; representam a soma de esforços individuais de seleção e manutenção, e revelam problemas de redundância (mesmo material genético com denominações diferentes), falta de representatividade, nomenclatura etc. Esses problemas estão relacionados a características peculiares dos Citrus, como alterações fenotípicas entre clones juvenis e adultos, efeito ambiental sobre tais alterações, mutação somática e infecção sistêmica por vírus e viróides, induzindo seleções do mesmo material em locais diferentes. Desse modo é comum encontrarem-se acessos com as mesmas características fenotípicas, mas com nome e locais de seleção completamente distintos. Também não é raro observarem-se clones nucelares bastante distintos da planta-mãe indicando uma possível seleção de indivíduos híbridos ou de mutações nos embriões ou nas plântulas. Essas características típicas dos citros têm sido um obstáculo à organização de coleções nucleares com representatividade da variabilidade genética de todas as espécies do grupo (Machado et al., 2005).
Atualmente, os dois principais bancos de germoplasma de citros no Brasil estão no Centro APTA Citros Sylvio Moreira (ex-Estação Experimental de Limeira – SP), em Cordeirópolis (SP), com mais de 65% dos acessos brasileiros – são 1.709 introduções, distribuídas em 636 acessos de laranja doce, 383 de tangerinas e híbridos, 118 de limões e híbridos de limões, 45 de laranja Azeda, 56 de limas doce e ácida e seus híbridos, 46 de limão Cravo e seus híbridos, 13 de limão Rugoso, 66 de pomelo, 44 de toranjas e seus híbridos, 200 de P. trifoliata e seus híbridos, 102 de outras espécies de citros e gêneros relacionados – e na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA) (Machado et al., 2005).
Uma das maneiras de acessar essa variabilidade genética é mediante marcadores moleculares, o que possibilita a redução de redundância em coleções (Krueger et al., 2000) e é particularmente útil em função dos gastos envolvidos com a manutenção in vivo de coleções de grande porte. Para espécies com alto grau de polimorfsmo genético, como as tangerinas, as limas, P. trifoliata e híbridos, o uso de marcadores tem possibilitado uma efetiva caracterização de diferentes variedades e acessos. Já para espécies com baixo polimorfsmo genético, como laranja doce e limões verdadeiros, marcadores moleculares ainda não possibilitam um acesso efetivo da variabilidade genética que possa explicar a variabilidade fenotípica observada (Machado et al., 2005).
Coleções amplas como o BAG citros mantidas fora dos centros de origem e a inexistência de plantas típicas das espécies comerciais nas áreas originais de ocorrência têm também servido de apoio a estudos de filogenia, utilizando marcadores moleculares para inferir índices de similaridade genética ou estudos de filogenia dentro do grupo Citrus e gêneros afins (Machado et al., 2005).

2.6.2 Sistema de reprodução do Citros
As espécies do gênero Citrus reproduzem-se sexuadamente, por meio de autopolinização e polinização cruzada, e assexuadamente, de apomixia nucelar. As plantas de citros podem autopolinizar-se, em face da concomitância da deiscência das anteras e receptividade do estigma em suas flores hermafroditas. A polinização cruzada em citros é pela ação do vento e de insetos polinizadores, principalmente abelhas. O embrião sexual tem origem a partir da união de um dos dois gametas resultantes do núcleo sexual do pólen com a oosfera, pertencente ao óvulo maduro. Eventualmente, os embriões sexuais resultantes de polinização cruzada ou de autopolinização podem clivar-se, resultando em híbridos gêmeos monozigóticos (Machado et al., 2005).
Para fins de melhoramento genético, deve-se distinguir, inequivocamente, plântulas resultantes de união sexual de gametas, no interior das sementes poliembriônicas, daquelas resultantes de embriões nucelares. Isso vem sendo realizado por meio de métodos colorimétricos, espectroscópicos, morfológicos, cromatográfcos, isoenzimáticos e com base em polimorfismo de DNA.

2.6.2.1 Incompatibilidade e esterilidade
Nos citros, o processo sexual (ou pelo menos parte dele) não é essencial para a produção de frutos em todos os cultivares. A produção de frutos na ausência de estímulo de reprodução sexual é conhecida como partenocarpia. Cultivares de citros fortemente partenocárpicas podem formar grande número de frutos sem necessidade do processo sexual. Obviamente, tais frutos raramente produzem sementes. O pomelo Redblush é um bom exemplo de cultivar fortemente partenocárpica. Outras cultivares apresentam variação no grau de partenocarpia de muito forte a fraco (Machado et al., 2005).
A auto-incompatibilidade é a inabilidade de estabelecer frutos por autopolinização, embora o pólen e as células-ovo sejam funcionais em polinização cruzada. A incompatibilidade sexual em citros está também associada ao baixo pegamento de frutos em certos cultivares, sendo determinada gametofticamente. Em algumas variedades auto-incompatíveis e incompatíveis por polinização cruzada, o tubo polínico cresce muito mais lentamente nos estiletes do que nas compatíveis. Esse crescimento pode ser afetado por alguns inibidores produzidos nos ovários ou estiletes, que podem ser transpostos com a utilização de grãos de pólens inativados por aquecimento ou por aplicação de solução com componentes do estigma (Machado et al., 2005).

2.6.2.2 Ploidia
A estabilidade do cariótipo em Aurantioideae está aparentemente ligada com alta capacidade de hibridação interespecífica. Um extenso estudo citogenético foi realizado em 51 acessos com 20 espécies de citros, P. trifoliata e 7 híbridos interespecíficos. Todos os acessos mostraram 2n = 18 sem nenhum indício de alteração numérica (Machado et al., 2005).
A diploidia é regra geral nos Citrus e gêneros relacionados. Vários acessos euplóides, entretanto, têm sido relatados. A euploidia nos citros está representada por monoplóides, diplóides, triplóides, tetraplóides, pentaplóides e octoplóides. Há dois modos distintos de origem de poliplóides em Citrus: sexual e somático. As plantas poliplóides que surgem de embriões nucelares devem ser consideradas de origem somática. Tais plantas têm sido classificadas como autopoliplóides, mas o termo “poliplóides espontâneos” é preferido. Os poliplóides de origem somática podem surgir de processos naturais de mutações de gema e embriogênese nucelar. A origem de tais poliplóides pode ser a duplicação dos cromossomos nas células nucelares antes da embriogênese somática ou durante a megasporogênese. Outros fatores, tais como hibridação interespecífica, grau de ploidia e a natureza mono/poliembriônica da variedade em questão podem também contribuir para a freqüência dos poliplóides. Alotetraplóides têm sido desenvolvidos com fusão de protoplastos e utilizados como parental masculino visando à obtenção de triplóides (Machado et al., 2005).
As plantas triplóides, assim como as tetraplóides, ocorrem espontaneamente entre plântulas de citros, e também podem ser produzidas em certos cruzamentos. Normalmente, os triplóides provêm de plântulas de origem sexual, enquanto os tetraplóides surgem como formas apomíticas. Híbridos triplóides têm sido obtidos de cruzamentos convencionais 2x x 2x de cultivares monoembriônicos. É mais provável encontrar progênies triplóides em sementes pequenas e de mais difícil germinação. Tal processo natural e espontâneo de formação de triplóides deve ser a origem das limas ácidas triplóides Tahiti e Bearss, e tem sido utilizado como estratégia de melhoramento juntamente com as técnicas de resgate de embriões e citometria de fluxo. A obtenção de híbridos triplóides em citros é um importante objetivo do melhoramento, pois os frutos podem apresentar grande valor comercial por não produzirem sementes. Os triplóides podem ocorrer espontaneamente em cruzamentos diplóides, do cultivo de endosperma in vitro e de cruzamentos interplóides recíprocos entre plantas diplóides e tetraplóides (Machado et al., 2005).

2.6.2.3 Apomixia
Pode ser definida como o processo de reprodução assexual que ocorre no óvulo de angiosperma: os embriões são originados somente de células do tecido do óvulo, sem a fusão dos gametas, o que dá origem a clones com identidade genética completa com a planta-mãe. A apomixia distingue-se da embriogênese somática comum por ocorrer dentro de uma estrutura diferenciada e derivada de células dentro ou próximas do gametófito feminino. No entanto, o padrão de diferenciação do embrião apomítico é idêntico ao do sexual (Machado et al., 2005).
Nos citros, a apomixia nucelar parece ser controlada por um único gene. Assim como em outras espécies a apomixia confere algumas vantagens evolutivas, como a fixação da heterose, comum em híbridos e poliplóides, possibilitando a formação de descendentes vigorosos, além de possibilitar a uma espécie superar problemas de incompatibilidade pós-zigótica, e de ser um eficiente sistema de propagação vegetativa. Embriões apomíticos podem desenvolver indivíduos gêmeos e, muitas vezes, alterações de ploidia podem suceder originando indivíduos triplóides e poliplóides. Uma estreita relação entre graus de apomixia e condições ambientais (temperatura, fotoperíodo etc.) e presença de pólen compatível parece apontar para a hipótese de que a apomixia é um mecanismo de fixação de variabilidade genética (Machado et al., 2005).

2.6.2.4 Poliembrionia
A conseqüência direta do processo apomítico em citros é que muitas das espécies do grupo são poliembriônicas, isto é, suas sementes contêm mais de um embrião, podendo ser de origem apomítica (nucelar) ou sexual (zigótico), ou de ambas. No entanto, em trabalhos de obtenção de híbridos por polinização controlada, a poliembrionia é uma das grandes barreiras ao melhoramento genético de citros (Machado et al., 2005).

2.6.2.5 Heterozigosidade
É uma medida indireta do grau de origem híbrida que uma espécie pode ter. A alta heterozigosidade presente na maioria das formas de citros é devida aos fatores seguintes: mutação gênica freqüente, polinização cruzada e embrionia nucelar. A reprodução por embrionia nucelar preserva a heterozigose que se tenha originado, porventura, por hibridação e mutação. De modo geral, os Citrus são tidos como um gênero com alta heterozigosidade (Machado et al., 2005).

2.7. Estratégias de Melhoramento de Citros
Ao abordar o melhoramento de citros, é importante destacar que ele deve, necessariamente, incluir copa, porta-enxerto e suas interações. Muitas características são comuns às diversas espécies de citros, outras devem levar em consideração somente uma ou outra unidade que constitui a planta. Se, por um lado, a hibridação sexual é uma estratégia de acessar e potencializar a variabilidade genética do grupo, a hibridação somática tornou-se importante ferramenta para fixar fenótipos aditivos. Não sem importância devem, também, serem considerados os trabalhos de seleção massal de mutantes somáticos ou de híbridos, através dos quais tantas variedades já foram selecionadas para a citricultura (Machado et al., 2005).

2.7.1 Hibridação sexual
Embora os desafios na obtenção de progênies F1 no cruzamento dentro do gênero Citrus e entre gêneros próximos sejam consideráveis, existem várias fontes de resistência a fatores bióticos e abióticos que podem ser potencializadas na obtenção de indivíduos com características agronômicas e industriais desejáveis. Essa abordagem é particularmente importante quando a ela se agregam ferramentas da biotecnologia, auxiliando na seleção de indivíduos zigóticos, na obtenção de marcadores, no mapeamento genético, culminando com a seleção assistida por marcadores, uma etapa ainda em processo de incorporação aos programas de melhoramento de citros (Machado et al., 2005).

2.7.2 Métodos de hibridação
O método mais simples e econômico para obter variabilidade genética é aproveitar as hibridações naturais por polinização aberta. Apresenta, no entanto, as desvantagens de permitir autofecundação e perda da identidade do genitor masculino. Em citros, exemplos de híbridos obtidos por polinização natural são os tangores Temple e Murcott, híbridos de laranja doce com tangerinas. Sem dúvida, o método mais eficiente de obter híbridos é mediante hibridação artificial com polinização controlada. Além de permitir o controle da identidade de ambos os genitores, reduz significativamente os riscos de cruzamentos indesejáveis e de autofecundação (Machado et al., 2005).

2.7.2.1 Fatores ambientais que afetam a hibridação
Para proceder à polinização controlada, é necessário não apenas o conhecimento da biologia foral, mas também o entendimento dos fatores climáticos, edáficos e biológicos que afetam a hibridação. A temperatura é o fator mais crítico para o sucesso da hibridação e influencia diretamente a polinização, a fertilização e o desenvolvimento do fruto. A temperatura tem um efeito significativo na eficiência da polinização, tanto indiretamente na atividade no pomar (as abelhas são os principais polinizadores dos citros), ou indiretamente, afetando o crescimento do tubo polínico. Uma vez que os grãos de pólen tenham caído sobre o estigma sua germinação e taxa de crescimento no estilo são maiores em altas temperaturas (25 a 30°C) e reduzidos ou totalmente inibidos nas baixas (< 20°C). O crescimento do tubo polínico através do canal estilar pode durar de dois dias a quatro semanas, dependendo da cultivar e da temperatura (Machado et al., 2005).
2.7.3 Hibridação Somática
A hibridação somática permite combinar parentais com características complementares, sem perda significativa do vigor, resultando na expressão aditiva das características dominantes no híbrido. Possibilita, também, a utilização de clones estéreis nos esquemas de melhoramento e a transposição da incompatibilidade de cruzamento na obtenção de formas híbridas, previamente impossíveis entre espécies e gêneros. Conseqüentemente, novos genótipos potencialmente valiosos podem ampliar a base genética dos citros (Machado et al., 2005).
O primeiro exemplo de hibridação somática bem sucedida envolvendo Citrus foi um híbrido intergenérico alotetraplóide produzido pela fusão de células de calos embriogênicos de laranja Trovita (C. sinensis) com protoplastos de mesófilo foliar de P. trifoliata. A produção desse híbrido demonstrou que a fusão de protoplastos é uma forma viável de transpor as dificuldades da hibridação sexual, como a incompatibilidade gametofítica, que existe entre Citrus e alguns gêneros relacionados. O método mais utilizado para a fusão de protoplastos em citros é o químico, usando polietileno glicol (PEG) para induzir a adesão dos protoplastos e a fusão. A confirmação da hibridação somática é realizada em cada planta regenerada, com base na morfologia foliar (espessura e formato), número de cromossomos e análise de DNA (Machado et al., 2005).
2.7.4 Mutações Somáticas
As técnicas de melhoramento genético convencional podem incorporar genes para resistência a vários fatores bióticos e abióticos limitantes às plantas; entretanto, podem também, ao longo dos processos de cruzamento, segregação e seleção, levar à perda de características importantes. Em várias espécies lenhosas, a variabilidade genética pode ser potencializada, com geração de características distintas da planta-mãe, através de mutações em tecidos somáticos. Os citros, em geral, apresentam altas taxas de mutação somática, que podem ser transmitidas vegetativamente para a geração seguinte (Machado et al., 2005).
Em função da ocorrência das altas taxas de mutações somáticas, um dos principais meios de ampliação da variabilidade genética e de obtenção de novas variedades em citros, principalmente variedades copa, tem sido a seleção de plantas a partir da mutação espontânea de gemas (budsport), observada em condições de campo e com posterior propagação vegetativa e fixação da variedade. Infelizmente, a expressão de muitas mutações não é identificada visualmente e muitas mutações benéficas não devem ser detectadas, como, por exemplo, alterações na composição de açúcares e ácidos orgânicos do fruto (Machado et al., 2005).
Cabe salientar que, embora a mutação espontânea tenha importância indiscutível no processo de melhoramento dos citros, não é possível intervir para que haja um aumento da freqüência de mutações benéficas agronomicamente. Algumas técnicas de indução de mutação com agentes químicos e físicos têm sido testadas, entre elas o uso de colchicina ou radiação. Ainda não estão esclarecidos os mecanismos moleculares do surgimento de freqüentes mutações espontâneas em citros. Como candidatos naturais de agentes de mutações estão incluídos os elementos móveis (transposons), que ocorrem com alta freqüência no genoma dessas espécies (Machado et al., 2005).
2.8 Mapeamento genético
Os programas de melhoramento genético dos citros focam a obtenção de novos porta-enxertos e copas resistentes às doenças, pragas e mais adaptados a condições abióticas adversas. Como os programas de melhoramento de plantas anuais, o melhoramento de plantas perenes lenhosas também deve basear-se no conhecimento do controle genético da herança de características importantes e no uso e manutenção dos recursos genéticos disponíveis. Uma das formas mais eficientes de associar características fenotípicas com as genéticas é através de mapas de ligação, no qual essas características são ordenadas seqüencialmente, correspondendo, de modo aproximado, à posição dos genes nos cromossomos (Machado et al., 2005).
Assim como para outras espécies, o mapeamento genético de citros requer alguns requisitos, como: i) escolha dos parentais com fenótipo contrastante em relação à característica de interesse, por exemplo, resposta diferenciada em relação à resistência a alguma doença, ii) polinização controlada entre os parentais com produção de uma progênie com tamanho mínimo e representativo de eventos meióticos, e iii) obtenção de centenas de marcadores com segregação mendeliana clássica. Os marcadores moleculares, ao caracterizar um locus, devem ser polimórfcos; apresentar ampla cobertura do genoma da espécie em estudo; ser seletivamente neutros, não afetando o caráter em questão nem as características reprodutivas do indivíduo; ser co-dominantes para que todos os possíveis alelos dos loci marcadores possam ser identificados (Machado et al., 2005).
Os mapas genéticos têm importante papel em muitas áreas da genética: análise de QTLs, clonagem baseada em posição no mapa, melhoramento através da seleção assistida por marcadores (SAM) e, mais recentemente, na genômica comparativa. A seleção indireta, através de marcadores genéticos, tem sido sugerida para características de baixa herdabilidade, que requerem grandes populações para sua mensuração (Machado et al., 2005).
A estratégia de clonagem baseada em mapa já vem sendo perseguida para genes de resistência de citros. O primeiro patossistema de citros a ser contemplado com esse tipo de abordagem fina de mapeamento foi o gene Ctv, a partir de P. trifoliata, tendo sido construídos mapas de alta resolução para o locus Ctv (Machado et al., 2005).
2.9 Resistência a fatores bióticos
Tais fatores podem ser considerados os mais limitantes ao aumento e à manutenção de produtividade em várias áreas de produção de citros no mundo. São tanto mais limitantes quanto maior a extensão dos plantios monoespecíficos e monoclonais, e são normalmente agravados por outros fatores abióticos, como temperatura, estresse hídrico e nutricional. Entre as características associadas à severidade das pragas e doenças em citros estão a estreita base genética sobre a qual se apoia a citricultura, a alta plastidade genética do grupo que tem alta capacidade de adaptação a diferentes condições, inclusive a novas interações bióticas, e práticas de propagação, especialmente a enxertia de borbulhas e sementes com embriões nucelares (Machado et al., 2005).
Um exemplo clássico é a tristeza dos citros, que leva à morte da planta quando o porta-enxerto é a laranja Azeda. No entanto, quando o porta-enxerto é tolerante ou resistente, ou quando a planta é originada de semente, a tristeza, mesmo afetando o desenvolvimento da planta, não leva a sua morte biológica. Por outro lado, resistência de campo para algumas doenças não é raro, isto é, não existe resistência genética vertical clássica, mas uma redução significativa da doença em função de fatores associados à transmissão e /ou infestação de vetores (Machado et al., 2005).
Os estudos sobre caracterização de suscetibilidade a determinado fator biótico em espécies e variedades de citros têm-se concentrado na avaliação à nível de plantios experimentais e comerciais, mas, principalmente, avaliando-se os acessos em bancos de germoplasma. Evidentemente, muitas dessas condições podem não ser as melhores para expressão de determinada doença ou infestação de uma praga, uma vez que fatores locais de clima, solo e porta-enxertos podem afetar uma avaliação precisa. Estudos mais detalhados têm sido desenvolvidos sobre herança nos trabalhos de mapeamento genético (Machado et al., 2005).

2.10 Resistência a fatores abióticos
Em todo o mundo, as áreas de cultivo de citros são determinadas conforme as limitações climáticas e de solo predominantes em cada região. Entre as principais características estão a temperatura, a precipitação e o grau de salinidade do solo. Entretanto, programas de melhoramento em citros que visem conferir às plantas a capacidade de tolerar tais restrições enfrentam problemas de limitação botânica e, também, de natureza genética: trata-se de caracteres de herança quantitativa, já que a maioria das respostas a fatores ambientais (abióticos) está associada a vários genes atuando simultaneamente (Machado et al., 2005).
Em programas de melhoramento de citros, o fator abiótico mais estudado no mundo é, sem dúvida, a baixa temperatura. Tal fenômeno é resultante não somente das poucas alternativas que a citricultura apresenta para a resistência às geadas, ao contrário dos demais problemas como a seca e a salinidade, que podem ser atenuados com o uso de porta-enxertos apropriados, mas também em vista da histórica influência que as geadas ainda exercem na citricultura dos EUA, principalmente na Flórida (Machado et al., 2005).

2.11 Transgênicos
A obtenção de plantas de citros geneticamente modificadas ou transgênicas oferece vantagens sobre os métodos convencionais de melhoramento, tais como possibilitar a introdução de material genético em situações em que os organismos são incompatíveis (espécies, gêneros, famílias e até mesmo reinos diferentes); reduzir o tempo de obtenção de variedade melhorada e restringir a adição de genes indesejáveis em programas de melhoramento eliminando os efeitos da heterozigosidade dos cruzamentos sexuais, entre outros (Machado et al., 2005).
Embora a transformação genética seja uma técnica sabidamente útil na pesquisa com citros, a primeira laranja doce transgênica só foi obtida no final da década de oitenta. Já as primeiras plantas transgênicas de citros que expressem gene de interesse agrícola, o gene da capa protéica do vírus da tristeza dos citros (CTV), e a primeira planta originada de tecido maduro de citros (laranja Pineapple) foram obtidas no final da década de noventa. A transformação genética vegetal nada mais é do que a obtenção de plantas que expressem genes originados de outro organismo. Com tal ferramenta, podem-se incorporar em citros genes que codificam para as mais diversas características. Para que seja possível a obtenção de plantas transgênicas, várias técnicas de transformação e regeneração de tecidos embriogênicos até plantas adultas têm sido integradas, tendo sido já transformadas laranja doce, lima ácida Galego, laranja Azeda, pomelo, citrange, tangerina e P.trifoliata (Machado et al., 2005).
Cabe salientar que várias dessas plantas foram modificadas através da introdução de material genético de interesse agronômico. As técnicas de transferência do DNA para o hospedeiro (citros) abrangem diversas formas. Embora métodos como a eletroporação ou fusão de protoplastos sejam alternativas no processo de transformação, o bombardeamento de partículas e, principalmente, o co-cultivo com A. tumefaciens são os métodos mais amplamente considerados nos citros. Além de considerar que as técnicas de cultura de tecidos adquirem papel relevante no processo de transformação de citros, a escolha e o sucesso do método a empregar também dependerá de aspectos como o vetor, o hospedeiro, a eficiência a ser obtida, a disponibilidade de material e a capacidade de regeneração (Machado et al., 2005).
A transformação de plantas com o uso de A. tumefaciens – é uma bactéria gram-negativa, de solo, que causa galhas (tumores) no caule de dicotiledôneas - apresenta uma série de vantagens sobre os demais métodos, tais como a fácil manipulação, a integração de poucas cópias do fragmento de DNA a ser transferido para a planta (o “T-DNA”) com extremidades determinadas e baixo rearranjo no genoma, a maior chance de integração em região do cromossomo de transcrição ativa e a alta qualidade e fertilidade das plantas transgênicas obtidas. Avaliações de populações de citros originadas de transformação genética (cerca de 5 anos após o evento) têm demonstrado a estabilidade de integração e expressão dos genes incorporados ao genoma, o que acentua a utilidade do método para esse tipo de planta (Machado et al., 2005).

2.12 Genoma
O conjunto de genes de um organismo constitui seu genoma. Até recentemente, o acesso às informações do genoma dos organismos era extremamente trabalhoso e uma tarefa para vários anos e inúmeras pessoas. No entanto, com a expansão dos métodos de seqüenciamento automático do DNA em larga escala e com o desenvolvimento da bioinformática, o seqüenciamento de genomas passou a ser tarefa de mais fácil execução, permitindo o acúmulo de grande volume de informações. Se essas informações nem sempre são rapidamente transformadas em soluções, isso se deve à complexidade dos organismos e dos problemas que são abordados. O certo é que cada vez mais a informação é a moeda para o futuro e para abordagens e soluções seguras de velhos e novos problemas da citricultura, as informações sobre o genoma dos citros desempenharão papel fundamental (Machado et al., 2005).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O melhoramento genético de citros ainda permanecerá nos campos de desafio da genética, mesmo que grande volume de informações seja apresentado a respeito desse gênero. Por ser uma planta com alta capacidade adaptativa em diferentes condições edafoclimáticas e por ser uma planta cujo produto está inserido na cadeia de produção – suco congelado concentrado – faz com que as demandas sejam sempre de solucionar problemas impostos pelo próprio tamanho da citricultura.
O próprio fato da cadeia produtiva da citricultura em todo o mundo ser uma das mais dinâmicas e rentáveis atividades do agronegócio explica os altos desafios enfrentados em termos de aumento e manutenção da produtividade. Uma vez que, é crescente o número de pragas e doenças que afetam os citros nas condições brasileiras, levando a morte milhões de plantas.
Assim, o conhecimento sobre genética e genômica dos citros solucionará os desafios atuais da citricultura, permitindo ganhos e manutenção de produtividade com risco ambiental mínimo. O que, nos últimos anos, está sendo apontado no setor citrícola, que o aumento de competitividade, como conseqüência da redução de custo e aumento da produtividade, é o caminho para a manutenção das posições alcançadas pelo Brasil nos últimos anos.

4. LITERATURA CITADA
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BOTEON, M., NEVES, E. M., Citros: Capítulo 02 – Citricultura brasileira: aspectos econômicos. FAPESP. Centro APTA Citros Sylvio Moreira, Cordeirópolis SP. 2005.
EMBRAPA, Embrapa Mandioca e Fruticultura Sistemas de Produção de Citros para o Nordeste. 2003. Disponível em: Acessado em: 27 de fevereiro de 2011.
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MACHADO, M. A., CRISTOFANI, M., AMARAL, A. M., OLIVEIRA, A. C. Citros: Capítulo 09: Genética, Melhoramento e biotecnologia dos citros. FAPESP. Centro APTA Citros Sylvio Moreira, Cordeirópolis SP. 2005.
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MOREIRA, C. S., MOURÃO FILHO, F. A. A., DONADIO, L.C. Citros: Capítulo 01: Centros de origem, distribuição geográfica das plantas cítricas e histórico da citricultura no Brasil. FAPESP. Centro APTA Citros Sylvio Moreira, Cordeirópolis SP. 2005.
POMPEU JUNIOR, J. Citros: Capítulo 04 – Porta-Enxertos. FAPESP. Centro APTA Citros Sylvio Moreira, Cordeirópolis SP. 2005.
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