segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sigatoka-amarela (Pseudocercospora musae) incidente banana (Musa paradisiaca)


A bananeira (Musa paradisiaca - Musaceae) é uma das frutas mais populares do Brasil Apesar do Brasil ser o terceiro maior produtor mundial, com produção estimada em seis milhões de toneladas anuais, exporta apenas cerca de 1% dessa produção. (Kimati et. al. 2005)
Como todas culturas plantadas em grandes áreas – a banana ocupa cerca de 520.000 ha em nosso país – os problemas aparecem e, muitas vezes tornam-se economicamente danosos. Com a bananeira não tem sido diferente, registrando-se um grande número de doenças que afetam diversas partes da planta (raíz, rizoma, pseudocaule, folha, fruto). (Kimati et. al. 2005)
Entre os patógenos causadores dessas doenças, estão os vírus, as bactérias, os nematóides e os fungos. Os últimos são, sem dúvida, os mais importantes que são causadores de doenças como a Sigatoka-amarela e a Sigatoka-negra. (Kimati et. al. 2005)
O Sigatoka-amarela (Pseudocercospora musae) foi descrito pela primeira vez em Java, em 1902, os primeiros prejuízos de importância foram relatados nas Ilhas Fiji, Vale de Sigatoka, em 1913. No Brasil foi constatada inicialmente no Estado do Amazonas, em 1944, disseminando-se, posteriormente, a todos os estados brasileiros. (Fitopatologia.net, 2010)
Estima-se que os danos da bananicultura nacional, devido a sigatoka-amarela estejam na faixa de 50 % da produção. Os prejuízos devido a ação na atividade fotossintética decorrem na morte precoce das folhas e conseqüente enfraquecimento do vegetal, com reflexo imediato na produção. (Fitopatologia.net, 2010)
Também são observados, como conseqüência da doença, diminuição do número de pencas, tamanho de frutos, maturação precoce de frutos no campo e perfilhamento lento. Em alguns microclimas, a incidência da doença é tão alta que impede completamente o enchimento dos frutos, provocando perda total na produção. (Fitopatologia.net, 2010)
O objetivo desse trabalho foi isolar, identificar e analisar isolados de Pseudocercospora musae provenientes de planta de bananeira para conhecimento de seu sintomas na planta, sua epidemiologia, etiologia e métodos de controle.
Amostras de folhas de banana apresentando sintomas de manchas foliares foram coletados em área de produção de banana nanica do Intituto Federal Goiano campus Urutaí. No Laboratório de Microbiologia, as folhas foram analisadas utilizando micorscópio estereoscópio. Então processou-se as amostras da seguinte forma: a) preparou-se cortes histológicos – com auxílio de gilete e lupa, fragmentos de tecido foram cortados verticalmente numa única direção, e estes fragmentos foram depositados numa gota de azul-de-algodão, e fechados com lamínula; b) coleta de estruturas reprodutivas utilizando o método de pescagem direta – procedeu-se pela pescagem de fragmentos fúngicos localizados no centro da lesões e transferidos para uma gota de azul-de-algodão, e esta lâmina foi fechada com a lamínula.
Em microscópio estereoscópio e ótico, identificou-se o agente etiológico e realizou-se registros macro e microscópicos utilizando máquina digital CiberShot.


Hospedeiro/cultura: Banana (Musa paradisiaca L.)
Família Botânica: Musaceae
Doença: Sigatoka Amarela
Agente Causal: Pseudocercospora musae Zimm
Local de Coleta: Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí
Data de Coleta: 16/04/09
Taxonomia: A forma anamórfica peretence ao Reino fungi, grupo incerto Fungo Mitosporico, sub-grupo hifomiceto, gênero Pseudocercospora sp. A fase teleomórfica pertence ao reino Fungi, filo Ascomycota, classe Dothideomycetes, sub-classe Dothideomycetidae, ordem Capnodiales, família Mycosphaerellaceae, gênero Mycosphaerella sp.


Sintomatologia

As infecções ocorrem nas folhas jovens da planta, incluindo geralmente as folhas zero (vela), um, dois, três e, excepcionalmente, a quatro (as folhas são contadas das mais novas para as mais velhas; a folha zero corresponde àquela ainda não aberta). (Kimati et. al. 2005)
A infecção inicial caracteriza-se por uma leve descoloração em forma de ponto entre as nervuras secundárias da segunda até a quarta folha a partir da vela. Este ponto descolorido amplia-se, formando uma estria de coloração amarela (Fig. 1A). Como o tempo, estas pequenas estrias crescem, formando manchas necróticas, elípticas, alongadas, dispostas paralelamente às nervuras secundárias da folha (Fig. 1A). Desenvolve-se, por fim, uma lesão com centro deprimido, de coloração cinza e bordo preto, circundado por um halo amarelo (Fig. 1A). (Kimati et. al. 2005)
A lesão passa, portanto, por vários estádios de desenvolvimento, conforme descrição a seguir: estádio I – é a fase inicial de ponto ou risca de no màximo 1 mm de cumprimento com leve descoloração; estádio II – é uma estria já apresentando vários milímetros de comprimento, comum processo de descoloração mais intenso; estádio III – a estria fica mais larga, aumenta de tamanho e começa a evidenciar coloração vermelho-amarronzada próximo ao centro; estádio IV – mancha nova, apresentando forma oval alongada e coloração levemente parda, de contornos mal definidos; estádios V – caracteriza-se pela paralisação de crescimento do micélio, aparecimento de um halo amarelo em volta da mancha e início de esporulação do patógeno; estádio VI – fase final de mancha, de forma oval-alongada, com 12 a 15mm de comprimento pó 2 a 5 mm de largura. O centro é totalmente deprimido, de tecido seco e coloração cinza com bordos pretos e halo amarelado. (Cordeiro, 2000)

Etiologia

A Sigatoka-amarela é causada pelo fungo Mycosphaerella musicola Leach. estádio perfeito de Pseudocercospora musae Zimm.. No estádio anamórfico ou imperfeito, o fungo forma estromas definidos em ambas as faces da folha. São mais abundantes na face inferior. Sobre os estromas, desenvolvem-se conidióforos, os quais são de coloração pálida ou pardo-olivácea, sem septos, retos ou ligeiramente recurvados, muitas vezes com formato de garrafa. Os conídios com 10 a 110 μm x 2 a 6 μm desenvolvem-se na extremidades dos conidióforos, isoladamente. São de tonalidade levemente parda, lisos, retos, recurvados ou ondulados. Variam de cilíndricos a cilíndricos-obclavulados, o que difere dos conídios do fungo Mycosphaerella fijiensis Morelet (estádio perfeito), denominado Pseudocercospora figiensis Morelet no seu estádio anamórfico, que causa a Sigatoka-negra, tendo seus conídios desenvolvidos à medida que o centro das lesões entram em colapso e os conidióforos, de tonalidade que varia de pálida a olivácea, muitas vezes mais clara na extremidade, podendo ser retos ou recurvados medindo de 17 a 63 μmx 4 a 7 μm e podem emergir isoladamente ou em pequenos grupos, através dos estômatos, ou podem formar feixes entre os estromasnegros, os quais rompem a epiderme . Possuem, em média, três septos, podendo atingir até seis. (Leach, 1941)
Os espermogônios desenvolvem-se, em quantidade elevada, nos tecidos lesado, em fase de degeneração. Surgem am ambas as faces da folha, porém são mais abundantes na epiderme inferior. São escuros ou pardo-escuros, semi-irrompentes através dos estômatos, obpiriformes, medindo de 30 a 50 μm em diâmetro. As espermáceas são cilíndricas ou baciliformes, com 2,5 a 5 μm x 1 a 2,5 μm, hialinas unicelulares. (Leach, 1941)
Os peritécios escuros desenvolvem-se nas lesões maduras. São irrompentes, com ostíolo proeminente curtos. Formam-se com maior frequencia na face inferior do limbo. Os ascos, oblongos para clavados, possuem oito esporos. Os ascósporos são hialinos, unisseptados, medindo 14 a 18 μm x 4 a 6 μm. (Leach, 1941)
Em todo o mundo, a bananeira apresenta-se como hospedeiro de espécies do fungo Pseudocercospora, como Pseudocercospora musae e Pseudocercospora fijiensis, podendo ocorrer no mundo, nos países da China, Taiwan, Indonésia, Tailãndia, Malásia, Flórida e Brasil. (Index Fungorum, 2010)
No Brasil, são registradas ocorrências do fungo em todos os estados brasileiros. (EMBRAPA Banco de Dados de Micologia, 2010)

Epidemiologia


Os conídios (anamorfo) sobrevivem de três a quatro semanas sobre as folhas e os ascósporos (teleomorfo) sobrevivem 8 semanas, portanto as duas fases do fungo participam do estabelecimento da doença. (Alves et.al. 1997)
A produção dos ascósporos é maior nas folhas presentes nas posições cinco a dez na planta, principalmente nos períodos chuvosos com temperatura de 21 °C, alcançando o máximo de produção no início da estação seca. (Alves et.al. 1997)
Os conídios estão presentes nas plantações comerciais e são as principais fontes de inóculo. A produção de conídios geralmente ocorre à noite, sendo necessário 10 a 12 horas de orvalho, mesmo na ausência de chuva, e temperatura acima de 22 °C. (Alves et.al. 1997) Os esporos podem ser disseminados pela água (conídios) e vento (ascósporos). (Alves et.al. 1997) A partir do estádio de mancha podem-se observar frutificações do fungo em forma de pontuações negras. Em estádios avançados da doença, principalmente em ataques severos, ocorre a coalescência das lesões e, conseqüentemente, uma grande área foliar é comprometida, caracterizando o efeito mais drástico, que é a morte prematura das folhas. Manchas oriundas de infecções por ascósporos apresentam predominância apical, enquanto aquelas originadas a partir de conídios apresentam distribuição casualizada, mas com predominância basal, sendo comum a formação de linhas de infecção sobre o limbo foliar. (Kimati et. al. 2005)

Controle

O mal-de-Sigatoka é uma doença de fácil controle. A integração de ações é, portanto, o melhor caminho para que o objetivo seja atingido e a harmonia do ambiente seja preservada, como o controle cultural, que podemos citar a drenagem que reduz a possibilidade de formação de microclima adequado ao desenvolvimento do fungo, o combate às plantas daninhas que em altas populações no bananal, além da competição, favorecem a formação de microclima adequado ao patógeno, a desfolha, pois a eliminação, de forma racional, de folhas atacadas ou parte destas folhas, é de grande importância, já que reduz a fonte de inóculo no bananal. Contudo, deve ser feita com bastante cuidado para não provocar danos maiores que própria doença. Para infecções concentradas, recomenda-se a eliminação apenas da parte afetada. (Bendezu e Godinho, 1986)
Quando a incidência for alta e bem distribuída sobre a folha recomenda-se a sua eliminação. A nutrição da planta também ajuda no controle pois plantas adequadamente nutridas propiciam um ritmo de emissão de folhas mais acelerado, ocorrendo nesta condição o aparecimento de folhas em intervalos menores. A conseqüência imediata é o aparecimento das lesões de primeiro estádio e/ou manchas em folhas mais velhas da planta. Ocorre nesta situação o que se pode chamar de compensação dos danos provocados pela doença com a manutenção de uma área foliar fotossintetizante adequada às necessidades da planta. Em plantas mal nutridas, o lançamento de folhas é lento e, consequentemente, as lesões serão visualizadas em folhas cada vez mais novas e sombra, pois plantas mantidas sob condições sombreadas apresentam pouca ou nenhuma doença. As razões podem ser duas: redução ou não formação de orvalho, importante fator no processo de infecção e ainda, redução na incidência de luz, que também é importante no desenvolvimento dos sintomas da doença. O cultivo de banana em sistema agroflorestal, certamente é uma boa opção para a região amazônica, principalmente pelo seu caráter preservacionista. Entretanto, deve-se atentar para o fato de que plantas sob condições sombreadas sofrem alterações de ciclo, tornam-se estioladas e perdem em produção. (Bendezu e Godinho, 1986)
O controle da Sigatoka amarela obedece às mesmas recomendações referidas para a Sigatoka negra, exceto o numero de aplicações de fungicidas que, por ser menos agressiva, requer um numero menor. Semelhante a Sigatoka negra, o monitoramento semanal constitui uma ferramenta imprescindível para otimizar o numero e o intervalo de aplicação. Em geral, tem-se utilizado entre seis a sete aplicações anuais de fungicidas sistêmicos e de contato, sozinho ou em mistura com protetores. (Cordeiro, 2000) Os fungicidas recomendados para o controle do Sigatoka-amarela registrados pelo Ministério da Agricultura são ao todo 53 produtos, onde pode-se citar Nativo (tebuconazol (triazol) + trifloxistrobina (estrobilurina), aplica-se 0,4 a 0,5 litros/ha, Opera (epoxiconazol (triazol) + piraclostrobina (estrobilurina), aplica-se 0,5litros/ha, Triade (tebuconazol (triazol), aplica-se 0,5 litros/ha, Stratego 250 EC (propiconazol (triazol) + trifloxistrobina (estrobilurina), aplica-se 0,5 litros/ha, Priori (azoxistrobina (estrobilurina), aplica-se 0,2 a 0,4 litros/ha e Potenzor (flutriafol (triazol), aplica-se 1,0 a 1,25 litros/ha. (AGROFIT, 2010)
Vale destacar ainda a importância do óleo mineral no controle da Sigatoka-amarela no Brasil e no mundo. Ele pode ser usado puro, em dosagens que têm variado de 10 a 15 L/ha. Quando aplicado sobre a folha, penetra, atingindo ambas as faces, exercendo ação fungistática capaz de paralisar o desenvolvimento do patógeno no interior da folha, aumentando o período de incubação e o período de desenvolvimento da lesão. Nas folhas novas da planta oferece boa proteção. O óleo mineral, no entanto, tem sido utilizado como veículo de fungicidas sistêmicos ou em misturas de óleo, fungicidas e água. Em mistura, ele facilita a dispersão e penetração dos produtos, assim como a sua permanência sobre a folha. A dosagem de óleo mineral, para misturas de óleo + fungicida, é a mesma para óleo puro. Na misturas óleo, fungicida e água, o óleo tem participação em geral com 5 L, entrando ainda um emulsificante, na quantidade de 0,5 a 1,0 % do volume de óleo. (Cordeiro, 2000)
A busca de variedades resistentes, seja mediante a seleção dentro dos recursos genéticos existentes, seja mediante a geração de novas variedades por hibridização. É hoje a principal linha de ação visando ao controle da Sigatoka-amarela. Assim, podemos citar cultivares resistentes à doença como Pioneira, Yangambi, Mysore, Terra, Terrinha, D'Angola e Figo. (AGROFIT, 2010)






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGROFIT. Disponível em: Acessado em: 26/04/2010.

ALVES, E.J.; DANTAS, J. L. L; FILHO, W. S. S; SILVA, S. de O.; OLIVEIRA, M. de A; SOUZA, L. da S; CINTRA, F. L. D; BORGES, A. L; OLIVEIRA, A. M. G; OLIVEIRA, S. L; FANCELLI, M; CORDEIRO, Z. J. M; SOUZA, J. da S. Banana para Exportação, Aspectos Técnicos da Produção. 2ª edição Embrapa – SPI FRUPEX, 1997. 106p.

BENDEZU, J. M. & GODINHO, F. P. A Sigatoka amarela. Informe Agropecuário 12:39-44. 1986.

BORGES, A. L; OLIVEIRA, A. M. G; COSTA, D. da C; ALMEIDA, C. O; ALVES, E. J; COELHO, E. F; MATSURA, F. C. A. U; SOUZA, L. da S; FANCELLI, M; Filho, P. E. M; Oliveira, R. P de; Silva, S. de O. da; Medina, V. M; Cordeiro, Z. J. M. A Cultura da Banana 2ª edição. Coleção Plantar, Serviço de Produção de Informação – SPI Brasília – DF 1998. 97p.

CORDEIRO, Z. J. M.; Banana – Produção, Aspectos Técnicos. Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia. Brasília – DF, 2000. 143p.

EMBRAPA Banco de Dados de Micologia. Disponível em: Acessado em: 25/04/2010

FARR & ROSMAN, SBML Systematic Botany of Mycological Resources. Disponível em: . Acesso em: 29 de junho de 2010.

FITOPATOLOGIA.net. Disponível em: Acessado em: 26/04/2010.

GERMAN, S.; ABADIE, T.; PEREA. Epifitia de roya de la hoja sobre el cultivar de trigo. C La Paz INTA. Investigacicones Agronomicas, Montevideu, v. 7, n. 1, p. 75-77, 1986.

INDEX FUNGORUM. Disponível em: . Acesso em: 02 de junho de 2010.

KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A Manual de fitopatologia: Doenças das plantas cultivadas.;. 4ª Ed.vol. 2, p. 479 – São Paulo: Agronômica Ceres, 2005.

LEACH, R. Banana leaf spot, Mycosphaerella musicola, the perfect state of cercospora musae Zimm. Tropical Agriculture of Trinidad, v.18, p.91-95, 1941.

PENTEADO, L. A. C; Controle da Sigatoka-amarela para as condições do Vale do Ribeira – CATI – Registro – SP.

VIEIRA, G.M. Investigações sobre o "Mal de Sigatoka" ou Cercosporiose da bananeira (Musa spp.). Recife, UFRPE, 1991. Monografia.

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