sexta-feira, 2 de julho de 2010

REVISÃO LITERÁRIA DO MELHORAMENTO GENÉTICO NA CULTURA DO TOMATE (Lycopersicon sp.)

Autor: Rogério Ernani Marangoni

1 INTRODUÇÃO


O tomate não é uma das hortaliças mais ricas em vitaminas e sais minerais, especialmente por conter, em média, 94% de água no fruto ao natural. No entanto, por ser consumido em maior quantidade, com maior frequência em relação a outras hortaliças e seu consumo ser feito em grande parte sem a cocção, o tomate torna-se uma importante fonte de vitaminas e sais minerais na dieta do brasileiro, como, por exemplo, de vitamina C, cujo teor varia de 11,2 a 21,6 mg/100 g de frutos e das vitaminas A, B1, B2, P e K. O tomate contém outras substâncias, em doses mínimas, porém muito importantes, a começar pelas substâncias corantes licopeno (vermelho) e caroteno (amarelo). Folhas e frutos ainda verdes também possuem uma substância levemente tóxica, o alcalóide tomatina, que parece eficaz contra fungos de micoses da pele humana (Filgueira, 2000).

A cultura do tomateiro possui grande importância econômica pelo volume e valor da produção. O mercado brasileiro de tomate industrial de cultivo rasteiro, destinado à produção de purês, molhos prontos, extratos, sucos, etc., é avaliado em US$ 445 milhões anuais (Nakamae & Pastrello, 1999). O consumo nacional de polpa tem aumentado com o crescimento das redes de "fast-food" e o ingresso de novas indústrias de molhos prontos. O consumo de polpa de tomate passou de 95 mil t, em 1994, para 140 mil t em 1998 (Nakamae & Pastrello, 2000). No Brasil, a produção de tomate para processamento industrial, no último quinquênio, girou em torno de 1 milhão de t/ano, com a marca recorde de 1,29 milhão de toneladas alcançada na safra de 1999 (Melo, 2001). A região do Cerrado transformou-se na mais importante zona de produção de tomate para processamento industrial do país, com 77% da área plantada, seguida do estado de São Paulo com 14% e da região Nordeste, com apenas 9% (Melo, 2001).

A variabilidade genética existente no gênero Lycopersicon tem possibilitado o desenvolvimento de cultivares que atendem às mais diversas demandas do mercado de tomate para processamento e para consumo in natura (AGRIANUAL, 2002). No entanto, anos de cultivo e seleção por melhoristas têm reduzido os níveis de variação nos germoplamas elite. Esta premissa é verdadeira para plantas autógamas, as quais possuem base genética mais estreita. Por exemplo, um estudo do polimorfismo de diversas variedades de tomate demonstrou que existem menos de 5% de variação genética disponível em cruzamentos compatíveis com variedades locais e espécies silvestres (Miller; Tanksley, 1990). A maioria das variedades elite são mais semelhante do que as novas fontes de germoplasmas que estão sendo exploradas (Fulton, et al., 1997).

O estudo da diversidade genética entre acessos de bancos de germoplasma fornece informações de potenciais genitores a serem utilizados em programas de melhoramento, além do fato de que a própria caracterização dos acessos possibilita a identificação de duplicatas e o intercâmbio de germoplasma entre pesquisadores. A forma preditiva de determinar a divergência genética apresenta como principal vantagem o fato de não ser necessária a obtenção prévia de combinações híbridas, como ocorre em dialelos (Coimbra, et al., 2001).

Segundo Zahara (1970), Rick (1978), e Melo (2001), em trabalhos de melhoramento de tomateiros visando processamento industrial deve-se buscar a obtenção de plantas compactas, pequenas, com maturação concentrada dos frutos visando colheita mecanizada, produtivas e resistentes às doenças. Desta forma, durante o processo de seleção de genótipos para colheita mecanizada devem ser avaliados prioritariamente: a concentração de maturação, o potencial produtivo, o tamanho da rama que deve ser mediano, a cobertura dos frutos, a capacidade de permanência dos frutos na planta, a firmeza que permita o transporte dos frutos a granel e o índice de retenção de pedúnculo. Outras características inerentes às cultivares que se destinam ao processamento industrial como o teor de sólidos solúveis (°Brix acima de 5,0), coloração vermelha intensa (externa e interna), pericarpo espesso, inserção peduncular pequena, ausência de defeitos (ombro verde, coração negro, "zippering", "split setting") e resistência às doenças que causam prejuízo à cultura, entre outras, devem ser cuidadosamente avaliadas durante o processo de seleção (Melo, 2001).

O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura a respeito do melhoramento genético na cultura do tomate.



2. DESENVOLVIMENTO

2.1 CULTURA DO TOMATE (Lycopersicon sp.)


2.1.1. Histórico

Segundo Murayama (1983), o tomate (Lycopersicum esculentum, Mill), é originário da parte ocidental das Américas Central. No entanto, segundo Vasconcelos (2005), a América do Sul faz parte do centro de origem. Alguns botânicos atribuem a origem do cultivo e consumo do tomate como alimento, à civilização Inca do antigo Peru, por ainda persistir naquela região, uma grande variedade de tomates selvagens e algumas espécies domesticadas apenas ali conhecidas. No entanto a sua domesticação terá ocorrido no México onde foi largamente cultivado pelos Astecas (Murayama, 1983).

Foi a partir do México que o tomate foi introduzido na Europa em meados do séc. XVI. As primeiras espécies de tomates foram batizadas de pomodoro pelos italianos, pois eram amarelas, parecendo "maçãs douradas". Os primeiros registros da espécie vermelha deste fruto na Europa têm como data o ano de 1554. A cultura foi rapidamente adaptada na Espanha e Itália, enquanto no resto da Europa, as primeiras plantas eram consideradas venenosas e eram utilizadas apenas como ornamentais. Nas primeiras décadas do séc. XX. O tomate sofreu uma grande expansão mundial, resultado do desenvolvimento da indústria transformadora e de processamento (Vasconcelos, 2005).

Aliás, o próprio nome tomate, que hoje é utilizado em larga escala não só no Brasil, como por toda a América espanhola e em muitos países de outros continentes, origina-se da palavra “tomati”, da língua falada pelos Astecas do Sul do México (Padovani, 1989)


2.2 Botânica

O tomate passou a pertencer à família das Solanaceae, à qual pertencem também outras plantas muito conhecidas do agricultor como a batatinha, o pimentão, e a berinjela entre outras. Prosseguindo a subdivisão dentro da família que reúne plantas a partir de algumas características comuns muito vagas. Na classificação do gênero, o tomate pertence ao gênero Lycopersicon, que por sua vez se subdivide ainda em espécies, das quais são conhecidas oito. A espécie do tomate é chamada Lycopersicon esculentum. Há outro tipo de planta semelhante a do tomate, a Lycopersicon pimpinellifolium, que produz frutos parecidos com o do tomate, só que muito menores (Filgueira, 2007).

O tomateiro é uma planta perene que, embora ereta quando nova, chega a atingir dois metros de altura, vindo daí a necessidade freqüente do estaqueamento. Seu caule é cilíndrico e tenro, embora seja lignificado na parte inferior. As suas partes verdes são cobertas de pêlos que apresentam um cheiro forte e característico. Este cheiro, repulsivo ao odor humano, foi responsável pela crença que vigorou muitos anos na Europa, de que o tomate poderia ser uma planta venenosa e por isso não devia ser utilizada na alimentação humana (Padovani, 1989).

Segundo Padovani (1989), o caule apresenta, ainda, folhas alternas, imparipenadas, com comprimento variável de 15 a 45 centímetros, denteados. Na região dos nós, de onde partem as ramificações, o caule apresenta-se sensivelmente engrossado. A periferia das folhas costuma enrolar-se para dentro e esta característica precisa ser observada, pois, pode ser confundida com um ataque provocado por vírus. As flores, que são hermafroditas, costumam ocorrer na quantidade de 3 a 7, que se reúnem em forma de cachos, sendo ligeiramente inclinadas para baixo e apresentando coloração amarela. As flores que não são fertilizadas caem, partindo-se nos nós que existem no ponto de união dos pedúnculos. As sépalas e estames são, geralmente, em números de cinco e sua disposição no conjunto da flor facilita a autopolinização e dificulta a polinização cruzada, reforçando a autofecundação da planta. As raízes são ramificadas e apenas as partes finas e pilosas chegam a regiões profundas do solo. As partes das raízes se reproduzem facilmente quando cortadas, permitindo o transplante. A profundidade das raízes é importante quando se trata de adubação (Padovani, 1989).

As inflorescências de tomates são cimeiras bíparas que se diferenciam no meristema apical do caule, assumindo, no entanto, uma posição lateral entre as folhas e o caule. As inflorescências possuem entre 5 a 12 flores, sendo estas completas, hermafroditas e de corola amarela. O fruto do tomateiro é uma baga plurilocular com forma, cor e peso variáveis consoante as cultivares. A forma do fruto do tomateiro pode ser redonda, alongada, piriforme ou outra. A cor do tomate, quando o fruto está maduro, pode ser amarela, rosada, laranja ou vermelha (Alves Filho, 2006).


2.3 Exigências nutricionais

Segundo Filgueira (2007), a cultura do tomateiro é altamente exigente quanto à fertilidade de solo, mais especificamente com relação ao teor de nutrientes, obviamente devido à elevada capacidade produtiva. O tomateiro é adaptável a diversos tipos de solos, desde que não sejam excessivamente argilosos, pesados e compactados, ou mal drenados. Solos arenosos também não são os mais favoráveis, devido à perda de água e lixiviação de nutrientes. A planta apresenta tolerância à acidez moderada, produzindo na faixa de pH 5,5 a 6,5. Em solos mais ácidos, a calagem é prática indispensável. Neste caso, no método de saturação de bases, utiliza-se V%=70 e procura-se atingir a faixa de acidez mais favorável ao tomateiro, ou seja: pH 6,0 a 6,5 (Filgueira, 2007).

A planta é altamente exigente em nutrientes minerais. Pesquisas conduzidas em São Paulo demonstraram a seguinte ordem de extração dos macronutrientes para as cultivares Santa Cruz: K, N, Ca, S, P, Mg; e, para Romã VF, K, N, Ca, Mg, P, S. Embora P seja o quinto nutriente em ordem de extração, é o primeiro em resposta à adubação – fato comprovado em experimentos conduzidos nas mais diversas condições no Brasil (Filgueira, 2007).


2.4 Climas e Épocas de plantio

A espécie cultivada, devido à origem próxima à linha do equador terrestre, em altitudes superiores a 1000m, adapta-se melhor ao cultivo em clima tropical de altitude, como o das regiões serranas ou de planalto, e também em clima subtropical ou temperado, seco e com luminosidade elevada. A tomaticultura é problemática em climas tropicais úmidos, como os da Baixada Cuiabana, por exemplo. No período seco (outono-inverno), as temperaturas são propícias, há ausência de chuvas excessivas e o teor adequado de água no solo é assegurado pela irrigação. O controle fitossanitário é facilitado, com menores incidências de plantas invasoras, reduzindo-se as capinas e outros tratos culturais. No período chuvoso (primavera-verão), a cultura oferece muito maior desafio, sob umidade e temperatura elevadas, no ar e no solo, originando problemas fitossanitários às vezes insolúveis. A maior exigência em pulverização e em tratos culturais onera o custo de produção e diminui o número de produtores. Também é menor a produtividade, e a qualidade dos frutos é precária frequentemente. Por conseguinte devido à menor oferta, a cotação dos frutos para mesa tende a ser mais elevada de março a maio (Filgueira, 2007).


2.5 Importâncias econômicas da cultura

O tomate é uma das hortaliças de maior importância econômica no mundo, estando o Brasil em oitavo lugar na produção mundial e em sétimo no processamento (Marcos et al., 2002).

O tomateiro é a hortaliça mais importante no Brasil tanto em termos de produção como em valor econômico (Alvares et al., 2002).

Segundo IBGE (2007), estima-se que a produção brasileira de tomate (2006/2007) esteja em 3,3 milhões de toneladas, ocupando uma área de 58 mil há, sendo 27% da produção destinado a indústria e 73 % destinado a consumo in natura (Valarani et al. 2007).

De acordo com Fernardes et al. (2007), citando Agrianual (2006) e Alves Filho (2006) cultivado em uma área de aproximadamente 61 mil hectares. O estado de São Paulo é o segundo maior produtor brasileiro de tomate, com uma produção média de 700 mil toneladas, dos quais 60% são destinados para o consumo in natura.

Segundo Alves Filho (2006), o tomateiro foi à segunda hortaliça cultivada no mundo, sendo superada apenas pela a batata. A produção mundial de tomate em 2005 foi de 125 milhões de toneladas. O Brasil é o nono produtor de tomate, com uma safra de 3,3 milhões de toneladas em 2006, conforme informações da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).


2.6 Melhoramentos da cultura do tomate

Os programas de melhoramento genético de instituições oficiais de pesquisa do país têm, historicamente, contribuídos para o progresso da cultura do tomate para processamento. A prioridade desses programas tem sido a obtenção de cultivares bem adaptados às condições climáticas das principais regiões de cultivo, resistência e/ou tolerância a doenças e a pragas limitantes e a melhoria de características agronômicas e indústrias (Kurosawa, 1991; Melo, 1991; Melo, 1998; Menezes e Wanderley, 1991; Nagai, 1990).

Vai longe o tempo em que o tomate consumido pelo ser humano não passava de uma pequena frutinha, pouco maior que um morango ou uma cereja. Desde os idos da chegada dos europeus na América até os nossos dias, o tomate assumiu uma multiplicidade de formas, de variedades e sabores, que em alguns casos representam um aumento do tamanho do fruto em quase mil por cento com relação ao tamanho original das frutinhas encontradas pelos espanhóis em nossas terras. A isso se soma ainda a enorme capacidade de diversos cultivares em resistir contra doenças que antes chegavam a dizimar completamente plantações inteiras (Padovani, 1989).

Toda essa evolução é uma conquista relativamente recente dos próprios agricultores (como no caso do Santa Cruz, cuja história será relatada adiante) e também de um dos ramos da moderna ciência agronômica, a genética, onde trabalham os chamados melhoristas, cuja função única e exclusiva é aprimorar a qualidade, a resistência, o sabor e o aspecto das diversas plantas (Padovani, 1989).

Este trabalho, como se sabe, tem suas origens no trabalho dos primeiros agricultores da história, que em tempos remotos eram principalmente as mulheres, através da seleção de uma mesma variedade. Isso era feito de uma maneira aparentemente simples, mas que demandou muitos séculos de observação e trabalho: estes agricultores primitivos percebiam que, dentro de um mesmo campo de lavoura, às vezes cresciam plantas que geravam frutos mais bonitos e vigorosos. Plantando as sementes desses frutos, descobriu-se que eles davam, também, descendentes de melhor cepa (Padovani, 1989).

Embora esta técnica ainda seja muito utilizada na ciência agronômica moderna, já existem outras que apresentam resultados muito mais rápidos e decisivos: uma delas é a técnica do cruzamento, onde variedades diferentes são cruzadas inúmeras vezes, até que se consiga um fruto que apresente apenas as qualidades positivas de seus genitores. Esta técnica, diga-se de passagem, também existe na natureza, onde os insetos costumam levar o pólen das flores de uma planta até a outra. Mas como dependem do acaso, estes cruzamentos às vezes demoram séculos seguidos até que se consiga obter uma variedade nova com características positivas, sendo que, muitas vezes inclusive, os frutos que resultam destes cruzamentos apresentam mais aspectos negativos do que positivos em relação aos seus ancestrais (Padovani, 1989).

Mais recentemente, com a descoberta dos cromossomos e dos genes que existem no interior de todas as células vivas e que são responsáveis pelas características exteriores de todos os seres, a genética e o melhorismo deram um grande salto. Os cientistas descobriram que mudando alguns destes genes através de técnicas especiais são possíveis obter muitas vezes plantas de melhor qualidade (Padovani, 1989).

Mas não é só isso: utilizando-se de equipamentos sofisticados, os chamados geneticidas são capazes de mapear os genes, dizendo qual deles afeta o desenvolvimento da planta, o que possibilita cruzamentos visando alterações muito específicas nos frutos (Padovani, 1989).

Segundo Padovani (1989) apenas a título de exemplo, enumeramos abaixo alguns genes já localizados e mapeados, que afetam os frutos do tomateiro:

t- gene que determina a coloração alaranjada do fruto.

o (oval) – gene que condiciona o fruto a uma forma oval.

f (fasciante) – gene que induz o tomate a produzir frutos fasciados com grande número de lóculos.

u (“uniform ripening”) – elimina o ombro verde dos frutos, permitindo uma coloração mais uniforme nos tomates maduros.

ogc (“crimson”) e hp (“high pigment”) – o primeiro aumenta o teor do pigmento vermelho e diminui o laranja, ao passo que o segundo aumenta os dois pigmentos. Estes genes são muito importantes porque a soma dos dois pigmentos, conhecidos porlicopeno e beta-caroteno, em pro-Vitamina A. Isso faz do hp um gene muito desejável do ponto de vista da nutrição.

Embora esta pesquisa genética sofisticada seja da maior importância, ela não elimina obviamente, a necessidade do desenvolvimento de pesquisas no campo, que muitas vezes podem ser conduzidas pelos próprios agricultores (Padovani, 1989).

É importante que se diga isso, pois o agricultor nunca deve esperar que as soluções venham todas dos laboratórios por uma razão muito simples: algumas pesquisas podem detectar variedades que se mostrem resistentes a pragas ou que produzam melhor nesta ou naquela condição de clima, solo ou luminosidade do dia, mas que não tenha efeitos benéficos em outras condições. O resultado final só poderá brotar da experiência e do intercâmbio entre a pesquisa de laboratório e o dia-a-dia no campo. E nenhum exemplo melhor do que a descoberta da variedade Santa Cruz (Padovani, 1989).

Hoje em dia o melhorismo ainda busca aprimorar não apenas os índices de produtividade dos tomateiros, como também inúmeras outras qualidades como: tamanho e formato dos frutos, consistência da polpa, resistência à diversidade de climas, tolerância às mais diversas condições de solo e seca, e, naturalmente, resistência natural às diversas doenças que atacam o tomateiro (Padovani, 1989).


2.7 As principais variedades dentro da espécie L. esculentum

Dentre a espécie L. esculentum temos as variedades: variedade cesariforme, também conhecida por tomate cereja; variedade piriforme, também conhecida por tomate pêra; variedade grandifolium, também conhecida por tomate da folha da batatinha; variedade commune, ou simplesmente tomate comum; variedade validum, ou então tomate arbustivo ou tomate ereto (Padovani, 1989).

A partir destas variedades é que se criaram todas as cultivares empregadas na agricultura moderna e cujo número cresce ano a ano, conforme ao desenvolve a ciência agronômica (Padovani, 1989).


2.8 Alguns dos mais importantes cultivares usados no Brasil

Santa Cruz – Esta importante variedade está intimamente ligada à colonização japonesa no País. Embora sua origem precisa ainda seja incerta, ela parece ter surgido primeira no município paulista de Suzano, que abrigava um grande número de colonos de origem japonesa e produtores de tomate, e dali ganharam a região também produtora de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, responsável pelo nome com que a variedade ganharia todo o Vale do Paraíba e em seguida todo o País, sendo hoje a mais cultivada no Brasil, devido à sua grande adaptação às diferentes condições climáticas. A Santa Cruz nasceu de um cruzamento ocasional entre as variedades Rei Umberto, de origem japonesa e a Redonda de origem japonesa, ambas de frutos pequenos. Mais tarde, a partir de cruzamentos sucessivos, a Santa Cruz acabou dando origem a diversos outros cultivares, que recebem nomes diferentes conforme a região em que são produzidas; por exemplo: Santa Elisa, Gigante de Piedade, Gigante Kobayashi, Samano, Gigante de Indaiatuba, entre muitos outros. Caracteriza-se pelos frutos pequenos, alongados e pesam 60gr em média; variedade de tipo indeterminado, a Santa Cruz pode render até 70 t/há.; é aceita tanto pelas indústrias como pelo mercado de consumo direto; boa capacidade de armazenagem e de transportes; resistente a parasitas e muito vulnerável a virose, entre elas o vira-cabeça e os vírus amarelo (Padovani, 1989).

Santa Rita – Variedade resultante do cruzamento entre Santa Cruz e Ace. Segundo os estudiosos de Rolf Puschmann, da Universidade Federal de Viçosa, em 1972 a Santa Rita é, ao lado de Manalucia, a variedade considerada das mais ricas em vitamina C. Entre as muitas pesquisadas, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo são os que mais plantam a cultivar, de maior precocidade que a Santa Cruz. Caracteriza-se fruto pequeno, peso médio de 50gr e rendimento de 50 t/há.; Boa resistência à fusariose; A uniformidade da mutação é uma das principais características da Santa Rita; seu crescimento, por sua vez, é irregular; Algumas linhagens têm sido tolerantes ao cancro bacteriano (Padovani, 1989).

Miguel Pereira - cultivar que necessita de muito cálcio para produzir bem. Seu fruto é muito requisitado pelas indústrias. Muito precoce, a Miguel Pereira é plantada sobretudo pelos fluminenses. Caracteriza-se pelo fruto arredondado, peso médio de 100gr. Suscetível à podridão apical e a requeima. Boa resistência à fusariose. Bom rendimento na produtividade (Padovani, 1989).

Kada – Difundida no Paraná e São Paulo, na zona da Piedade. Tem como maior desvantagem o pequeno número de frutos produzidos por planta. Caracteriza-se pelo fruto médio, peso médio de 80gr. Suscetível a doenças fisiológicas e ao mosaico do fumo. Tem um rendimento de 50 t/há. A cultivar tem boa aceitação industrial, sua maturação é de ciclo tardio e os frutos muitas vezes ficam manchados de amarelo (Padovani, 1989).

Angela IAC-3946 – Importante híbrido criado pelo Instituto Agronômico de Campinas. A Ângela se dá bem em climas quentes, o que pode ser provado pelo número cada vez maior de agricultores paranaenses, pernambucanos e baianos que a cultivam. Rio, São Paulo e os produtores sulinos também aceitam e plantam o híbrido. Uma de suas vantagens é o excelente nível de precocidade. Caracteriza-se pelo fruto do híbrido é brilhante e pesa 100g em média. Tem alta produtividade, tolerância ao vira-cabeça. As indústrias muito se utilizam da cultivar, que também pode ser consumida fresca. Segundo pesquisadores, têm sido bons os resultados da adaptação da variedade ao cultivo rasteiro (Padovani, 1989).

Caqui – Muito semelhante à Santa Cruz, da qual é resultante num provável cruzamento com a variedade Rutger’s. O produtor que colher o caqui verde terá mais lucros, já que alguns inconvenientes podem ser eliminados em relação à aceitação. Há barreiras não quebradas quanto ao armazenamento e ao transporte, o que pode ser explicado pela constituição do caqui, que, além de ser grande e achatado, tem semente e água em excesso. Caracteriza-se por abundante o número de folhas da planta, que, contudo, tem seu crescimento variável. O mercado faz restrições ao fruto, motivo da baixa cotação da variedade. A produtividade é considerada boa por hectare. O caqui é suscetível às doenças fisiológicas (Padovani, 1989).

Romã – Cultivar norte-americana que se vem afirmando rapidamente no mercado brasileiro, notadamente nas lavouras do norte e do centro-sul. A variedade, que não é híbrida, se parece com a San Marzano, e sua maior vantagem é que o estaqueamento não é necessário para o cultivo. Caracteriza-se pelo fruto é brilhante, avermelhado, cilíndrico e sólido. Tem boa resistência à Fusariose e à Verticilose e nematóides. Sua folhagem espessa guarda os frutos das doenças fisiológicas. O rendimento da Romã é tido como dos mais altos, inclusive em épocas de chuvas. Excelente para cultivo rasteiro. Mesmo sendo consumida na mesa, a Romã é muito requisitada pelas indústrias. Boa precocidade (Padovani, 1989).

Manalucia – Variedade norte-americana muito difundida no estado de São Paulo, onde é plantada para fins industriais. Estudos realizados comprovam que seu rendimento também é bom em épocas secas e chuvosas. Caracteriza-se por um fruto que pesa em média 200gr, destacando-se sua uniformidade e resistência aos transportes, já que são firmes e de paredes grossas. A Manalucia é tardia, com seu ciclo podendo chegar até noventa dias. Possui elevado teor de vitamina C. A densa folhagem da variedade a protege de doenças; resistente à Fusarium. Rendimento alto, por volta de 75 t/há (Padovani, 1989).

Rossol – Possui muitas cultivares, cujo inconveniente é a baixa resistência a Fusariose. Seu cultivo tem fins industriais e é rasteiro. Não deve ser plantada em regiões quentes, embora experiências realizadas, com irrigação, tenham dado bons resultados. Características: fruto vermelho, periforme e resistente ao transporte. Ciclo de 150 dias e boa frutificação. Rendimento médio de 70 t/há. Resistente a Verticilium e a nematóides (Padovani, 1989).

Rei Umberto – Variedade italiana e que tem como maior vantagem sua tolerância ao vírus do vira-cabeça. Características: fruto médio, periforme, liso; pesa cerca de 60gr em média. Planta grande, superior a 1,50 metros, de folhagem frouxa e rala, maturação é tardia, resistente à seca, boa produtividade (Padovani, 1989).

Ronita – A Ronita é determinada e de cultivo rasteiro, todo ele destinado à indústria. Sua vantagem é que pode ser cultivada com ótimos resultados nas regiões quentes e chuvosas brasileiras. Características: resistentes a nematóides, frutos grandes, com cada um pesando em média 110gr. Rendimento normal de 100 t/há. Ciclo médio de 150 dias (Padovani, 1989).

Rutger’s – Variedade cinqüentenária de boa produtividade, mas sujeita a doenças. Sua grande vantagem é a excelente maturação do fruto, pode ser colhido verde. Ótimo para consumo e para a indústria de sucos e conservas. Características: Indeterminada e tardia, frutos vermelhos, grandes e lisos. Sua casca é fina e forte, o que garante a durabilidade do produto mesmo quando se percorrem grandes distâncias. Rendimento médio de 70 t/há. Resistente a rachaduras (Padovani, 1989).

La Bonita – A La Bonita é texana e do tipo determinado podendo ser plantada no Norte do país. Características: Cultivo para fins industriais, sendo firme e de boa resposta para colheita mecânica. Fruto médio e periforme, sendo suscetível a nematóides (Padovani, 1989).

Red Top – Muito difundida no mundo todo, mas desconhecida no Brasil. As indústrias européias utilizam-se em larga escala. Características: Responde bem à chuva e ao calor, sendo, boa resistência a doenças, embora seja suscetível à fusariose. O fruto é pequeno, periforme e de altíssima qualidade. O ciclo médio da Red Top se situa nos 80 dias, podendo render até 70 t/há (Padovani, 1989).

Cotaxtla 1 – Variedade mexicana ainda desconhecida pelo produtor brasileiro, mas que no futuro poderá ser plantada por aqui, já que resiste a climas tropicais e quentes. Características: Frutos médios e resistentes. Ciclo de 140 dias, sendo, portanto tardia. Resistente a doenças e distúrbios fisiológicos. Boa tolerância aos vírus amarelos (Padovani, 1989).

Floradel – Oriunda dos Estados Unidos, a Floradel, mesmo sendo pouco difundida no Brasil, já obteve excepcional produtividade em alguns Estados de clima seco. Características: O fruto médio ou pequeno é muito requisitado pelas indústrias e aceito pelo público consumidor. O ciclo médio é em torno de 85 dias. Resistente à Fusariose e a muitas outras doenças, embora seja vulnerável a Alternaria (Padovani, 1989).

Homestead – Variedade norte-americana que tem dado ótimos resultados em climas quentes, mas que estranhamente não é difundida no Brasil. Características: O fruto é consistente e pesa 230gr. Boa precocidade satisfatória, com ciclo médio de 90 dias, e de crescimento determinado. Sua espessa folhagem protege-a das doenças fisiológicas. Pode ser aproveitada na industrialização e é aconselhada para o consumo. Resistente à fusariose (Padovani, 1989).

Heinz 1350 – Cultivar pouco difundida no Brasil e muito recomendado para a industrialização. Características: A maturação dos frutos (peso médio de 170 gr) se dá em 80 dias. Resistente à verticilose, a fusariose (Padovani, 1989).

Marmende – Variedade francesa que se caracteriza pela precocidade incomum, fator que ainda não sensibilizou os produtores brasileiros, que preferem outras variedades. Características: os frutos normalmente médios são lisos e achatados. A Marmende é das mais produtivas variedades européias. Apresentam boa resistência às doenças (Padovani, 1989).

Yokota – Variedade selecionada pelos paulistas de Pilar do Sul. Suscetível a podridão apical. Características: fruto brilhante e alongado. A Yokota é precoce e tem farta polpa, bem aceita no mercado. Bom rendimento (Padovani, 1989).

Kopiah – Cultivar antiga e introduzida pelo Instituto Agronômico de Campinas. É muito difundida em todo o Sul brasileiro. Características: Boa resistência à fusariose. Seus frutos são grandes e apreciados para consumo (Padovani, 1989).

Marglobe – Uma das cultivares mais conhecidas em todo o mundo, a Marglobe é norte-americana da Califórnia. De polpa macia e abundante, seu consumo fresco é muito conhecido pelos brasileiros. Características: O fruto é arredondado e pesa em média 180gr. A planta da Marglobe tem folhas grandes e largas em abundâncias e um ciclo de 80 dias. Resistente à fusariose (Padovani, 1989).

Ponderosa – Peculiaridade que diferencia essa variedade das demais: tamanho do fruto, que chega a pesar mais de 800 gr, o que acaba dificultando sua aceitação comercial. Características: Número excepcional de folhas protege a Ponderosa das doenças fisiológicas. Fruto achatado, variedade tardia. A Ponderosa não tem boa resistência a doenças (Padovani, 1989).

Pearson – Variedade antiga e de muitas cultivares, cada uma com suas peculiaridades. O Instituto Agronômico de Campinas criou, por exemplo, a Pearson OAC-2207, cujo fruto pesa em média 300g e é resistente a fusariose e a Verticillium. Outra linhagem de interesse específico, para o produtor brasileiro, já que tem boa produtividade em clima quente, é a Pearson VF-11. Características: O fruto assemelha-se ao do caqui, sendo grande e achatado, consumido na mesa e utilizado na indústria (Padovani, 1989).


3 CONCLUSÕES

Com base no presente trabalho de revisão literária, pode-se concluir que os pesquisadores ainda busca aprimorar não apenas os índices de produtividade dos tomateiros, como também inúmeras outras qualidades. Sendo a busca pelo melhoramento das variedades de tomateiro procurar atender a in natura e processamentos nas indústrias. Visando o aprimoramento do melhoramento na cultura do tomate aumentando a produtividade e à adaptação climática das regiões.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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