quinta-feira, 1 de julho de 2010

ASPECTOS GERAIS E MORFOLÓGICOS DO FUNGO " Periconia sp."

Fernando Castro de Oliveira

A Periconia sp foi descrita por Tode (1791) ex Fries (1821) e apresenta como sinonímias Sporocybe Fries, 1825; Sporodum Corda, 1836; Trichocefhalum Costantn, 1887; Harpocefhalum Atkinson, 1897 e Berkeleyna Kuntze O., 1898 (Ellis, 1971).

A forma anamórfica de Periconia pertence ao Reino Fungi, Divisão (informal) Fungos mitospóricos, Subdivisão (informal) Hiphomycetes. A forma teleomórfica pertence ao Reino Fungi, Divisão Ascomycota, Subdivisão Dothideomycetes, Classe Pleosporomycetidae, Ordem Pleosporales e Família Incertae sedis. O gênero é representado por apenas 183 espécies, 12 variedades e 2 formae speciales descritas em literatura (Index Fungorum, 2010).

Espécies de Periconia sp. são consideradas patogênicas em função das toxinas seletivas que produzem (Pascholate, 1995), encontram-se na serapilheira de regiões tropicais e subtropicais, mas também são registradas em lagos e oceanos de regiões temperadas (Hughes & Chamut 1971, Shearer 1972, Booth 1983, Kolhmeyer & Volkmann-Kolhmeyer 1987) apud Da Silva (2007) e ocorrem em grande variedade de substratos vegetais estando largamente distribuidas Rao & Rao (1964) apud Da Silva (2007).

As espécies de Periconia sp. são bastante difundidas, sendo registradas em diversos paises dos continentes Americano, Europeu, Asiático, Africano e Oceania. Foram registradas 815 ocorrências de Periconia sp em 482 espécies hospedeiras. A espécie que apresenta o maior número de hospedeiras é a Periconia byssoides com 275 registros, e uma das principais hospedeiras é a cana-de-açúcar (Saccharum sp) com 26 registros de ocorrência (Farr & Rossman, 2010).

As principais espécies do gênero Periconia encontradas associadas à plantas, no Brasil são; Periconia atra Corda, P. byssoides Pers., P. cookei E. W. Manson & M. B. Ellis, P. heveae J. A. Stev. & Imle, P. laxa Bat. & Peres, P. manihoticola (Vincens) Viégas, P. minutissima Corda, P. sacchari J. R. Johnst., P. sidae Bat. & J. L. Bezerra e P. stemonitis (Pers.) Pers. (Embrapa cenargem, 2010).

Foi relatada a presença de Periconia sp. associada a várias espécies de plantas, no Brasil, como: Anacardium spp. (Anacardiaceae), Butia leiospatha Becc. (Coquinho-do-campo), Casearia sylvestris Sw. (Guaçatonga) Glycine max (L.) Merr. (Soja), Helianthus annuus Linn. (Girassol), Ilex paraguariensis A. St. Hil. (Aquifoliaceae), Mangifera indica L. (Manga), Ricinus comununis Linn. (Mamona), Saccharum officinarum Linn. (Cana-de-açúcar), Stylosanthes guianensis (Augl.) Sw. (Capim-meladinho), Triticum aestivum Linn. (Trigo), Miconia cabussu Hoehne (Melastomataceae), Heliconia pseudoaemygdiana L. Em. & Em. Santos (Bananeira-do-mato), Sida rhombifolia L. (Vassoura), Zingiber spectabile Griff. (Gengibre-magnífico), Hevea brasiliensis Muell. Arg. (Seringueira), Ximenia americana L. (Ameixeira-do-Brasil), Caesalpinia echinata Lam. (Pau-Brasil), Manihot sp. Miller (Euphorbiaceae) e Zea mays Linn. (Milho). Na maioria das espécies o gênero está associado às suas sementes, mas em alguns casos ele encontra-se associado a outros fungos causando doenças como a Podridão-comum da raiz em Triticum aestivum Linn. e a Mancha-redonda em Mangifera indica L. (Embrapa cenargem, 2010).

Na safra 2004/2005 um levantamento realizado no Estado de MS com o objetivo de detectar a presença de fungos toxigênicos em milho (Zea mays L.) encontrou em baixa frequência Periconia sp. associada às sementes dessa cultura (Chitarra et al., 2006).

No Estado do CE várias cultivares de soja (Glycine max (L.) Merr.) foram avaliadas para a determinação da população fúngica de suas sementes e constando-se a presença de Periconia sp. (Sousa et al., 2006).

Uma avaliação preliminar da germinabilidade e da micoflora associada às sementes de jenipapo (Genipa americana L.) em diferentes estágios de maturação, visando a obtenção de material sadio e vigoroso para a conservação, constatou-se a presença de Periconia sp. em sementes de frutos maduros (Salomão & Padilha, 2006).

Em sementes de plantas florestais, em especial nas originárias de plantas nativas, a ação de microrganismos, pode levar a anormalidades como deterioração das sementes e lesões em plântulas (Martins Netto & Faiad, 1995). Se o número de infecções for elevado ocasionará menor desenvolvimento das plântulas. Uma avaliação da qualidade sanitária de sementes de guaçatonga (Casearia sylvestris Sw.) verificou-se a presença de Periconia sp. (Bitencourt & Homechin, 1998).

Em Primavera do Leste, no Estado de MT, realizou-se um trabalho para verificar a incidência de fungos associados ao apodrecimento de maçãs do algodoeiro (Gossipium hirsutum L.) e constatou-se a presença de Periconia sp. associada a vários outros gêneros (Zancan et al., 2009).

Durante coletas periódicas em fragmentos de Mata Atlântica, folhas de Nectandra rigida, apresentando sintomas diversos, foram encaminhadas para análise em laboratório e encontrou-se o gênero Periconia (Firmino et al., 2009).

O objetivo desse trabalho é apresentar aspectos gerais e morfológicos de Periconia sp..

O trabalho foi feito no Laboratório de Microbiologia do Instituto Federal Goiano campus Urutaí.

Os propágulos do fungo foram retirados de folhas de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum Linn.) coletadas na Fazenda Matinha, localizada no Município de Orizona-Go. As folhas foram colocadas em uma caixa do tipo Gerbox com papel filtro e água destilada para o desenvolvimento das côlonias fúngicas, após 48h (quarenta e oito horas) apanhou-se as folhas da caixa e levou-as para a visualização em microscópio estereoscópico com a finalidade de se encontrar propágulos fúngicos.

Após a visualização dos propágulos devemos coletá-los da superfície foliar com o auxílio de uma pinça e colocá-los em uma lâmina contendo uma gota de fixador lactofenol cotton-blue, em seguida colocou-se uma lamínula sobre a lâmina. Retirou-se o excesso de corante com papel higiênico, logo após vedou-se com esmalte e levar o conjunto para visualização em microscópio ótico. No microscópio a primeira objetiva a ser usada deve ser a menor (4x), para que possamos observar se os propágulos foram depositados na lâmina, após a observação destes, aumentamos as objetivas para os aumentos de 10x e 40x, para se observar as estruturas fúngicas com mais detalhes.

Comparamos as estruturas observadas com estruturas descritas em literatura para identificar o gênero ao qual o fungo pertence. Nesse trabalho o fungo identificado pertenceu ao gênero Periconia sp..

Para esse trabalho foram realizadas microfotografias das estruturas fúngicas no microscópio ótico e das frutificações fúngicas na epiderme das folhas no microscópio estereoscópico, utilizando câmera digital Canon® modelo Power Shot A580 do professor Milton Luiz da Paz Lima.


Figura 1. Aspectos morfológicos de Periconia sp. A. Frutificação na epiderme de uma folha de Saccharum sp. (bar = 600 µm), B. Conídio ( bar = 4,5 µm), C. Estroma (es), conidióforo (con), e célula conidiogênica (cc) (bar = 60 µm), D. Detalhe de uma fiálide (f) e conídio(c) (bar = 3 µm), E. Detalhe da base do conidióforo (bc) e estroma (es) (bar = 20 µm), F. Célula conidiogênica (cc) (bar = 25 µm).


Descrição micológica:

O gênero Periconia apresenta colônias efusas (Figura 1 A), são pequenas isoladas, apresentado coloração acinzentada, marrom-olivácea ou preta, sendo semelhantes a pêlos. O micélio é imerso mas algumas vezes possui uma parte superficial. Os estromas são frequentemente presentes, possuem coloração escura e são pseudoparenquimatosos (Figura 1C e 1E). Não possuem setas, mas algumas espécies possuem o ápice do conidióforo estéril e setiforme. O hifopódio é ausente. Os conidióforos (Figura 1C) são macronematosos e mononematosos, sendo que algumas espécies podem apresentar conidióforos micronematosos. Os conidióforos macronematosos são estipitados com uma cabeça esférica e a ramificação é presente ou ausente, apresenta uma estipe lisa ou flexível, e em uma espécie é tortuosa, apresenta cor palha ou marrom escura e algumas vezes preta ou brilhante na presença de luz, são lisos ou raramente verrugosos. A célula conidiogênica (Figura 1C 1D e 1F) é monoblástica ou poliblástica, discreta em estipe e ramificada, determinada, elipsioidal, superficial ou sub-superficial. Os conídios (Figura 1B e 1D) são catenuados, muitas vezes , produzidos em cadeia ao redor de uma célula conidiogênica ou apresentam muitos pontos na superfície curvada da célula conidiogênica, são simples, usualmente esféricos ou subesféricos , ocasionalmente podem ser elipsoidais, oblongos ou cilíndricos, apresentam coloração palha a marrom escuro, são lisos, verrucosos ou equinulados e ameroseptados. Estes elementos morfológicos se adequaram às informações descritas para o gênero por Ellis (1971).

LITERATURA CITADA.


BITENCOURT, L.F.; HOMECHIN, M.: Avaliação da qualidade sanitária de semntes de guaçatonga (Casearia sylvestris Swartz-Flacourtiaceae) por três métodos de incubação. Revista Brasileira de Sementes, vol. 20, no 1, p.233-236 – 1998.

CHITARRA, G.S.; DAVOGLIO, A.R.R.; NEHME, C.J.; CÔRTES, N.D.: Levantamento dos fungos associados à cultura do milho (Zea mays L.) de segunda safra do Estado de Mato Grosso – safra 2004/2005. Fitopatologia brasileira 31 (Suplemento): S 186, agosto 2006.

DA SILVA, P.: Fungos anamorfos decompositores do folhedo de Caesalpina echinata Lam. Provenientes de exemplares estabelecidos em áreas com e sem impacto de poluição aérea. Disponível em: http://www.biodiversidade.pgibt.ibot.sp.gov.br/teses_dissert/Priscila2007.pdf. Acesso em: 10/04/2010.

ELLIS, M. B. DEMATIACEOUS HYPHOMYCETES. Ed. CAB - COMMONWEALTH MYLOCOGICAL INSTITUTE KEW, SURRE, ENGLAND. 1971.

Farr, D.F., & Rossman, A.Y. Fungal Databases, Systematic Mycology and Microbiology Laboratory, ARS, USDA. Ddisponível em: http://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/. Acesso em: 20/06/2010.

FIRMINO, A.L.; PINHO, D.B.; PEREIRA, O.L.: Alguns fungos folícolas em Nectandra rigida da Mata Atlântica de Minas Gerais. Tropical Plant Patology 34 (Suplemento): S 148, agosto 2009.

INDEX FUNGORUM Disponível em: http://www.indexfungorum.org/Names/NamesRecord.asp?RecordID=452666. Acesso em: 16/04//2010.

INDEX FUNGORUM Disponível em: http://www.indexfungorum.org/Names/Names.asp. Acesso em: 16/04/2010.

MARTINS-NETTO, D.A. & FAIAD, M.G.R. Viabilidade e sanidade de sementes tropicais. Revista Brasileira de Sementes, Brasília. v.17, n.1, p.75-80. 1995.

MENDES, M. A. S.; URBEN, A. F.; Fungos relatados em plantas no Brasil, Laboratório de Quarentena Vegetal. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Disponível em: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbanco01.asp. Acesso em: 30/04/2010.

PASCHOLATE, S.F. Fitopatógenos: fitotoxinas e hormónios. In. BERGAMIN-FILHO, A.; KIMATI, H. & AMORIN,L.: Manual de fitopatologia.3ª.ed.São Paulo: Ceres,1995.v.1,p.365-392.

SALOMÃO, A.N.; PADILHA, L.S.: Curricular Técnica 50. Avaliação preliminar da germinabilidade e da micoflora associada às sementes de Genipa americana em diferentes estágios de maturação. Brasília, DF: Embrapa, Setembro 2006.

SOUSA, C.C.M. de; RÊGO, F.A.O.; PESSOA, M.N.G.; TEÓFILO, E.M.: Fungos associados a sementes de soja no Estado do Ceará. Fitopatologia brasileira 31 (Suplemento): S 324, agosto 2006.

ZANCAN, W.L.A.; CHITARRA,G.S.; CHITARRA, L.G.: Incidência de fungos associados ao apodrecimento de maçãs do algodoeiro (Gossipium hirsutum L. Em Primavera do Leste, MT. Tropical Plant Patology 34 (Suplemento): S 124, agosto 2009.


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